O valor da tradição
Festa do Divino (Acrílico sobre tela de Néri Andrade- 1998)
Didaticamente, definimos tradição tudo aquilo que foi incorporado ao estilo de vida de um grupo especifico de pessoas e que foi mantido e repetido através dos tempos conferindo-lhe um aspecto cultural. Isso associado à constituição genético-morfológica e ao ambiente irá determinar e qualificar esse povo. Quando percebemos a fleuma saxónica do europeu do norte, o fatalismo do oriental, o fetichismo do africano e o utilitarismo do americano, estamos conferindo características especiais à sua conduta, que o identifica.
Dentre o pluralismo genético e cultural brasileiro podemos verificar, especialmente no povo “bate-praia” do sul do país, tradições açorianas chegadas no século XVIII que deitaram raízes e passaram a fazer parte da cultura popular brasileira, notadamente de Santa Catarina ( Florianópolis) e Rio Grande do Sul.
No culto aos santos, em especial ao Divino Espírito Santo, no hábito antigo de fundar Irmandades e Associações, nas procissões e festas populares, no gosto pelo artesanato e pela música, na mesa farta, no respeito e amor à família, no sentimento arraigado aos valores da terra, na paixão pelo mar e pela natureza, vemos a tradição açoriana renovada e adaptada à região.
Relembrando umas quadrinhas populares açorianas:
Senhor Espírito Santo
Lá da casa da Ribeira
Cheira a cravo, cheira a rosa
Cheira a flor de laranjeira
Tenho tantas saudades
Como folhas tem o trigo
Não as conto a ninguém
Todas consumo comigo
Minha triste saudade
Vamos nós mais devagar
O amor é criancinha
No correr pode cansar.
Pus-me a cantar saudade
Ao pé de uma verde cana
Respondeu-me uma folhinha
Triste vida a de quem ama!
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 13 de Abril de 2009.
Foto: do livro Caminhos do Divino de Lélia Pereira da Silva Nunes.