VICE-REINADO DO PRATA – DOMÍNIO INGLÊS NO PRATA - 7
Final da parte 6: Rosas se sobressai no cenário argentino durante a luta contra Darrego e Lavalle. Ao subir ao poder e para governar ele deverá resolver a contradição existente entre o campo e a cidade. Deverá conjugar os dois processos para impor ao país a sua autoridade. Embora seja uma força do partido federal, fará como homem do campo e com os seus meios, a política do grupo urbano.
A ascensão de Rosas assinala uma etapa característica no processo histórico da anarquia e do caudilhismo: com ele uma nova ordem começa a se gerar. Ao tomar o poder, o caudilho formado na província de Buenos Aires está no mesmo plano em que vivem e se agitam os caudilhos das demais províncias. Mas como a sua é a mais importante, a mais rica, aquela que está em contacto directo com o exterior, aquela que polarizou as actividades nacionais e que sempre pretendeu submeter as outras - ainda as que haviam alcançado a autonomia - Rosas será levado a empreender a grande tarefa de reduzir o caudilhismo dispersivo e fragmentário transformando-o em caudilhismo hierárquico. Ele será a figura central e suprema.
A sua época pode ser dividida em dois períodos, em que o primeiro é preparação para o segundo:
- Período de consolidação: transformação do caudilhismo dispersivo em caudilhismo hierárquico;
- Período de autoridade absoluta: a partir do acabamento daquela transformação; o caudilhismo gerara o seu contrário.
Rosas empreende essa luta com tenaz energia, com áspera violência e com habilidade política própria da época, fundada no emprego de todos os meios, sem escolha; de certo modo ela encerra uma etapa da vida argentina. No primeiro período, quando Rosas se transforma de caudilho provincial em caudilho nacional, aproveita as divergências provinciais e lança uma contra as outras. Acontece, então, a redução progressiva dos poderes que resistiam à autoridade de Buenos Aires. Quiroga, caudilho de La Rioja e Bustos, caudilho de Córdoba, lutaram contra Paz auxiliados por outros chefes menores. Paz triunfa no interior e luta contra a coligação do litoral comandada por Rosas. É o unitarismo contra o federalismo.
O aprisionamento de Paz e a derrota de seu substituto La Madrid, representa a liquidação do unitarismo, mas não representa com clareza o triunfo do federalismo, porque o quadro não mostra o poder das províncias e sim o poder dos caudilhos. Estes nem sempre podem ser confundidos com aquelas. Rosas, enquanto representante aparente do federalismo vitorioso, fará uma política nitidamente unitária. Para caracterizar melhor a sua acção, renuncia ao poder depois de exercê-lo por menos de dois anos e vai combater os índios no sul auxiliado por outros caudilhos. Essa ausência tornará a sua pessoa desejada, porque com ela a anarquia que ameaça a autoridade de Buenos Aires retoma o seu ímpeto. Os governos intermediários entre a sua renúncia e o seu regresso ao poder mostram-se e confessam-se impotentes. A Assembleia de Buenos Aires o indica e os eleitores o escolhem. Rosas aceita e investe-se de poderes extraordinários, sem limites de tempo para exercê-los.
Jorge Rafael Videla Redondo (1925 - )
Vai empreender então a sua tarefa específica, aquela que definiu a sua figura histórica. Para empreendê-la, usará da violência sob todas as formas, mas também de um elemento novo, corruptor e eficiente como nenhum outro: o confisco. Rosas destruirá economicamente os seus opositores e beneficiará os seus partidários. Mais do que a violência, a espoliação económica caracteriza a sua acção política. Esses opositores refugiam-se nos países vizinhos, fomentam a rebeldia anti-rosas, conjugam pouco a pouco os factores e elementos que o ditador fere ou contraria, os internos e os externos.
Contra Rosas levantam-se, sucessivamente, unitários, caudilhos, províncias: Beron de Estrada, em Corrientes; Mazza, em Buenos Aires; a coligação do norte (Tucumã, Salta, La Rioja, Catamarca, Jujuy), La Valle, Paz, Rivera, Madarriaga. Ao seu lado lutam outros caudilhos: Quiroga, Aldao, Echague, Oribe, Benavides, Urquiza. Os problemas complicam com as intervenções externas. Rosas, ao mesmo tempo que consolida o predomínio de Buenos Aires esmaga ou neutraliza os caudilhos, submete as províncias, entra em choque com forças estrangeiras poderosas que, em vão, tentara conciliar. A guerra contra a sua ditadura será ao mesmo tempo uma guerra civil violenta e apaixonada e uma guerra externa. Muitos dos que lutavam ao seu lado transformam-se em adversários. Urquiza é o mais destacado dentre eles. Passo a passo, à medida em que a essência de sua política se desvenda, o abandono de partido aumenta. Quando a luta armada irrompe, o ditador está reduzido a resistir na praça de Buenos Aires: e suas tropas serão batidas às portas da cidade.
Fim.
Fonte:
Werneck Sodré, Nelson
As Razões da Independência, Rio de Janeiro; Editora Civilização Brasileira S.A., 1978 pgs 134, 135.
Therezinha B. de Figueiredo
Belo Horizonte, 6 de Novembro de 2007.