LIDO COM INTERESSE – 95
Título – «A CURVA DO CÉU»
Autor – Branquinho da Fonseca
Editora – Movimento
Edição – 1972, do Autor (esgotada)
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Mini peça de teatro num só acto e numa só cena (17 pequenas páginas de mancha rala).
Personagem principal, o filho, de cama e moribundo; personagem secundária, a mãe, que disfarça as lágrimas.
O doente divaga sobre as melhoras que sente (a despedida da saúde?) e diz: «que pena não acreditar em Deus e, como ele, desfrutar da ubiquidade».
Nos momentos finais da vida aparecem os Reis Magos que lhe votam felicidade eterna; aparece o espírito do pai do rapaz propondo-lhe todas as viagens sonhadas e no momento da morte aparecem três espíritos (benignos, dá para crer) que a todos levam a sair pela porta, presumindo-se que para a eternidade – incluindo a mãe que não sabíamos doente.
CAI O PANO
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E é agora, depois de caído o pano, que surge o mistério: o que poderá ter levado o Autor – que sempre se deixou apresentar como agnóstico ou mesmo ateu - tecer um texto como este de triunfo da espiritualidade? Só me ocorre que o Céu tenha feito uma curva no espírito do Autor desviando-o do materialismo agnóstico-teísta para a espiritualidade. E eu estou a admitir que possa estar a levantar a ponta do véu: levantar a ponta do véu do mistério da curva do Céu.
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E aos costumes digo que o Autor era o meu tio António José e meu padrinho de baptismo. E julgava eu que o conhecia bem…!
Junho de 2025
Henrique Salles da Fonseca