Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A bem da Nação

VOANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOS

 

 
 
 


Já tinha visto um cuco fora do relógio suiço? Eu não.

 

 

 

Como já disse no texto anterior, teve a minha ida a Bragança em 5 de Outubro como objectivo não a participação nas comemorações da implantação da República mas sim no 6º Colóquio da Lusofonia que desta feita tinha como tema principal a versão brasileira da nossa língua, a portuguesa. E se cometo esta redundância de afirmar que a nossa língua é a portuguesa, tenho como objectivo afirmar que o brasileiro é adjectivo de nacionalidade e não nome de língua. Língua brasileira é músculo que ajuda gente e bicho a comer ou articular som. Nada mais e nunca em simultâneo pois não se fala de boca cheia. A língua que se fala no Brasil é a portuguesa. Dêem-lhe a sonoridade que entenderem, cantem-na mais ou menos, tentem destrui-la até mas não se arroguem a autoria de obra alheia nem queiram vir para cá ensinar o Pai-nosso ao Vigário. O português padrão é o que se fala em Portugal e ponto final na discussão.

 

Outra questão de que ouvi falar - fora da sala em que decorria o Colóquio - foi a de saber se os timorenses querem mesmo falar português. Não querem? Pois falem o que entenderem se quiserem ser espezinhados pelos vizinhos indonésio e australiano. A partir do momento em que percam a pouca singularidade que lhes resta, logo perderão toda e qualquer autonomia, mesmo aquela que funda o Estado de que se querem cidadãos. Em Timor a língua portuguesa é uma arma política e é nesse plano que tem que ser considerada se o país quiser continuar a existir. Olhem para a miséria a que Goa deixou levar a dignidade que dantes tinha e que lhe dava o epíteto da “Roma do Oriente”. Hoje nem arrabalde de Bombaim os indianos a consideram E A Igreja seguiu à risca a Tradição Paulina e nada fez pela preservação da identidade luso-indiana. Felizmente ainda por lá anda quem já percebeu que Goa só sobreviverá se normalizar o uso da língua portuguesa e já decorreu nestes Julho e Agosto o 11º curso de língua portuguesa, desta feita de conversação para quem já tivesse feito os quatro graus anteriores. Recordo que os 10 cursos que o precederam tiveram uma média de 92 alunos e este de conversação teve 30. É pouco? É muito mais do que fazem os que põem a nossa língua em dúvida. E os portugueses do Sri Lanka querem aprender o português moderno e nós ainda lá não conseguimos chegar a não ser pela Internet. Mas alguma coisa havemos de fazer por eles pois temos vontade de defender o que é digno de ser defendido: a língua portuguesa.

 

E quando ouço dizer que nada de jeito se faz pela nossa língua, logo me salta à memória a realidade de que o trabalho feito pelo Instituto Camões é totalmente financiado pelo Contribuinte português enquanto o Instituto Machado de Assis não passou do papel brasileiro em que foi decretado e o Instituto Internacional da Língua Portuguesa que deveria funcionar em Cabo Verde também não passou de uma simples miragem da CPLP.

 

Falem, falem mas quem faz alguma coisa é o pequeno Portugal e o resto são bazófias.

 

E o que lá fui dizer? Fui divagar sobre o que considero que será a Lusofonia no séc. XXI e seguintes logo tomando a iniciativa de afirmar que não me parece imprescindível discutir a sintaxe e o hífen. Não haverá Acordo Ortográfico? Paciência, eu continuarei a falar ao nosso modo e espero que a Internet nos una em vez de nos separar. Uma língua fala-se na rua e escreve-se por aí fora, não se decreta nem se concerta em Academia. E se as elites funcionarem como forças centrípetas, então o exemplo frutificará e a língua portuguesa há-de adaptar-se às circunstâncias.

 

Eis por que mais do que em voo sobre um ninho de cucos, cheguei a temer que me considerassem naquela sala um cuco em ninho alheio.

 

Mas não e, pelo contrário, todos foram duma simpatia rara, a começar pelo anfitrião, o Dr. Chrys Chrystello que finalmente conheci pessoalmente. Desde antecipar a minha intervenção de Sábado para a 6ª feira anterior só porque não há avião aos fins-de-semana até mandar servir o almoço de modo a que eu não perdesse o avião de regresso, tudo foram gentilezas que me deixaram desvanecido.

 

E para cúmulo, eu era o participante com menor grau académico pois que me limito a ter uma licenciatura enquanto os que me ouviram eram todos Mestres e Doutores. Não há dúvida, a Academia dá muita Ciência mas também dá muita sabedoria, nomeadamente esta de saber ouvir um palestrante menor.

 

Lisboa, Outubro de 2007

 

Henrique Salles da Fonseca

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D