Imperfeição, teu nome é Homem
Vincent Van Gogh
(autoretrato)
Quando não nos sentimos bem fisicamente procuramos um profissional da área de saúde que nos providencia exames que possam confirmar ou despistar qualquer doença. Porém quando se trata das alterações emocionais ou da mente, nem sempre é fácil determinar a anormalidade.
O cotidiano agitado e o aumento da expectativa de vida das pessoas trouxeram o aparecimento de doenças, antes pouco diagnosticadas. Nas famílias urbanas onde todos trabalham, os idosos estão cada vez mais isolados e esquecidos pelos filhos e parentes, que não acham tempo para cuidá-los. Muitas vezes abandonados em instituições ou asilos, além das doenças próprias da velhice, são vitimas da depressão e do estresse. Também nas populações mais carentes vê-se com mais freqüência crianças largadas, vendidas ou até abandonadas à própria sorte, quando não são vitimas de agressões físicas e até morte. É a miséria e a ignorância levando à banalização da vida e dos valores.
Com tantas modificações nos códigos existenciais atuais está cada vez mais difícil se dizer o que é normal ou anormal. Se a doença-resposta aos traumas, com a fuga psicológica e a proteção mental ilusória, ou a realidade nua e crua do abandono paterno ou filial? Se a liberação sexual com todas as implicações que ela traz ou a limitação para a preservação da saúde? Se o desespero pela perda do irreparável, ou o mutismo do inconsolável?
Sentir medo, angústia, euforia, tristeza ou alegria pode ser normal ou anormal, tudo vai depender das regras e medidas subjetivas da medicina psiquiátrica. Ter explosões de raiva, de inspiração ou de entusiasmo são reações esporádicas do nosso mundo interior, mas viver constantemente nessas situações é viver num turbilhão de sentimentos que nos tiram a razão e a visão real do mundo exterior.
O que se passa na cabeça daqueles que transgridem as regras sem pudor, sem remorsos, que motivações lhes deu a fantasia da mente ou a amoralidade da sociedade para desconhecerem a diferença entre a realidade e a doença? VanGogh, Einstein, Leonardo da Vinci, Napoleão, serão considerados homens comuns? Qualquer um dirá que não. Dentro dos critérios de capacidade humana são seres excepcionais, uns gênios, que estão fora da faixa ideal ou normal da maioria dos seres mortais!
Talvez o X da questão esteja nessa linha imaginária, codificada e divisória, que se altera segundo os conhecimentos, necessidades, padrões morais da época e os costumes de uma sociedade. Isso talvez nos faça entender porque existiram e tiveram respaldo instituições como a Inquisição e homens como Hitler. Mais atualmente, porque pesquisas de opinião mostram altos índices de aceitação popular para governos eivados de escândalos e corrupção, colocando em segundo plano o valor e o caráter pessoal.
Por mais que a ciência procure as explicações e a sociedade faça as contenções, o homem está sempre adiante, com suas mazelas e imperfeições. Sua existência se baseia na procura da plenitude, do ideal, do ser inteiro, onde a harmonia entre o corpo e mente faça o equilíbrio trazendo finalmente a paz e a felicidade, às vezes procuradas a qualquer preço.
Uberaba, 28/04/08