O preço do biocombustível
Acordei com a sensação desagradável de boca seca e narinas ardendo. Fui à janela, no ar parado um cheiro de queimada. Cobria o chão da varanda de minha casa uma fuligem preta de palha de cana incinerada. O noticiário avisava:
-Nas estradas uma névoa seca, espessa de fumaça, prejudicava a visibilidade.
Ao chegar da fazenda, passando pela minha casa, meu genro dá-nos a notícia que no canavial um dos empregados foi picado por uma cobra, e precisou ser levado para o hospital. Felizmente passava bem, o bote foi de raspão, não o feriu gravemente. Apesar de saber da importância histórica e econômica dessa planta para nós, confesso , tive vontade de praguejar contra aqueles que a trouxeram para o Triangulo.
O cerrado mineiro tem verões chuvosos e quentes, e invernos secos e pouco frios, clima ideal para esse tipo de cultura, agora transformada, pela política do governo, como a" salvação da pátria”. Com a possibilidade não muito distante do esvaziamento dos recursos energéticos fósseis, querem os políticos do país, através de planos estratégicos, transformar a velha cana colonial, matéria prima do nosso álcool combustível, no produto brasileiro da vez.
Embora o governo diga que não, pelo menos na nossa região, muitos agricultores trocaram boa parte da área plantada com soja, milho e feijão pela cana. O motivo é o estimulo financeiro dado aos produtores para que se tenha mais álcool, combustível mais barato e que pode ser utilizado também nos carros mais novos, os que bebem os dois tipos de combustível (gasolina e álcool), os FLEX.
Depois que o álcool derivado da cana passou a ser empregado, através do domínio de novas tecnologias, em áreas criticas e essenciais como no transporte, o Brasil levantou a bandeira:
É um produto renovável, “quase limpo", que tem pouco impacto ecológico sobre o meio ambiente, que poderá transformar o país numa espécie de Arábia Saudita Verde do novo milênio. Mas nem todos aceitam essa possibilidade. Os Estados Unidos gritam:
-. Estão prejudicando a produção de alimentos, contribuindo com a fome crescente do mundo, ´”esquecendo” do biocombustivel que tiram do milho. A Europa alerta;
-Com a crescente área plantada a Amazônia está ameaçada, “esquecendo” que após a exploração da madeira em florestas primárias, ao longo de séculos, tem as menores áreas verdes de reserva nativa do mundo. O Oriente Médio “ se preocupa” com a falta de petróleo, e o rei saudita declara, para o alivio geral, que seu país vai aumentar a produção diária de cru e que parte do dinheiro arrecadado será repassado para os países mais pobres, imaginem, para que apliquem em tecnologia!
Enquanto o mundo se debate entre a possibilidade da exaustão dos recursos fósseis não renováveis, e o desenvolvimento de outras fontes alternativas de energia, de preferência menos poluentes, aqui no Cerrado Mineiro, a gente já está pagando pela produção renovável e "quase limpa” do biocombustível.
Uberaba, 25/04/08