O chafurdo e o escarafuncho a que os órgãos da comunicação social se dedicam com afinco nas lamas dejectadas e nas feridas sociais tem como objectivo evidente a denúncia de ocorrências pecaminosas, mas visa – também claramente – instigar as turbas contra as autoridades e as elites que apresenta como venais e incompetentes, tipificações estas apresentadas isolada ou cumulativamente. Pena é que tanto autoridades como elites se ponham tanto a jeito.
Este «martelar» constante é necessário como denúncia de situações que não podem ser escondidas, é algo que só existe em democracia, ou seja, onde há liberdade de informação e onde a desinformação é punível, mas…
…resulta da busca do sensacionalismo;
…explora a morbidez sanguinária que se compraz com o castigo no pelourinho;
…incita a inveja contra quem se sentiu tentado pela sorte sem escrúpulos;
…desperta os ânimos revolucionários das bases sociais…
…voluntarismo virtuoso?
Não creio. Digo que se trata de um movimento de génese virtuosa que se transformou num instrumento de supremacia popular em relação às Autoridades de toda a espécie fazendo da desacreditação de toda a autoridade a missão que se auto atribuiu.
E se as denúncias dos abusos públicos e privados são um bom complemento (ou suplemento?) da actividade policial merecem aplauso, colhe perguntarmo-nos da legitimidade do incendeio do clangor das turbas quando se trata de contestar medidas de política democraticamente implementadas. Isto, porque temos uma «ágora» onde se discutem os temas de política, ou seja, a Assembleia da República, órgão supremo da representatividade democrática. A comunicação social não tem legitimidade democrática para incentivar acções de rua. Noticiar não significa opinar com intuitos de mobilização das turbas. Fazendo-o, deixam transparecer intuitos lobistas, manipuladores.
Acções de rua – vg professores em Portugal e incendiários em França – despertam expressões escarninhas em Stalin e em Hitler lá nas tumbas em que se encontrem.
Democracia implica liberdade; liberdade implica responsabilidade; libertarianismo é destruidor da autoridade democrática e do respectivo conceito de liberdade; libertarianismo é democraticamente criticável; em democracia, o clangor das turbas é um absurdo.
Nota prévia – a informação relevante respeitante às causas da falência dos dois bancos regionais americanos e dos problemas verificados no «Crédit Suisse» foi-me fornecida pelo meu amigo Carlos Traguelho; os floreados e as especulações são da minha exclusiva responsabilidade.
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A política de juros nulos e negativos levou aforradores e investidores a aplicarem os seus capitais em obrigações privadas e públicas. Com a passagem à política de juros positivos, perfilaram-se nos mercados de capitais aplicações alternativas com melhores perspectivas de remuneração o que provocou uma séria baixa nas cotações dos títulos de remuneração fixa. Quem se antecipou na mudança, salvou-se; quem se atrasou, faliu.
Para além das causas descritas e que, para simplificação de linguagem denomino «americanas», ao caso suíço juntaram-se mais dois tipos de causas a gerarem desconfiança: as dúvidas relativas às origens dos capitais à guarda do Banco em causa e a fiabilidade da informação disponibilizada no Relatório e nas Contas relativas ao exercício de 2022. Tudo visto e ponderado, o resultado não podia ser risonho.
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Seguem-se os processos de liquidação dos dois bancos (regionais) americanos e um empréstimo grandioso do banco central suíço ao aflito «Crédit Suisse» para evitar que vá à glória – esperemos que com nova gerência.
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Curiosa coincidência a declaração do maior acionista individual do «CS» )9,9% dos direitos de voto), o Fundo Soberano Saudita, no sentido de que não enviaria mais dinheiro para o dito Banco e a reunião de apaziguamento bilateral Irão-Arábia Saudita por intermediação da RPChina. O que terá o Príncipe herdeiro saudita (Rei de facto) a dizer do Petrodólar? Sadam Hussein poderia dizer-lhe qualquer coisinha se ainda por cá andasse. É que há «coisas» em que os americanos não gostam de ver mexidas…
Desconheço o peso relativo do banco suíço nos activos do Fundo Soberano Saudita mas, para todos os efeitos, a tal declaração foi obviamente um «tiro no pé» mesmo que se trate de um chumbinho de uma «Flaubert» pressão de ar num dedo mindinho. Porquê, é relativamente fácil de especular. O problema está em saber para quê.
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Como na valsa, realço três tempos:
Substituição da política de juros negativos (Draghi) pela de juros positivos (Lagarde) e consequentes efeitos sobre a remuneração dos capitais (frugais) e o custo de vida do cidadão comum (mais ou menos consumista e mais ou menos perdulário);
Guerra na Ucrânia e majoração da tensão inflacionista e especulativa;
Realinhamentos e/ou reforço de alianças internacionais dando precaridade especulativa ao cenário mundial.
CONCLUSÃO
Os juros antecederam a guerra e esta nada tem claramente a ver com os problemas bancários.
«No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.» (João 1:1–4);
«Deus está morto» (Friedrich Nietzsche in «A Gaia Ciência»);
«Porque a ultrapassagem do metafísico pelo positivo só se sustentou enquanto este último viveu da herança dos estádios anteriores (teológico e metafísico). Porém, o sucessivo afastamento e descuido em relação àquelas fontes deixou-o animicamente esvaído e eticamente desamparado»;
«As coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más».( Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa in «PORQUÊ E PARA QUÊ – Pensar Portugal hoje»)
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Palavroso como todos os pensadores franceses, Gilles Lipowetsky escreveu até há poucos anos um conjunto de obras de grande interesse de que não extraio citações mas que sintetizo como segue:
- A laicização conduziu ao distanciamento da Moral e, daí, ao distanciamento em relação à Ética; rapidamente, os conceitos de Bem e de Mal viram a degradação; conceitos que, até então, eram absolutos, passaram a ser «interpretados» e, daí, a serem relativizados (graças, p.ex., a Marcuse); eis como o relativismo ganhou foros de doutrina fundadora do pós-modernismo.
Mas…
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… será que só há Moral de génese religiosa?
A resposta é-nos dada por um Cardeal quando nos diz que ««As coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más». Ou seja, não é necessário invocar Deus para conseguirmos, laicamente, distinguir o bem e o mal e, daí, construirmos uma Moral laica.
Daqui se conclui que a laicidade não justifica a amoralidade nem, ipso facto, a imoralidade. Esta resulta, isso sim, do império do relativismo que se preocupa em destruir esses conceitos absolutos que são o bem e o mal.
O triunfo da via relativista levará logicamente os seus seguidores ao relativismo absoluto, ao desaparecimento de todos os parâmetros, ao caos quântico, à desorientação total. Daqui resultará a queda no abismo niilista de que só poderão sair pela porta do fim do caos, a do desespero, possivelmente suicida.
Marcuse, o «apóstolo» do relativismo, não aponta a via da felicidade.
Nós, os que usamos Valores absolutos, não somos retrógrados – apenas não queremos viver no caos e porque vemos o relativismo como uma tentativa de justificação dos vícios dessa prática caótica.
Qual é a essência do nosso subdesenvolvimento em relação aos povos além-Pirinéus?
Sem querer plagiar Antero de Quental (nem sequer me inspirando no ensaio intitulado «Causas da decadência dos povos ibéricos» por ele apresentado nas «Conferências do Casino» que nunca li com interesse suficiente para reter algo de relevante), tenho por causadoras desse atraso relativo à opacidade dos mercados e à iliteracia generalizada da nossa população.
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E não vou repisar o que já afirmei várias vezes em textos anteriores pelo que me fico pelas respectivas conclusões:
Num mercado oligopsónico não será fácil provar a concertação de preços de compra, mas será bem mais difícil nega-la;
No reino da iliteracia, quem soletra é rei.
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Preços feitos por quem compra e vendedores desorganizados são terreno fértil para os neo marquesatos que entre si repartem o feudo e dividem os servos da sua gleba.
Os Marqueses republicanos são merceeiros, os que encaixam as mercês de quem lhes bate à porta.
O feudo adopta a denominação comercial de «Quintas & Quintarolas», Ldª e a culpa da inflação é do outro que ninguém identifica.
…quem tem olho…
Como seria bom que na governação houvesse alguém que soubesse alguma coisa sobre transparência de mercados e sobre a lógica do método de formação dos preços. Bastaria um trimestre para pôr ordem no «feudo». Mas…
Militar, decidiu abandonar as pelejas e dedicar-se ao amparo dos desvalidos, nomeadamente aos doentes mentais.
A suas expensas, fundou um hospital em Granada ao qual dedicou o resto da sua vida,
Depois da sua morte, os companheiros que o tinham ajudado no hospital fundaram a Ordem de S. João de Deus, nome que adoptara desde que professara.
Sedeada em Lisboa, a Ordem prossegue a sua valiosa actividade na área da saúde mental em Portugal, Espanha e nomeadamente em Moçambique. Contudo, em Montemor-o-Novo, a Ordem possui o Hospital Ortopédico Pediátrico.
Uma professora de português deu uma aula especial:
"Não sou homofóbica, transfóbica, gordofóbica. Eu sou professora de português. Estava eu a explicar um conceito de português e chamaram-me desrespeitosa. Explicava por que razão não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos para ser "neutre". Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define o género. O género é definido pelo artigo que acompanha a palavra. Vou exemplificar: O motorista. Termina em A e não é feminino. O poeta. Termina em A e não é feminino. A ação, depressão, impressão, ficção. Muitas palavras que terminam em "ação" são femininas, embora terminem com O. Boa parte dos adjectivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc. Terminar uma palavra com E não faz com que ela seja neutra. A alface. Termina em E e é feminino. O elefante. Termina em E e é masculino. Como o género em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E. Mesmo que fosse o caso, o português não tem género neutro. Vocês teriam que mudar um idioma inteiro para combater o "preconceito". O meu conselho é: em vez de insistir tanto na questão do género, entendam de uma vez por todas que género não existe, é uma coisa socialmente construída. O que existe é sexo. Entendam, em segundo lugar, que género linguístico, género literário, género musical, são coisas totalmente diferentes de "género". Não faz absolutamente diferença nenhuma mudar géneros de palavras. Isso não torna o mundo mais acolhedor. E entendam, em terceiro lugar, que vocês podiam tirar os dedos do ecrã, pararem de dizer tolices e dedicarem-se a alguma coisa que realmente fizesse a diferença para melhorar o mundo, em vez de ficarem a arranjar discussões sem sentido. Tenham atitude (palavra que termina em E e que é feminina) e parem de militar no sofá (palavra que termina em A e que é masculina)!"
José Manuel Espírito Santo Silva (12 de Maio de 1945 - 25 de Fevereiro de 2023)
Ao conhecê-lo, ficava-se automaticamente seu amigo, tal a simpatia que irradiava; uma simpatia natural, calma, sem exuberâncias, a simpatia de um Senhor. Mas, ao conhecê-lo melhor, ficava-se fascinado com a sua bondade, uma bondade que era a essencial ausência de mal. E conhecendo-o mais, sentia-se-lhe a compaixão como o dever de homem rico, banqueiro.