Burricadas nº 13
AT THE END OF THE RAINBOW, YOU’LL FIND A POT OF GOLD
v A lista PS para o Conselho de Administração do BCP deixou muitas almas em transe.
v Que vão passar os segredos da CGD para o seu principal concorrente, no mercado interno. Que vão dar emprego a mais uma legião de militantes e simpatizantes do partido. É o que mais se ouve dizer.
v Mal avisadas andam as vozes que assim falam. Se outras razões não houvesse, estas duas bastavam para ver que a coisa vai fiar mais fino.
v Nenhum Banco a operar, hoje, em Portugal usa, na sua actividade corrente, técnicas sofisticadas que mereçam especial protecção. O mercado não pede, os Bancos não têm. O que se faz por cá hoje em dia é Banca de Retalho da mais comezinha – com uma concorrência fingida que todos, pelos vistos, muito apreciam. Quanto a finança pura e dura, estamos conversados.
v Ah! E os clientes? Quantos serão aqueles que vão acompanhar os administradores em trânsito da CGD para o BCP? Nenhuns – ou quase. O mercado português não é tão diversificado assim. Todos se conhecem, mas nem tudo se conhece. E é possível que Clientes, sobretudo empresas, com uns probleminhas na CGD, mas ainda impolutos no BCP, comecem a sentir as orelhas a arder (a Central de Riscos, entre nós, não tem uma eficácia por aí além).
v Ora! Mas os lugares, os jobs for the boys, esses são pela certa. Talvez não. O BCP sofre patologicamente de Gastos com a Estrutura excessivos que, ano após ano, absorvem a totalidade da Margem Financeira Recorrente (têm sido os Resultados não recorrentes e o deficiente reconhecimento contabilístico, quer das perdas realizadas, quer das perdas potenciais, a equilibrarem o barco). A nova administração, se quiser fazer algo de útil, é por aí que terá de começar. Um ou outro boy por lá poderá fazer o seu ninho - para grande felicidade do contemplado e dos seus mais próximos, mas sem qualquer expressão a nível de custos, resultados e reequilíbrio financeiro.
v Então? Nada? Afinal, este é só mais um episódio corriqueiro?
v Nem tanto. Por três razões - e razões de peso.
v Primeiro, os Bancos – todos os Bancos, sem excepção - são, nos dias que correm, verdadeiros diários íntimos de indivíduos e de empresas. É nos Bancos que ficam indelevelmente registados todos os golpes de fortuna que recebemos, todos os pecadilhos, fiscais e não fiscais, que cometemos de forma deliberada. Os Bancos são os enormes armários que escondem os fantasmas de todos nós.
v Pelo que se foi conhecendo ao longo deste último ano, o BCP é fértil em fantasmas (dele próprio e dos seus Clientes) – e essa informação tem um valor incalculável para quem queira manipular a actividade empresarial e a realidade, em geral. Acontece que o BCP se encontra particularmente fragilizado, quer no mercado, quer internamente – e isso torna-o especialmente vulnerável à curiosidade alheia.
v Primeira razão: O acesso franqueado a uma bela base de dados sobre as misérias cá da terra.
v Depois, o forte da CGD, para lá dos empréstimos pessoais (hipotecas residenciais, crédito ao consumo), caminhos que o BCP tem calcorreado também com grande empenho, são os empréstimos ao Sector Público (incluindo os Institutos Públicos, as Empresas Públicas e que tais).
v A capacidade que a CGD ainda tem para assegurar novos financiamentos ao Sector Público é já escassa, se entretanto não vir aumentado o seu Capital – e em dinheiro (os Pilares 1 e 3 do Novo Acordo de Basileia foram bem compreendidos pelo partido no poder e estão já a bulir com o sistema bancário português). Mais um Banco disponível para colaborar nestes financiamentos, agora que o rigor orçamental aperta, será certamente benvindo – mesmo que, durante os próximos anos, ele pouco tenha para dar.
v Segunda razão: Não é o BCP que vai tirar proveito dos conhecimentos e da experiência dos ex-administradores da CGD; é a CGD que vai ter sempre à mão um parceiro dócil para os financiamentos sindicados ao Sector Público, decididos por critérios exclusivamente políticos. E se assim for, menos ficará para financiar as empresas.
v Enfim, os empresários portugueses (com honrosas excepções) têm uma idiossincrasia muito própria: aplaudem a concorrência quando sentem que o apoio do Governo os favorece em prejuízo dos concorrentes; e clamam por protecção quando a concorrência aperta.
v Terceira razão: Mais um Banco orientado pela bússola do interesse partidário, principalmente quando se trata do maior Banco privado, é uma oportunidade de ouro para, com financiamentos e mais financiamentos, fidelizar clientelas e comprar descontentes. Com o brinde de esvaziar um centro que disputava influência aos partidos com vocação do poder.
v Esta equação assim formulada tem duas incógnitas – a saber: os accionistas estrangeiros e os mercados interbancários que têm financiado o grosso da actividade do BCP. Os accionistas qualificados portugueses, esses, desde que o Banco continue a financiá-los sem fazer perguntas incómodas, não levantarão ondas. É por isso que qualquer lista concorrente à lista PS está votada ao fracasso.
v Os mercados interbancários vão rejubilar com o conforto moral que a sombra do partido no poder (e as reservas de ouro sobre as quais repousa...) sempre confere. Não será por aí que a casa treme.
v Os accionistas estrangeiros, prevendo que a factura de tanta engenharia financeira lhes seja um dia apresentada, poderão ser tentados, primeiro, a desfazer-se prudentemente das acções que possuem e, mais tarde, a lançar ataques de short selling (como há tempos fez a Merrill Lynch com acções cedidas precisamente pela CGD) sobre o que restar do BCP para recuperarem o dinheiro que, entretanto, perderam.
v Futurologia? Leitura dos astros? Aqui vai: (1) cotação das acções do BCP pelas ruas da amargura durante muito tempo; (2) aumentos de capital que não vão dispensar o dinheiro dos contribuintes, ainda que por caminhos ínvios, por não haver quem acorra em volume bastante; (3) desmantelamento do Banco, ficando o remanescente na órbita da CGD.
v Triste fado para uma iniciativa privada tão louvada!
Dezembro 2007
A. PALHINHA MACHADO