HERÓIS DE CÁ - 18
OUTRAS VISÕES - IV
No início dos anos 70 do século XX eram alguns os factos que preocupavam os evolucionistas, apoiantes de Marcello Caetano. Refiro-me ao fim da guerra no Vietname, ao surgimento do «Movimento dos Capitães» e à ordem que Álvaro Cunhal deu aos jovens comunistas no exílio para regressarem a Portugal e se alistarem nas Forças Armadas.
A Guerra-fria teve alguns focos quentes sendo o Vietname um dos mais mediáticos.
A propaganda que os próprios americanos faziam desse confronto para se exibirem como os grandes defensores do bem contra o mal e a divulgação que os meios de comunicação davam à contestação que certos movimentos americanos faziam desse envolvimento, puseram a guerra do Vietname na ribalta mundial durante todo o tempo que o conflito durou (de algures no calendário de 1959 e 30 de Abril de 1975[1] com a debandada americana a receber cobertura mediática em hora nobre dos noticiários mundiais).
Diplomatas assinando os acordos de paz em Paris
(in Wikipedia)
O expansionismo comunista tinha então dois paladinos – a União Soviética e a China comunista – e nem as desavenças que efectivamente existiam entre eles (tira-te tu para me pôr eu) impedia que os vietnamitas temessem sobre tudo o imperialismo chinês e não tivessem os russos como parceiros credíveis: um, perto de mais; o outro, longe de mais. A solução por que o Vietname do Norte optou foi a de recorrer ao apoio de ambos, dividindo-os, para assegurar a sua própria independência de tutelas que sempre considerou espúrias. Mas os EUA nunca viram isto que para nós, europeus, era evidente e o resultado foi um empenhamento sufocante da própria sociedade americana, uma debandada humilhante e uma montanha (um esforço humano colossal) a parir um rato (o insustentável comunismo vietnamita).
E porque sabíamos que a guerra no Vietname não seria eterna, os portugueses evolucionistas queríamos aproveitar esse tempo que os americanos nos davam para definirmos um novo quadro institucional para a harmonia lusófona.
Foi no período de 1961 a 1974 que o Ultramar Português mais se desenvolveu e em que, com excepção da Guiné-Bissau, a guerra apareceu e esmoreceu radicalmente. Sim, basta de mentiras: em 1974 não havia guerra em Angola, em Moçambique havia focos circunscritos e controlados pelas Forças Armadas Portuguesas e em S.Tomé, Cabo Verde, Macau e Timor havia tanta movimentação político-militar como em Campo de Ourique, nas Devesas ou menos do que na buliçosa Coimbra... O crescimento económico quase explosivo então conseguido e a esperança política marcelista venceram a guerra no Ultramar. Repito: com excepção da Guiné-Bissau.
Ou seja, Portugal estava na posição ideal para negociar o futuro mas os ultras, chefiados pelo Almirante Américo Tomas, recusavam-se a ver o que nós, os evolucionistas, tínhamos como evidente.
Quando se iniciaram as negociações em Paris para a assinatura da paz no Vietname, logo imaginámos que em breve seria reactivada a política soviética da tenaz para sufocar a Europa.
Ajoelhados os EUA, seguia-se Portugal na agenda comunista.
Como assim?
Julho de 2009
[1] Os Acordos de Paz de Paris foram assinados em 27 de Janeiro de 1973 pelos governos da República Democrática do Vietname (Vietname do Norte), a República do Vietname (Vietname do Sul) e os Estados Unidos, além do Governo Revolucionário Provisório (PRG) que representou os revolucionários sul-vietnamitas (o vietcong). Na prática, pura letra morta.
