PASSE DE MAGIA – 2
C) Fixar regras claras para que a mudança aconteça de forma pacífica. Portugal tem um enorme deficit de "accountability" e, em contrapartida, um gigantesco "superavit" de personagens que se crêem "más allá del bien y del mal" (J. D. Perón) – quanto a isto, nada de essencial mudou nos últimos oito séculos. Em Portugal, os "fazedores de opinião" perpetuam-se na defesa das suas respectivas damas – mas não existe nem oportunidade para, nem interesse por opiniões independentes que nada tenham para oferecer aos adeptos (um subsidiozinho, um lugarzinho, uma empenhoca, por exemplo). Para nós, Portugueses, a simples ideia de mudar assusta-nos. O que está é-nos vendido como o melhor dos mundos, a excelência do possível, a bênção de homens (mulheres) providenciais que convém não desinquietar – e a gente compra. Compra todos os dias. Compra sempre. Em Portugal, o rei só vai nu depois de morto (e os mortos, por cá, são sempre poços de virtude) ou se cair em desgraça por um qualquer motivo fútil que terá mais a ver com a inveja e a mesquinhez do que com uma avaliação isenta dos méritos e deméritos. Em Portugal, um Steve Jobs, um Bill Gates só aconteceriam se fossem apadrinhados por alguém que pusesse e dispusesse sobre o dinheiro dos contribuintes. Por uma qualquer aberração cultural, não deixamos de pagar aos que nos exploram sem pudor e continuamos a confiar nos que nos enganam descaradamente. Enfim, somos um povo cristalizado que vai repetindo incessantemente o mesmo ritual. Modernizam-se os salões, actualizam-se os trajes, mas a cerimónia é sempre a mesma.