CURIOSIDADES DE ANGOLA
É sabido que a instrução, em Portugal, só foi tornada obrigatória, sobretudo o 2° grau, depois da revolução de Abril! Era Portugal o país mais atrasado da Europa em nível de alfabetização, apesar de ter sido um dos primeiros a criar estudos superiores, no tempo do grande rei Dom Dinis.
Se assim era na chamada Metrópole, o Ultramar não poderia ter sido melhor!
No entanto, pelo menos em Angola, era grande a preocupação da maioria dos Governos Gerais pelo desenvolvimento da Instrução Pública, que se deparava normalmente com a falta de professores capacitados!
Em meados do século XIX já havia em Luanda alguns advogados, raros, a quem por vezes se pedia que examinassem um ou outro sargento para avaliar da sua capacidade para servir de professor da Instrução Primária!
Por isso é muito curioso o quadro estatístico da Instrução Pública em Angola, no mês de Maio de 1848:
Loanda
Aula de Gramática Latina Nativos Europeus Total
Existiam 8 0 8
Sahiram 1 0 1
Existentes 7 0 7
O professor A. da Conceição Carvalho e Rego
Aula de Instrução Primária Brazil Nativos Europeus Total
Existiam 1 125 14 140
Sahiram 0 2 1 3
Entraram 0 12 0 12
Existentes 1 135 13 149
O professor interino, Casemiro José Fernandes
Aula de Meninas Nativos Europeus Total
Existiam 10 1 11
Sahiram 1 0 1
Entraram 3 0 3
Existentes 12 1 13
A Mestra Régia D. M. Augusta de Carvalho
Benguela
Aula de Instrução Primária Nativos Europeus Total
Existiam 40 0 40
Sahiram 0 0 0
Existentes 40 0 40
O professor interino J. Correia da Conceição
São José do Encoge Nativos Europeus Total
Existentes 27 0 27
O professor Manuel Nunes Dias
Muxima
Aula de Instrução Primária Nativos Europeus Total
Existiam 59 0 59
Sahiram 1 0 0
Entraram 9 0 9
Existentes 67 0 67
O professor Balthazar de Silva e Sousa
in Boletim Official do Governo Geral da Província de Angola, nº 167, de 9/Dez/1848
Não se pode afirmar que se desprezou o ensino nas colónias. Se ele era pouco mais do que inexistente em Portugal! Haverá todavia muitos xenófobos que não vão gostar de saber isto (e muitas outras coisas) mas é só consultar as fontes e verificar a veracidade da informação!
E ainda diz o mesmo "Boletim" que do Duque de Bragança "faltou o mapa deste mês"! É bom notar que nessa altura o Ambriz era pouco mais do que terra de ninguém, onde os americanos, a quem os ingleses nada podiam fazer no controle dos navios negreiros – nem lhes interessava, claro! - continuavam a traficar e a levar gente para o Caribe e Estados Unidos, Malange... tinha somente dois ou três comerciantes e em Moçâmedes, Namibe, procurava-se um "sargento" que pudesse desempenhar a docência...
E as festas no Palácio do Governador nos dias dos aniversários da Rainha, dos Príncipes, nas festas religiosas, etc?
O conhecido poeta e escritor angolano Mário António, num artigo intitulado "Música e danças tradicionais em Luanda", publicado no "Boletim Cultural da Câmara Municipal de Luanda, nº 11, de Abril a Junho de 1966, afirma que o médico italiano Tito Omboni, autor de uma "Viaggi nell'Africa Ocidentalle", editada em Milão em 1848, "se sentiu pouco à vontade num baile no Palácio do Governo de Luanda, à vista de tantos mestiços e negros divertindo-se na contradança francesa..."
Era assim Angola dos tempos antigos. Muito antigos, sobretudo depois que se aboliu o tráfico de escravos que, apesar de ter abalado o "comércio" daquela terra, não esfriou o entusiasmo e o sentido de humanidade, que tão bem Gilberto Freyre encontrou no português e que hoje se procura denegrir.
Alguém ouviu falar em bailes nos palácios dos governos ingleses, em meados do século XIX, com aquele colorido de gente?
(Notas extraídas do livro "A Velha Loanda" de José de Almeida Santos, Luanda 1972)
Rio de Janeiro, 7 de Julho de 2008
Francisco Gomes de Amorim