Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A bem da Nação

VICE-REINADO DO PRATA – DOMÍNIO INGLÊS NO PRATA - 7

 

A ANARQUIA E O CAUDILHISMO – A ÉPOCA DE ROSAS

 

 

 

Final da parte 6: Rosas se sobressai no cenário argentino durante a luta contra Darrego e Lavalle. Ao subir ao poder e para governar ele deverá resolver a contradição existente entre o campo e a cidade. Deverá conjugar os dois processos para impor ao país a sua autoridade. Embora seja uma força do partido federal, fará como homem do campo e com os seus meios, a política do grupo urbano.

 

 

 

A ascensão de Rosas assinala uma etapa característica no processo histórico da anarquia e do caudilhismo: com ele uma nova ordem começa a se gerar. Ao tomar o poder, o caudilho formado na província de Buenos Aires está no mesmo plano em que vivem e se agitam os caudilhos das demais províncias. Mas como a sua é a mais importante, a mais rica, aquela que está em contacto directo com o exterior, aquela que polarizou as actividades nacionais e que sempre pretendeu submeter as outras -  ainda as que haviam alcançado a autonomia - Rosas será levado a empreender a grande tarefa de reduzir o caudilhismo dispersivo e fragmentário transformando-o em caudilhismo hierárquico. Ele será a figura central e suprema.

   

A sua época pode ser dividida em dois períodos,  em que o primeiro é preparação para o segundo:

 -  Período de consolidação: transformação do caudilhismo dispersivo em caudilhismo hierárquico;

-  Período de autoridade absoluta: a partir do acabamento daquela transformação; o caudilhismo gerara o seu contrário.   

 

Rosas empreende essa luta com tenaz energia, com áspera violência e com habilidade política própria da época, fundada no emprego de todos os meios, sem escolha; de certo modo ela encerra uma etapa da vida argentina. No primeiro período, quando Rosas se transforma de caudilho provincial em caudilho nacional, aproveita as divergências provinciais e lança uma contra as outras. Acontece, então, a redução progressiva dos poderes que resistiam à autoridade de Buenos Aires. Quiroga, caudilho de La Rioja e Bustos, caudilho de Córdoba,  lutaram contra Paz auxiliados por outros chefes menores. Paz triunfa no interior e luta contra a coligação do litoral comandada por Rosas. É o unitarismo contra o federalismo.

 Juan Perón Juan Domingo Perón Sosas (1895-1974)

O aprisionamento de Paz e a derrota de seu substituto La Madrid, representa a liquidação do unitarismo, mas não representa com clareza o triunfo do federalismo, porque o quadro não mostra o poder das províncias e sim o poder dos caudilhos. Estes nem sempre podem ser confundidos com aquelas. Rosas, enquanto representante aparente do federalismo vitorioso, fará uma política nitidamente unitária. Para caracterizar melhor a sua acção, renuncia ao poder depois de exercê-lo por menos de dois anos e vai combater os índios no sul auxiliado por outros caudilhos. Essa ausência tornará a sua pessoa desejada, porque com ela a anarquia que ameaça a autoridade de Buenos Aires retoma o seu ímpeto. Os governos intermediários entre a sua renúncia e o seu regresso ao poder mostram-se e confessam-se impotentes. A Assembleia de Buenos Aires o indica e os eleitores o escolhem. Rosas aceita e investe-se de poderes extraordinários, sem limites de tempo para exercê-los.

  Jorge Rafael Videla Redondo (1925 - )

Vai empreender então a sua tarefa específica, aquela que definiu a sua figura histórica. Para empreendê-la, usará da violência sob todas as formas, mas também de um elemento novo, corruptor e eficiente como nenhum outro: o confisco. Rosas destruirá economicamente os seus opositores e beneficiará os seus partidários. Mais do que a violência, a espoliação económica caracteriza a sua acção política. Esses opositores refugiam-se nos países vizinhos, fomentam a rebeldia anti-rosas, conjugam pouco a pouco os factores e elementos que o ditador fere ou contraria, os internos e os externos.

   

Contra Rosas levantam-se, sucessivamente, unitários, caudilhos, províncias: Beron de Estrada, em Corrientes; Mazza, em Buenos Aires; a coligação do norte (Tucumã, Salta, La Rioja, Catamarca, Jujuy), La Valle, Paz, Rivera, Madarriaga. Ao seu lado lutam outros caudilhos: Quiroga, Aldao, Echague, Oribe, Benavides, Urquiza. Os problemas complicam com as intervenções externas. Rosas, ao mesmo tempo que consolida o predomínio de Buenos Aires esmaga  ou neutraliza os caudilhos, submete as províncias, entra em choque com forças estrangeiras poderosas que, em vão, tentara conciliar. A guerra contra a sua ditadura será ao mesmo tempo uma guerra civil violenta e apaixonada e uma guerra externa. Muitos dos que lutavam ao seu lado transformam-se em adversários. Urquiza é o mais destacado dentre eles. Passo a passo,  à medida em que a essência de sua política se desvenda,  o abandono de partido aumenta. Quando a luta armada irrompe, o ditador está reduzido a resistir na praça de Buenos Aires: e suas tropas serão batidas às portas da cidade.

 

Fim.

 

Fonte:

Werneck Sodré, Nelson

As Razões da Independência, Rio de Janeiro; Editora Civilização Brasileira S.A., 1978 pgs 134, 135.

 

Therezinha B. de Figueiredo

Belo Horizonte, 6 de Novembro de 2007.

1 comentário

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2006
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2005
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2004
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D