Amamentar, um acto de amor
Pierre-August Renoir ( Mulher amamentando)
Apesar dos medos que nos assaltam ao verificar os perigosos caminhos que a humanidade tomou, a chegada de Sophia me deixou emocionada. Pensei que mais uma vez a força da vida superou as incertezas do futuro.
Ao contemplar esse frágil ser cor- de -rosa, pequeno, mole e indefeso, girando a cabecinha à procura do seio materno, numa forma instintiva de sobrevivência, percebi a força misteriosa da relação que existe entre mãe e seu rebento. Pela primeira vez vi, mesmo já sendo avó, que o tempo passou célere, como areia entre os dedos, e eu não senti. Confesso, foi uma sensação estranha misto de calma, contentamento e uma ponta de nostalgia. Era o relógio da vida a correr através do seio generoso de minha filha. Agora era ela a provedora. Daquele momento em diante eu seria apenas uma expectadora, com alguma experiência.
Amamentar, dar o peito, movimento primitivo, ancestral, mágico quando mãe e filho formam uma parceria única, perfeita, onde a mãe oferece o alimento como fonte da vida e a criança como possibilidade de futuro. É a sensação figurada de um completo entendimento, sem palavras, só de gestos e sentimentos, onde reinam a paz e a calma. Momento único de total ausência de disputas, invejas e ressentimentos, quando os papéis estão bem definidos e assumidos num objectivo claro; o da preservação da espécie.
Ao nascer a criança chora, numa busca pelo ar, mas logo após expandir os pulmões é o seio materno que ela procura para se alimentar. Como mágica ele jorra leite e se transforma numa fonte de satisfação, calor, aconchego e protecção.
Amamentar é um acto de amor, diz o slogan do ministério da saúde. É verdade. Faz bem à criança e à mãe, dizem os médicos e educadores. Diminui a morbidade e a mortalidade infantil e traz sensação de prazer e poder às mães. Na mulher previne as doenças malignas das mamas, promove mais rapidamente o retorno à forma física normal. Bloqueia a ovulação, diminuindo nesse período a possibilidade de nova gestação. Amamentar é mais confortável e menos trabalhoso para a mãe, pois o produto está sempre pronto a ser dado, na temperatura certa e sem risco de contaminação. O leite materno previne a desnutrição, as doenças infecciosas e a obesidade da criança. A alimentação “artificial” só deve ser adoptada na agalactia (falta de produção láctea) materna, no desmame precoce, e nos problemas de saúde maternos ou do lactente.
A amamentação natural é algumas vezes recusada pelas jovens mães que têm receio de que suas mamas se deformem, o que de fato pode ocorrer. Mas é bom lembrar que nada é para sempre, principalmente a beleza, e que acima de tudo somos mamíferos da espécie HOMO SAPIENS, e que necessitamos do seio materno para sobreviver. E além do mais, hoje em dia, para corrigir os defeitos herdados ou adquiridos há muitos recursos como cirurgia plástica e os tratamentos estéticos que a tecnologia moderna oferece.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba 26/10/08