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A bem da Nação

ANDA COMIGO – 7

De San Sebastian à fronteira foram cerca de 25 quilómetros numa estrada simpática por meio duma paisagem variada e com influência marítima. Lembro-me de termos que esperar numa longa fila de carros e camiões mas a certa altura os pesados foram para um lado e nós, os ligeiros, para outro. E tudo se aligeirou. Até porque a fronteira ferroviária era do lado de lá da fila dos pesados e a confusão não quis nada connosco.

Naquela época, os comboios na Península tinham uma bitola mais larga que a do resto europeu como forma de dificultar uma putativa invasão vinda do lado de lá dos Pirinéus sob as ordens de algum tonto que não conhecesse a opinião de Napoleão. E que opinião era essa? A de que ele próprio nunca arriscaria uma batalha cá nestas paragens temendo algum vexame e por isso enviou sempre algum general que o representasse. O general que se humilhasse, ele, Napoleão, que se safasse. Portanto, ali, naquela fronteira, os passageiros dos comboios tinham que fazer o transbordo e isso, à mistura com as formalidades aduaneiras, fazia um burburinho muito grande. Mas a nossa «porta» era outra e passámos tranquilamente.

Em Hendaia houve um hospital português. Não o vislumbrei. Não, não foi que os franceses precisassem da nossa ajuda sanitária, foi uma acção pontual de apoio ao Contingente Militar Português que se bateu na guerra de 14-18. Da cidade, não me lembro de qualquer coisa que mereça citação ao fim destes 59 anos. Queríamos chegar a Biarritz dali a 40 quilómetros por uma estrada relativamente boa em que, pela primeira vez, vi uma faixa central para ultrapassagens. Enquanto por ali andámos, não vimos dois teimosos a quererem ultrapassar ao mesmo tempo mas em sentidos opostos. Durante muitos anos, o meu pai assinou o AutoJournal que sistematicamente blasfemava contra esta terceira faixa e publicava desenhos dramáticos de choques frontais um pouco por toda a França. Devem ter sido muitas centenas de mortos enquanto aquela imbecilidade persistiu. Mas chegámos sãos e salvos a Biarritz sem termos que fazer qualquer pega de caras a um desembestado que viesse lá da frente.

Por qualquer razão, não parámos em Saint Jean de Luz e, chagados a Biarritz, passámos perto da praia à hora da enchente. Fiquei encantado com a descontração das pessoas. Nada do formalismo circunspecto ibérico, registei na memória um grupo de três ou quatro veraneantes loiras de shorts quase «à cava» e com toalhas ao ombro. Uma delas tinha uma blusa às riscas azuis e brancas. Se eu hoje tenho 75 anos, ela deve ter quase 100 mas se ler estas linhas, fique sabendo que há 59 anos aquela blusa e respectivo conteúdo chamaram a atenção de quem passava num «pão de forma». E, por incrível que possa parecer, esta foi a imagem que retive de Biarritz.

Bordéus, a cerca de 200 quilómetros, próxima etapa. É óbvio que pernoitámos algures pois visitámos Bordéus pela manhãzinha. E se da cidade – onde nunca mais voltei – me resta apenas uma vaga ideia (nada que a Internet não resolva), há outra curiosidade que dá para contar com prejuízo da extensão deste escrito.

O meu avô materno era industrial de conservas no Algarve e em Marrocos pelo que instalou um escritório em Bordéus e outro em Londres para fazerem a comercialização das ditas conservas em França e Inglaterra, respectivamente. Foi então que o meu avô decidiu acrescentar um «L» ao Sales original para distinguir do «sales» francês (sujos) e do «sales» inglês (saldos). E assim passámos a ser Salles em vez de Sales.

Eis como, para mim, Bordéus se escreve com mais um «L».

E hoje fico-me por aqui pois, à custa de banalidades, o texto já vai longo. Amanhã há mais.

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

ANDA COMIGO – 6

Deixei-me encantar por San Sebastian e naquela idade não sabia nada do que, entretanto, aprendi. Achei a baía esplendorosa mas adivinhei logo que àquelas águas deviam faltar pelo menos 10º C para que eu me metesse lá dentro.

Não me lembro ao certo por que horas da manhã lá andámos mas achei pouca gente nas imediações da praia. Ainda deviam estar a dormir. Barkamena[i]! A aristocracia frequentadora de San Sebastian não dorme, descansa.

Foi pela arquitectura geral que me pareceu andar por ali muita prosperidade e adivinhei que a aristocracia «a banhos» (gelados) seria bem endinheirada e que viria de todas as Espanhas – daí, o cosmopolitismo que referi no texto anterior. Algo me disse – imaginação pura – que os estrangeiros que por ali andavam à babugem, talvez na gigolade, seriam uns pelintras comparados com os espanhóis veraneantes.

Sim, chique mas, vim a saber muito mais tarde, os segredos por ali guardados não eram apenas mexericos e fofocas sociais ou de lupanares de luxo, eram também dos pesados e conformes à lei da bomba. Os contrafortes dos Pirinéus que para ali descem separam duas metades duma Nação que não se enquadra nem com um dos lados da fronteira desenhada a seu descontentamento nem com o outro. A diferença entre as duas metades estava em que de um lado havia uma ditadura que impunha uma vontade não negociável e do outro já então havia uma democracia em que a maioria salvaguardava os direitos das minorias. Quem visitasse San Sebastian como eu estava a fazer (e, sobretudo, com a idade que eu então tinha), não imaginava a «cultura de fronteira» que por ali contava com décadas de clandestinidade cuja faceta mais benigna seria o contrabando de produtos em falta aqui ou ali. Mas a passagem de refugiados e de armamento, sim, era a especialidade daqueles furtivos nacionalistas. Quem olhasse para todo aquele esplendor mundano, não imaginava a presença de uma forte tradição maquisarde.

Não se julgue, contudo, que a passagem «a salto» era só para fugitivos de cá para lá. Durante a segunda guerra mundial, já com Franco no poder, muitos foram os membros da Resistência Francesa que se acoitavam nos Pirinéus espanhóis das investidas do Regime de Vichy nos Pirinéus franceses, muitos os judeus que ali chegaram com destino a Lisboa atravessando Espanha em segredo. E, vencido Pierre Laval e regressada a paz a França, então sim, muitos opositores aos regimes de Salazar e Franco que passavam para o lado de lá. Tráfego humano? Sim, mas também há quem lhe chame «fuga para a liberdade de cada um». Fora a escravatura, tudo o resto era política.

E foi ao lado de todos estes sítios que passei sem me aperceber de nada.

Hendaia à vista, lá vamos nós…

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

[i] - «Perdão» em basco

ANDA COMIGO – 5

Salamanca no retrovisor, Castilla la Vieja debaixo das rodas do «pão de forma» na rota de Valladolid e Burgos.  Seriam 300 quilómetros por estrada que veio a ter muito melhores dias.

Paisagem ocre, vegetação rara, sequeiro seguido de mais sequeiro, morros por aqui e por ali com qualquer coisa que não percebi à primeira vista. No morro seguinte, preparado, olhei com afinco e vi que eram aberturas ao estilo de portas e janelas. Nem quis acreditar que houvesse gente a viver naquelas condições – falta de condições. Na altura, não sabia mas hoje chamo-lhes trogloditas. Em Julho de 1961 havia trogloditas em Castela. Não havia a História de se referir à rudeza dos Conquistadores castelhanos da América… Ainda por cima, a contas com a Justiça. Nesta nossa travessia, vimos uma terra madrasta geradora de sobreviventes, não de finuras.

Lastimavelmente, Valladolid varreu-se-me. Um pedido de perdão aos valladolidenses. Que lástima!

Afinal, os cabos telefónicos pendurados em árvores mortas eram um sinal do progresso já conseguido depois da guerra civil e apesar do embargo. Não era atraso, era sinal de tenacidade. Mas isto sou eu hoje a pensar porque à época me limitei a ver e a registar a informação.

Um salto no tempo e comparar aquela miséria com a pujança da actual Espanha. Caramba, tem sido obra!

Burgos à vista cá de longe, imaginei Filipe II e seu séquito a cavalo por aquela paisagem poeirenta a caminho da cidade e o Arcebispo D. Cristóbal Vela Tavera a vir ao seu encontro com o cabido reverente… E o Alcalde? Não sei, não o imaginei. Nem sei quem pudesse ser.

Desta vez, entrámos em Burgos com menos pompa que Filipe II. Como já ia sendo costume, demos uma volta pela parte histórica – com passagem obrigatória pela Catedral – e saímos rumo a Vitória. Seriam cerca de 150 quilómetros, nada que o «pão de forma» temesse.

 A paisagem continuou amadrastada. Com uma diferença: aqui e ali, em zonas mais baixas, tufos verdes a assinalar água. O que se via à distância era o arvoredo mas alguma coisa mais devia haver. Notei que nalguns casos, essas zonas estavam muradas e pareceu-me, num caso ou noutro, vislumbrar uma casa lá no meio. E quanto mais nos aproximávamos de Vitória, mais frequentes eram essas manchas verdes. Até que chegámos e o Bispo não veio receber-nos ao caminho. Não faltaria muito para que a noite se anunciasse e era hora de escolher poiso. Saímos da cidade e procurámos um sítio sem vacas.

De facto, na manhã seguinte não havia vacas, desmontámos o acampamento e fizemo-nos à estrada rumo a San Sebastian, uma centena de quilómetros.

A paisagem modificou-se completamente e o verde passou a ser a cor dominante. Cercas brancas de contenção de gado, agricultura com água à farta, vilas limpas e com bom aspecto. Mas, não esquecer, estávamos em Euskadi.

Fiquei deslumbrado com a baía de San Sebastian e achei a cidade muito cosmopolita. Já não era aquela Espanha por que passáramos, ocre, seca, agreste, com vacas à mistura e muita imaginação de reis e arcebispos.

Europa à vista, cheirou-me.

Amanhã há mais.

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

ANDA COMIGO - 4

Meados de Julho de 1961, cais de S. Martinho do Porto, meio da tarde, casa de praia da família Sommer d’Andrade. Visita à lota ali um pouco mais adiante, dois ou três dedos de conversa na varanda, jantar e despedida dos meus pais que regressavam à nossa casa de Verão, em Cascais. Nós, os cinco viajantes, partiríamos na manhã seguinte rumo à aventura. Como hoje se diz, a carrinha era um «pão de forma» VolksWagen dentro da qual dormiríamos três e os outros dois dormiriam numa tenda de campismo.

Na manhã seguinte, despedidas finais de quem ficava e rodas à estrada pelas 9 da manhã, mais coisa-menos coisa.

Naquela época, quem viesse de Lisboa rumo ao Norte, perdia sistematicamente a autoestrada em Vila Franca de Xira (talvez por gritante deficiência de sinalização…) e só voltava a acertar-se com ela nos Carvalhos, já perto do Porto. Restou-nos, pois, a hipótese de irmos a Alfeizerão para apanharmos a estrada nacional 1 até à Bairrada, virarmos para o Luso, pararmos uns minutos em Mortágua para eu me despedir dos meus avós (que naquele ano ainda não tinham ido para nossa casa em Cascais) e rumado a Vilar Formoso.

Ainda faltavam 38 anos para a constituição do Espaço Schengen e da nossa carrada constavam quatro menores cuja legalidade na «exportação» tinha que ser demonstrada. Os três manos d’Andrade iam com o Pai e bastava exibir os respectivos Bilhetes de Identidade mas em relação a mim, havia que exibir a autorização do meu Pai. E todos esses formalismos implicaram alguma demora na fila do guichet da Guarda Fiscal e na tramitação processual propriamente dita de toda a documentação (faltavam algumas décadas para que começassem a aparecer computadores, tudo era registado «à unha») até que todos tivéssemos os passaportes devidamente carimbados. Lembro-me de que a vistoria aduaneira ao interior do «pão de forma» foi rápida e simbólica, só para não se dizer que o militar da Guarda Fiscal não metera a cabeça lá dentro.

Paragem na berma da estrada espanhola para trincarmos uma sandocha e bebermos um pirolito sem solavancos nem stress; volta rápida por Ciudad Rodrigo para ficarmos com uma ideia da cidade histórica e lá vamos nós a caminho de Salamanca…; o «pão de forma» não era um Porshe, íamos «de espácio»… a ver os cabos telefónicos pendurados em «postes» feitos de árvores mortas podadas sabe-se lá como, a estrada estreita a pedir mais alcatrão nalgumas «trepidações», «pueblos» amarelados, pobres, muito pobres e poeirentos. Nós, os miúdos, não tínhamos maturidade nem conhecimentos para podermos pensar por nós próprios mas podíamos armazenar a informação que ali víamos. E não foi necessário esperar estes anos todos desde 1961 para sabermos que não é impunemente que um país – uma sociedade - passa por uma guerra civil seguida por uma guerra mundial e por um embargo internacional. As vítimas não são os detentores do Poder, qualquer que ele seja, são os inocentes cá de baixo, os dos «pueblos», sejam estes de meia dúzia de casas ou de milhares delas.

Chegados a Salamanca, demos uma volta pela zona histórica para ficarmos com uma ideia geral. Anos e anos mais tarde, quando soube quem tinham sido Rodrigo, D. Tomás de Torquemada e Alonso III Arcebispo de Fonseca, foi do que desta vez vi em Ciiudad Rodrigo e em Salamanca que me lembrei imaginando-os por aquelas ruelas e praças.

 Saímos de Salamanca em direcçao a Burgos, a três horas de viajem.  Também por ali, trânsito ao ritmo do «lá vai um». Haveríamos de lá chegar noite fechada e naquelas épocas não havia por ali parques de campismo nem nada parecido. Ainda havia Sol, era altura de procurarmos um local aprazível para fazermos aquilo a que hoje chamamos campismo salvagem. Terreno plano, meia dúzia de sobreiros, relva rasteira natural. Instalámo-nos, jantámos à volta duma mesa de campismo, demos alguma conversa e vimos a noite assentar. Mais um pouco de conversa e estava na hora de dormir. Dormi a noite de uma ponta à outra e já havia luz quando acordámos. E, para além da luz, havia também vacas à nossa volta. Felizmente, eram mansas. Na dúvida, movemo-nos com cautela porque nenhum de nós ainda tinha vocação de «gran toreros»[i].

Feitas as abluções matinais e tomado o pequeno almoço sem metermos medo aos cornúpetos nem levarmos nenhuma cornada, desmontámos o acampamento e pusemos o «pão de forma» com as rodas da frente a andar à frente das de trás.

Amanhã há mais.

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

 

[i] - O Zé Luí, sim, veio a ser cavaleiro tauromáquico de alternativa.

ANDA COMIGO – 3

No texto anterior ficou por referir que um dos alunos era o Jürgen Siemens, filho do então «chefão» da empresa que todos conhecemos, que, por ser dos mais velhos, ficou numa camarata com os da sua idade. Mas era um tipo muito simpático, nada a ver com importâncias por ser quem era e falava com velhos, novos, altos, baixos, gordos e magros. A seguir ao nosso curso, apresentar-se-ia na Marinha para cumprir o serviço militar. Mas foi logo dizendo que depois do serviço militar tencionava comprar uma casa em Portugal para ele e a irmã (que também estava connosco no curso de equitação – tão bonita e fina, que será feito dela?) passarem férias numa praia a escolher mais tarde.

Regressado a Lisboa, passados poucos meses, recebi uma carta do Jürgen a informar que a viagem de treino de mar implicava uma vinda a Setúbal no dia x do mês y que já esqueci. Eu ainda não tinha idade para ter carta de condução mas o meu pai arranjou um motorista que me levou a Setúbal à procura do Jürgen e, localizado, lá nos encontrámos. Viemos jantar a minha casa onde o apresentei a toda a família. Afinal ele era da idade do meu irmão e logo ali combinaram que o Zé seria o cicerone dele quando, depois da tropa, cá viesse à procura da tal casa. Ficaram amigos e a casa escolhida foi em Sesimbra. Mais: comprou também (ou mandou construir, já não me lembro) uma traineira para navegar à vontade pelas redondezas. Andou por cá de férias durante uma data de anos – passou a ter em Lisboa um procurador alemão que fizera a tropa com ele e que por cá ficara no negócio imobiliário – e desapareceu no fumo dos tempos. Desconheço por completo que influência teve ou deixou de ter nos investimentos da Siemens em Portugal. Vou procurá-lo nos seus 80 anos, pela certa.

Outra consequência que houve da minha ida a Verden, foi o entusiasmo que transmiti ao nosso amigo Eng. Fernando Sommer d’Andrade que decidiu, também ele, ir conhecer aquela organização de criadores de cavalos. E assim foi que organizou a ida dele e dos três filhos – Ruy, Zé Luís e Nã (Fernando) – a que juntou um convidado com experiência do local, eu.

Sobre esta viagem de carro com partida de S. Martinho do Porto e chegada a Elvas passando por Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça e Itália (e novamente França e Espanha, na volta), contarei nos episódios seguintes.

Desta vez, já seríamos muito – e ainda por cima, autotransportados – e não caberíamos nos passeios em grupo organizados pela Escola aos Domingos para os alunos conhecerem as cidades mais importantes da Baixa Saxónia ou para assistirmos a concursos hípicos importantes ou apenas regionais como me coubera e a mais alguns em 1959 nas idas a Bremen e Hamburgo.

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

O LEITE DERRAMADO

Como teria sido se não tivesse sido como foi?

* * *

Reformulo a pergunta: - Que teria acontecido se nós, os que tínhamos esperança no Professor Marcelo Caetano, nos tivéssemos antecipado e feito um golpe de Estado contra os «ultras» do caduco Estado Novo?

Resposta: - Pura especulação.

Especulemos, pois…

- Teríamos apeado o Almirante Américo Tomás do cargo que ocupava e para que fora administrativamente nomeado por uma Assembleia Nacional também ela administrativamente nomeada pela caduca União Nacional transfigurada em Acção Nacional Popular;

- Teríamos pedido ao Professor Marcelo Caetano que assumisse a Chefia interina do Estado até que, num prazo de um ano, se realizassem eleições livres e, portanto, pluripartidárias;

- Teríamos pedido ao Dr. Sá Carneiro que assumisse o cargo de Primeiro Ministro de um Governo Provisório cujo mandato seria:

  • Preparar a realização de eleições livres e, como tal, pluripartidárias no prazo de um ano;
  • Preparar eleições livres e, portanto, pluripartidárias, em cada um dos territórios ultramarinos e consequente constituição de Assembleias Legislativas;
  • Redigir uma Constituição provisória que seria referendada na primeira legislatura da Assembleia resultante das eleições.

E se…

  • … o Professor Marcelo Caetano não aceitasse?
  • … o Dr. Sá Carneiro não aceitasse?
  • … apesar da jura de fidelidade ao Professor Marcelo Caetano, a Brigada do Reumático não colaborasse?

… ficávamos com o «menino» nos braços e alguma solução haveríamos de encontrar pois…

  • … em democracia não há homens insubstituíveis

Na certeza, porém, de que as soluções alternativas não passariam pela sovietização de Portugal nem das suas colónias como esteve subjacente ao 25 de Abril de 1974 em que a liberdade, ainda hoje badalada, foi a que os comunistas adquiriram de prender os não comunistas.

São desconhecidos os resultados de experiências não experimentadas mas duvido que Moscovo pactuasse com o que deveríamos ter feito, a antecipação em dois anos do 25 de Novembro de 1975.

Deixemo-nos, pois, de carpir agora sobre o leite derramado e não percamos tempo com especulações inúteis mas paremos também com os cânticos absurdos à glória soviética.

25 de Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

ANDA COMIGO – 2

Como era suposto, todos os alunos chegaram (chegámos) no dia 31 de Julho para nos instalarmos e começarmos o curso no dia 1 de Agosto. Nós, os rapazes, ficávamos nas camaratas da Escola; as raparigas ficavam em casas de família um pouco por toda a parte na cidade.  Como fui dos primeiros a chegar, escolhi uma cama na parte de cima de beliche junto da janela. Ao final da tarde, a minha camarata fez o pleno dos três beliches com a chegada de três irmãos suíços, com o filho de um casal de cantores da Ópera de Berlim e um outro que era filho de um casal de engenheiros alemães contratados pelo Governo egípcio e que chegara na véspera a Hannover vindo do Cairo. Dizia que falava árabe fluentemente. O Thomas, o suíço mais velho, sugeriu-nos que acreditássemos e decidiu, sob aplauso da maioria dos camaradas, que por ali se falava alemão e ponto final na discussão. Outro tema sobre que não se falaria, seria a religião pois havia ali católicos e luteranos. É claro que nenhum de nós tinha maturidade nem interesse por debates teológicos pelo que aquela decisão foi inócua. O berlinense operático estava autorizado a cantar até que alguém, da nossa ou de outra camarata, o mandasse calar. Felizmente, o Andreas Brauer, o único de quem retive o nome, preferia a ópera italiana que sempre é mais cantabile que a wagneriana. E assim foi que «democraticamente», o Thomas organizou a vida na nossa camarata. Então, já que ele ficara na cama mais próxima do interruptor da luz, assumiu a incumbência do respectivo comando. Creio que já todos, os outros, dormíamos quando ele apagou a luz nesta primeira noite e creio também que assim terá sido até à última noite da nossa estadia na Escola.

Alvorada às 6 da manhã seguida de  pequeno almoço, formatura na «parada» com prelecção sobre a «ordem do dia». No primeiro dia, a prelecção foi um pouco mais longa do que nos seguintes, fez-se a atribuição de um cavalo a cada aluno e, depois de dada a ração e feitas as abluções e outras limpezas, seguiu-se uma apreciação do à-vontade a cavalo de cada aluno. Fomos distribuídos por quatro classes desde os mais atrasados na 1ª aos mais adiantados na 4ª. No final do curso, os mais adiantados fariam o exame da Federação Equestre Alemã para atribuição (ou não) das medalhas de bronze de equitação e de condução de atrelagens (com uma parelha de cavalos). O bronze habilitava os seus titulares a participarem nas competições regionais[i]. Em função desta distribuição, assim cada um de nós montaria ou não o cavalo que lhe fora atribuído inicialmente. Coubera-me uma égua de meia idade, passei a montá-la. Andava serenamente nos três andamentos, alargava e encurtava mas não sabia mais nada. Nem sequer sabia recuar. Passava por cima dos pequenos obstáculos sem fazer o mínimo esforço e creio que ninguém alguma vez lhe pediu que saltasse qualquer coisa que se visse.  No campo de steeple, «Maria vai com as outras». Tive um mês para me entreter a convencê-la de que a vida é bela. Foi muito apreciada pela hierarquia a maneira como a ensinei a recuar (pela mobilização da garupa, coisa que nunca tinham praticado). A partir daí, o Director da Escola convidou-me a montar o cavalo dele todas as tardes. Enquanto por lá andei, mais ninguém lhe passou a perna (termo da gíria equestre para «montar»).

Aos Domingos não havia actividade e os cavalos eram alimentados por dois Fulanos da cidade que lá íam fazer esse trabalho. Nós, os alunos, estávamos dispensados de qualquer obrigação. E foi num certo Domingo que o professor de equitação me levou a conhecer Bremen e noutro Domingo o Director me levou a assistir ao Derby de Hamburgo. Em ambas as cidades vi ruínas da guerra. Entretanto, na nossa cidadezinha, vi construir um bairro novo com uma centena de edifícios de dois pisos para receberem alemães de leste que queriam vir para o lado de cá.

Não fiz o exame final porque a viagem de regresso a Lisboa era no próprio dia dos exames. Isso ficaria para dois anos depois, Agosto de 1961.7Foi o próprio Director da Escola que me levou no seu carro particular ao aeroporto de Hannover.

Na viagem de regresso já eu conhecia os caminhos, não precisei de ajudas especiais. Em Barajas, espreitei pela porta que dava para os «servicios» mas não estava lá o «gran torero». Era outro «Guardia Civil» que estava de serviço às precisões dos passageiros em trânsito e este não inspirava qualquer comentário. Barajas banal, perdera a graça. À chegada a Lisboa, o meu irmão foi buscar-me ao aeroporto e dei por mim a pensar em alemão e a traduzir mentalmente para português. O objectivo da viagem era precisamente esse, o de desemburrar o alemão; os cavalos eram o pretexto.

 (continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

 

[i] - As medalhas de prata davam acesso às competições nacionais e as de ouro às internacionais.

ANDA COMIGO – 1

Anda comigo

Vamos pela estrada fora

Anda ver a tua terra ´

Como está bonita agora.

Toma o chicote

E com ele dá dois estalos…

… e de mais não me lembro desta canção dos anos 50 do século passado. A diferença está em que desta vez (e das próximas nesta série) não vamos ver a «tua terra» mas sim terras alheias.

* * *

O 30 de Julho de 1959 amanheceu soalheiro e os meus pais levaram-me ao aeroporto da Portela, logo ali ao fundo da Avenida do Aeroporto que hoje se chama «Almirante Gago Coutinho», para eu ir durante um mês para a Alemanha praticar alemão e, já que estávamos com a mão na massa, montar a cavalo num ambiente diferente daquele a que eu estava habituado. Tinha eu fresquíssimos 14 anos e já então me saltava o pé para a aventura.

O meu baptismo de voo tinha sido uns anos antes numa Auster em Alverca[i] mas aquela seria a primeira vez que voaria num avião «grande», dos de passageiros. Seria um voo da Lufthansa mas o avião seria um inglês Vickers Viscount[ii]. O destino seria (e foi) Hannover com escalas em Madrid e Frankfurt.

Poucos passageiros à partida (uma dezena?) e lá fomos até Madrid num percurso sem história.

A aerogare de Barajas era então um edifício mais pequeno do que também então era o nosso em Lisboa e a «sala» dos passageiros em trânsito era uma varanda destapada em quarto de círculo com não mais do que meia dúzia de metros de raio e com três degraus para a placa de estacionamento dos aviões. Os «servicios» eram dentro da aerogare e cada passageiro em trânsito que precisasse de «se servir», era acompanhado por um «Guardia Civil» velhote e barrigudo montado em cima de duas pernas muito altas e fininhas ao estilo de «gran torero» - pelos vistos «pas très réussi» - que ficava de plantão do lado de fora do local dos alívios e regressava com o/a aliviado/a à varanda - não fosse alguém lembrar-se de trocar o virulento Salazar pelo doce Franco. Dificilmente se poderia imaginar missão mais «nobre» para quem uns anos antes andara por certo à trolha sob o comando do Generalíssimo… «Asseos» sob vigilância, sim, mas, quanto ao resto, nem um copo de água. Passada assim cerca de uma hora, veio uma funcionária da companhia aérea (hospedeira de terra, talvez), alemã, encaminhar-nos de regresso ao avião no que fomos seguidos logo depois por mais passageiros que ali iniciavam viagem. Avião quase cheio, todos falavam alemão e não vi ninguém de «traje de luces» nem vestidos travados e com folhos à sevilhana, vestimentas usuais de qualquer espanhol que se presasse. Não? Ah, julguei que sim…

Rodas no ar à hora prevista e lá vamos até aos 11 mil metros de altitude rumo a Frankfurt. Céu limpo e «estrada» sem buracos, serviram almoço cuja ementa esqueci (não sei porquê se «só» passaram 61 anos…). Mas do que me lembro sem quaiquer dúvida é de que tudo sabia exactamente ao mesmo, desde a bebida ao prato principal, ao pão e à sobremesa. Ainda hoje esta particularidade constitui um mistério para a minha fraca sabedoria em culinária.

Chegados a Frankfurt, uma hospedeira de terra conduziu-me à porta de embarque do voo para Hannover. O avião seria um bimotor a hélice parecido com o «Dakota» (DC 3) mas que era de um modelo  chamado «Metropolitan» cujo fabricante esqueci e agora não fui capaz de descobrir.

Meia dúzia ou menos de passageiros, vários lugares vazios. Estranhei, mas não desgostei, que a hospedeira se viesse sentar ao meu lado, verificasse o meu cinto de segurança, me desse rebuçados e se fartasse de conversar. Pareceu-me nervosa. Falei-lhe calmamente e ela lá se foi acalmando até que começámos a descer para o destino. Aterrámos sem novidades e foi então que ela disse que o avião que nos antecedera fora apanhado por uma tempestade e que a colega dela andara à reboleta por tudo quanto era sítio na cabine e tivera que ser evacuada de charola para o hospital. E eu, galaró, convencido de que tinha sido a minha conversa mole que a tinha acalmado.

À minha espera estava uma Senhora nem alta nem baixa, nem gorda nem magra, antes pelo contrário, de loden e chapéu a condizer. Foi aí que tive o meu primeiro contacto com hordas de gente vestida de verde. Levou-me a um hotel no centro da cidade onde dormi e, na manhã seguinte, foi buscar-me e foi comigo de comboio até Verden an der Aller, a cidadezinha onde se localiza a sede da Associação dos Criadores dos Cavalos de Hannover, os famosos hanoverianos, hoje considerados os melhores cavalos de desporto do mundo. A Frau qualquer coisa – nunca lhe soube o nome – não me deve ter dirigido mais do que uma dúzia de palavras desde o aeroporto ao hotel e desde o hotel até que me deixou na Escola da Associação numa viagem de cerca de uma hora (~100 kms). A hospedeira do avião poderia estar nervosa mas era muito mais simpática (e bonita) do que esta mal-disposta trombuda. Contudo, passados estes 61 anos, penso nela e imagino que pudesse ter perdido a família na guerra que acabara apenas 14 anos antes, que ficara emocionalmente destruída, eu sei lá que mais horrores… Não, não tinha aspecto de ter pertencido às SS e muito menos aos SA. Devia ser apenas uma pessoa triste e que ganhava a vida a fazer fretes de levar jovens daqui para ali e vice-versa. Entrei o portão da Escola e ela deu meia volta e… há 61 anos que não a vejo.

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

[i] - Com o então Coronel Engenheiro e Piloto Aviador Fernando Alberto de Oliveira que mais tarde seria Brigadeiro, Director das OGMA e Ministro das Obras Públicas

[ii] - O Vickers Viscount é um avião quadrimotor turbo-hélice de médio-curso fabricado pela Vickers-Armstrongs (UK) com início de operações em 1953. Foi um dos mais bem-sucedidos aviões da geração do pós-guerra, tendo sido construídos no total 445 aparelhos. (Wikipédia)

A SINFONIA DO NOVO MUNDO – 5

Tem o “A bem da Nação” por princípio considerar que todos os comentários são uma benesse recebida dos generosos leitores. Assim, não há polémicas e apenas agradecimentos. Em textos sequentes poderá haver pedidos de perdão por erros cometidos ou explicações sobre matérias inicialmente mal expostas e que careçam de correcção. É o caso de hoje em relação ao texto anterior que, julgava eu, poderia ser o último desta série. Não foi.

Pelos vistos, não me fiz entender na «separação das águas» entre a Índia e a CPLP. Talvez tivesse bastado colocar três asteriscos entre os dois temas e a confusão não ocorreria. Talvez. Mas o mal está feito e não vai ser agora corrigido para não retirar cabimento ao comentário de quem não separou os temas.

Nesta conformidade, venho a terreiro como Egas Moniz perante Afonso VII de Castela, de baraço ao pescoço, pedir perdão por tão fraca escritura que feriu a sensibilidade de valorosos patriotas da Nação Goesa quer in loco quer na diáspora.

Que fique bem claro que a minha proposta para a Índia nada tem a ver com a CPLP. Trata-se, isso sim, de substituir a China pela Índia no contexto global dos países vitimados pela maldade subjacente à soltura do vírus em Wuhan. Esta é uma conversa para a qual a lusofonia (nem sequer a lusofilia) é chamada. A questão do ex Estado Português da Índia é para tratar noutro contexto em que, no máximo, poderei sugerir uma aproximação da UCCLA a alguns municípios historicamente relevantes nesse outro contexto. Mas isso fica para «outras núpcias».

Relativamente à CPLP, admito que os temas sugeridos sejam de debate prolongado pois não vejo aquela instituição vocacionada para grandes voos. Pelo contrário, vejo-a rasteirinha, sem ânimo sequer para liderar um processo tão inócuo como o da uniformização da língua gestual portuguesa. Nem isso são capazes de incluir na agenda de temas a debater, quanto mais assuntos de peso. Só que, entretanto, o DAESH hasteou a sua bandeira em Mocímboa do Rovuma e decapitou e desmembrou elementos da Guarda de Fronteira moçambicana e, entretanto, há países em ruptura de meios de pagamento sobre o exterior não só porque a roubalheira dos políticos a isso conduziu como por debilidades estruturais nas relações externas de pequenos Estados. Mas esses são temas para que simples Funcionários não têm mandato ou ânimo suficientes para com eles lidarem.

Esta inoperância não pode ser considerada uma inerência da instituição. Logo, não deixo de referir temas que me parecem importantes.

Como havemos de continuar a falar destes e de outros temas se as entidades oficiais não lhes ligam patavina? Venham sugestões.

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

A SINFONIA DO NOVO MUNDO – 4

Contida a agressão chinesa ao resto do mundo, substituída a ONU por instituição democrática e confirmada a UE e o Euro e constituídas as Forças Armadas Europeias (em paralelo com as nacionais de cada Estado-membro), é com um sentimento de simpatia que olho para a Índia e que a aponto como eventual parceira de privilégio para os interesses do resto do mundo que, com ela, foi vítima da maldade subjacente ao Covid-19.

A Índia é um país cheio de problemas, todos os identificamos mas é isso mesmo que a distingue da China: todos conhecemos os problemas indianos, todos os discutimos na praça pública, ninguém é condenado à morte sem julgamento, os Partidos políticos são livres, a imprensa é livre. E é por causa desses problemas todos que me inspira confiança. Pelo contrário, tenho todos os motivos para desconfiar dos países que só têm virtudes.

Aqui fica a sugestão: vamos trocar a China pela Índia.

E porque nós, Portugal, temos uma relação muito antiga com a Índia, lembrei-me de que está na hora de reforçarmos a CPLP com um instrumento de cooperação militar e com uma instituição de gestão de um fundo monetário que funcione de modo equivalente ao que a França tem com as suas antigas colonias africanas (CFA) e com as possessões ultramarinas no Pacífico (CFP). Essa nova moeda (o Escudo Internacional) terá paridade associada ao Euro.

Assim, aqui deixo para debate três temas que me parecem interessantes para o novo mundo que aí vem no rescaldo da calamidade pandémica:

  • A substituição da China pela Índia como parceira privilegiada dos demais países vitimados pelo Covid-19;
  • A constituição de uma força militar lusófona;
  • A criação de uma instituição de emissão monetária equivalente à que gere o CFA e o CFP.

(continua)

Abril de 2020

Henrique Salles da Fonseca

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