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A bem da Nação

O “cluster” do Mar de 1974 a 2008

 

 
Evolução e potencialidades actuais – III
 
 
A propósito de termos referido as dificuldades quanto à competitividade convém recordar, muito resumidamente é claro, que esta depende das condições para os empresários como seja facilidades para investir, facilidades burocráticas para a operacionalidade, funcionamento eficaz da justiça, tratamento correcto do ponto de vista de impostos, tratamento correcto da previdência social específica destas actividades, etc., etc. e das condições para os trabalhadores que são sobrecarregados com custos de habitação e mobilidade elevados, bem como os custos da água, da energia, e outros que afectam principalmente as profissões de menores rendimentos mas que condicionam a competitividade das empresas.
Aliás como já está definido em directriz europeia que os nossos actuais responsáveis por este sector continuam a ignorar.
 
A quem quiser aprofundar este tema sugiro a leitura da entrevista ao Dr. João Prates Bebiano publicada na revista “Cargo” de Setembro de 2008.
 
Quanto ao cluster do Mar ou da Marinha vou recorrer a parte do texto de uma comunicação por mim apresentada na Academia de Marinha em 1985 por duas razões: 1ª para mostrar que esta questão não só é muito antiga mas também tem sido quase totalmente desprezada pelos media, pelos políticos e pelos empresários e 2ª ainda para mostrar que nestes vinte e três anos que entretanto passaram não houve alterações relevantes na constituição do cluster do Mar, além das novas tecnologias que afectaram tudo, que justifiquem poder agora dizer-se que estamos perante uma realidade nova, que, aliás, já tinha então quase setecentos anos de vida.
 
Devo esclarecer que hoje muito provavelmente faria uma lista um pouco diferente porque em vinte e três anos houve algumas alterações provenientes do progresso tecnológico e científico mas na verdade em nada alterando a essência do significado da forma de aglomeração destas actividades ligadas ao Mar e portanto à Marinha.
 
Por isto mesmo não vou gastar o vosso tempo e passarei rapidamente sobre esta parte para chamar a vossa atenção para o que considero mais importante neste momento: o que fazer agora, isto é, já para podermos contribuir eficientemente para tirar o País da situação difícil em que estamos actualmente.
 
“Passando agora ao futuro e tendo em mente a mesma atitude dos bons velhos tempos vamos começar por examinar as actividades que permitam tirar directa ou indirectamente proveito do mar:
             -transportes marítimos
                         ..construção naval
                           reparação naval
                           portos
                           entrepostos comerciais
                           zonas francas industriais
             -pesca
                        ..construção naval
                          reparação naval
                          redes
                          aparelhos diversos de pesca
                          equipamentos de detecção
                          tratamento e conservação de pescado a bordo
             -aquacultura
                        ..a nível total, i.e, incluindo desde a procriação até à preparação para                            
                          o consumo
                          a nível parcial, i.e. só a fase final
                          em zonas restritas artificiais
                          em zonas restritas naturais
                          sem restrição de zona
          
               -minerais
                        da superfície dos fundos marinhos- exº manganês
                        abaixo dos fundos- exº petróleo
                        da água-exº sal
               -turismo náutico
                        marinha de recreio como actividade turística pois também o é educativa e social
                        ilhas artificiais
                        pesca desportiva
               -energia        
                        produção de energia por via física
                        produção de energia por via biológica
                        aproveitamento directo da energia eólica
               -educação
 
Para que estas actividades possam ser realizadas é preciso como já vimos conjugar as tecnologias essenciais com a gestão eficiente dos empreendimentos mas pondo esta agora de lado vamos ocupar-nos das primeiras.
 
Quando se fala de construção naval, por exemplo, há que distinguir os problemas e portanto as respectivas soluções dos transportes, da pesca, da marinha de recreio, da marinha de guerra, da exploração submarina, etc., etc., incluídas nas tecnologias específicas relativas a cada actividade dos que lhes são comuns e são tratados com toda a generalidade.
 
Assim, continuando com o exemplo da construção naval devemos considerar como essenciais as tecnologias seguintes:
               -materiais: metálicos
                                 plásticos
                                 elásticos
                                 fibrosos
                                 vítreos e outros
               -incluindo a sua utilização, transformação e produção (por esta ordem)
                       informática
                       hidrodinâmica- cascos e hélices
                       aerodinâmica – velaria
                       termodinâmica- motores, turbinas
                       mecânica- transmissões, redutores
                       sistemas hidráulicos 
                       electrónica
                       telecomunicações
                       sistemas de transporte e manipulação de materiais
                       ar condicionado
                       sistemas de captura de pescado
                       sistemas de detecção de pescado
                       sistemas de tratamento e conservação de pescado
 
Já estamos a detectar nesta lista uma mistura de tecnologias de graus científicos e de graus de utilização diferentes e com aplicações mais ou menos sobrepostas a várias actividades.
 
Para melhor se sistematizar esta exposição seria fundamental a elaboração de uma matriz enquadrando as actividades do ponto de vista aproveitamento económico e as várias tecnologias devidamente individualizadas se possível segundo um critério prático propício ao seu desenvolvimento coordenado.
 
Quando digo graus científicos e graus de utilização directa quero referir-me a uma escala hipotética representada graficamente por um segmento de recta em que a extremidade esquerda representaria o máximo de «pureza» do trabalho de investigação científica, significando como tal a sua proximidade da ciência pura sem a preocupação de aplicação prática e imediata e em que a extremidade direita representaria a simples utilização pelo utilizador genérico por vezes até desconhecedor dos fundamentos científicos do que está a usar. É o que acontece com milhentos utensílios e equipamentos desde electrodomésticos a calculadoras e de automóveis a brinquedos.
 
Para seguirmos os mesmos princípios que orientaram os responsáveis por este País quando se obteve o sucesso de que tanto é costume envaidecermo-nos, teremos que analisar exaustivamente esta complexa matéria tendo em conta que os estudos e trabalhos de investigação quanto mais próximos do extremo prático mais rapidamente se tornam rentáveis, menor é o investimento mas maior a dependência de terceiros para se lhes dar início e quanto mais perto se estiver do máximo de pureza científica maior será o investimento, maior o prazo até se conseguir o retorno respectivo mas também maior será a independência no trabalho e na decisão.
 
Para cada caso ou grupo de casos aquela análise deverá permitir decidir por que grau começar, pesando nesta decisão o conhecimento das nossas possibilidades actuais e as potencialidades de desenvolvimento previsíveis. No fundo, actos de gestão: analisar, compreender, planear, executar, como foi realizado há alguns séculos com menos teoria e mais sucesso.
 
Estamos neste momento em situação mais desvantajosa mas que isto não sirva de desculpa à nossa geração se um dia as seguintes nos classificarem como nós, em abono da verdade, temos que fazer quanto a algumas nossas antecessoras menos antigas que as da primeira dinastia e início da segunda.
 
        Lisboa, 29 de Setembro de 2008
 
 José Carlos Gonçalves Viana

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