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A bem da Nação

EFEMÉRIDE

24 DE JULHO DE 1833

Vindas dos Açores e desembarcadas no Mindelo, as forças liberais entrincheiraram-se no Porto dando os miguelistas início ao duro e prolongado Cerco da cidade. Mas, conseguindo furar o bloqueio naval da barra do Douro, uma frota liberal fez-se ao mar e seguiu até ao Algarve onde defrontou uma esquadra miguelista que rapidamente se entregou.

Batalha Naval no Cabo de S. Vicente, 5 de Julho de 1833

Feitas as pazes localmente, as forças liberais e miguelistas uniram-se em Cacela (hoje, Cacela Velha) sob o comando do Marechal Duque da Terceira que rumou a Lisboa não mais pelo mar mas sim por terra ludibriando o bloqueio que os miguelistas faziam da barra do Tejo.

Chegados a Cacilhas, atravessaram o Tejo em todos os barcos, pequenos e grandes, que encontraram e desembarcaram em Lisboa no dia 24 de Julho tomando a cidade que se entregou sem resistência.

 

Henrique Salles da Fonseca

PORQUE HOJE É DOMINGO

Hoje, lembrei-me duma expressão que em tempos li algures dizendo que «a remembrance requires prudence» (1).

Para além da beleza fonética, ficou-me a ideia de que é necessário sermos prudentes quando puxamos pelas memórias para que a imaginação não deturpe o passado, para que vejamos hoje a realidade que foi sem os calores da circunstância, para termos uma visão desapaixonada do passado, para que fiquemos em paz com o que aconteceu nas nossas próprias vidas e na de todos, a História.

E por que é que hoje me lembrei disto? Porque hoje é Domingo e me sinto em paz.

18 de Julho de 2021

Henrique Salles da Fonseca

(1) - Talvez num livro de Henry David Thoreau mas a prodência sugere-me que não insista na referência

EFEMÉRIDE

Faz hoje 49 anos que saí de Nampula no meu carro por aquelas picadas além runo a Lourenço Marques. Meus companheiros de viagem, o António Sousa Pires e o Miguel Lory.

Faz hoje 49 anos que comecei a somar saudades daqueles de quem não voltei a ter notícias, os moçambicanos que trabalhavam comigo na Secção de Orçamento da Chefia de Contabilidade e Administração do Quartel General da Região Militar de Moçambique. A Claudina era a minha dactilógrafa e era duma bondade quase infinita. Mas de todos me lembro e por eles, temendo o pior, peço que, nesta ou noutra dimensão, se encontrem bem. 

Henrique Salles da Fonseca

Foi no dia 14 de Julho de 1972. Ainda faltavam cerca de três anos para que se impusesse o Rubicão e a Primavera se fizesse Inferno.

DAS MALHAS DO IMPÉRIO

Quem constrói Impérios, tece histórias – umas mais heroicas que outras, umas mais risonhas que outras…

* * *

A história que hoje vos trago, fui busca-la às malhas do nosso Império no Oriente e foi-me contada por antigos alunos do «Liceu Nacional Afonso de Albuquerque» que existiu em Pangim, Goa. Não me peçam detalhes, que os não tenho, deixemos a beleza vogar por aí além, quase incógnita porque aqui uso nomes fictícios, pela imaginação…

* * *

 

Jovens e solteiros, Felícia e Bernardo ter-se-ão conhecido como professores no «Liceu Nacional Afonso de Albuquerque», em Pangim, Goa.

Conhecidos, amaram-se e casaram. E ensinaram... até que se impôs o Rubicão e tudo acabou em 19 de Dezembro de 1961.

Decidiram sair de Goa e vir para a Metrópole, Portugal.

Vieram e presumo que continuaram a ensinar até que Felícia morreu. E Bernardo não suportou o luto.

Esta história pode ter décadas mas também isso deixo na penumbra do imaginário.

Julho de 2021

Henrique Salles da Fonseca

O GATO E A LEBRE

Nas viagens todas que já fiz de Cacilhas a Xangai passando pelo Cabo Horn e por Alotau no extremo leste da Papua Nova Guiné, estive em muitos lugares surpreendentes mas houve dois que me mereceram atenção especial e onde a mostarda me chegou ao nariz. Refiro-me ao Cabo Comorim, o extremo sul da Índia e ao Lorelei, no Reno.

A solenidade que a epifania desses locais me inspirava estava a ser grosseiramente prejudicada por ruidosos grupos de viajantes que desconheciam totalmente o que visitavam e assim foi que dei dois berros, provoquei o silêncio e expliquei tudo o que sabia. Em ambas as ocasiões choveram agradecimentos e pedidos de desculpas pelas algazarras anteriores.

No Cabo Comorim, para além da confluência do Mar de Omã com o Golfo de Bengala, chamei a atenção em inglês a um grupo que me pareceu sul-africano para a imponência da estátua ao Deus Aurobindo, figura de grande relevo no hinduísmo e, daí, aquele ser local importante de peregrinação – e os basbaques, atónitos, miravam o promontório enorme…; no Lorelei, com a música mais célebre do tema local a encher de nostalgia o barco do nosso cruzeiro, expliquei em castelhano ao grupo catalão  que aquele é um local importante da mitologia germânica com a valquíria a dialogar com Wotan lá no alto do promontório e blá-blá-blá…, a música que estávamos a ouvir era de Schubert, a letra de Heinrich Heine e que Robert Schumann se despencara fatalmente daquele rochedo.

As ovações taparam a música e tudo passou com grande glória para a minha sabedoria.

Mas… não era bem assim. Melhor direi que quase nada era assim. Felizmente, não voltei a encontrar quem me confrontasse com tanta involuntária fantasia resultante de tão vasta falsa cultura.

Então, no Cabo Comorim só acertei na geografia e tudo o mais passa a ser muito mais profano pois a estátua enorme é de Tiruvalluvar, o filósofo tamil  e o outro memorial é ao filósofo bengali Swami Vivekananda que nos finais do séc. XIX representou o hinduísmo em Chicago no Parlamento Mundial de Religiões. Quando uma parte das cinzas de Gandhi ali foi espalhada, já o local era de peregrinação hindu. Ainda não sei porquê mas voltarei aqui quando souber.

Quanto ao Lorelei, a mística do local resulta de o penhasco provocar no Reno uma curva em cotovelo cujos turbilhões provocaram muitas tragédias desde que o homem decidiu navegar ali. Mas o local tem imponência e espíritos mais românticos (Heinrich Heine, por exemplo) inventaram a história duma bela pastora que ali penteava os seus cabelos doirados e blá-blá-blá… E, vai daí, os alemães do solfejo entretiveram-se a compor lieder para a letra do Heine. Encontrei muitas dessas músicas no YouTube, a mais célebre é de um compositor cujo nome esqueci e não encontrei nenhuma de Schubert. Quanto a Schumann, se alguma vez ali foi, nada encontrei que registasse o passeio ao Lorelei. Encontrei, isso sim, que se atirou duma ponte sobre o Reno em Düsseldorf, que um barqueiro lhe deitou a mão e que dali foi para um hospício psiquiátrico nos arredores de Bonn onde morreu anos mais tarde.

E a minha pergunta é: - onde é que eu fui desencantar tanta falsa informação que involuntariamente impingi aos meus «colegas» turistas?

E se algum desses meus «colegas» foi estudar as lições, há-de concluir que anda por aí muita falsa informação turística.

Que esta correcção voluntária sirva para a remissão daqueles pecadilhos involuntários.

Recomendo, pois, que não nos fiemos no que nos contam enquanto passeamos pois anda por aí muito gato a fazer-se passar por lebre.

Contudo, se as minhas versões eram falsas, elas eram muito mais bonitas do que as insípidas verdadeiras - e fui eu que saquei aplausos, contei às pessoas o que elas queriam ouvir, fui demagogo, pareci político em campanha a sacar os votos dos inocentes.

Julho de 2021

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