FEBRE DO OURO
Portugal está doente. A doença não tem nada a ver com pobreza e desemprego, passa ao lado do défice e educação, é independente da crise internacional. Isto são sintomas, coincidências, analgésicos ou até parte da cura.
O problema é pior e é bem conhecido. Começou pelo enriquecimento fácil na Europa. Passou a endividamento acelerado no euro. Agora é suspeita generalizada em todo o lado. O nosso drama é fartura prometida mas falhada, direitos adquiridos sem razão, sucesso que os outros parecem ter e eu não. É a velha febre do ouro.
A nossa desgraça é toda a gente achar que há muitos bandidos e ficam impunes. Não porque sejamos roubados, porque até nem somos. Mas porque assim ninguém cumpre o seu dever, e muito menos se sacrifica pelo país, porque sente que mais ninguém o faz. O nosso mal é desconfiar de árbitros e dirigentes desportivos, desesperar dos tribunais, suspeitar de ministros, construtoras, investidores, directores-gerais, funcionários. Até de juízes e magistrados.
Portugal não é corrupto. Mas, como pensa ser, a corrupção fica justificada. A suspeita da aldrabice é pior que a patifaria. O primeiro-ministro recebeu subornos? Não sabemos. Nunca saberemos. Isso é pior que se recebesse.
Tivemos a mesma doença há 450 anos. Primeiro veio o enriquecimento fácil no Império. Depois o endividamento acelerado, que levou D. Sebastião a falir na dívida externa em 1560. Tudo acabou com a perda da nacionalidade em 1580. Desta vez os sintomas não são tão graves. A Europa é menor que o Império. Mas Portugal tem de curar esta febre do ouro.
DESTAK |16 | 04 | 2009
João César das Neves