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A bem da Nação

CRUZEIRO DO SUL

 

Saudade de África? Porque?
 
Deus melhor entende os simples,
do que entende muitos doutores!
 
Desde que, por razões, na ocasião óbvias, com mulher e um bom molho de filhos tive que abandonar África, sobretudo Angola, já lá vão 33 anos, uma constante nostalgia tem ocupado o meu espírito, com um fundo grande de tristeza. Será a isto que se chama saudade?
 
Daí, por exemplo, nas vésperas de fazer 70 anos me ter oferecido como voluntário para Moçambique, onde estive seis meses colaborando com a fantástica Obra da Rua, a Casa do Gaiato do Padre Américo, e quatro anos mais tarde, o imenso entusiasmo que me levou sem hesitar, a abraçar a ideia de me meter numa casquinha de nós, à vela, o valente «Mussulo» e ir com mais dois amigos, levar um Abraço a Angola, gastando 31 dias para cruzar o Atlântico, o que se pode ainda ver no site www.abracoavela.com
 
Hoje a "carcaça" não daria para mais aventuras semelhantes, mas o "bichinho" continua a roer, levando-me a sonhar com um milagre que me proporcionasse mais um tempo passado no meio daquele povo simples.
 
Levando anos a pensar o que me faria ter tanta saudade de África, que não foram as caçadas, porque há muitos anos, ainda naquelas terras desisti totalmente de dar um tiro mais, nem o facto de ali nos terem nascido os filhos, também não o grande círculo de amigos lá desenvolvido, nem a minha juventude e amadurecimento e os cargos de responsabilidade profissional que desempenhei, ou o tempo em que ainda praticava desportos, mas sem dúvida que tudo isto contribuiu, e muito, para uma parte desta saudade.
 
Também não foram as paisagens espectaculares e as praias maravilhosas, a baía de Luanda ou as florestas do Maiombe ou do Uige, as savanas das famosas «terras do fim do mundo», a descida da Chela, o deserto de Moçâmedes, hoje Namibe, nem o clima maravilhoso da Huila, do Huambo e de todo o planalto central de Angola, sem esquecer os equivalentes em Moçambique. Paisagens fantásticas continuei a encontrar no Brasil, por todo o canto, no Peru, e até mesmo na Europa. Mas as de África... deram também uma achega grande a todo este conjunto de saudade.
 
 
Serra da Chela - Angola
Porém, nada disto, de per si parece poder justificar tamanho espaço que todas essas recordações-vivências ocupam dentro de mim.
Este sentimento de estar longe, muito longe, em tempo e espaço, sempre presente, aumenta quando mais profunda e detalhadamente contacto com a natureza. Pode ser uma simples borboleta, uma paisagem ou um humilde camponês. Com isso cheguei à conclusão que a componente humana é talvez a principal responsável por este sentimento de vazio, da tal nostalgia, saudade.
 
Lembro o povo simples do interior de África, às vezes até das cidades, sempre mais difícil, com quem, sem jamais lhes faltar ao respeito, brinquei e ri, e aprendi o que é ser «pobre de espírito»: humilde sem subserviência, natural, simples, grande. Os ingredientes cada vez mais difíceis de encontrar nos homens e que os levam à desmedida ganância, a guerrear, a ignorar os mais fracos, a destruir o pouco de bom que ainda, a Deus graças, sobrevive!
 
Esta é talvez a parcela mais forte de que sinto falta: gente simples. E lembrando Gabriel Garcia Marques: «Um homem só tem o direito de olhar outro por cima quanto está a ajudá-lo a levantar-se!»”
 
Rio de Janeiro, 18 de Fevereiro de 2009
 
 Francisco Gomes de Amorim

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