Ou «O LAGO DOS CISNES» Ou ainda o «CLICK QUE FALTA»
Era no intróito falado a uma das suas belíssimas canções que Aznavour nos deixava a pensar na diferença entre «les gens d’un âge certain et les gens d’un certain âge». E eu pensei que… … as pessoas numa idade certa têm que ganhar o pão de cada dia, trabalhando e pensando, furando na vida, «atirando» em todas as direcções, enquanto as pessoas de uma certa idade, já quase todas aposentadas, têm todo o tempo para pensar deixando a acção aos mais novos. Daqui a diferença entre a idade da acção e a da razão; os jovens militares e os «Conselhos dos Anciãos». À medida que a pessoa na idade certa vai «atirando» em todas as direcções, vai acertando a pontaria e desprezando os caminhos errados: vai apurando o seu poder selectivo e de sìntese. E aquilo que, na idade certa, lhe parecia um oceano de possibilidades vai-se reduzindo até ser um rio de plausibilidades desaguando, já com uma certa idade, no tranquilo lago das realidades. E, mesmo assim, oxalá que seja «O lago dos cisnes» e não «o charco dos marrecos». Aqui chegados, pergunto a quem já não tenha ilusões, mas que continue a sonhar: qual é o seu «click» para que Portugal «saia da cepa torta» e salte para o pelotão da frente do desenvolvimento. Aqui fica a sugestão ao «Forum para a Competitividade» no sentido de organizar o “Congresso do «click» para o Desenvolvimento”
Chegou, pois, o tempo de Deus decidir dar cumprimento ao voto formulado pelo presbítero Telo. Comprara ele, casualmente mas não sem a intervenção de Deus, em Montpellier uma sela que era muito bem trabalhada e era mais que excelente para montar a cavalo. Certo dia em que o arcediago seguia montado numa mula pela porta de Coimbra e caminhava como habitualmente pela Rua Régia, aperceberam-se dela os cortesãos que notaram o seu bom recorte. Alguém de entre os conselheiros deteve a atenção na sua elegância e propôs ao Infante que pedisse ao arcediago para lha dar. Sem demora, satisfez ele o pedido sugerindo em troca a oferta dos Banhos Régios ao fundo da judiaria. Todavia, porque o juízo real se move por outros motivos que não os nossos, o príncipe, cheio de respeito, embora dando largas à alegria com olhar rasgado e rosto sorridente, respondeu que primeiro teria de ver o assunto, bem lembrado das palavras do sapientíssimo rei Salomão “tudo faz com conselho para não te arrependeres”. Deus, porém, da atalaia da Providência, favorecia os santos desejos do seu presbítero, aos ouvidos do rei e de Hermígio, seu mordomo-mor (paz à sua alma), que ocupava o lugar cimeiro da hierarquia e era homem de grande valor e prudência e mais do que nenhum outro conselheiro do rei nosso senhor, fez chegar a inspiração de apoiar todos os planos do arcediago. Assim aconteceu. Com efeito, por sugestão divina, é-lhe passado um documento autenticado com as armas reais.[1]
Filho do arcediago da Sé de Coimbra, viajara Telo a Jerusalém em peregrinação ao Santo Sepulcro. No regresso permaneceu alguns meses em Bizâncio navegando de seguida até Marselha e rumando depois a Montpellier onde decidiu comprar uma sela que lhe permitisse cavalgar com algum conforto até Coimbra.
Fervoroso adepto da reforma gregoriana, encontrou no presbítero João Peculiar, mestre-escola da Sé de Coimbra, o correligionário que lhe faltava para a implantação da nova doutrina naquela que então era uma região de fronteira com o Islão.
Foram razões ideológicas que os levaram a travar amizade com Teotónio, presbítero que já estivera duas vezes em Jerusalém e que para lá tencionava regressar a título definitivo. Convenceram-no a ficar em Coimbra para fundarem uma nova congregação religiosa que, no meio da sociedade, pregasse a Palavra e desse o exemplo de vida apostólica.
Foi nos antigos Banhos Régios – que o Infante Afonso Henriques oferecera a Telo por troca duma sela – que no dia 28 de Junho de 1131 lançaram a primeira pedra da nova igreja, a de Santa Cruz de Coimbra.
Ali foi Teotónio o primeiro Prior; subiu aos altares e ficou na História conhecido como S. Teotónio[2].
João Peculiar foi de Coimbra para Braga como Arcebispo defensor da nacionalidade portuguesa contra a constante ofensiva do rival Arcebispo de Santiago de Compostela; não subiu aos altares mas desempenhou a elevada função de conselheiro principal do nosso primeiro Rei.
Telo, fundador da Ordem de Santa Cruz, criou à sua volta um escol de letrados que viria a dar origem a uma das Universidades mais antigas do velho continente, a de Coimbra.
Eis como uma sela trocada por uma cela foi estrutural na criação de uma Nação.
BIBLIOGRAFIA:
• Mattoso, José – D. AFONSO HENRIQUES, Círculo de Leitores, Outubro de 2006
• Sobre S. Teotónio, http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Teot%C3%B3nio
• Sobre D. João Peculiar, http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Peculiar
________________________________________ [1] - Pedro Alfarde, Via Tellonis (tradução de A. Nascimento, 1998, pp 60-61) [2] - D. Telo e S. Teotónio foram pessoas diferentes e não uma só como alguma informação dá a entender nomeadamente na Internet (v. Mattoso, op. cit. pág.80 e seg.)
«A ultrapassagem do metafísico pelo positivo só se sustentou enquanto este último viveu da herança dos estádios anteriores (teológico e metafísico). Porém, o sucessivo afastamento e descuido em relação àquelas fontes deixou-o animicamente esvaído e eticamente desamparado».
Este raciocínio de D. Manuel Clemente a págs.40 e seg. do seu livro “PORQUÊ E PARA QUÊ – Pensar com esperança o Portugal de hoje” assenta como uma luva à geração pós-moderna actual.
Contudo, a ética cristã de solidariedade e benevolência para com o próximo, de honradez e de trabalho, tem uma versão laica que pergunta, com enorme simplicidade, «o que é que eu posso fazer por ti sem o prejudicar a ele, esse terceiro que nem sequer conheço?». E esta atitude não carece de fundamento teológico.
No início do século XX, a sociedade portuguesa vivia numa quase hierocracia e foi contra esse domínio que a laicização da ética tentou abrir caminho. Mas não terá conseguido vingar no ambiente de iliteracia que então reinava e hoje, passado um século, continuamos a padecer das consequências desse desencontro.
Uma população tutelada pela ameaça da ira divina, não teve arcaboiço para se harmonizar eticamente sem tutela num espaço que se pretendia republicano, responsável. Aos portugueses, iletrados e habituados a uma estrutura social muito parametrizada, foi então pedido que assumissem uma plena cidadania. Mas, na verdade, nada lhes foi pedido: foi-lhes consumado o facto e, desenquadrados, deixados entregues a si próprios.
E como as elites republicanas se limitaram a copiar as homólogas monárquicas que as tinham antecedido digladiando-se em lutas renhidas pelo Poder, o vulgo continuou ignaro, não opôs resistência quando o mandaram morrer na Flandres e não fez «cara feia» quando apareceu alguém disposto a pôr ordem onde se instalara a desavença constante, o «tira-te tu para me pôr eu», a falência.
Seguiu-se nova parametrização social, rigor financeiro, resfriamento das vontades que se apresentavam aquecidas.
Essa parametrização durou 40 anos. Praticamente tantos como agora levamos de militância pós-moderna.
Teremos conseguido fundamentar a liberdade de que queremos usufruir empreendendo uma síntese do que aprendemos entretanto para nos retomarmos como humanidade? Tenho esta como a questão portuguesa historicamente mais pertinente.
Ou será que não aprendemos nada? E andará por aí alguém com poder de síntese?
OU NA FILOSOFIA DO DESENVOLVIMENTO Da edição portuguesa das “Memórias” de Raymond Aron, pág. 120 e seg., GUERRA & PAZ, Fevereiro de 2018, extraio a opinião de que… (…) Entre uma sociedade comunitária que se dá a si mesma por valor absoluto e uma sociedade liberal que visa alargar a esfera da autonomia individual, não há medida comum. A sucessão de uma à outra não lograria ser apreciada se não por referência a uma norma que deveria ser superior às diversidades históricas mas tal norma é sempre a projecção hipoestagnada do que um colectivo particular é ou quereria ser. Ora, a nossa época conhece demasiado a diversidade que encontra nela própria para cair na ingenuidade dos grupos fechados, ou para se elevar à confiança daqueles que se comparam com o passado e com outrem na certeza da sua superioridade. (…) o progresso só se aprecia em função de um critério trans-histórico. O «mais» do saber observa-se, o «melhor» das culturas julga-se – e que juiz é imparcial? Destaques anteriores da minha responsabilidade. * * * Creio que a transcrição anterior é suficiente para evidenciar a diferença entre a Filosofia do Desenvolvimento e a Teoria do Desenvolvimento dado que aquela (a Filosofia) procura (pelos vistos, debalde) a norma que deveria ser superior ou o critério trans-histórico que justificasse o processo de desenvolvimento enquanto esta (a Teoria), perante o impasse filosófico, avançou por raciocínios talvez de menor elevação mas muito mais pragmáticos, ou seja, pela discussão dos modelos (quiçá econométricos) e de concepção de estruturas sociais e mesmo políticas. * * * Primeira observação – O modelo comunitário que se autodefiniu como de mérito absoluto e definitivo, impediu adaptações às mudanças exógenas, petrificou, rachou e ruiu; o modelo liberal, descontente consigo próprio devido a méritos mutantes (e, portanto, relativos), procura adaptações constantes às mudanças endógenas e exógenas, flexibiliza-se, sobrevive e progride. Segunda observação - Como somos diferentes, filósofos e economistas, quanto poderíamos aprender uns com os outros. O problema é que nunca sabemos onde está um filósofo e só os encontramos tarde, postumamente.