POSTAIS ILUSTRADOS - IV
AO GOVERNO
Contribuição para uma política de Educação
Amigo Jonh!
Tens toda a razão. Mas como poderia eu comentar um evento que teve lugar já depois de te ter enviado o postal? Na verdade, neste intervalo, a Srª Ministra admitiu que havia coisas que não estavam bem no método do processo de avaliação, que tinham de ser mudadas e que houve erros. Não considero esta postura um recuo, mas uma postura de Estado. Ao recusarem, “in limine”, esta porta que se lhes abriu, os Sindicatos estão a proceder do mesmo modo com que a Srª Ministra iniciou este processo. Vêm anunciar que têm outro modelo. Tudo bem desde que esse modelo coincida, no mínimo, com o projecto inicial, extirpado dos erros mais evidentes. Estarão a aproveitar-se da aparente fragilidade em que a ministra se colocou? Pensam eles? Mas se adoptam esta posição, deixam de ter toda e qualquer razão, porque nos vêm demonstrar que a intenção era outra. Armar um “casus belli”. Em política, todo aquele que se recusa a negociar, afasta-se dos princípios da Democracia. A arrogância parece um vírus que contagia os dois lados. Situação perversa esta!!!... Esperemos que pensem que a Educação não é propriedade, nem dos professores, nem do Governo. É destinada a melhorar as competências dos alunos que serão as vítimas de todas estas questiúnculas sem pés nem cabeça. Para que tudo isto resulte torna-se urgente que as gerações futuras tenham direito a outro nível de Educação, que revolucione a mentalidade e a cultura dos jovens do futuro. E isso não se faz no interior dos gabinetes, nem com atitudes déspotas e despropositadas, nem puxando para o lado dos interesses políticos dos professores, nem para satisfazer ambições de poderes governativos; faz-se no terreno, passo a passo, com fases experimentais, com bom senso, com discussão, com avanços, com recuos e uma postura de humildade, mas não usando alunos nem professores como cobaias. Não acredito que enveredando pelo caminho da seriedade intelectual e da ética na discussão de modelos alternativos, a política de Educação se atrase 25 anos, como alguém já afirmou. Ou, de facto, poderá atrasar-se se alguém estiver de má fé nesta polémica. Penso ser de extrema necessidade, que em primeiro lugar se aborde e discuta a escolha das matérias. Que conhecimentos devem ser administrados às crianças, aos jovens e aos adolescentes? Qual o papel das Editoras na manutenção do mercado dos compêndios escolares? Em segundo lugar, chegará a fase pré-adulta da entrada destes adolescentes no ensino superior e a política de notas de acesso onde, hodiernamente, se quer fazer com que todos os jovens portugueses universitários sejam inteligentes cientistas; o que é uma burrice política. Não pretendo para o meu País, um País de génios. Eu sei que o uso das notas altas para determinados cursos foi, no passado, objectivamente, para fazer uma política de selecção (errada) e para evitar o afluir de maior número de profissionais a áreas de trabalho para as quais. se entendeu, então, não haver mercado. Refiro-me, particularmente, à política de notas em medicina, quando o exercício da medicina não requer notas altíssimas, requer vocação. Agora faltam médicos. Não há de facto, licenciados a mais como conclui, num trabalho, o Autor deste blog. Uma burrice completa, feita em cima do joelho, estas das notas de acesso, como, aliás. são, a maior parte das coisas feitas em Portugal. No próximo postal falar-te-ei das escolas e de como deveria ser o seu funcionamento. Este postal mostra-vos o equivalente à vossa Sala Oval, centro do Poder Executivo, - o Gabinete do Srº Primeiro-Ministro.
Do teu Amigo,
Luís Santiago