Filósofo é pensador erudito; sábio é pensador popular.
* * *
Ainda criança, o filósofo saiu da aldeia serrana no Caramulo para ir estudar para Padre. Formou-se em Teologia, mas não tomou votos sacerdotais. Casou, teve filhos e eu sou o mais novo dos seus cinco netos. Percorria o mundo, mas todos os anos passava uns dias na aldeia.
O irmão sábio aprendeu a ler e escrever, mas deixou-se ficar toda a vida na aldeia. Sabia tudo sobre lavouras e plantios, mas o seu forte eram as macieiras.
Certa vez, sentaram-se à sombra a conversar e a comer maçãs. De cada vez que ao filósofo aparecia uma maçã já tocada, ele puxava do canivete, cortava a zona tocada e comia o resto da maçã. Pelo contrário, o sábio punha as maçãs tocadas num cesto ali ao lado para as dar aos porcos.
- Oh Augusto – disse o filósofo – então por que desprezas essas maçãs por só terem um ou outro toque?
- Oh Zé – respondeu o sábio – porque gosto muito de maçãs e tu, enquanto perdes tempo a preparar as maçãs já tocadas deixas que as boas envelheçam e acabas por nunca comer uma maçã verdadeiramente saborosa.
-Pois…
E assim os porcos comiam as maçãs preferidas pelo austero filosofo.
Novembro 2023
Henrique Salles da Fonseca
Nota final – Esta história foi-me contada pelo meu primo Eurico Tomás, também ele «globetrotter», neto do sábio e que, quando está em Portugal, mora na casa que foi do filósofo. As macieiras também são dele mas porcos já não há.
NAÇÃO – Grupo humano étnica e culturalmente homogéneo.
ESTADO – Nação politicamente organizada Chefe do Estado, Poderes Legislativo, Executivo e Judicial) dispondo de Forças Armadas (e de Segurança) e exercendo soberania territorial.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – Quadro (de pessoal) operativo das políticas definidas pelos Órgãos de Soberania.
SOCIEDE CIVIL – Espontaneidade social adoptando formas tão diversas como a da cidadania individual (célula base ela própria, a sociedade civil), associativismo cívico, religioso, económico (empresas e sua associações), profissional ( ordens e sindicatos) cultural, desportivo…
OCORRÊNCIA ESPECIAL – A Argentina acaba de eleger um Presidente que se apresentou como «anarco-capitalista»
No polo oposto ao marxismo-leninismo, o anarquismo pugna pela inexistência de Estado – e, portanto, de Administração Pública restando a sociedade civil como substrato único da Nação. Restará também o território enquanto, na ausência de Forças Armadas e de Segurança, a cobiçosa vizinhança o não esquartejar.
Sem estrutura institucional, a sociedade anarquista assemelha-se a uma nebulosa quântica totalmente desparametrizada em que se torna impossível, na ausência de solidariedade, fazer propostas de bem comum.
O anarco-sindicalismo não passa, portanto, no crivo da pureza ideológica, assim como qualquer outra componente da sociedade civil que se apresente como alternativa ao caos.
«El Loco» anunciou o encerramento do Banco Central argentino, a extinção do Peso como moeda nacional e a dolarização argentina. Será que o FED sabe disto?
Temo pelo futuro do tango porteño e estou na dúvida sobre quem é mais louco; «El Loco» ou os que nele votaram? Mas a alternativa era peronista com toda a carga negativa acumulada ao longo de várias décadas.
RESUMO DO TEXTO ANTERIOR - Nesta época por que passamos, o aumento generalizado dos preços no Ocidente tem quase tudo a ver com a guerra na Ucrânia e praticamente nada com qualquer liberalidade na emissão monetária. Ou seja, a subida das taxas juro nada resolve e apenas agrava o problema
* * *
Simplisticamente, o problema resolve-se tirando do Kremlin “os filhos da Lubyanka” (e, já que estamos com a mão na massa, retirando as vestes talares de Teerão). E pedindo perdão a Mário Draghi.
Sobre cada um destes pontos – energia, cereais e taxas de juro – não faltará quem se proponha escrever volumosos tratados e defender brilhantes teses académicas, mas eu creio mais útil avançar já para as conclusões:
A contração da procura de petróleo encarrega-se de manter o crude e o brent em preços razoáveis, mas sempre acima dos US$ 70.0/barril a fim de garantir a economicidade da exploração de cerca de metade dos poços em actividade;
O Sahara, devidamente irrigado por água dessalinizada (energia solar abundante e gratuita) é propício às culturas cerealíferas pois (disseram-me no Egipto) possui abundantes nutrientes minerais a que só (?) falta a água para garantir a fertilidade. A experiência egípcia em Tosca com água do (já só quase fio de água) Nilo e a da Líbia com «água fóssil» são disso exemplo. O Egipto está prestes a conseguir a auto-suficiência alimentar e o mesmo poderá vir a acontecer em todo o Norte de África com a vantagem de combate ao aquecimento global, à fixação das populações, à criação de celeiro alternativo da Rússia e da Ucrânia nos aprovisionamentos à Europa sem o «espartilho» geográfico constituído pelo Bósforo-Dardanelos;
Ressarcidos dos prejuízos causados por Mário Draghi, os credores dos capitais (nomeadamente no âmbito das dívidas soberanas dos Estados perdulários, deve-se concluir que Christine Lagarde concluiu o seu trabalho e deve ser homenageada com uma estátua equestre na frontaria do «Deutsche Bank» que, sob as terríveis ameaças de Varoufakis e de Pedro Nuno Santos, suou as estopinhas e passou pelas passas do Algarve com as pernas a tremer e a engolir imparidades. Regressemos, pois, aos juros razoáveis positivos, sim, mas menos estranguladores do que os actuais.
Desta vez – e talvez mesmo só desta vez – a culpa da ameaça de recessão não é dos perdulários, mas sim dos frugais.
Ajudemos a Rússia a libertar-se dos monstros que a dominam desde 1917 e deixemos a paz estender-se até VLADIVISTOK.
Dos compêndios de economia extrai-se que a inflação se combate com a subida das taxas de juro a fim de arrefecer a actividade económica.
Dos compêndios da vida extrai-se que a subida das taxas de juro serve para dificultar a vida ao comum dos mortais, sejam estes singulares ou colectivos, devedores de capitais alheios e para facilitar a dos credores no mercado de capitais.
* * *
As asserções anteriores enquadram-se num cenário de excesso de procura relativamente à oferta, mas a actual pressão inflacionista resulta directamente dos choques energético e cerealífero. Ou seja, na Europa os preços têm subido por efeito do aumento dos custos de produção por efeito da guerra na Ucrânia e não por quaisquer outras causas relevantes (em Portugal, junte-se-lhe a manipulação informativa dos mercados).
A subida das taxas de juro em nada influenciou o curso da guerra, não mexeu nas causas da pressão inflacionista e se, entretanto, os preços da energia regressaram aos níveis anteriores à guerra, isso deveu-se a outras razões que não as ditadas pelo BCE (substituição da Rússia como fornecedor, p.ex.). Antes do regresso do mercado energético aos preços anteriores à guerra, a Europa viu-se confrontada com o aumento substancial de custos em três factores de produção, a saber, na energia, nos cereais e no dinheiro. Os dois primeiros a criar inflação e o terceiro a puxar para a estagnação. Eis a receita perfeita para a estagflação em que a Europa está a caír.
Tudo, resultado de uma política assumida “à la Gardère”.
Culturalmente se considera herdeiro da Civilização Greco-Romana;
moralmente, dos Valores judaico-cristãos, mesmo que de modo não confessional;
politicamente, defensor da liberdade, da igualdade e da fraternidade e a Convenção Mundial dos Direitos Humanos (ONU 1948).
Eis como o Ocidente é sobretudo um conjunto de conceitos e menos uma circunscrição geográfica, um modelo político pluripartidário, com o poder emanando da base e seguindo no sentido ascendente, com independência institucional do Legislativo, do Executivo e do Judicial. No Ocidente, as Forças Armadas e de Segurança, tanto militares como militarizadas, submetem-se ao poder democraticamente constituído com base no sufrágio universal, livre e secreto.
Mas… há excepções que confirmam a regra e que merecem o cuidado dos crédulos inocenes.
Por exemplo, mesmo que democraticamente eleito (aproveitando a liberdade superlativa ocidental), perde a legitimidade democrática o regime que não respeite as regras fundamentais de pertença ao bloco benigno por contraponto com os malignos.
Sim, por muito que isto possa perturbar alguns, é com base naquelas regras fundamentais de pertença ao Ocidente que nós, os ocidentais, definimos os nossos próprios conceitos de bem e de mal pelo que não devemos hesitar na definição da fronteira que separa os amigos dos inimigos. E não esqueçamos que, na hora do conflito bélico, os nossos adversários democráticos são nossos amigos – a menos que, por mero oportunismo, se aliem aos inimigos.
Tese: «Os líderes actuais são medíocres; os de estatura só aparecem nas crises»»
Autor: António Lobo Antunes
Antítese: «Os líderes actuais não são todos medíocres, são apenas banais»
Autor: eu
* * *
Das três, uma: democracia, autocracia, estado de guerra.
Na paz, a democracia dedica-se a construir o bem-comum dos seus cidadãos num ritmo auto-definido e num processo legislativo de cariz burocrático. Nesta situação, as lideranças podem tender para o estilo académico-burocrático.
Na guerra, a Nação dedica-se a “salvar a pele” e a democracia pode ter que hibernar. As lideranças tendem a assumir posturas mais castrenses e menos dóceis. E, das duas, uma: ganha a guerra e é um grande líder ou perde-a e fica muito mal classificado.
Nas autocracias, a qualidade das lideranças mede-se pela eficácia do respectivo Ministério da Vanglória do Mando (ou da Propaganda) e das Polícias políticas e, portanto, extravasam a normalidade da vida do homem na Terra.
CONCLUSÃO
Dispensemos os grandes líderes pois são o resultado das crises e louvemos os líderes banais pois é deles o reino da paz. (O pior é se, na crise, nos sai um burocrata na rifa).