Hoje, refiro-me a um fenómeno sobre que nunca pensara e sirvo-me da linguística da Fonte da Telha.
Trata-se da «murreta» que é o nome que por ali se dá ao lixo acumulado no fundo mar desde que o homem por ali anda. Noutras localidades, os resíduos sólidos marítimos receberão outros nomes, mas aqui é a murreta,
Então, prosseguindo na terminologia local, as correntes marítimas «areiam a murreta» (tapam o lixo com areia) e o mar revolto «desareia a murreta» (destapa o lixo) que fica à deriva e dá ao mar uma cor castanha.
Considerando apenas a nossa orla marítima, duvido que haja quem consiga calcular com rigor mínimo de quantos milhares de toneladas de resíduos sólidos marítimos se deve medir o problema.
Portanto, se se pretende limpar o mar, a primeira coisa a fazer será saber qual a composição desse lixo para, só então se imaginar o que lhe fazer. Serão materiais susceptíveis de alguma utilidade economicamente válida? Serão materiais com interesse na «valorização energética» (eufemismo de incineração)?
Quero acreditar que parte importante desses RSM (resíduos sólidos marítimos) terá encaminhamento pelo engenho humano com uma economicidade que pague a sua retirada dos mares.
Falta só que um responsável ambiental (público ou privado) se decida por estudar TUDO.
Falava serenamente sobretudo acerca de Finanças Públicas e trazendo-nos à evidência o que nos parecera complexo. Discurso sóbrio, adjectivação mínima, tinha, no entanto, um trato fácil e um breve sorriso sempre pronto. Gostava de cães, era boa pessoa. Fará falta a tantos de nós que a estimávamos.
Henrique Salles da Fonseca
(OE nº 5154)
MENSAGEM DO BASTONÁRIO
«Caros Colegas,
É com profundo pesar que comunicamos o falecimento da Dra. Teodora Cardoso, membro nº 10105 da nossa Ordem.
A nossa ilustre colega desempenhou ao longo da sua vida profissional um papel de relevo na vida económica e cívica do País, tendo exercido diversas responsabilidades em instituições relevantes, designadamente, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Banco de Portugal e no Conselho das Finanças Públicas (CFP). Esteve na génese desta última instituição, integrando, em 2011, o grupo de trabalho criado para elaborar os seus estatutos, tendo sido, ainda, a primeira Presidente, entre 2012 e 2019.
Por todo o trabalho que desenvolveu ao longo da sua vida, incluindo a participação, desde sempre, nas iniciativas da Ordem e da sua antecessora APEC, a Ordem dos Economistas manifesta a sua homenagem à mulher e economista e endereça as suas mais sentidas condolências à sua família e amigos.
«Basta repetir muitas vezes uma mentira para que ela se torne verdade» - Joseph Göbbels, Ministro da Propaganda nazi
«Não é por repetir muitas vezes uma mentira que ela se torna verdade» - Todos e cada um dos meus leitores
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A verdade é unicitária mas a mentira é plural pois pode revestir as formas de meia-verdade, de sofisma ou de falácia – as duas primeiras são voluntárias e, daí, pecaminosas mas a terceira é involuntária e, portanto, inocente. Isto, tanto na política como nas outras facetas da vida.
Contudo, na política tudo se complica, pois nós próprios, os «documentos coevos» do golpe do 25 de Abril de 1974, nos dividimos na respectiva classificação com «verdades» incompatíveis entre nós: o que para uns é a verdade, para os outros é mentira. Apenas nos une a verdade factual: «os carros de combate desceram a rua e lá ao fundo viraram à esquerda» - a mera verdade factual. A partir daqui chegando à verdade substantiva, dividimo-nos entre o bem e o mal; o Capitão do Largo do Carmo foi um herói ou um inocente manipulado pelos «cordelinhos» de Moscovo?
Eis a diferença entre a verdade factual que é objectiva e a substantiva que permite/exige a ponderação entre o bem e o mal, ou seja, carrega a subjectividade.
No plano da verdade substantiva, é relativamente fácil encontrar consensos entre os democratas cujas normas éticas, princípios morais e valores civilizacionais mais se aproximam ou, até, coincidem. Com os outros, não.
Entre os democratas, as polémicas resultam amiúde de uns acharem que o copo está meio cheio e os outros dizerem que ele está meio vazio. Polémicas artificiais e na «peixeirada», ninguém quer saber onde está a verdade. O que interessa é apear o adversário. Disputas que só se justificam no âmbito da estratégia do «bota abaixo» e do «sai daí para entrar eu» E o Contribuinte cá está para pagar o «folclore». Assim fica a verdade- mesmo a de cada um -por identificar. E, contudo, bastaria que o discurso assumisse um tom afirmativo sobre o conceito de bem-comum para que as verdades assumissem a primazia num novo e saudável debate político.