O tempo da maturidade
Ser como o vinho, quanto mais velho melhor! Eis a utopia! Mas, como o vinho, nem todos os homens amadurecem bem com o tempo, só os de qualidade.
Numa sociedade que supervaloriza a juventude e a beleza, como o fez o nosso “poetinha”, Vinicius de Morais, quando em versos escreveu: “Que me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental...”, envelhecer com reconhecimento é uma proeza.
Escultura de Juarez Paraíso - Salvador da Bahia
A idade madura traz rugas, cabelos brancos, perda de memória e de dentes; obesidade e flacidez. Tira o viço da tez. Manter uma fisionomia agradável aos olhos e aos sentidos é para os poucos que conseguiram se embelezar de dentro para fora, para aqueles que aprenderam, com a vivência, a aprimorar as qualidades, a aplainar os defeitos, a ver bondade nos outros e em neles mesmos, a usar o conhecimento para viver com inteligência.
O ser humano gosta do belo porque ele atrai, relaxa, irradia bons sentimentos. Talvez seja por isso que as mulheres, em geral mais sensíveis e suscetíveis que os homens, procurem deter os sinais deletérios da passagem dos anos com plásticas, maquiagens, dietas e exercícios para manterem a forma e o espírito jovem. Mas, felizmente, há também as transformações que se sobrepõem à beleza física, que ocorrem em certas pessoas, que com a idade desenvolvem um charme e brilho interior, que fazem o feio parecer bonito, que cativam com suas palavras e presença. O tempo as torna mais doces, mais sábias e compreensivas, faz a larva virar borboleta, numa metamorfose vivida.
Não muitas décadas atrás a maturidade era uma parte da existência atingida por pouca gente, pois a maior parte morria ainda jovem. No século X antes de Cristo a expectativa de média de vida era somente de 18 anos. No século I a.C, no Império Romano, era de 25; no final do século XIX, nos USA, era de 49, e agora é mais de 75anos. Isso foi conseguido nos países mais desenvolvidos, onde a taxa de mortalidade apresentou um progressivo declínio. Essa situação fez com que doenças próprias da idade avançada, como a aterosclerose, hipertensão e câncer, fossem cada vez mais constatadas. Por outro lado, no mundo industrializado, onde a maioria dos individuos trabalha, atingir a aposentadoria com saúde permite desfrutar a maturidade com novos interesses, habilidades e amizades. É a época de realizar outros sonhos, fazer novos cursos, viajar, aproveitar o lazer, contribuir com o que se sabe, sem compromisso, ou então de não fazer nada.
Para viver bem essa fase é preciso conhecer-se a si mesmo, ter consciência da suas próprias potencialidades, respeitar os seus limites e o momento (... antes eu dava conta do recado...). É preciso reconhecer a passagem do tempo, ter humildade, aprender a delegar posições e responsabilidades, sem, no entanto, esquecer os ensinamentos do passado e deixar de encarar os desafios do presente, da nova realidade. Não se entregar ao ostracismo, aproveitar o instante que resta com avidez, sem remorsos e sem ter medo de parecer egoísta. Enfim, seguir a ainda atual filosofia do pensador francês do século XVI, M. Montaigne, que dizia sobre a eminente possibilidade da morte:
“Je suis pour cette heure en tel état, Dieu merci, que je puis déloger quand il lui plaira, sans regret de chose de quelconque... Je veux que la mort me trouve plantant mes choux.”
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 05/04/08