UM NOVO MODELO ECONÓMICO-SOCIAL – 4
Muito embora, nos textos antecedentes eu tenha versado sobre teorias usando um conceito de uma parte de um texto aqui, buscando outra ideia de outro autor ali, mas sempre com o pensamento na realidade prática da teoria, não me sinto muito disponível para o debate ideológico, completamente contrário à ideia com que iniciei estas palavras e por muito que este tipo de debate me fascine e tenha um enorme valor filosófico, científico e cultural, não nos levará a conclusão alguma e a minha pretensão é ligar-me ao racional da vida, não ao teórico. Também não desejo ser considerado polimático, porque não sou.
Na verdade, da Revolução Industrial emergiram duas novas classes e a rapidez com que surgiram os lucros e a acumulação de riqueza trouxe para a ribalta, pelas mãos do manifesto do Partido Comunista a novidade do conceito de imposto progressivo, sempre era melhor do que a “taxa” Robin Wood. Mas o aparecimento destas duas classes não baniua classe dos abaixo das classes. Reafirmo, apesar do ar de ofendidos de alguns que, na época da Revolução Industrial, havia vítimas da sociedade daquele tempo, muito piores do que a dura (não o nego) condição de proletário que sempre foi, mal ou bem, criando as oportunidades para se defender dos avanços do Capitalismo, com o surgimento, p.ex., dos primeiros “trade unions”.
O séc. XXI nasceu para uma nova era. Já não há justificação nem necessidade para que a riqueza do mundo esteja nas mãos de meia dúzia, com a outra enorme parte da humanidade a passar fome e frio em resultado da má distribuição da riqueza.
Mas para mim, os ricos podem ficar ricos na mesma, sem a acumulação imoral e excedentária de riqueza; e, assim, os pobres ficariam menos pobres. Por isso, quando defendo que a união de classes é importante para que se combatam estas terríveis assimetrias, não estou aqui a falar da unidade dos dois opostos de Heraclito, mas pugno por um regime de parceria inteligente, que assimile as tensões naturais entre quem tem interesses divergentes e que pode conviver com essa realidade sem ter que fazer cedências radicais. Pensem nisso! Sempre é melhor do que uma Guerra à escala global!
Aqui cabe um papel importante aos Estados. Estes têm de ser os supervisores de todo este novo funcionamento global. Claramente, os polícias da economia mundial, para que as regras internacionais se cumpram em prol da humanização dos sistemas e da harmonização das políticas, para que o futuro não se nos apresente com cara de paz ameaçada. Temos de reinventar a concertação entre Estados e questionarmo-nos qual é o interesse de défices controlados, por exemplo, o que é que isso significa em relação às economias mundiais devastadas e corroídas pela fraude? Em que se fundamentam as volumosas injecções de capital com dinheiro feito nos bancos centrais, sem qualquer expressão, ou equivalência, ou suporte, ou encaixe na riqueza própria dos países?
Os acontecimentos obrigaram-nos a pôr de lado as regras estabelecidas no passado. Porquê não criar novas regras? Retenhamos, tão-somente, que a rigorosíssima ex-regra do encaixe passou a diluir-se, lentamente, nas influências externas de cada país, uns cumprindo outros não, para cair na feitura (indiscriminada?) de moeda para tapar buracos e salvar a pele do lado errado das economias nacionais, aquele lado que é oriundo da especulação selvagem e criminosa, sem preocupações de reserva-ouro ou níveis de produção, ou estado equilibrado ou desequilibrado das balanças de pagamentos. Quem é que liga a mínima a isso? Só se acena com este “papão” em teoria, aos toscos, para que estes estejam sempre a pagar as arbitrariedades, asneiras e interesses de quem nos governa. O mercado tem de ser encarado de uma outra forma. Produção para estimular a estabilidade economia/emprego. Condições para se comprar o produto/necessidade. Política de preços para controlar a especulação. Evitar a escassez para condicionar o excesso e controlar os preços ou o acesso a manobras especulativas. Reduzir as intervenções do Estado como parte interessada dos negócios e aumentar a supervisão do Estado como modelo de arbitragem, isento e implacável com as dissensões. Reduzir o tamanho do Estado, para deixar de ser entendido como monstro devorador do dinheiro dos contribuintes e ser o porto seguro das economias nacionais. Já é tempo de deixarmos de ver o Estado como parte do problema para que este faça parte da solução.
O segundo inglesismo que vou empregar, tão caro, aos economistas: “downsizing” devia ser um corolário da nova ordem económica internacional. Um novo New Deal! Mas, emagrecimento em tudo, equilibrando para um nível socialmente mais justo os proventos das grandes administrações dos bancos(*) e das empresas públicas, taxando a nível privado os grandes proventos das administrações das grandes sociedades anónimas e controlando e fiscalizando a riqueza, mas, não com medidas avulsas surgidas do nada em anos eleitorais e que no ano seguinte se esquecem e se abandonam, por deixarem de interessar à nova classedominante, entenda-se como classe dominante, - não a do conceito marxista, mas a novel, a omnipresente e omnisciente classe política - voltando tudo ao mesmo.
Os Governos, sempre tão corajosos a entrar nos bolsos dos que não podem fugir de pagar, deveriam controlar aqueles que pelo seu estatuto, têm possibilidades e são propensos a fugir do pagamento dos impostos. Esta cultura de fuga descarada é fruto da incapacidade dos Governos para se fazerem respeitar e, consequentemente, da síndrome instalada: a convicção de impunidade.
Por outro lado, esta prática social tem origem no facto de os Governos perderem a credibilidade, como pessoas de bem, dado que os dinheiros públicos são geridos de forma irresponsável e perdulária, deixando os “cabedais” públicos à mercê de oportunistas e incompetentes.
Recuperando aquela ideia das injecções de capital nas economias para salvar as economias nacionais (?) – eu diria o bolso dos especuladores – um Amigo meu perguntava-me porque é que os Governos não dão uma máquina de fazer dinheiro a cada cidadão? Era tudo muito mais fácil, ó se era! Então, nesta coisa das leis de mercado, deveria introduzir-se um factor que obstasse à escassez para não aumentar os preços e outro que evitasse os excedentes de produção para não atrapalhar os mecanismos naturais da procura. Ou seja, na presença de escassez artificialmente conseguida esta devia ser penalizada e protegida com uma regra de segurança que provocasse, obrigatoriamente, o equilíbrio automático de reposição dos bens escassos como, por exemplo, os ovos ou o leite desaparecerem artificialmente do mercado para lhes subir os preços. O produto excedentário, por exemplo, de bens alimentares, deveria de ser objecto de convenção entre Estados para que se não desperdiçassem os excedentes e fossem úteis em continentes onde são urgentemente necessários e não se recorresse a esta modalidade só quando existem crises humanitárias. O controlo destas situações caberia aos Estados ou seus representantes. E não me vou perder, por ora, em pormenores.
A prova de que tudo está em mudança foi-me dada, hoje, pela Natureza, a 14 de Fevereiro deste ano da graça de 2009, ouvi as andorinhas a chilrear pela manhã no beiral do meu telhado. A Primavera veio bater à porta do Inverno e comunicar-lhe que está na ora de se despedir. Se por morrer uma andorinha não acaba a Primavera, o facto é que sem andorinhas não há Primavera!
(continua)
(*) Admira-me que os grandes accionistas não controlem as decisões das administrações dos seus bancos em matéria de remunerações. Afinal o dinheiro é deles. Se fosse meu, limitaria estas altas mordomias porque estariam a usar-se do meu dinheiro para viverem à grande.