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A bem da Nação

O DITO, O MODO E QUEM

Quem se rege por ideais e dispensa cargos, gere a palavra com a independência que os gestores da circunstância não alcançam.

É fácil o acréscimo de valor quando nos movemos entre parâmetros doutrinários; difícil será acertar um rumo quando se tem uma bússola desmagnetizada. Por isso houve quem certa vez dissesse que sabia o que queria e para onde ia e assim rumasse durante mais de 40 anos sem que os daquela circunstância lhe quisessem mexer[1].

Os ideais devem, contudo, ser pontos no infinito havendo que rumar no seu sentido através de políticas (ditos) humanistas de modo que seja o ideal a servir a pessoa. A rigidez idealista inferniza a circunstância. Daí, o dito (a política) dever ser maleável.

À convivência de vários ideais (e várias propostas de ditos) se chama democracia; o trânsito de meras circunstâncias é quântico e historicamente se conclui com alguém a pôr ordem na confusão. Quis por vezes o Altíssimo que esse ordenante tivesse ideais e que estes fossem benignos; outras vezes, não.

O modo não é indiferente para a qualidade do dito e à rigidez deste se chama ditadura.

Mais vale, pois, que o sistema se ordene por ideais geridos com maleabilidade e por quem tenha de seu e, daí, desapego dos cargos. Assim não sendo, aportamos a África.

Henrique Salles da Fonseca

 

[1] - No Governo da Ditadura Militar não deram a Salazar as condições que ele considerava necessárias para exercer o cargo de Ministro das Finanças, demitiu.se e tiveram que ir busca-lo de novo a Coimbra para o cargo de Presidente do Conselho de Ministros, Aí, foi ele próprio que definiu as condições.

SALAZAR E SANTO AGOSTINHO

Hoje, refiro-me a Salazar, a Santo Agostinho e ao Capitão Agostinho Lourenço.

Tudo começou numa conversa com Luís Soares de Oliveira que referiu a sua tese de que Salazar era devoto de Santo Agostinho ao que eu, algo humoradamente, repliquei com o envolvimento do outro Agostinho no secularismo do «nosso» autocrata.

O Luís Soares de Oliveira ficou de me enviar a sua tese mas, entretanto, eu procurar saber mais alguma coisa sobre Santo Agostinho para tentar descortinar a razão da devoção de Salazar.

E, do que encontrei, destaco que Agostinho, o Santo,…

  • …viveu o mundo, teve um filho (Adeodato), antes de se remeter a um regime de mais pensamento e menos acção;
  • …dissertou sobre vários temas para que não encontrou explicação (nomeadamente o «tempo» cronológico, não o meteorológico) donde resultou o seu conceito de «conhecimento intuitivo» («sei o que é mas não sei explicar»);
  • …grande conhecedor do zoroastrismo, promoveu a transposição para o monoteísmo – e, concomitantemente no seu caso, para o cristianismo – da oposição entre o bem e o mal: Deus é o bem; o afastamento de Deus é o mal;
  • …como «Padre apologista da Igreja», promoveu a adopção da filosofia grega (Platão, Aristóteles…) pela nascente filosofia cristã;
  • …deixou escritas as «Confissões» (autobiografia) e «Cidade de Deus» em que disserta sobre dogmas relacionados com a vida eterna da alma e a bem-aventurança, além do paraíso e da bondade de Deus. Diz quem já a leu que os escritos contidos nesta obra se mostram como o princípio para a compreensão de uma filosofia cristã.

Uma vez que não li qualquer livro de Santo Agostinho (nem o farei devido à minha ambliopia que, dizem os médicos, veio para ficar), recorri à Internet onde encontrei quase trezentas frases atribuídas ao Santo. Sem meios (conhecimentos) que me permitam verificar a autenticidade das ditas frases, fico-me pelo palpite correndo o risco de ignorar verdadeiras e aceitar falsas. Que, na sua enorme sabedoria, o Santo me proteja!

 ALGUNS PENSAMENTOS DE SANTO AGOSTINHO

  • O orgulho é a fonte de todas as fraquezas porque é a fonte de todos os vícios.
  • O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobres.
  • Ninguém faz bem o que faz contra a vontade mesmo que seja bom o que faz.
  • Conhece-se melhor a Deus na ignorância.
  • Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.
  • O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles se enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem pensamentos uns aos outros.
  • Se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue.
  •  Na essência, somos iguais; nas diferenças nos respeitamos.
  • Fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.
  • Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que nós sabemos sobre a natureza.
  • Se dois amigos te pedirem para julgares uma disputa não aceites porque irás perder um amigo; por outro lado, se dois estranhos pedirem o mesmo, aceita porque ganharás um amigo.
  • Se crês apenas naquilo de que gostas no Evangelho e rejeitas o que nele não gostas, não é no Evangelho que crês mas sim em ti mesmo.
  • A esperança tem duas filhas: a indignação e a coragem. A indignação ensina-nos a não aceitarmos as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.
  • No amor ao próximo o pobre é rico; sem amor ao próximo, o rico é pobre.
  • Se o homem soubesse as vantagens de ser bom, seria homem de bem apenas por egoísmo.

* * *

Meu Caro Luís Soares de Oliveira:

Do exposto, concluo pelo rotundo falhanço da minha busca da razão pela qual Salazar teria especial devoção por Stº Agostinho. No máximo, apenas vislumbro uma certa coincidência no louvor à pobreza e naquele pensamento do Santo em que é na ignorância que melhor se vê a Deus. Terá sido nesta opinião que Salazar se inspirou para idealizar Portugal como um «paraíso» bucolicamente analfabeto com a vida a mexer ao ritmo do sino da igreja? Acho muito laconismo do Santo para justificar a idealização de um cenário tão inocente e na paz divina, sem perspectivas materiais de mais do que uma sardinha amarelecida para quatro pessoas em dias especiais…

Ou seja, preciso mesmo de ler essa tese da devoção de Salazar por Stº Agostinho; por mim, não chego lá.

Onde chego, sim, é à realidade de «Jimmy», o homem do MI6, em português descodificado, Capitão Agostinho Lourenço, ter ajudado Salazar a «acalmar» aqueles que achavam curta a teologia da sardinha amarela em dias de festa..

Fico, assim, à espera da interessante tese.

Abraço,

Henrique Salles da Fonseca

 BIBLIOGRAFIA:

«Santo Agostinho» - Wikipédia

«Frases de Santo Agostinho» - Internet

AUTÁRQUICAS - 2021

Saúdo a forma globalmente escorreita como decorreram as eleições de ontem e antecedente campanha.

Faço votos de que os eleitos correspondam à confiança que os eleitores neles depositaram e que os outros saibam desempenhar com dignidade a importante missão que a democracia espera das oposições.

Todos, a bem da Nação.

OS ALCATRUZES

Por tradição, o povo é a maior fonte cultural.  

A cultura popular, sobretudo sensitiva, primária, com a tradição oral a anteceder a escrita das «lendas e narrativas», a música e as danças folclóricas a antecederem formas mais elaboradas de acordes e «ballets», a pintura rupestre a anteceder Rembrant e Picasso…

Ou seja, o primitivismo sensitivo a assumir cada vez mais formas elaboradas, espiritualizdas num processo evolutivo das mais baixas classes sociais, as do trabalho braçal, para as mais elevadas, as da aristocracia intelectual.

Assim se estabelece o domínio cultural, político, económico e social das elites pois a intelectualidade é a génese do elitismo. O «chico espertismo» é uma corruptela deste processo.

Mas, a partir de certo momento, a estabilidade social permite que a juventude popular desperte intelectualmente (universitários oriundos do analfabetismo familiar) e assuma funções que os instalados e adormecidos filhos de «boas famílias» deixaram de conseguir assumir.

Já Platão se queixava (ou era Aristóteles?) de que a juventude não respeitava os valores dos anciãos.

Eis o que se está a passar actualmente no âmbito de um processo pacífico mas outros processos foram menos sossegados. Refiro-me, por exemplo, à Revolução Francesa e à russa de 1917 mas outras houve que engrossaram rios de sangue.

E, então, é assim: pacífica ou revolucionariamente, as bases cansam-se das elites e derrubam-nas. Eis ao que assistimos nos telejornais.

Contudo, os que sobem hoje serão derrubados dentro de cinquenta anos (ou menos) com a repetição das lamúrias platónicas (ou aristotélicas?).

Jovens, estudem mais e brinquem menos se não quiserem ser obrigados a cumprir a sina dos alcatruzes quando ficam debaixo de água.

O SENTIDO DA VIDA

Esqueçamos as transcendências e admitamos que a vida é só esta em que nos encontramos.

Então, que sentido faz tirar a vida seja a quem for? A resposta só pode ser uma: nenhum!

Não temos o direito de tirar aquilo que não demos. E, mesmo assim, também não temos o direito de tirar a vida a quem a demos, os nossos filhos. Porquê? Porque, ao existirem, passaram a ter vida própria e deixaram de ser nossos, no sentido de que deles podemos dispor. Não podemos! E não podemos porque também isso seria contrário ao desígnio fundamental da preservação da espécie, à tranquilidade do ânimo de quem entretanto tem vida própria e sente.

Nem sequer é necessário apelar à semelhança com a imagem de Deus, basta ver que o ser criado sente e que esse sentimento tem que ser considerado supremo na escala da intimidade, da delicadeza íntima e da nossa compaixão para com o próximo, esse sobre que temos – ou não – o poder de vida ou de morte.

A morte faz parte da vida? Não! A morte é definitivamente um absurdo da vida.

Mas resta a convicção de que há uma outra dimensão para além da morte física. Todos queremos acreditar nisso e todos conhecemos exemplos que o provam.

Deixemos então viver e vivamos em compaixão, esse grande sentimento da vida.

Henrique Salles da Fonseca

CULTURA - O QUE É

Quando em 1938 Thomas Mann chegou aos Estados Unidos fugindo ao nazismo, deu uma conferência de imprensa em que disse: «Onde eu estiver, está a cultura alemã».

 Logo houve quem atribuísse esta frase a uma grande dose de arrogância e a simpatia com que foi recebido ficou claramente moldada pela impressão assim causada. Foi necessário esperar alguns anos para que essa frase fosse explicada pelo seu irmão mais velho, Henrique, quando nas suas memórias se refere ao episódio e o explica com a frase de Fausto: Aquilo que de teus pais herdaste, merece-o para que o possuas.

 Não fora, pois, arrogância mas sim um profundo sentido de responsabilidade que levara o escritor a identificar-se daquele modo com a sua própria cultura. O conhecimento do que outros fizeram antes de si já levara Hölderlin (1770 - 1843), o poeta de quem se diz ter sido atacado de mansa loucura, a afirmar que somos originais porque não sabemos nada.

 Em 1518, Ulrich von Hütten (1488-1523), companheiro de Lutero, escrevia a um amigo que, embora fosse de origem nobre, não desejava sê-lo sem o merecer: A nobreza de nascimento é puramente acidental e, por conseguinte, insignificante para mim. Procuro noutro local as fontes da nobreza e bebo dessa nascente. A verdadeira nobreza é a do espírito por via das artes, das humanidades e da filosofia que permitem à humanidade a descoberta e reivindicação da sua forma mais elevada de dignidade, aquela que faz distinguir a pessoa daquilo que também é: um animal.

 Ou seja, a nobreza conquista-se, não se adquire por via hereditária. Afinal, era isso que Mann significava quando chegou à América.

 E o que é, então, a essência da cultura? É o conjunto das obras intemporais, as perenes, as que não passam de moda, as grandes obras humanistas, as que desenvolvem o pensamento especulativo. É a conjugação lógica de axiomas para a construção de novos silogismos e para a definição de doutrinas inovadoras. Eis o âmago da cultura, de uma qualquer cultura: o raciocínio especulativo, a independência relativamente à letra, a interpretação dessa mesma letra, a busca do significado. Quanto mais uma cultura se identificar com os valores humanistas e os promover, quanto mais convidar ao significado, mais elevada é essa cultura.

 

E o que é ser culto? Será saber muitas coisas? Não, isso é uma enciclopédia. O conhecimento dos factos não define a cultura mas apenas a dimensão do conhecimento. O culto é aquele que está aberto à nova interpretação, o que busca o significado.

 E o que é ser educador? É dar corpo à segunda obra espiritual da caridade convidando os outros para o significado.

 Eis ao que as elites devem andar, a transmitir o significado das envolvências para elevação das massas; eis ao que elas têm andado, a imprimir um cunho pessoal aos acontecimentos para deslumbramento e alienação das massas.

Assim não se transmite o significado; assim se esmaga quem apenas serve para servir; assim se espanta quem poderia valer.

REVISITANDO SALAZAR

Fascista ou democrata?

Austero ou avaro?

Calculista ou aventureiro?

Generoso ou egoísta?

Impoluto ou corrupto?

 

Todas estas alternativas (por esta ou por qualquer outra ordem) me ocorrem quando penso em Salazar. Não tanto por ele mas sobretudo pelo resultado das suas políticas; não tanto por ele mas sobretudo pelo tempo que construiu; não tanto pelo que ele possa ter sido mas sobretudo pelo que a «vox populi» dele diz.

* * *

O meu ilustre primo Luís Soares de Oliveira, Embaixador, defende a tese de que, dentro da moral cristã, o Doutor Salazar perfilhava a via agostiniana e eu espero ansiosamente pelo seu texto «Epifania de Salazar» para conhecer os fundamentos dessa tese. Não é questão menor e creio que poderá esclarecer muitas questões ainda hoje enigmáticas. Aguardemos, pois.

* * *

DAS POLÍTICAS PERENES

Professor de Direito, distinguiu-se pela determinação de construir um Estado que se desse ao respeito depois de sucessivas crises políticas e financeiras ao longo dos finais do regime monárquico e da primeira República. Chamado por Carmona ao exercício efectivo do Poder, não hesitou em ditar as regras que passariam a reger a gestão financeira do Estado. A gestão da tesouraria, sobretudo. E porque homens sérios tinham sido cilindrados pelas arruaças e quezílias de variado calibre, muniu-se de um «escudo invisível» que lhe permitisse «arrumar a casa» sem atropelos.

Assim foi que, para além da chefia do Governo, Salazar assumiu a pasta das Finanças e foi ao MI6 buscar quem lá prestava serviço há 15 anos, o Capitão Agostinho Lourenço que passou a dirigir a Polícia de Vigilância e Segurança do Estado, a PVDE, que mais tarde foi redenominada PIDE.

Eis a génese de duas das políticas mais perenes de Salazar:

  • Prioridade absoluta do equilíbrio das finanças públicas sobre todos e quaisquer apelos de desenvolvimento;
  • Imposição da tranquilidade na ordem pública pela contenção dos democratas republicanos e neutralização de todas as vias fascizantes de direita (Rolão Preto) ou de esquerda (os comunistas).

CONCLUSÃO – A perenidade destas políticas definiu todo o Consulado Salazarista mas ligou a então chamada «situação» ao imobilismo.

  1. DO FASCISMO

Salazar nunca disse ser democrata e teve todo o seu Consulado para o demonstrar mas também não era fascista pois governava dentro de um quadro legal de grande estabilidade, do conhecimento público, obrigatório (o desconhecimento da Lei não isenta o infractor do seu cumprimento) e de aplicação universal no espaço nacional. Um Estado de Direito, sem dúvida, mas que era o seu: autocrático e de inspiração cristã. Nada a ver com fascismo que é a governação ao sabor do capricho do ditador[i].

CONCLUSÃO – Salazar era um autocrata que nada tinha a ver com fascismo.

  1. DA AUSTERIDADE

Anacoreta, apologista da sua própria pobreza pessoal (não lhe eram conhecidos outros rendimentos para além do vencimento público) e sem grande vida de sociedade para além das relações previstas pelo Protocolo de Estado, era sabido que tanto podia estar a descansar (com humor, dizia-se que «o Senhor Presidente do Conselho descansa, não dorme como o vulgar cidadão») às quatro da tarde como estar a trabalhar às quatro da manhã e, de vez em quando, reunia o Conselho de Ministros. No dia seguinte, os jornais noticiavam que «Ontem, reuniu o Conselho de Ministros que tratou de assuntos da sua competência». Mas o normal era a dos ministros irem a despacho com Salazar sempre que disso necessitavam ou sempre que eram chamados. Para além dessa normalidade, havia uma outra rotina com alguém que não era ministro: o Capitão Agostinho Lourenço (Jimmy, nome de código no MI6) era recebido semanalmente para despachar «assuntos da sua competência». Mas deste, os jornais nada diziam. Hermetismo informativo e laconismo que bastava para fingir que «não se passava cavaco ao povo». Salazar era o pivot da governação, a coordenação governativa não saía da sua própria cabeça. Cada ministro geria o seu Ministério com o orçamento possível e, de preferência, que sobrassem verbas. E só muito raramente essas sobras passavam para o exercício seguinte (obras plurianuais).

CONCLUSÃO – Claríssima austeridade na gestão dos dinheiros públicos com entesouramento acumulativo no longo prazo; apologia da sua pobreza pessoal.

  1. DO CALCULISMO E DA AVENTURA

Ficou célebre a sua frase proferida em 27 de Abril de 1928 aquando da tomada de posse como Ministro das Finanças do Governo da Ditadura (militar): «Sei muito bem o que quero e para onde vou». O andamento da História confirmou o conteúdo desta frase no que se refere à política interna que a partir de 1933 ele controlou através do seu «Serviço de Informações» dirigido por Jimmy, o tal homem do MI6. Mas se deste modo, o controlo da situação interna lhe permitia ser calculista, na cena internacional não podia deixar de recorrer a alguma navegação às escuras. E, aí, não controlando as cartas do baralho, teve que se socorrer de «padrinhos» (os Aliados durante a guerra de 39-45) perante quem demonstrou grande ousadia raiando mesmo o aventureirismo. É disso exemplo o encontro com Franco em Sevilha em 1942.

CONCLUSÃO – Calculista na política interna, ousado-aventureiro na política externa.

  1. DA GENEROSIDADE E DO EGOISMO

Conta o Professor Adriano Moreira que certa vez chegou mais cedo do que o previsto ao forte de S. João do Estoril onde Salazar veraneava e que vislumbrou o Presidente do Conselho em oração na capela e a dispor a seu jeito as alfaias litúrgicas. O visitante esperou no exterior da capela que Salazar concluísse os seus trâmites de intimidade. Esta, sim, a relação que Salazar presava, com a Divindade; com os humanos era exigente perante os desígnios que ele próprio traçara para a Pátria. A generosidade e o egoísmo só têm cabimento no âmbito das relações sociais pelo que, limitadas estas à actividade inerente às suas funções oficiais, não é possível saber se Salazar era generoso ou egoísta.

CONCLUSÃO – É admissível que Salazar fosse generoso com a Divindade mas era claramente exigente com os humanos (não necessariamente egoísta).

  1. DA CORRUPÇÃO

É com toda a tranquilidade que refiro a unanimidade entre salazaristas e anti-salazaristas quanto à condição impoluta do Doutor Salazar. É sobretudo desta característica que ressurge o prestígio que muitos portugueses hoje lhe atribuem como Homem de Estado.

CONCLUSÃO – Salazar era impoluto.

* * *

Passo com total desinteresse ao largo da vida doméstica na residência oficial de S. Bento. Não me interessa saber quem lavava a roupa interior de Salazar e creio que a celebérrima D. Maria era politicamente acéfala e só se interessava pelos «arrozinhos» e nabiças que o Senhor Presidente comia.

* * *

O actual prestígio de Salazar – passados que são 50 anos sobre a sua morte – tem muito a ver com a sua condição impoluta quando posta em contraste com as desconfianças que hoje correm por aí… mas também porque muitos dos neo-salazaristas não viveram naquela época nem se preocupam com uma análise menos simplista das suas políticas.

As minhas críticas assentam nomeadamente no que segue:

  • Uma anacrónica (absurda no séc. XX) estrutura corporativa que tapava os problemas em vez de os resolver;
  • Uma política de entesouramento com prejuízo do desenvolvimento;
  • Uma política elitista de educação que nos fez suportar muito para além do seu Consulado elevadas taxas de analfabetismo, de impreparação cívica e profissional;
  • Uma política ultramarina avessa ao desenvolvimento intelectual e cívico das populações independentemente do grau de concentração da melanina – o terrível «Estatuto Ultramarino» de 1953 que só foi tardia e parcialmente corrigido em 1961.

E não refiro detalhes nem consequências pois quem me lê não espera nem carece de explicações.

De tudo, estou em admitir que…

  • Se Salazar tivesse saído do exercício do poder lá por 1947/8, o país estaria hoje cheio de monumentos em sua memória;
  • Está na hora de, sem mais complexos nem medo de fantasmas, se lhe prestar alguma homenagem na sua terra natal, Santa Comba Dão.

Setembro de 2021

Henrique Salles da Fonseca

 

[i] - Perdi a referência em que Dino Grandi terá dito a um jornalista algo como: «Fascisno é a prodigiosa capacidade de improviso do Duce».

EM BUSCA DA VERDADE

Quem trabalha para além da superfície das coisas, embora possa enganar-se, limpa o caminho para os outros e pode até fazer com que os seus erros sirvam a causa da verdade.

Edmund Burke

In «Uma Investigação Filosófica Acerca da Origem das Nossas Ideias do Sublime e do Belo», ed. EDIÇÕES 70, Setembro de 2013, pág. 73

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