A PROVÍNCIA PLATINA - 9
O TROPEIRISMO NO BRASIL
Final da parte 8: Quando os interesses coincidiam, os dos proprietários sulinos e os do Império, as forças regulares e irregulares lutavam juntas com predomínio destas. Havia, entre elas, contradições também. Nesse caso, deflagravam em lutas. A Farropilha foi a mais destacada. Emergiu, nesse conflito, o velho contraste marcado pelas reminicências heróicas da Campanha entre as duas áreas de colonização. De um lado, os estancieiros à frente dos gaúchos pobres, que formavam a sua tropa e a sua peonagem. Do outro, os elementos dependentes da autoridade pública - a população estável, pertencente à classe média das cidades, do litoral marítimo e lagunar e das regiões onde a colonização alemã começara a ser introduzida a partir de 1824.
A rebelião dos farrapos teve início em Porto Alegre(atual capital do Rio grande do Sul), mas teve na Campanha a sua base de sustentação e tinha como objetivo tornar-se independente do Brasil, pois a eles o governo central devia grande quantia de fornecimento não pagos; a sua produção e ao seu comércio o império tributava com rigor para auferir rendas que saía da província.
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Parte 9: Ao assumir o comando das forças destinadas a por fim a esta rebelião, que empobreceu e arruinou propriedades, Duque de Caxias ofereceu paz honrosa e acenou com perspectivas de um novo acordo entre os senhores da Campanha e o Império; e nova intervenção nas questões platinas envolvendo as ricas pastagens ao sul do Ibicui. A situação ali caminhava para uma crise militar - uma solução tradicional e antiga. Os proprietários brasileiros da Banda Oriental, agora estado autônomo, exigiam constantemente a proteção do governo central. A fronteira voltava a ser cenário de lutas constantes entre estancieiros que operavam por conta própria.
Os tratados anteriores de limites e todos os acordos até então assinalados deixavam a região ao sul do Ibicui aos orientais. Nela a população e os proprietários brasileiros somavam a maioria. Essa realidade continha a origem dos conflitos sucessivos caracterizando a fronteira do Ibicui como uma zona de transição sempre conflagrada. A luta contra Rosas - ditador argentino - conduzida do Rio Grande do Sul por Duque de Caxias mobilizou os sobreviventes da luta Farropilha e conduziu a um acordo razoável entre os estancieiros e o governo imperial na esperança de, com a vitória de Caseros, por fim a esta situação já prolongada e insustentável. Os acordos assinados com os aliados brasileiros do Estado Oriental, chefiados pelo general Flores, definiu a entrega dos campos ao sul do Ibicui ao Brasil. Pela primeira vez a linha do Quaraí surge no mapa como fronteira sulina.
Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias (1803-1880)
O quadro geral da Campanha é alterado outra vez com o advento da carne e instalação dos frigoríficos responsáveis por uma nova e importante mudança de ordem social, política e econômica. Nesse tempo, o fator imigração determinou o predomínio do tipo de população oriunda do litoral e da bacia do Guaíba; influenciou na diferenciação sucessiva da gente da Campanha. A luta federalista foi o seu último arremesso. Consolidada a República, a Campanha ficou reduzida ao controle do poder central e os vestígios de uma época foram eliminados.
Fim
Belo Horizonte, 27 de março de 2008
Therezinha B. de Figueiredo