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A bem da Nação

CAQUISTOCRACIA - 2

 

ou

REVISITANDO PLATÃO

 

O Doutor Salazar dizia que o seu era o melhor Governo que se poderia imaginar pois era constituído (apenas?) por professores universitários.

Seria perda de tempo desmanchar agora o sofisma pois é sabido que:

  • As políticas eram todas de Salazar e os Ministros se limitavam a ser os respectivos executantes;
  • Nenhum Ministro ousava duvidar.

Ou seja, o critério principal era o da fidelidade e a competência era supletiva.

«Quod erat cavillatio demonstrandum» - sofisma que estava para ser demonstrado.

Mas se a afirmação de Salazar não passava de sofisma, o conceito é plenamente credível na «República» de Platão quando considera que o voto só deve ser permitido aos letrados. Com o voto universal, a democracia transforma-se em «ditadura do número» correndo-se o risco do populismo, a vitória do voto manipulado, o exercício da governança nas mãos dos mais demagogos e não seguramente na dos mais capazes.

Assim fica a porta aberta aos mais ousados o que não significa necessariamente os mais competentes e sérios. Eis que chega a caquistocracia se é que não está já instalada.

- E agora?

- Agora chegou a hora de muitos sapos serem engolidos vivos.

- Como assim?

- As Leis são para levar a sério ou para as driblarmos à nossa vontade?

- ???

- Sim! Se o 12º ano está legalmente definido como o nível obrigatório da escolaridade, como pode acontecer que haja quem não possua essas habilitações e possa ter carta de condução e votar como um erudito? Têm essas pessoas um nível cultural que lhes confira uma mundividência que lhes confira o discernimento suficiente para manipularem uma arma tão potencialmente letal como um veículo motorizado? E tem o conhecimento holístico que lhe permita independência intelectual na hora de votar? Sinceramente, não creio! E mais digo que a complacência perante o vulgar incumprimento de algo que a Lei diz ser obrigatório só pode resultar do predomínio de caquistocratas.

Então, aqui chegados, várias hipóteses restam a quem queira resolver este imbróglio:

- Desobriga a obrigação e pactua com o regresso a condições de analfabetismo cavernícola

Ou

- Cumpre a Lei.

* * *

Não possuir a escolaridade obrigatória relega naturalmente o adulto para uma condição de cidadania incompleta e, daí, não se tratando de um crime, deve-se legislar de modo incentivador e não punitivo. Deste modo, sem cassar direitos já atribuídos e licenças já concedidas, a carta de condução e o direito de voto, só deverão ser concedidos a quem prove ter, no mínimo, a escolaridade obrigatória.

  • Assim como na Função Pública e nas Forças Armadas e das de Segurança as hierarquias são previamente estabelecidas com forme as habilitações dos candidatos, também na política se deve aplicar tal tipo de critérios.
  • Candidatos autárquicos devem, pelo menos, ter escolaridade obrigatória;
  • Candidatos a Deputados (AR) devem possuir mestrado universitário (Bolonha) ou licenciatura universitária (pré Bolonha);
  • Membros do Governo devem possuir as mesmas habilitações mínimas exigíveis aos Deputados (AR)

E a pergunta final é: - Queremos uma democracia que incentive as pessoas a subir na vida ou preferimos um regime que abra as portas à caquistocracia?

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

CAQUISTOCRACIA - 1

 

ou

REVISITANDO PASCAL

 

Da duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.

* * *

A caminho de visitar o Blaise, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o argumento ontológico do dono da casa:

  • O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;
  • Existindo Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;
  • Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que, seguramente, não padeça.

 * * *

Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do juízo e da mais remota placidez.

A ser como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos os piores, mais incompetentes e mais corruptos.

Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno, como diria Karl Popper. Mas talvez possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.

Mas… e que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?

Baixos níveis globais de escolaridade apesar da «democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo, fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares («trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente, os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».

Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o «savoir faire» e outros que se veem mandados «sans savoir quoi faire»; uns, clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros, bradam que chega de libertinagem.

E assim rodam os alcatruzes da nora social.

Mas há mais… e esse «mais» é a inveja.

Eu não acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito que a maioria das pessoas está de boa fé neste mundo em que

Vivemos.

A humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de Pascal!

(continua)

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

CAQUISTOCRACIA - 1

ou

REVISITANDO PASCAL

 

Da duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.

* * *

A caminho de visitar o René, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o argumento ontológico do dono da casa:

  • O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;
  • Existindo Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;
  • Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que, seguramente, não padeça.

 * * *

Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do juízo e da mais remota placidez.

A ser como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos os piores, mais incompetentes e mais corruptos.

Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno, como diria Karl Popper. Mas talvez possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.

Mas… e que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?

Baixos níveis globais de escolaridade apesar da «democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo, fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares («trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente, os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».

Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o «savoir faire» e outros que se veem mandados «sans savoir quoi faire»; uns, clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros, bradam que chega de libertinagem.

E assim rodam os alcatruzes da nora social.

Mas há mais… e esse «mais» é a inveja.

Eu não acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito que a maioria das pessoas está de boa fé neste mundo em que

Vivemos.

A humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de Pascal!

(continua)

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

CAQUISTOCRACIA - 1

ou

REVISITANDO PASCAL

 

Da duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.

* * *

A caminho de visitar o René, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o argumento ontológico do dono da casa:

  • O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;
  • Existindo Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;
  • Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que, seguramente, não padeça.

 * * *

Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do juízo e da mais remota placidez.

A ser como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos os piores, mais incompetentes e mais corruptos.

Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno, como diria Karl Popper. Mas talvez possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.

Mas… e que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?

Baixos níveis globais de escolaridade apesar da «democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo, fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares («trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente, os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».

Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o «savoir faire» e outros que se veem mandados «sans savoir quoi faire»; uns, clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros, bradam que chega de libertinagem.

E assim rodam os alcatruzes da nora social.

Mas há mais… e esse «mais» é a inveja.

Eu não acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito que a maioria das pessoas está de boa fé neste mundo em que

Vivemos.

A humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de Pascal!

(continua)

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

CAQUISTOCRACIA - 1

ou

REVISITANDO PASCAL

 

Da duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.

* * *

A caminho de visitar o René, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o argumento ontológico do dono da casa:

  • O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;
  • Existindo Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;
  • Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que, seguramente, não padeça.

 * * *

Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do juízo e da mais remota placidez.

A ser como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos os piores, mais incompetentes e mais corruptos.

Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno, como diria Karl Popper. Mas talvez possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.

Mas… e que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?

Baixos níveis globais de escolaridade apesar da «democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo, fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares («trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente, os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».

Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o «savoir faire» e outros que se veem mandados «sans savoir quoi faire»; uns, clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros, bradam que chega de libertinagem.

E assim rodam os alcatruzes da nora social.

Mas há mais… e esse «mais» é a inveja.

Eu não acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito que a maioria das pessoas está de boa fé neste mundo em que

Vivemos.

A humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de Pascal!

(continua)

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

CAQUISTOCRACIA - 1

ou

REVISITANDO PASCAL

 

Da duas, uma: Deus existe ou Deus não existe.

* * *

A caminho de visitar o René, passei pelo dicionário e extraí que pecado é tudo o que ofende a Deus e, uma vez chegado ao meu destino, decidi glosar o argumento ontológico do dono da casa:

  • O ateu, não temendo a ira divina, não se coíbe de pecar mas se, afinal, Deus existe, por certo o punirá;
  • Existindo Deus, não será o ateísmo que ilibará o ateu da ira divina;
  • Mais vale, pois, ao ateu que não peque para que, seguramente, não padeça.

 * * *

Vem esta charla pascaliana a propósito do desmando generalizado de que dão conta os telejornais que diariamente nos dão cabo do juízo e da mais remota placidez.

A ser como os jornalistas narram, já chegámos por certo à caquistocracia, a governança pelos os piores, mais incompetentes e mais corruptos.

Nesta terrível hipótese, resta-nos ir para o Inferno, como diria Karl Popper. Mas talvez possamos poupar o custo da viagem por, afinal, já termos chegado ao infernal 7º círculo dantesco.

Mas… e que tal pensarmos um pouco sobre as causas desse caos?

Baixos níveis globais de escolaridade apesar da «democratização» do ensino depois de um certo elitismo durante o salazarismo, fazem surgir o neo-riquismo escolástico nas elites profissionais. Rodeados de iliteracia e até mesmo de analfabetismo, conseguiram chegar ao topo das aspirações familiares («trabalhei muito para a minha filha ser doutora») e, agradecidamente, querem exibir esse novo estatuto. Sobe-lhes o «podium» à cabeça e inebriam-se com as luzes da ribalta. Paralelamente, os «blasés» filhos-família perdem-se nos jogos de canasta e de ténis, não têm pachorra para os livros e acabam «licenciados em 5º ano de praia».

Eis como acabam a mandar os que estudaram tudo menos o «savoir faire» e outros que se veem mandados «sans savoir quoi faire»; uns, clamam sempre por cada vez mais liberdade, mais direitos e mais posses; outros, bradam que chega de libertinagem.

E assim rodam os alcatruzes da nora social.

Mas há mais… e esse «mais» é a inveja.

Eu não acredito que a sociedade seja tão má como os telejornais apregoam. Eu acredito que a maioria das pessoas está de boa fé neste mundo em que

Vivemos.

A humildade das origens não é sinónimo de deslumbramentos e tropelias e os iludidos pelo «glamour» do sucesso académico são uma minoria que desperta a atenção dos invejosos mas é imprescindível que se lembrem do conselho de Pascal!

(continua)

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

BORN FREE

 

Anda aí pelas televisões uma publicidade que usa o belíssimo tema musical do filme «Born free» que me levou a puxar pela memória.

História contada como verdadeira, de um casal americano residente no Quénia,que adopta uma leoa infantil órfã e cria-a como animal doméstico, de companhia. Só que a «gatinha» cresceu e transformou-se numa leoa que nunca passou fome nem sede e…deixou de caber na vida doméstica. Vai daí, os «pais adoptivos» decidem mandá-la para a floresta porque «she was born free» (tinha nascido livre). Segue-se todo o processo de aprendizagem da vida selvagem até ao tipicamente americano «happy end» com a heroína da festa a lamber as suas próprias crias e com as Senhoras na plateia do cinema a puxarem dos lencinhos com que secam a emoção. O filme acaba ao som do tema musical que agora foi despromovido a anúncio de um qualquer «sabão macaco». Pelo menos, continua na selva…

Belo filme que recomendo aos meus netos.

* * * *

Silenciados cantor e violinos, creio que isso de se nascer livre tem que se lhe diga,  politicamente livre mas geneticamente vinculado à respectiva herança. Refiro-me ao que vulgarmente se chama de instintos que, salvo erro, são uma parte do software instalado no hardware a que chamamos código genético. Essa herança é condicionante de todo o comportamento e, daí, eu afirmar que o título do filme é romântico, sim, mas falso pois a única liberdade à nascença é de índole política, apenas aplicável humanos e não a uma leoa.

E se refiro liberdade política, faço-o para me enquadrar na «Declaração Universal dos Direitos Humanos» (ONU 1948) porque o meu entendimento abarca sobretudo à capacidade de gestão do livre arbítrio o que implica o domínio de conceitos tão básicos como o bem e o mal. E estes, por sua vez, integram códigos tão sofisticados como Ética e Moral.

Evidentemente, nada disto se aplica a uma leoa assim como não se aplica a uma amiba ou a uma alforreca.

CONCLUSÕES

  • Todos, humanos e outros, somos geneticamente condicionados e apenas as pessoas nascem politicamente livres;
  • A liberdade é condição essencial do ser humano.

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca   

TRÊS SEGUNDOS NA VIDA DE FULANO

ou

DO TEMPO

 

Um dos epitáfios mais curiosos de que me recordo diz em francês o que traduzo por «Aqui jaz Monsieur De La Palisse que, um quarto de hora antes da sua morte, ainda estava vivo».

Sim, hoje refiro-me ao tempo cronológico, não ao climático.

Assim, tomo o período de tempo com a duração de três segundos para, posicionando-me no do meio, reconhecer que o primeiro já integra o meu passado, o segundo é o meu presente e o terceiro ainda está no meu futuro. E quer eu viva meia dúzia de segundos quer bata a longevidade de Matusalém, viverei sempre «entalado» entre o passado e o futuro, qualquer que seja a unidade de tempo utilizada. Não vou aqui tomar em linha de conta senão a vida terrena deixando a vida eterna para outros contextos.

Posto isto, a primeira questão a colocar tem a ver com a utilidade destes três tempos do tempo. E a resposta é que o conhecimento do passado serve sobretudo para distinguirmos o bem e o mal permitindo-nos intervir no presente no nosso próprio livre arbítrio assim construindo um futuro a contento com os nossos objectivos.

A segunda pergunta é sobre o que fazem as pessoas com esses três tempos do tempo. Contudo, antes de responder à pergunta, digo que o conhecimento do passado se alcança por duas vias: a empírica, ou seja, pela experiência da própria vida; a via erudita que é a do estudo da História.

Não vou perder o nosso tempo com considerações qualitativas sobre os resultados de cada via sendo que os conhecimentos da via erudita acumulam com os da empírica, mas não vice-versa.

Se centrarmos a nossa atenção na gestão do livre arbítrio, podemos rapidamente admitir que parte importante da Humanidade se limita ao uso da via rudimentar  quer por determinismo religioso (os muçulmanos creem piamente na fatalidade do destino),    quer por falta de acesso ao estudo, quer por ser muito mais giro ir fazer «windsurf», quer porque…

Estes, os crédulos na candura do futuro ou que nem nele pensam.

Há também aqueles para quem «dantes é que era bom», os nostálgicos do passado, das opas esvoaçantes, dos salamaleques na Côrte, dos reis e das princesas, mas esquecem-se de que nesses tempos não havia sequer uma Aspirina. E nas praias e sertões tropicais há-os que sonham com o berço natal dos avoengos como se fosse Pasárgada. Contudo, foi de lá que esses antigos emigraram.

Eis os inadaptados.

Finalmente, o formigueiro daqueles que não cabem no segundo segundo que lhes dei para prepararem o terceiro. São os que não têm tempo a perder «a fazer pela vidinha» própria ou alheia, são os voluntariosos empíricos ou eruditos mas que têm o coração no futuro. É deles que todos dependemos. A eles, toda a glória deste mundo.

Pelo caminho, ficaram os que tiveram um emprego, mas não necessariamente um posto de trabalho e que sempre ambicionaram pela aposentação para poderem ir para o jardim jogar à batota com os outros «tristes da vida». Estes, os que nem sabem do valor dos três tempos do tempo. Como haveremos de lhes dar um sentido para a vida que lhes resta? É que, afinal, também eles são gente. Estes, os que não sabem que o sonho comanda a vida e que um tal  De La Palisse lutou por uma causa até um quarto de hora antes de morrer.

Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

TEATRO RÁPIDO

CENÁRIO – Salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

PERSONAGENS E INTÉRPRETES – Presidente do Júri de Doutoramento – Professor Doutor Marcello Caetano; Doutorando – Fulano de Tal cujo nome omito propositadamente.

CENA ÚNICA

O Doutorando expõe longuissimamente a sua tese e conclui com os cumprimentos mais ou menos louvaminheiros aos Ilustríssimos membros do Júri. Nitidamente cansado, senta-se na cadeira que lhe estava destinada no centro da cena e aguarda pelo início da discussão a que deverá responder prontamente.

Algo inesperadamente, é o Presidente do Júri que toma a palavra e diz…

Professor Marcello Caetano: - O Senhor apresentou ideias boas e ideias originais. Mas as boas não são originais e as originais não são boas…

CAI O PANO RAPIDAMENTE

2 de Junho de 2023

Henrique Salles da Fonseca

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