ABAIXO A BURGUESIA!
Sim, «ABAIXO A BURGUESIA!» é o voto que, pela calada, subjaz a inúmeras actuações políticas. E são precisamente esses políticos que pedem o voto aos burgueses pois sabem que os proletários já não são suficientes para elegerem seja quem for.
Quando o discurso político promove a abastança de objectivo a direito, não faz sentido penalizar os que por ele pagam uma esmagadora carga fiscal.
E não me referindo a outro tipo de penalizações da burguesia, cito apenas as que são lançadas a pretexto do automóvel: os corredores BUS, os parquímetros, a caça à multa, a organização de maratonas pedestres nas vias construídas para a circulação automóvel e outras demagogias ecológicas de mensagem duvidosa para não apurar se intelectualmente fraudulenta. E, no entanto, o automobilista é certamente um contribuinte de enorme relevância na receita pública corrente enquanto maratonistas e passageiros do BUS são seguramente beneficiários líquidos do erário público.
Fui ao site da Direcção Geral do Orçamento consultar os Quadros do Orçamento do Estado para tentar extrair a informação sobre quanto pagam os automobilistas ao Fisco. Não me entendi com o que lá encontrei, aconselhei-me com colegas (economistas como eu) que também não conseguiram extrair a informação desejada e decidi pedir ajuda a uma Associação empresarial do sector automóvel que de imediato me deu toda a informação que eu procurava. Isto passou-se antes de a bolha especulativa inchar e, claro está, muito antes de rebentar.
Assim, se em 2007 o sector automóvel contribuiu com cerca de 23% da receita pública corrente, é legítimo admitir que em 2008 essa percentagem tenha subido devido ao processo inflacionista entretanto ocorrido. E se em 2008 o crescimento da «contribuição automóvel» para o Orçamento do Estado possa não se ter verificado pela via dos Impostos Indirectos, certamente que o inchadíssimo IRC das empresas de combustíveis para isso contribuiu decisivamente.
Ou seja, muito provavelmente em 2008 o automobilista português contribui directa e indirectamente – e só na qualidade de proprietário de automóvel – com 25 a 30% das receitas correntes do Estado.
Mas os contribuintes – nomeadamente os automobilistas – financiam o Estado para que as empresas de transportes públicos recebam os subsídios que as compensem da prática de preços sociais. E são essas empresas que utilizam os corredores BUS em claro prejuízo dos transportes privados. Isto é o mesmo que dizer que os passageiros dos transportes subsidiados têm direito a percorrer vias de privilégio financiadas por quem tem que percorrer caminhos não privilegiados e frequentemente mais longos. Escandalosa injustiça fiscal. E não me venham com argumentos de distribuição da riqueza porque o que está em causa é a instauração de um esquema leonino em que aos burgueses compete tudo pagar e às classes proletárias tudo beneficiar.
Porque é exactamente isto que evidenciam os propósitos de muitos políticos, o quererem deitar-nos a baixo, a nós, os burgueses. Só que não enxergaram ainda que tudo quanto fizerem contra nós se voltará contra eles não só na prática política – não lhes damos mais o nosso voto e vamos à procura de quem nos defenda – como no âmbito da fiscalidade pois quanto mais nos empurrarem para fora do sistema menos receitas terão e mais transportes públicos deficitários terão que suportar.
Se a isto acrescermos os parquímetros e as provas pedestres nas ruas para automóveis obrigando-nos à utilização de percursos mais sinuosos e de menor qualidade, então fica patente a má vontade dos políticos contra a burguesia automobilizada.
Contudo, devo afirmar a minha concordância com os radares de controlo de velocidade anunciados em grandes parangonas para, em contraste, considerar ignóbil a caça à multa com os polícias ou militares acoitados a trás dum pilar ou a coberto duma esquina a fotografarem pelas costas o automobilista passante. Sempre considerei que pelas costas só os cobardes actuam e por isso entendo que esse género de actuação deva ser proibido e agente que nele seja apanhado seja punido.
Como se não estivesse mais do que provado que a classe média burguesa é o elemento estabilizador de qualquer sociedade, ainda temos que aturar quem não percebe o que anda a fazer em termos de mau negócio fiscal.
Em 2009 teremos eleições legislativas em Portugal e nós, os automobilistas burgueses, vamos obviamente fazer opções numa época em que novos partidos políticos entram em cena.
Lisboa, Dezembro de 2008