VICE-REINADO DO PRATA – DOMÍNIO INGLÊS NO PRATA - PARTE 5
A ANARQUIA E O CAUDILHISMO – A ÉPOCA DE ROSAS
Final da parte 4: Uma única força sobrevivia organizada no território argentino, embora dispersa – a dos caudilhos – dominando por onde passavam, surgiam e viviam as suas milícias levando o terror e a espoliação a quem não lhes prestasse obediência ou lhes negasse o fornecimento de meios. Reinado da anarquia absoluta, despótica e irrefreável. Os indícios apontavam para o fracasso da consolidação. Restava o domínio da força e esta encontrou o campo aberto a todos os desmandos.
A ÉPOCA DE ROSAS
Desde 1810 e por um decénio, Buenos Aires superou as maiores dificuldades e lutou contra a oposição de quase todas as províncias; conseguiu manter sua posição de domínio no conjunto das Províncias Unidas do Rio da Prata, entidade política substituta do Vice-Reinado após a autonomia. Seus governos sem autoridade integral nem continuidade sucedem ao sabor das conspirações e das rebeldias. A elaboração de constituições unitárias não conseguem articular e dar estrutura ao território em que os interesses eram contraditórios; ao contrário, provocavam a repulsa e a vontade de autonomia por parte das demais províncias. O movimento de independência em curso a partir de 1810 até 1816, encontra obstáculos sérios desde este último ano em consequência do retorno ao trono espanhol de Fernando VII e da intensa actividade metropolitana no sentido de assegurar para si, novamente, a posse de seus domínios coloniais. Para isto contou com o apoio da Santa Aliança ao mesmo tempo em que a política inglesa, particularmente quando orientada por Canning, procurava apoiar a autonomia dos povos americanos. O apoio inglês visava evitar a volta do antigo sistema de clausura e de monopólio comercial, em contradição com o crescente expansionismo de sua indústria e de seu comércio.
Entre 1810 e 1820, apenas o governo de Pueyrredón consegue manter-se no poder durante o prazo normal. Os demais foram depostos pela força. Em 1815, a rebelião federalista de Artigas, que dominava não só a Banda Oriental, mas quase todas as províncias do litoral, apenas anuncia o advento das inúmeras dificuldades para o próprio movimento emancipador. Em 1816, esse movimento foi gradualmente sufocado em quase todas as colónias americanas de origem espanhola, salvo nas Províncias Unidas do Rio da Prata.
México, Venezuela e Chile estavam novamente sob domínio espanhol e o desastre de Sipe Sipe constituía ameaça para a área platina alcançar o mesmo destino. As Províncias Unidas conseguem, entretanto, atravessar o período crítico e San Martín leva as suas tropas ao Chile e depois ao Peru, reduto espanhol no continente. Ao mesmo tempo, Simon Bolívar retoma a sua campanha libertadora no norte. A continuidade administrativa de Pueyrredón permitiu a preparação por San Martín para iniciar a sua grande expedição levando o movimento emancipador ao Pacífico.
Juan Martín de Pueyrredón (1776 - 1850)
Em 1819, o sucessor de Pueyrredón, Rondeau, enfrentaria a rebelião das províncias do litoral contra Buenos Aires. As províncias de Córdoba, San Juan, San Luiz e Mendoza apoiam os caudilhos Ramirez, de Entre Rios, Lopes, de Santa Fé e lutam contra o governo de Buenos Aires e contra a sua carta unitária. Em 1º de Fevereiro de 1820 vencem as forças de Rondeau. O tratado de Pilar sanciona a vitória das províncias sobre Buenos Aires e declara a liberdade de navegação dos rios para os que assinaram o documento, a base federalista para a estrutura nacional com ampla autonomia das províncias e a convocação do novo Congresso.
O rompimento posterior entre os mais fortes caudilhos do litoral, Lopez e Ramirez, lança novos elementos na anarquia caracterizada pela sucessão de governos incapazes de garantir a ordem e a união entre as províncias em conflito. Somente quando Martim Rodriguez assume o poder em Buenos Aires é assegurado um curto período de paz às províncias platinas. Esse período menos atribulado chega a 1824, na esclarecida administração de Rivadávia representando o triunfo, ainda que parcial e transitório do grupo que detinha o comércio e que representava, na cidade de Buenos Aires, as tendências unitárias. Rivadávia enfrentaria o grave problema da luta militar pela posse da Banda Oriental.
Bernardino Rivadávia (1780 - 1845)
A disputa é resolvida após o combate do Passo do Rosário, por acordo provisório consequência da fraqueza dos dois contendores. De um lado, as Províncias Unidas lutam pela sua organização política às portas da anarquia; do outro, o império em busca da consolidação da sua independência e em séria crise económica e financeira. Em 1826, o Congresso vota nova constituição unitária ditada pelos interesses do grupo comercial de Buenos Aires. As províncias entram mais uma vez em rebelião e o país atravessa nova fase de dissolução da autoridade.
A anarquia disseminada principalmente nas regiões pobres das províncias do interior, onde os caudilhos dominavam sem encontrar obstáculos, alcançou as províncias mais ricas do litoral e penetrava na província de Buenos Aires, que guardava a contradição entre um grupo mercantil urbano e a massa rural entregue ao pastoreio e ao ímpeto das lutas sucessivas. Enquanto nos campos é gerado a figura do caudilho Rosas, na cidade o governo de Darrego se mantém com dificuldades até que a rebelião de Lavalle o vence. Darrego representava os princípios do federalismo e Lavalle ao vencê-lo, defrontaria, por isso mesmo, a oposição dos caudilhos provinciais contrários à tendência unitária considerada ameaçadora. Contra Lavalle estão todos os caudilhos, entre os quais Bustos, Quiroga, Ibarra, Lopez e Rosas. Em Abril de 1829 é derrotado e abandona o poder. Abre-se na história argentina o período conhecido como época de Rosas.
Juan Manuel de Rosas (1793 - 1877), de seu nome completo Juan Manuel José Domingo Ortiz de Rozas y López de Osornio
Continua.
Belo Horizonte, 14 de Outubro de 2007
Therezinha B. de Figueiredo