AS CONFERÊNCIAS DE LISBOA 6
Grande Summer recess este que eu fiz nas conferências a que assisto. A anterior foi em 13 de Abril e só em 12 de Setembro fiz a rentrée precisamente no Institut Franco-Portugais, aqui em Lisboa.
Organizada pelo IEEI Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, teve a participação de Pierre Hassner, Investigador emeritus do CERI Centre dEtudes et de Recherches Internationales, de Olivier Mangin, Director da revista Esprit e de Marc-Olivier Padis, Chefe da Redacção da mesma revista. Houve mais um cavalheiro cujo nome me escapou que devia ser o dono da casa e que abriu a sessão para dar de imediato a palavra ao Dr. Álvaro Vasconcelos, moderador.
Do convite respigo que se tratava de debater A Europa sem Constituição e que o objectivo da iniciativa era o de juntar um grupo de personalidades francesas com o público português para uma discussão aberta sobre os grandes temas que marcam a actualidade europeia, sobretudo após a rejeição do Tratado Constitucional Europeu pelos eleitores franceses.
Europeístas convictos, consideraram ab initio o Non francês como um problema e dedicaram-se de modo interessante à dissecação das razões que levaram à rejeição francesa da Constituição Europeia.
A título de resumo, consideraram que a rejeição se ficou a dever a dois tipos de razões: as resultantes da mundialização económica e as dorigine franco-française.
Gostei imenso desta última expressão que significa as matérias intrinsecamente francesas, as endógenas da sociedade francesa. Vou nacionalizar a expressão e passarei a referir-me às questões luso-portuguesas.
A mundialização corresponde àquilo a que em Portugal chamamos de globalização; as questões franco-françaises têm muito a ver com a actual estrutura social francesa, nomeadamente a resultante da imigração de magrebinos e outros muçulmanos. A não integração de grandes massas imigrantes e a rejeição mesmo do modelo social europeu que os muçulmanos fazem, traz os franceses europeus em grande instabilidade, nomeadamente a nível da segurança. Tudo são motivos para o eleitor comum mostrar o seu descontentamento para com a classe política. Assim se vê a aposta crescente em novas expressões políticas como a de Le Pen por exemplo (mas outros também cujos nomes me escaparam) e a vitória do Non no referendo que, por acaso, se referia à Constituição Europeia.
E o que fazer agora? Essa a questão que tanto preocupa estes europeus federalistas.
Todos foram unânimes em dizer que a Europa tem que se afirmar como uma unidade política detentora da civilização europeia mas Olivier Mangin queixa-se de que não há um projecto verdadeiramente europeu e que a UE não passa de um somatório de projectos nacionais. O exemplo das Seguranças Sociais nacionais foi muito debatido sugerindo que o sentido europeu poderia ser conseguido se houvesse uma Segurança Social Europeia mas logo houve quem evidenciasse os inconvenientes que daí resultariam: as falências de umas não seriam suficientemente compensadas pela saúde das que apresentam bons resultados pelo que o resultado global seria pior do que a actual situação. Os outros intervenientes incluindo o próprio moderador bem se esforçaram na tentativa de mostrarem à assistência que existe um modelo europeu mas eu creio que a razão ficou do lado de Mangin.
1ª Conclusão: os europeístas continuam a pensar que podem insistir na fuga para a frente e não perceberam ainda que chegou ao fim a tradicional política europeia do facto consumado.
2ª Conclusão: modelo europeu, procura-se.
Lisboa, 14 de Setembro de 2005
Henrique Salles da Fonseca