LIDO COM INTERESSE – 38
Título: Reler Manuel Alegre – Poética da Viagem
Autoras: Lourdes Câncio Martins
Célia Carvalho
Paula Pires Santos
Helena Silva
Editor: Edições Cosmos
Edição: 1ª, Novembro de 2008
Da contracapa extraio que «aceder a um “estado de escrita”, como Arte de Marear, será esse, porventura, o destino dos vários percursos traçados na cartografia poética de Manuel Alegre: um estado de graça que aí se revela e se expressa pois “cada palavra contém o universo”, confere um profundo sentido à existência na sua “relação mágica com o mundo”.»
Assim como o Padre António Vieira imaginava o V Império, também Manuel Alegre alcandora a alma lusitana à dimensão do canto e não das armas. Como as Autoras referem a págs. 48 in fine,
“(…) Manuel Alegre propõe-se reescrever a narrativa do humanista com um (…)
«português errante
em busca do país que não se encontra»,
um Hitlodeu da contemporaneidade que (…), marinheiro-filósofo portador de uma mensagem reformista e de um novo paradigma social, defende (…) a alteração do discurso da História.”
Creio que esta transcrição explica muito do discurso político de Manuel Alegre mas num estilo mais íntimo e nada heróico, no “Regresso à Velha Casa”, diz:
«Quem eu chamo não vem.
Tanto quarto vazio
Tanta sala sem ninguém
E frio
Andam no ar palavras de outras vidas
À espera de um poema que as recolha»
E ao longo de toda a obra aparecem as figuras míticas de Ulisses e Ítaca como o cavaleiro andante e o local da nostalgia em contraponto com as figuras históricas de D. Sebastião e Alcácer Quibir, algozes do grande sonho lusíada.
Inconformado com tal destino, afirma:
«Eu venho incomodar.
Trago palavras como bofetadas
(…)
Porque a minha canção não fica no papel.
De certo modo sou um guerrilheiro
que traz a tiracolo
uma espingarda carregada de poemas
ou se preferem sou um marinheiro
que traz o mar ao colo
e meteu um navio pela terra dentro
e pendurou depois ao vento
uma canção.»
E muito mais citações poderia eu fazer de passos explicativos da obra de Manuel Alegre mas em vez disso deixo uma sugestão: leia-se o livro e prossiga-se depois na leitura da obra do Poeta que assim toma uma dimensão por que não esperávamos, os desprevenidos.
Novembro de 2008
Henrique Salles da Fonseca