PERPLEXIDADE DA CRISE
Timothy Geithner
Secretário do Tesouro americano
E afinal vamos ter inflação? Paul Krugman diz que não (IHT, 30/05). Os bancos recebem dinheiro do estado em troca dos produtos tóxicos mas não usam esse dinheiro para aumentar o crédito aos clientes. Contabilizam o prejuízo (os accionistas que paguem) e devolvem o dinheiro ao Estado, mediante compra de obrigações do Tesouro. Portanto, o estado não imprime dinheiro, nem vai precisar de o fazer uma vez que o processo decorre sem agravamento exorbitante da dívida pública.
Muito bonito, mas falta aqui uma peça. O estado trocou activos líquidos – dinheiro – por activos de valor duvidoso quase certamente nulo – dívidas incobráveis. Quem vai suportar o prejuízo? O contribuinte, claro; não há alternativa. Teremos então aumento de impostos em vez de inflação galopante.
E não só. Floyd Norris, o analista de estatísticas, mostra que a ”maldade” dos empréstimos bancários não cessa de se agravar. Não porque os bancos façam novos empréstimos de risco mas porque os que anteriormente eram normais tornaram-se duvidosos por mor da crise. São efeitos danosos de segunda geração que nos põem de sobreaviso. O túnel mantém-se escuro. Continuamos a caminhar de surpresa em surpresa. A ciência económica, pelos vistos, ainda não ultrapassou a fase do palpite.