Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A bem da Nação

Falando de flores

 

 
Íris
 
 
Quando ia aos Açores, nas férias, gostava de visitar a casa de minha avó materna. Naquele tempo ela morava no Vale dos Flamengos, região húmida e arborizada, cortada por uma ribeira de águas claras e pedras roliças, onde se instalaram os primeiros povos colonizadores da Ilha do Faial, os flamengos.  À entrada da modesta morada, de janelas envidraçadas, resguardadas por cortinas brancas e rendadas, havia um pequeno portão de madeira que dava para um jardim multicolorido. Rosas, cravos, margaridas, dálias, amores-perfeitos, ervilhas de cheiro e hortênsias, de todos os matizes, disputavam lugar com canteiros de couves, alfaces, ervilhas, tomates e ramas de feijões rajados. Embora gostasse do visual, não entendia bem aquela mistura de elementos, que se renovava a cada período específico. Como é que vovó cultivava folhas tão importantes para a alimentação,  junto de flores, coisinhas tão vistosas e cheirosas,  mas sem nenhuma utilidade, a não ser a beleza? Pensava eu, candidamente. . Só mais tarde, entendi o porquê daquela combinação. Além do pouco espaço para plantar, as flores embelezavam o ambiente, atraíam pássaros, que comiam as lagartas das hortaliças, e chamavam as abelhas, que espalhavam o pólen para se ter mais plantas, flores e mel. 
 
Quem já sentiu a emoção de ganhar rosas vermelhas do seu amado, por certo sabe a força que elas têm. Curiosa, fui pesquisar sobre as flores e, lendo, descobri que foram os ingleses, no século XVIII, que aprenderam com os turcos a linguagem social e romântica das flores, quando o gesto representava mais que a palavra, tornando-a em certas ocasiões até dispensável.
Apreciadas desde sempre, as flores encantaram pessoas, sensibilizaram corações e enterneceram mentes.  Na vida e na morte, em todos os momentos importantes, elas foram companheiras inseparáveis. Agradaram, acolheram, despediram,  consolaram, seduziram e até rotularam. Enfeitaram casas, templos e túmulos. Emprestaram sua beleza para a aristocracia, como símbolo de nobreza. Quem não conhece a flor de Lis, aquela dos Luizes, símbolo da coroa francesa? E a rosa, a que deu  nome à disputa do reino inglês, na Guerra das Rosas,  entre as famílias Stuart (rosa branca) e Lancaster (rosa vermelha)?
 
O poder das flores vai muito além da simbologia romântica e da força comercial que exerce sobre os homens. Sem elas não há vida, como órgãos reprodutores que são, quando num ciclo vital se transformam em frutos e sementes, origem de todo o ser vegetal, base do todo o alimento.
 
Na saúde têm aplicações imensas,  desde a modesta genciana, que trata fungos e bactérias, até a azálea,  que mata com seu poderoso veneno. Sem falar da antiquíssima papoula, matéria prima do ópio, actualíssimo problema. As suas tintas coloriram tecidos, cabelos e corpos, em sinal de feitiço e lutas. 
 
Nos lares, dos mais simples aos mais bastados, frequentam as mesas em vistosos arranjos, em apetitosas saladas, em saborosas geleias e delicadas pétalas cristalizadas, em licores e vinhos (sabugueiro e dente-de-leão) deliciosos.
Mas é sem dúvida nos perfumes que mais se destacam, espalhando odores, marcando presença, insinuando amores.
 
Participaram da História, nos escudos dos bravos, no regaço de rainhas e no peito das damas. Estiveram nas cabeças coroadas. Figuras omnipresentes nas lendas e nos mitos das civilizações humanas. Foram mensageiras dos deuses e protectoras dos homens, como a íris que  Hipócrates achava ter capacidade de curar distúrbios de ordem sexual.  O certo é que as vovós de muitas gerações usaram o pó da sua raiz para aliviar as dores das gengivas das criancinhas.
 
Lugares e cidades do planeta Terra deram testemunho da sua importância como Florença na Itália e a Ilha das Flores nos Açores.
 
Como curiosidade, do livro Linguagem das flores (Sheila Pickles)  retiramos o significado simbólico de algumas flores:
Cravo -  ai, meu coração
Camélia -  beleza perfeita
Margarida - inocência
Gerânio-tristeza
Jasmim-graça e elegância
Íris – mensagem, autoridade,dor
Alfazema - desconfiança
Lírio - pureza
Narciso-vaidade
Amor-perfeito - pensamentos
Prímula-juventude
Rosa-amor
Girassol-altivez
Violeta - modéstia
Amarílis – orgulho
 
Com tantas mensagens insinuadas na linguagem simbólica das flores, as pessoas deveriam usar mais essas belezas para dar recados. Com certeza, haveria mais harmonia e entendimento.
 
 Maria Eduarda Fagundes
Uberaba 27/07/08
 

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2006
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2005
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2004
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D