Vão-se os anéis mas fiquem os dedos. Prescindimos das excursões e de mais uns dias de hotel mas conseguimos antecipar o regresso: de início, previsto para 22 de Março, antecipado pela própria companhia aérea para 21 e, finalmente, antecipado pela nossa agência de viagens em Lisboa para 18.
Mas como nestes tempos que correm, o que é verdade agora pode não o ser amanhã, só acreditávamos que viríamos no dia 18 depois de sentirmos os motores do avião a trabalhar. Significaria isso que tinha sido dada autorização para aterrarmos no destino, Madrid. Portanto, na dúvida, fui informando a nossa Embaixada no México de que, eventualmente, poderíamos vir a necessitar de ajuda oficial para o repatriamento. Tudo correu como desejávamos e não foi necessário incomodar a Embaixada.
Vôo sem história aeronáutica – apenas uns ligeiros tremeliques horizontais – mas em que apenas foi servido o jantar; quem quisesse pequeno almoço, que o pagasse.
Pesado, o ambiente a bordo: silêncio de quem não sabia o que iria encontrar no destino; parecia um vôo de resgate de refugiados, a evacuação de sobreviventes de um cataclismo. Nós os quatro sabíamos que tínhamos um carro à nossa espera numa determinada empresa de aluguer de automóveis em Barajas. Mais: carro com matrícula portuguesa para facilitar a passagem da fronteira no Caia, com capacidade para quatro adultos que gostam de comodidade e bagageira capaz de conter oito malas. Aluguer sem condutor, eu sem visão para poder guiar, o Pepe, mal dormido no avião, teve que alinhar com mais seis horas ao volante. Heróico!
Autoestrada contínua de Barajas a Lisboa, diziam-nos que haveria controlos policiais cada 10 kms e que no Caia a fronteira fechava às 8 da noite para só reabrir às 6 da manhã com fila interminável. Tudo mentira, tenho por terroristas as pessoas que lançam essas atoardas. Pouco trânsito de pesados e menos ainda de ligeiros, não houve um único controlo policial, no Caia não havia qualquer fila, exibimos os passaportes através dos vidros fechados e, sem delongas e com uma certa cordialidade, fomos mandados entrar no nosso país. Viemos a saber que a fronteira está aberta 24 horas por dia. Eram quase 7 da tarde do dia 19 de Março quando metemos a chave à porta de casa.
Para desgosto dos dependentes das negatofinas (as endorfinas negativas) que, sob a capa da amizade e da protecção, fazem a vida dos mais sensíveis num inferno, chegámos sem dramas nem outro constrangimento que não o cansaço físico, não psíquico.
Como dizem os franceses, «tout va bien quando fini bien».
Mármore branco e luzidio por tudo quanto era chão e paredes naquela bela aerogare de Cancún. Encaminhados para a fila dos guichets da Polícia de Fronteiras, a Bandeira Nacional Mexicana panda no seu pau encimado por seta doirada. Grande dignidade merecedora da admiração dos forasteiros - neste caso, eu. Verificados e carimbados os passaportes, a agente à paisana a dar-nos as bienvenidas. Cinco estrelas.
Contraste absoluto com a agente fardada e de máscara que rudemente nos verificou os passaportes à entrada do Panamá. Desculpei-a porque admiti que o marido dela se tivesse portado mal na véspera. Ou porque nem sequer tivesse marido.
Esperava-nos um mexicano baixote que se apresentou como José e nos conduziu a uma carrinha – quatro adultos habituados a mordomias e oito malas não se metem numa carripana qualquer - que cheirava a limpo. Bom piso nos 30 ou 40 kms até Playa del Carmen. O guarda da cerca exterior do hotel não estava informado da nossa chegada senão para daí a dois dias, não nos deixava entrar. Barafustámos, ameaçámos com a ira divina, apregoámos o cancelamento das reservas futuras e o Fulano que estava do outro lado da comunicação do guarda lá deu licença para que entrássemos. Afinal, esse mini-déspota, tiranete, eunuco de harém, era um atabalhoado que não era capaz de fazer o nosso check-in e fomos nós (mais uma vez, a Graça e o Pepe) a fazerem tudo. O José da carrinha não nos abandonou enquanto não teve a certeza de que estávamos em segurança. De caminho para os quartos já por horas nada cristãs, o recepcionista estendeu-me a mão num gesto de boas-vindas. Mão gorda, saposa. Devem ser assim as mãos dos guardas dos haréns.
Arquitectura e decoração sumptuosas, só tínhamos por ambição verificar tudo isso no dia seguinte. Para já, cama.
Luxo, luxo, luxo.
O programa das festas era a permanência de uma semana com três excursões mas tudo saiu truncado por estarmos a assistir ao encerramento sucessivo dos espaços aéreos e a corrermos o risco de ficarmos retidos no México sem ligações a casa. Aliás, a própria companhia aérea se encarregou de antecipar o vôo e nós fizemos apenas uma excursão. Mas os outros dias foram muito bons: uma dúzia de restaurantes dentro do hotel para que pudéssemos escolher à vontade no regime de tudo incluído. Para quem este regime é novidade, a exuberância dos consumos é notória; para quem está habituado (nós), a moderação é a norma. Quarto sobranceiro à piscina e a curtíssima distância da praia; baía fechada por rede anti-dentuças, os primos do cação da nossa sopa; água a condizer com as nossas expectativas – entrada afoita; comes ligeiros e bebes tanto inocentes como hard servidos à descrição com água pelo pescoço ou à sombra de alguma palapa. Aquela não é mas poderia ser a «praia do nababo».
Excursão interessante de um dia inteiro por local arqueológico (Tulum) e piramidal (Cobá). Mas, mais do que o campus arqueológico (não tive pernas que lá me levassem) e as pirâmides, interessou-me mais o que se passa actualmente com a Civilização Maya. Tanto quanto o homem do rickshaw que nos levou às pirâmides contou, em casa falam a língua maya mas na escola só aprendem castelhano; aprendem História maya mas nada mais. Concluo (talvez abusivamente) que o Estado Mexicano tem medo da Civilização Maya e do que algum revivalismo possa significar para a integridade nacional - já lhes chega Chiapas.
Entretanto, as notícias que nos chegavam da Europa e, mais concretamente, de Espanha, eram aterradoras. Estava (e ainda está, no momento em que escrevo estas linhas) em curso uma verdadeira chacina. Havia que apressar o regresso antes que o colapso nos impedisse de voltar a ver as famílias e os amigos.
Ondas como as do Lago de Genève. Fazendo horas para o jantar, a Graça e eu estávamos na varanda do camarote a ver o Sol a caminho da noite e olhávamos para nenhures. O que se espera ver num mar que parece infinito e plano? Um tsunami que nos vire de borco? Não! Talvez se veja uns golfinhos, umas baleias, um navegador solitário ou uns náufragos… Nada disso. A novidade não estava no mar, tinha sido posta num papel por baixo da porta do camarote.
Era uma comunicação formal de alguém colocado na hierarquia determinante do navio a informar que aportaríamos a Colón na manhã seguinte pelas 7 horas e que seríamos todos metidos em autocarros e escoltados até ao aeroporto de Panamá City. Que tratássemos de mudar de vida. E que, como com o bode a ser ordenhado, não haveria ménem meio mé.
O nosso programa de festas previa desembarcarmos, termos um carro à nossa espera para nos levar ao hotel em Panamá City onde ficaríamos mais dois dias a ver o que por lá houvesse de interessante e, então e só então, voarmos para Cancún, no México. Nada disso, seríamos escoltados até ao aeroporto e dali não poderíamos sair a não ser por uma porta de embarque para um avião que nos tirasse para fora do Panamá. No Panamá é que não podíamos ficar. Escorraçados como um bando de mal-cheirosos. E mais: o problema não era apenas connosco, os quatro portugueses, era com todos os passageiros do navio com desembarque previsto em Colón, «apenas» cerca de 850 pessoas. Se a esta multidão somarmos os tripulantes não panamianos em fim de contrato que também desembarcariam, tratar-se-ia de cerca de mil pessoas à deriva, sem solução muito diferente da de terem (termos) que dormir espojados no chão do aeroporto. Estariam 16 autocarros à nossa espera no cais e seríamos escoltados pela Polícia. E que desamparássemos a loja, neste caso, o navio. À saída, haveria uma equipa médica que nos mediria a temperatura: se apiréticos, tudo bem; se febris, não nos disseram onde estaria a máquina de picar carne para de seguida mandarem os restos para o crematório local.
- E não podemos ir no barco até Cartagena de las Índias e tentar resolver o problema a partir da Colômbia?
- Nem pensar nisso, até porque o problema lá é igual ao daqui. Têm que sair e desenrascarem-se.
No check in, aquele mesmo funcionário tinha sido mais afável e não perdi a oportunidade de chamar Pilatos a quem assim se livrava de nós. Desapareceu e não foi mais visto nas redondezas daquele balcão de «apoio» aos passageiros do nosso deck.
A Graça e o Pepe – os reais organizadores das viagens que fazemos em conjunto – tinham 12 horas para conseguirem antecipar o vôo do Panamá para Cancún e para anteciparem dois dias a nossa chegada ao hotel em Playa del Carmen. Como se imagina, as comunicações do barco entupiram de imediato com tanta gente a querer resolver os respectivos problemas equivalentes ao nosso. Valeu-nos a diferença horária entre o Panamá e Portugal, 5 horas, pelo que quem tudo reorganizou com inexcedível dedicação e profissionalismo foi a nossa agência de viagens em Lisboa, a Lusanova, a quem daqui presto merecido aplauso. É que, quando desembarcámos, já sabíamos que voaríamos no vôo tal e tal, que no destino teríamos quem nos levasse ao hotel, tudo perfeito.
Formada a coluna de 16 autocarros, fomos escoltados por polícia motorizada e armada de metralhadora como se fôssemos uma leva de criminosos ou um bando de leprosos. E isto era sabendo que estávamos todos apiréticos. O que seria se alguém estivesse com febre por causa de um panarício ou por um ataque de caspa? Chegados à cerca do aeroporto, ordem para parar. E começámos a ser ultrapassados por todos os que não pertenciam à coluna. Assim estivemos cerca de uma hora até que duas dúzias dos nossos, exaltados, fizeram um cordão humano a impedir o trânsito. Foi ver a Polícia a dar ordem para seguirmos. Pensei que esses cívicos armados ou eram cobardes ou não estavam convictos de alguma ordem absurda que estavam contrariadamente a cumprir.
À hora prevista chamaram-nos para o avião. Não nos virámos para trás a fazer um gesto feio até porque os passageiros depois de nós na fila de embarque não tinham culpa nenhuma. Mas dissemos «Adios Panamá».
Vôo de duas horas e aterragem tão suave que só me apercebi que já estávamos no chão porque senti o piloto pôr o reverse e travar.
Para quem, como nós, aproveita a noite para dormir e o dia para viver, é boa a navegação nocturna em cenário de breu. Assim, depois de termos tido um problema com a âncora de bombordo que, digo eu, estaria ensarilhada num cabo submarino, lá conseguimos zarpar rumo a Montego Bay, Jamaica, o país de Bob Marley.
E quem foi Bob Marley?
Vai uma ajudinha da Wikipédia para os esquecidos como eu: Robert Nesta Marley, ou seja, Bob Marley (6 de Fevereiro de 1945 — 11 de Maio de 1981), foi um cantor e compositor jamaicano, o mais conhecido músico de reggae, famoso por ter popularizado o género.
Dedicado a protestar contra problemas sociais, levou, pela música, o movimento rastafári ao mundo com as mensagens de paz, irmandade, igualdade social, preservação ambiental, libertação, resistência e amor universal. Marley transformou-se na voz do povo negro da Jamaica que então era pobre e se dizia oprimido. A África e seus problemas de miséria, guerras e colonialismo também foram tema das suas músicas, por se tratar da terra sagrada do movimento rastafári. O lema Don’t worry, be happy! faz a síntese duma parte importante da sua mensagem.
E o que é isso do movimento rastafári?
Bom, para além das dicas que já dei, continuemos com a Wikipédia para recordarmos que o rastafári é um movimento judaico-cristão surgido na Jamaica, nos anos 30, entre negros camponeses descendentes de escravos. O movimento proclama Haile Selassie I (1892-1975), o último Imperador da Etiópia, como a segunda vinda do prometido Messias bíblico ou como a representação de Yahvé na Terra. De acordo com o livro etíope Kebra Negast, Haile Selassie é o herdeiro de uma dinastia real cujas origens remeteriam ao Rei Salomão de Israel, filho do Rei David e à Rainha de Sabá, o que é requisito bíblico para o status de Messias. Adoptado por muitos grupos ao redor do globo, o rastafári combina o cristianismo protestante, o misticismo e uma consciência política pan-africana. Os membros do movimento são os rastas.
Posto o que – e agora já sou eu de novo a botar faladura – não se pode compreender a Jamaica sem se saber o que acabamos de recordar. Até porque falar da Jamaica é o mesmo que falar de Bob Marley e falar deste é falar do movimento rastafári. E, de facto, em quase todos os locais públicos por onde passámos em Montego Bay, havia sempre um som que vinha de algures com um toque reggae, havia sempre alguém com um gesto a insinuar esse estilo. A mim, essa gente pareceu-me happy and not worried at all; outros há que dizem que é «tudo malta ganzada». Continuo na minha, actualmente, esta gente é feliz.
Extrovertidos como são, não estou a imaginar os jamaicanos metidos em clausura quando o corona vírus lá chegar. Mais facilmente morrerão a dançar.
Desembarcados, demos uma volta de autocarro por não sei onde (a minha fotofobia a pregar-me partidas) e rumámos a uma praia situada junto do aeroporto pelo que me lembrei do Gilbert Bécaud e «les avions sur l’aéroport…». E foi um caldinho de aviões a rugir nas nossas costas e o reggae a sair dos ubíquos altifalantes. Demos uns quantos mergulhos, estendemo-nos ao Sol e hoje, sim, como muito bem me corrigiu D. Pepe Gener em comentário à crónica anterior, almoçámos debaixo de um baniani imponente. Curiosas, estas árvores que crescem a poucos metros da água salgada. São como os caimões.
Comida feita, companhia desfeita, metemo-nos nos autocarros até ao barco e zarpámos rumo de regresso a Colón, Panamá.
Quando acordámos, estávamos ancorados ao largo da Grande Caimão.
E vá de saber coisas…
Porquê ao largo e não acostados? Porque, como dizem os geólogos, geógrafos e outros sábios, as três ilhas Caimão – a grande, a média e a pequena – são os picos truncados de uma cordilheira submersa e não há um mínimo de plataforma costeira que permita a construção de cais acostáveis por navios de tonelagem séria, o declive submerso é a pique. Eis por que nós e mais dois ou três navios de cruzeiro ficámos ao largo assim como uns quantos yachts de bem menor peso que o nosso. Seríamos trasfegados para terra em barcos com capacidade para 250 passageiros e não em pirogas como (não) seria expectável.
E iríamos ver caimões? Não, os caimões (crocodilos de água salgada) eram abundantes nestas três ilhas mas os ingleses que viviam na Jamaica começaram a vir aqui fazer caçadas desportivas e acabaram com eles. E, realmente, como é que se haveria de fazer um paraíso fiscal no meio dos crocodilos?
Assim foi que chagámos a terra, nos meteram em pequenos autocarros (uma vintena de passageiros) e fomos dar uma volta pela cidade, George Town, antes de irmos à praia dar um mergulho e almoçar.
Tudo plano, os edifícios mais altos que vi deveriam ter, no máximo, três pisos – rés do chão, 1º e 2º - o que não obsta a albergarem cerca de 250 bancos. Sim, como é do domínio público, quem, por esse mundo além, não gosta de pagar impostos (e há-os muitos), leva para ali as suas poupanças. É que nas Caimão não gostam de cobrar impostos, pura e simplesmente não existem publicanos. E à pergunta sobre do que vive o Estado, a resposta foi curiosa: para já, o Estado (entidade pública que administra um território e exerce a soberania) é o britânico, o do Reino Unido, pois as Caimão são um território ultramarino britânico (eufemismo para «colónia inglesa»); de seguida, o território não tem Forças Armadas – parece que tem meia dúzia de polícias, alguns barcos de vigilância costeira e dois ou três helicópteros para acudirem a acidentes marítimos – e mais do que isto, têm uma Administração Pública muito ligeira encimada por um pequeno Governo, um mini-Parlamento e um Governador (fantoche que representa a Rainha Isabel II). Tudo, financiado pelas taxas cobradas aos forasteiros residentes dos quais sobressaem os contabilistas (por que será?) como autorizações de trabalho - de duração relativamente curta, como não poderia deixar de ser para que as respectivas renovações financiem os polícias.
Infelizmente, ao longo das ruas não tropeçámos em nenhuns montões de dinheiro assim como não corremos o risco de nos cruzarmos com um caimão. Também não vimos nenhum capitalista gordo a fumar charuto, de chapéu alto, calças riscadas, colete, corrente de ouro e fraque como os comunistas gostam de os caricaturar. É que a nossa guia e motorista era uma cubana a quem tentei sacar alguma informação sobre a situação actual no seu país. Saiu a diskette estafada do boicote americano quando é sabido que tudo isso está mais do que furado pelos próprios americanos travestidos de canadianos, mexicanos ou não sei de mais quê. Não tive paciência para lhe dizer que mudasse de diskette pois ela deveria estar com medo de ser espiada por algum amigo de Cuba. Não dei troco, a conversa morreu ali e fiquei a saber que posso continuar a ter pena dos cubanos. A ironia desta conversa está em eu ter ido ao coração do capitalismo saber notícias de um dos últimos redutos do caduco comunismo.
Lá fomos então até à praia dar um mergulho sem caimões mas com um olho sempre alerta na eventualidade de algum primo maior dos cações. Confirmei que a minha querida paria do Barril, em Tavira, é a melhor do mundo.
Almoçámos num daqueles restaurantes de praia e regressámos ao barco. Ficou visto. Julgo que posso dizer «adieu».
Era ali pelas bandas do tempo que antecedeu o 25 de Abril de 1974 que a RTP transmitia o anúncio a um shampoo qualquer em que aparecia uma pequena mais ou menos coberta (ou mais ou menos despida) por uma túnica branca, metida até aos joelhos na água de um laguinho, tendo como fundo da imagem uma pequena cascata. E enquanto a pequena mexia e remexia na sua farta cabeleira, a voz-off dizia que «a Natália foi à Jamaica lavar o cabelo com…» (e dizia o nome do shampoo que já esqueci). Ora, naquela época, a filha solteira do então Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, chamava-se Natália e, vai daí, o bom povo português encheu o anedotário nacional duma quantidade enorme de chistes a que a minha memória deu entretanto o mesmo tratamento que ao nome do shampoo.
Eis o que até há bem pouco tempo, eu sabia da Jamaica. Mas agora, indo lá, pareceu-me de alguma conveniência passar pelo Google[i] e estudar um pouco sobre o dito país.
Então, a Jamaica compõe-se de uma única Nação negra, Estado independente mas integrado na Commonwealth. O território é a ilha do mesmo nome. A actividade económica baseia-se na exploração de bauxite e no turismo enquanto o equilíbrio financeiro é muito ajudado pelas remessas dos emigrantes.
Assim sendo e nesta conformidade de viajantes, aportámos durante a noite a Ocho Rios (e não Eight Rivers como alguém me confundiu), desembarcámos num cais florido e desembocámos numa simpática praça ajardinada onde os autocarros nos esperavam. Visto da varanda do nosso camarote, Ocho Rios fez-me lembrar o Machico e não mais. Pequena vila a que por ali se chama cidade, tem aspecto asseado e não se vê miséria nem a chusma de vendedores ambulantes (mendicidade disfarçada) que nos assediara na esplanada em que almoçáramos em Cartagena de las Índias. Encamionados, lá fomos nós rumo ao desconhecido… E qual não foi o meu espanto quando deparei com a «cascata da Natália». Trata-se de um riacho cantante dentre os mais de mil que se diz existirem na Jamaica e que, enquadrado num parque de lazer, desce até à praia onde existe um rudimento de apoio turístico. Foi então que, pela primeira vez, molhei os pés naquela região caribenha. Não avancei mar adentro porque me disseram que os tubarões também gostam de tomar banho por ali.
Gostei do que vi mas achei pouco para justificar uma viagem tão longa.
Foi então, no regresso ao barco, que comecei a pensar nas diferenças óbvias entre a Jamaica e o Haiti, outra República negra nas Caraíbas, onde impera a miséria e o desmando político. E notei para comigo e em silencia que nunca me passou pelas orelhas o som do nome de algum político jamaicano enquanto que os haitianos «Papa Doc» Duvalier e seu filho gordo e perdulário encheram as notícias urbi et orbe. E desse desmando – aparentemente justificado pelos vapores da liberdade, igualdade e fraternidade - resulta por certo a fuga das gentes que não remetem poupanças para os bancos em Port au Prince. Pelo contrário, os emigrantes jamaicanos enchem de remessas os bancos do seu país porque sabem que ali tudo é sereno.
Um slogan curioso: «Na Jamaica não há problemas, há acontecimentos e estes têm soluções». Trata-se, evidentemente de um eufemismo jocoso mas não deixa de mostrar uma faceta da bonomia geral. E a pergunta que me ocorreu foi se essa bonomia não resultará de «aquela malta andar toda ganzada». Talvez sim, talvez não. Eu não vi nada que me fizesse supor uma sociedade abandalhada. Vi-a sorridente e serena, mas não eufórica no pico da ganza nem deprimida na ressaca.
Concluindo, nesta minha primeira visita à Jamaica, vou com uma ideia positiva.
Almoçámos no barco e zarpámos rumo à Grande Caimão onde chegaríamos na manhã seguinte. Tanto quanto me apercebi, as ondas devem ter sido tão grandes como as do lago do Campo Grande em Lisboa.
Desde os meus tempos de recruta em Abril de 1970 que não andava tanto a pé como neste dia de visita a Cartagena de las Índias e, acabado o circuito do op on-op off, deixaram-nos propositadamente longe do ponto de embarque para que atravessássemos um parque com flores e animais. Bonito, sem dúvida, mas eu já só ambicionava uma chaise longue ou coisa equivalente. Fui direito à varanda do nosso camarote, sentei-me confortavelmente e por ali fiquei a pensar na fatalidade da jovem cornúpeta até serem horas de nos arranjar mos para o jantar.
E o que me disse a bezerra antes de se finar?
Disse-me ela que espanhóis e portugueses tivemos posições muito diferentes de estar no mundo. Nós, portugueses, tivemos grandes Senhores à frente da epopeia dos descobrimentos, muitos deles, segundo consta, de tradição templária; dos conquistadores espanhóis se diz que eram gente a contas com a Justiça que pelo degredo da conquista de novas terras para a Coroa, obtinham o perdão real. Daqui resultaram atitudes diferentes no contacto com os povos indígenas de tal modo que nós, portugueses, fomos os primeiros a ir e os últimos a voltar; os espanhóis, não. Nós, portugueses, não fomos nenhuns «santinhos» mas sempre houve a preocupação de seguir uma conduta a que hoje chamamos Estado de Direito; os espanhóis parece que primaram pela chacina. Nós, portugueses, suportámos a Inquisição por pressão espanhola; os espanhóis inventaram-na. Finalmente, a bezerra lembrou-me que nós, portugueses, fizemos muito mais mulatos do que os espanhóis e que esse poderá ter sido o segredo de alcova que fez perdurar o nosso Império. E tudo isto, afinal, sem termos sido nenhuns «santinhos». Foi também nesta altura que me lembrei daquele angolano preto, mecânico de aviões na delegação das OGMA em Luanda que a certa altura emigrou para o Congo ex-belga onde ia ganhar muito melhor vencimento mas que, passado um ano, regressou a Angola e às funções anteriores. Perguntado por que regressara, respondeu: - Eles lá pagavam bem mas tratavam-me como preto; aqui, Vocês pagam mal mas tratam-me como pessoa.
E o navio apitou três vezes e acordou-me desta modorra de final de dia culturalmente rico mas fisicamente muito cansativo. Deixámo-nos ficar na varanda a ver o barco dos Pilotos da barra ao nosso lado, vimos os prédios altíssimos até junto do farol no extremo da restinga que separa o mar da baía interior e… aí está o balancé novamente. Contudo, uma mudança de rumo e o mar deixou de vir de lado e passou a vir de frente. O balancé foi substituído por uma sucessão sucessiva de «sobe e desces» suaves de que eu gosto mas no que não sou acompanhado por muita gente. Uma nota final neste tema: a minha mulher e eu não sabemos o que é enjoar.
Arranjámo-nos e fomos jantar. À porta do restaurante no deck 4 já estavam os nossos amigos e companheiros de viagens longas e de médio curso (Turquia, périplo marítimo da Austrália, Índia, Sri Lanka, Vietname, Camboja) e voltámos às subtilezas gustativas. A bordo come-se demais pelo que, frequentemente, saltamos um prato. Neste cruzeiro fixámo-nos num vinho tinto tempranillo da Rioja «Marquez de ???» em que uma garrafa era mais do que suficiente para nós os quatro e sobrava sempre uma pinga para quem nos servia. De seguida, espectáculo de variedades no teatro (assistimos a uma recriação formidável dos Abba) e, depois, recolha a quartéis. A vida a bordo continua pelos bares e discoteca até quase ao raiar do dia mas esse não é o nosso estilo.
E, de onda em onda, lá vamos rumo à Jamaica, a terra da madeira e da água, da abundância.
Atracámos a Cartagena de las Índias um pouco antes da aurora. Quando acordámos, deparou-se-nos uma cidade clara, prazenteira.
Teríamos apenas um dia para ver tudo, havia que acelerar o passo e isso não seria compatível com a nossa condição serena. A decisão foi tomada antes de desembarcarmos: tomaríamos um autocarro op on-op off cujo trajecto suspenderíamos junto da cidade amuralhada, faríamos uma excursão guiada a pé e retomaríamos o autocarro depois do almoço.
De um modo muito geral, a cidade actual compõe-se de três partes distintas: o centro histórico – a cidade amuralhada – que funcionou em exclusivo entre os primórdios dos séculos XVI e os do XIX, a cidade que se desenvolveu para fora das muralhas durante os séculos XIX e XX e a cidade mais moderna, praticamente toda residencial e luxuosa, já neste séc. XXI.
Estudando um pouco, fiquei a saber que as principais actividades económicas deste conjunto são os complexos marítimos, pesqueiros, petroquímicos e o turístico.
Do moderno para o antigo, achei a parte moderna com edifícios de grande qualidade mas com urbanismo bastante mausote a denotar o jeitinho do «chega p’ra lá que ainda aqui consigo construir um arranha-céus». Contudo, o conjunto é notável e não me importaria de lá passar uma temporada num daqueles edifícios da primeira linha na praia virada para o mar aberto. Sim, também há os outros edifícios (igualmente bons) nas traseiras dos anteriores que quase circundam a baía interior. Aparentemente, poluição zero.
A parte mediana, a que saiu das muralhas, é tipicamente conservadora na sua . arquitectura dos séculos XIX e XX, exibindo algum conforto de quem por ali vive. Claramente, os pais e os avós dos que vivem virados para o mar ou para a baía.
A cidade amuralhada é um concentrado de História inultrapassável para quem queira saber alguma coisa sobre a Colômbia se não mesmo sobre o Império Espanhol naquelas paragens do mundo. Basta saber que era ali que residiam os Vice-Reis e referir que Cartagena de las Índias era o único porto autorizado pelo Rei de Espanha a comercializar escravos nas suas Américas.
No circuito a pé que fizemos com auriculares para ouvirmos as gravações deu-nos uma ideia muito vasta de cada ponto por que passávamos. Se a tudo isso juntarmos as informações que o guia nos ia dando verbalmente, deve ter sido mais o que me escapou do que o que retive. Mas, mesmo assim, acho que ainda consigo repetir algumas coisas. Não muitas, para não ser enfadonho.
Assim, a cidade devolveu os Vice-Reis à origem e declarou-se independente às 11 horas da manhã do dia 11 de Novembro de 1811 e declarou que doravante se regeria por uma Constituição feita à imagem e semelhança da americana. É claro que não funcionou as mil maravilhas e as trabuzanadas terão sido frequentes. Esta proclamação terá ocorrido frente à «porta do perdão», local com tradição histórica.
Ainda nos tempos coloniais e com a Inquisição no activo, um residente inglês recusou-se a apostatar a sua fé anglicana e foi alvo de um auto de fé em que foi queimado vivo. Essa barbaridade tão ao estilo dos dominicanos, foi realizada junto da porta lateral da catedral que, a partir de então e muito ironicamente, se passou a chamar «a porta do perdão». Fiquei sem resposta clara à pergunta do porquê da realização do auto de fé junto da catedral e não frente ao palácio da Inquisição nem no Largo de São Domingos onde se localiza o convento dominicano. Será que já então a Ordem dos Pregadores começava a sofrer fracturas internas pela promoção de práticas tão bárbaras?
Mudando de tema, que cidade seria aquela que deu direito de residência ao grande corsário Sir Francis Drake? Terá sido um acto de vingança política contra o colonizador anterior? Mais uma pergunta que ficou sem resposta.
Almoçámos bem numa esplanada no Largo de São Domingos, frente ao «virginal» convento dos «donos» da Inquisição.
Finalmente, dirigimo-nos à porta da muralha que nos conduziria ao op on-op off, ao resto do circuito pela cidade e, daí, ao cais. Mas, antes de passarmos a porta da muralha, parei dois minutos no centro do largo a que chegavamos escravos, senti a brasa solar e imaginei o sofrimento dos escravos desembarcados de condições algo diferentes das que nós tínhamos no «Monarch», do futuro que os esperava…
Dia de embarque no «Monarch» até às 6 da tarde para zarparmos pelas 7.
Do nosso programa de viagem fazia parte meio dia de descanso antes de embarcarmos para que a vida a bordo decorresse com total adaptação ao fuso horário de menos 5 horas que em Lisboa. A visita ao Canal e a Portobello era programa de dia inteiro, não podia ser encaixado depois da adaptação horária. Há quem se adapte aos fusos a dormir e há quem apenas se sente a «passar pelas brasas» e «a pensar na morte da bezerra». Habitualmente, opto por esta segunda modalidade.
Reduzida a força do ar condicionado para não parecer que estávamos no Alaska ou na Terra do Fogo[i], dediquei-me a pensar onde comprar um chapéu panamá para substituir os que tenho e já estão a precisar de reforma. No hotel não havia uma loja que vendesse chapéus para carecas nem pilosos e no resto da cidade não nos demos ao trabalho de procurar. Até porque o chapéu panamá é feito no Equador e não no Panamá. Como assim? Pois é assim mesmo! O dito chapéu é feito de uma palha que cresce no Equador e é tecida em trama fechada. O nome do chapéu na origem é El Fino e, naturalmente, não invoca o país estrangeiro. O nome internacional do chapéu resulta de o Presidente americano Theodore Roosevelt ter usado um desses chapéus quando em 1906 visitou as obras do Canal do Panamá e, daí, a associação de ideias.
Muito esquece quem não sabe.
Passado suficientemente pelas brasas, transferi-me para o tema da fatalidade da bezerra que, na altura, foi a questão de na América Latina os castelhanófonos não se tutuiarem à maneira espanhola e se vocêzarem. Pois é, não se tratam por «tu» mas sim por «Você». E fiquei a pensar até que me dissessem serem horas de me arranjar para irmos embora do hotel e embarcarmos. E, então, conclui que…
… o Rei de Espanha trata por «tu» todos os seus súbditos e estes – apesar de Filipe II ter decretado que todo o espanhol é nobre com direito a «Dom» e «Dona» - sentem-se em igualdade na submissão e tutuiam-se mutuamente. Trata-se da assunção duma condição que gera solidariedade ao estilo castrense de «todos somos carne para o canhão real» ou, pior, uma servus coniunctionis[ii]. Então, donde vem a famosa jovialidade e euforia típicas dos espanhóis? Nuns casos, digo eu, virá da condição genética, noutros casos da ignorância e noutros ainda do «apesar de…».
Na América Latina de expressão castelhana, aos conquistadores seguiram-se os bolivarianos e, daí, uma solidariedade libertária, republicana, de cidadãos e não mais de súbditos. Talvez que alguma influência da trilogia revolucionária da «liberdade, igualdade, fraternidade» que, treslida, gerou a liberdade de, em igualdade, explorarem as oportunidades. Ou seja, o império da corrupção, do desmando e da brutalidade. Mas as aparências são para manter e todos são Señores, todos se tratam por Usted.
Triste sorte a de quem por ali nasce sério.
- Henrique! Acorde que são horas de nos arranjarmos e irmos para o barco!
Embarcámos pelas 4,30 da tarde, instalámo-nos e zarpámos pelas 7 rumo a Cartagena de las Índias, Colômbia, onde aportaríamos pela manhãzinha seguinte.
Noite com algum balancé mas nada de preocupante. O «Movarch» tem praticamente 74 mil toneladas, não é propriamente um cacilheiro.
(continua)
Março de 2020
Henrique Salles da Fonseca
[i] - Onde tivemos que fechar o aquecimento e abrir um pouco a janela sobranceira ao Canal Beagle
O guia é elemento fundamental na qualidade do turismo.
Lembro-me do guia que tivemos em Istambul que era professor de História de Constantinopla numa Universidade local e que, falando português, aproveitava as férias académicas para ganhar mais umas Libras conduzindo grupos portugueses. Foram três dias de palestra de manhã à noite de um interesse inexcedível. O Dinç[i] só se atrapalhou uma vez com uma pergunta que uma imbecil lhe fez ao passarmos junto do estádio do Galatasarai sobre quantos lugares o recinto tinha. Olhou para mim com alguma aflição a pedir-me ajuda e eu respondi de imediato em voz alta «10 mil». A Fulana, ufana, logo replicou que o Benfica tinha muito mais e exalou um número que esqueci de imediato. Não me fiquei e apenas comentei «Pullus ad margatitam». Os ruídos envolventes do trânsito e a pressa do guia na mudança de tema evitaram a aula de latim.
Lembro-me do guia que tivemos em Hanói que era professor de microbiologia na Universidade local e que, falando castelhano, também aproveitava as férias académicas para ganhar uns Dólares. Devia ter um nome complicado pelo que nos pediu que o tratássemos por Juan[ii]. Aprendera castelhano durante a comissão militar obrigatória que fizera em Cuba. Andou connosco – uma trintena de espanhóis e cinco falantes de português – durante os três ou quatro dias de visita ao norte do Vietname e volta que não volta, lá estava o Juan a fazer uma palestra formidável. A primeira vez que falou com enorme substância foi frente ao mausoléu de Ho Chi Minh. Não chegou a dez minutos para nos dar uma aula inesquecível da História do Vietname desde os tempos do mítico pássaro viet até ao final da guerra com os americanos. O «Tio Ho», afinal, não era comunista.
Para além destes dois professores de excepção, tivemos muitos outros guias por todas as partes do mundo que temos visitado, praticamente todos de grande sabedoria e enorme simpatia. Inequivocamente, todos eles verdadeiros Embaixadores dos respectivos países junto das «Côrtes» visitantes.
Num nível diferente, temos apanhado também alguns motoristas que pouco ou nada sabem sobre os locais a que nos conduzem. Deve-se ao seu voluntarismo (mais ou menos inventivo) alguma informação que a nossa curiosidade lhes saca. Mas a credibilidade fica para confirmar mais tarde, quando estudarmos os temas. Foi o caso do «guia» (sim, era ele que guiava a carrinha) que nos calhou em sorte nas «afueras» de Colón.
Do complexo de observação turística das eclusas do lado atlântico, fomos até Portobello, uma «cidade» que foi importante até que o Canal a destronou. De facto, era por ali que passava tudo o que se dirigisse por caminhos de pé posto das margens do Atlântico para o Pacífico ou para o magro interland. Tudo? Sim, tudo com excepção da candonga que fugia por outros caminhos. É que em Portobello localizava-se a Alfândega e aquelas gentes vindas das Espanhas andavam desterradas para se enriquecerem a si próprias e não ao Rei. Até porque para contrabandista, Alfândega é o mesmo que Inquisição para judeu, xamã ou jesuíta. Então, sendo rica e local de concentração da colecta real, Portobello era muito assediada por piratas e corsários. Daí, as fortificações que tentavam defendê-la tanto na entrada do braço de mar que a serve como no espaço fronteiro à própria Alfândega. As populações que se arranjassem como pudessem e se alguma residente engravidasse num desses assaltos, isso até era bom para refrescamento do sangue. Engravidar de passante era punível; de assaltante era «acidente» desculpável.
Visitámos a igreja local que tem por orago o «Cristo Negro» cuja imagem é considerada muito milagrosa. Não representando Cristo como alguém de raça negra (o que Ele não foi), a cor resulta dos fumos da pólvora que à sua volta ardeu nas refregas navais e na batalha final em que o seu navio se afundou frente a esta «cidade» e donde, depois de algum tempo entre areias e lodos, a imagem foi resgatada e posta neste altar em que se encontra desde inícios do séc. XIX. Para além da devoção local (não consegui apurar se de mistura com algumas práticas vudus), na sua festa anual faz-se procissão pela «cidade» à qual aderem muitos forasteiros. E o comércio floresce e sobrevive até ao ano seguinte. Trabalhar? Não vi ninguém nessa actividade que deve ser considerada perniciosa. Excepção ao dono do restaurante onde almoçámos opiparamente. Ao todo, vi três edifícios com ar próspero: o restaurante e duas escolas de dança. Tudo o resto se distribui entre casas de quem se governa pela calada e por edifícios que foram monumentais e que hoje me fizeram lembrar a nossa vergonha de Jerumenha.
Regressámos a Colón pela estrada já nossa conhecida entre campos não cultivados e com uma sensação de tristeza.