O Chá e a língua portuguesa
T
Tchá- Mandarim, Japão
Tê - dialeto chinês Amoy
Chá – em português
Thé – em francês
Tea- em inglês
Té – para o espanhol
Thee- para o alemão
Tchai- para o russo
Mais que aplacar a sede, refrescar o espírito, dar-lhe forças e animo, olvidar as tristezas, abafar a consciência e até matar, a bebida , de acordo com a escolhida , tomou ares culturais e até religiosos. Se o Ocidente elegeu o vinho, elevando-o à divindade de Baco e de Jesus Cristo, no Oriente o chá cresceu com a civilização, foi sinal de introspecção, associado à meditação e usado socialmente em rituais de educação e sociabilidade.
A Portugal chegou no séc. XVI com os navegantes e jesuítas, que pelas terras do Sol Nascente andavam há tempos. Não foi muito valorizado. Os portugueses já conheciam os chás de hortelã, de funcho, de losna,... (desculpem-me os chazeiros – amantes de chá-,... as infusões de hortelã, de funcho, de losna,...), mas preferiam o chá de parreira (o vinho). Nossos antepassados acharam que as folhas trazidas da Índia e Macau eram verdadeiras chazadas (não valiam nada). Não o apreciaram como os anglo-saxões, que fizeram dele uma mercadoria de grande importância econômica e um hábito alimentar: o chá das cinco. Costume adquirido no Convento onde foi educada a princesa portuguesa D.Catarina, e que o levou para a corte inglesa, quando casou com Charles II, rei da Inglaterra.
Oferecer chá tornou-se sinal de cortesia e delicadeza. E, ironicamente, adquiriu sentidos chulos ou figurados na boca popular. Se uma pessoa apresentava socialmente modos grosseiros ou pouco elegantes, ela tinha falta de chá (educação). E com certeza era digna de se dar um chá (censura). Aos indivíduos rebeldes e de maus bofes aplicava-se, no momento exato, um bom chá de marmeleiro (surra). Mas se alguém “caía” doente, com febre ou prisão de ventre, a receita certa era um chá de bico (clister).
No Brasil as moças (raparigas) detestam tomar chá de cadeira (ficar sentadas sem serem convidadas para dançar) nos chás dançantes (bailes). Mas bom mesmo é comer as deliciosas roscas, bom- bocados, biscoitinhos de nata, casadinhos, nos chás de caridade que as primeiras damas da sociedade dão em benefício de alguma entidade carente.
Reunir as amigas para despedida de solteira, num chá de panela para ganhar utensílios de cozinha ou para ganhar roupinhas de bebê, mamadeira, sapatinhos, num chá de berço, é mais que um momento de amizade e confraternização, nos nossos difíceis dias, é um meio de fazer economia!
Uberaba, 14/01/08
Dados:
O livro do Chá (J. Duarte Amaral)