LIDO COM INTERESSE 5
Título original: "DE CHAUL A BATTICALOA - As marcas do Império marítimo português na Índia e no Sri Lanka"
Autor: K. David Jackson (americano)
Editor: MAR DE LETRAS EDITORA
1ª edição: Novembro de 2005
Dos heróis que cantaste, que restou
Senão a melodia do teu canto?
As armas em ferrugem se desfazem,
Os barões nos jazigos nada dizem.
(Carlos Drummond de Andrade, in "A Paixão Medida")
Escritos em caracteres tamil
Por quem mal sabe a língua em que soavam . . .
Estes versos emergem com uma tranquilidade
Terrível de língua morta a desfazer-se
E cujos ossos restam dispersos num e de um rimance
Cantado há quatro séculos numa terra alheia.
Distâncias de oceanos os conduziram como hábito
De serões e vigílias. Solidões do longe
Os ensinaram a quem partilhou tédios e saudades . . .
Ficaram nas memórias teimosas de abandonada gente . . .
Presa por um fio a um país esquecido . . .
Não os ouve nada nem ninguém.
(Jorge de Sena)
Eis a sina dos "portugueses abandonados" cantada por dois poetas da Lusofonia. Extractos que retive: Depois de 500 anos, a presença portuguesa na Ásia é mais visível, paradoxalmente, através de uma ausência sensível: nas ruínas das cidades e fortalezas costeiras que transformaram a história em arqueologia. Tal é a fortuna da cidade-fortaleza de Chaul, na costa ocidental da Índia, porto de grande antiguidade que no século XVI foi uma das praças portuguesas mais importantes, muito antes de Bombaim existir. Em estado de ruína desde o século XVIII, Chaul representa um grande número de fortalezas, monumentos, construções e inscrições que testemunham a ausência sensível desse império marítimo português. De Damão, transcrevo apenas dois versos duma cantiga actual:
Papegaai ne gaiola,
batté azas quer curre,
Menina ne janela,
batté peto quer morre
Batticaloa é a mais rica fonte de português no Ceilão. Nada menos que trezentas famílias ainda falam português. A União Católica "Burgher" reúne estas pessoas que falam português na Reunião Geral Anual dessa União mas as minutas são escritas em inglês porque não sabem escrever em português. Mas têm muito orgulho na sua cultura e estão interessados em preservar a sua língua. Do folclore português do Sri Lanka, basta transcrever duas pequenas peças para se ver o que ainda temos que fazer no apoio a estes "portugueses abandonados" para que mantenham a sua cultura e retomem o contacto com o país que invocam como seu, Portugal:
Anala de oru sathi padera juntu
Quem quera anal avie casa minha juntu
(O anel de ouro com sete pedras
Quem quiser o anel, venha casar-se comigo)
Jafoi todo partis, Ceilão per Japan
Mais nunca trizé nada, for da firme coração
(Já fui a toda a parte, do Ceilão para o Japão
Mas nunca trouxe nada, excepto o fiel coração)
Onde se localiza o Instituto Camões naquelas paragens?
Lisboa, Março de 2006