O bem é a Perfeição e a conveniência da pessoa; o mal é o seu contrário. (da Wikipédia, por adaptação)
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A citação anterior – ou equivalente – pode ter sido a primeira pedra da filosofia humanista judaico-greco-latina que veio a ser de inspiração cristã e que, inequivocamente, constitui o primeiro Valor do Ocidente.
…E passaram séculos e séculos com o sol a girar em volta da Terra até que a Ciência se começou a libertar dos ditames romanos de cariz exegético e a Terra começou a girar à volta do sol. E assim se começaram a criar as condições para o Valor do respeito mútuo. Voando rapidamente sobre a História, vemos o integrismo de Mazzarino a ser arquivado,a ferrugem a tomar conta da lâmina de Robespierre, vemos também os dramas horríveis provocados pelas aventuras transfronteiriças e finalmente vemos as águas acalmarem… surgindo então à superfície a famosa tríade «liberdade – igualdade – fraternidade».
LIBERDADE – conceito unicitário apenas limitado pela vizinhança - «a minha liberdade termina onde começa a do próximo»; liberdade de pensamento, de expressão, de associação; pluripartidarismo; livre arbítrio e inerente responsabilização; a génese do Poder a partir das bases, as cúpulas permitidas, a decisão negociada.
IGUALDADE – Versão erudita: a lei é igual para todos; Versão religiosa: todos somos iguais perante o Pai; Versão popular: todos nascemos nus.
De importância capital, o Imperativo Categórico de Kant que diz que «em todas as circunstâncias, o homem deve proceder em conformidade com os princípios da Moral Universal».
Foi preciso esperar por 1948 para que a ONU aprovasse a «Declaração Universal dos Direitos Humanos» a que só falta atribuir a condição categórica e o estatuto imperativo.
São três os elementos estruturantes de uma Cultura, de qualquer Cultura:
O meio ambiente – compare-se o estilo esquimó com o do tuaregue e este factor explica-se automaticamente;
A tradição - «já os antigos diziam que era assim que estava correcto» via popular e, na base documental para a via erudita, ambas transmitindo conceitos de correcto/bem e errado/ mal;
A Religião – imposição social dos conceitos de bem e de mal pela promessa da graça ou da ira divinas, respectivamente.
… por esta ordem e não pela arbitrariedade.
«As coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más». Esta frase de D. Manuel, Cardeal Clemente, conduz a que a essência dos conceitos de bem e de mal não é matéria teológica, ou seja, ateus e agnósticos perdem toda a argumentação para se eximirem do cumprimento de uma Moral. Resta saber qual. Mas fica desde já excluída a amoralidade. Assim, recordemos que sendo a Moral a questão dos princípios a Ética é a sua derivada ao nível dos factos. Resta saber agora qual Ética. Mas, mesmo dentro de cada uma destas categorias de fé ou da sua falta, não se pode exigir o mesmo refinamento moral-intelectual a um analfabeto que a um letrado ou dirigente político - pese embora estes dois últimos nem sempre estabelecem uma relação biunívoca. Chamemos verticais a estas variações Éticas dentro de uma mesma Cultura; chamemos horizontais às diferenças Éticas entre diferentes culturas e chamemos económicos ou de competição quando o que é bom para um é mau para outro.
Como dirimir estas diferenças?
Pois bem, as verticais – têm que ser reduzidas pela educação; as horizontais pelo diálogo ecuménico ou apenas inter-cultural (desde que os nossos sejam os Valores prevalecentes); nas económicas/competição, esperemos pelas propostas dos Partidos políticos no que respeita a regulamentação da concorrência I e desde que haja pluripartidarismo.
Nota prévia – O presente texto é sequente ao publicado em 14 de Julho no qual ensaiei uma tipificação do francês actual.
* * * Mélanchon acertou na «mouche» quando intitulou o seu Partido «A França Insubmissa». A sorte de França foi a de nem todos os insubmissos franceses terem seguido Mélanchon.
E nós por cá?
Ora bem, também nós somos fruto da História, sobretudo da nossa, pois a maior parte dos portugueses só começou a ouvir sobre «o lá fora» quando, basbaques, lhes puseram uma televisão à frente do nariz. Não ia longe o tempo de «uma sardinha para quatro», da proibição do «pé descalço» e da mendicidade nas cidades. Como se essas proibições acabassem com a miséria…
Aquela era uma época difícil para muita gente em que muitos tinham “uma sardinha para quatro”, não havia Segurança Social universal e a saúde era para quem a podia pagar. E a «enxada para a vida», a instrução, era rudimentar ou menos que isso. Abundava a ignorância e havia mesmo quem dissesse que «a ignorância é a felicidade do povo». Diziam «boutades» destas, mas iam à Missa no Domingo seguinte.
Passaram, entretanto, 60 ou 70 anos e eis que o Census 21 nos revela a persistência do analfabetismo nuns medonhos 3,08% da população (308 mil portugueses com mais de 14 anos de idade não sabiam ler, escrever nem contar). A maior parte da população em idade activa não completara o ensino obrigatória e apenas uma minoria da população com mais de 25 anos tinha formação pós-secundária. Tudo resultando num baixíssimo nível médio cultural.
Ou seja, o português típico, hoje, é inculto e, espicaçado pelas políticas de incentivo ao consumo, recorre desenfreadamente ao «xico-espertismo» e ao crédito. Especificamente, há que assinalar três grupos:
Os «desprezados» pelas elites desde a fundação da nacionalidade
Os «desenrascados» que se dedicam a pouco mais do que prestar serviços, que são o grosso da coluna, mas sem acréscimo de valor tecnológico;
Os «burros de carga» que são os que vencem toda a inércia e, ainda assim, a minoria, conseguem puxar o país para a frente.
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Num outro registo, o da ética, o «travão nacional que é o dos compadrios, dos corruptos e os delinquentes.
Aqui fica um pretexto para meditação, a relação entre cultura e ética. A isso irei em breve.