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A bem da Nação

LÓGICA ARISTOTÉLICA

Uma das verdades mais axiomáticas que existe na lógica de inspiração aristotélica diz-nos que dos resultados das experiências nunca experimentadas, não se podem conhecer os resultados.

E a pergunta é: - Como teria sido o crescimento europeu caso a política monetária tivesse sido diferente da que o BCE praticou sob a égide de Mário Draghi?

 

crescimento-europeu-projetado.png

 

Ora, se em 2017 (e até mesmo em anos anteriores), os cenários que se perfilavam para 2018 e 2019 eram de clara redução das taxas de crescimento, fazía todo o sentido que se «alargassem os cordões à bolsa».

Foi perante perspectivas de abrandamento do crescimento que o BCE decidiu que a banca deveria pôr o dinheiro a circular em vez de o entesourar, nomeadamente em depósitos nele próprio, o BCE - daí, a redução drástica da remuneração desses depósitos até passar da remuneração à oneração (juros negativos). E para pôr a economia a mexer, nada melhor do que «secar» os mercados financeiros alimentados pelas dívidas soberanas para que a banca não se entretivesse com esse tipo de títulos e se encaminhasse mais determinantemente para a economia produtiva – daí, as quantitative easings, ou seja, a compra (de preferência à nascença, nos mercados primários) pelo próprio BCE das dívidas dos Estados. Como quem diz que o dinheiro é para circular, não para entesourar.

O que dizem os contrários?

Os contrários dizem que não haverá investimento se, antes, não houver poupanças e que, portanto, estas devem ser estimuladas por remunerações (juros) compensatórios, ou seja, sempre superiores à inflação. Por esta lógica, dizem que os juros negativos são absurdos. Pelo mesmo tipo de razões, são contrários aos quantitative easings pois estes secam um mercado em que a banca pode ter um meio de ganhar dinheiro e, daí, embaratecer o crédito que concede e não mais repercutir no vulgar depositante os custos que lhe são impostos pelo BCE.

Então, como dizia no início deste escrito, fica por saber o que teria acontecido se a política do BCE tivesse sido diferente da que efectivamente foi. Curiosamente, não ouvi críticas às quantitative easings como sendo um atestado indirecto de aprovação às políticas públicas a que há muito quem chame de perdulárias, as de esquerda. Mas, para mim, é óbvio que sim, são esse atestado integrando directamente as dívidas soberanas na política geral de juros baixos, quiçá negativos.

Com a saída de Mário Draghi da presidência do BCE e sua substituição por Christine Lagarde, admito que esta política de juros híper baixos (negativos) e de compra das dívidas soberanas vai chegar ao fim. Na dúvida, na sua última reunião sob a presidência de Draghi, o BCE decidiu comprar mensalmente até 20 mil milhões de euros de dívidas soberanas durante um prazo não definido e não mexeu nas taxas de juro. À saída, olhando para trás, dirá com aquele sorriso giocondesso que lhe conhecemos que, depois de morto, ainda vive.

Com Lagarde, os depósitos da banca no BCE voltarão a ser remunerados e ela, a banca, voltará a ter mão livre nos mercados das dívidas públicas. É claro que tudo servirá para embaratecer o crédito e para desonerar as poupanças do cidadão comum…

Aristote oblige.

Outubro de 2019

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Henrique Salles da Fonseca

O NASCIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS DOS EUA

A HISTÓRIA ESQUECIDA

Quando os EUA nasceram, no final do séc. XVIII, havia uma grave crise com os muçulmanos do norte da África.

Eram povos oficialmente muçulmanos, que viviam sob as leis do Corão.

- Estes islâmicos atacavam os navios que passavam pelo Mediterrâneo, incluindo os americanos, sequestrando, escravizando e matando ocupantes, além de saquear a carga. Os navios americanos eram normalmente protegidos pela marinha inglesa antes da independência dos EUA, mas depois de 1776, era cada um por si.

- Os piratas muçulmanos cobravam fortunas para resgate dos reféns e os preços subiam sempre a cada sequestro bem sucedido. Thomas Jefferson opôs-se veementemente aos pagamentos, mas foi vencido pelo voto. Os EUA e as outras nações com navios sequestrados, aceitavam pagar os resgates e subornar os piratas. O Presidente americano era George Washington.

- Por volta de 1783, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e John Adams vão para a Europa como Embaixadores, para negociar tratados de paz e cooperação. Os EUA nasceram em 1776 e desde então, estavam mergulhados  na Guerra de Independência. Assim que a situação acalmou, essas três grandes figuras  saem em missão diplomática para representar o país.

- Em 1786, depois de dois anos de conversações diplomáticas com os islâmicos, Thomas Jefferson e John Adams encontraram-se com o embaixador dos povos que ficavam na região de Trípoli, actual Líbia, chamado Sidi Haji Abdul Rahman Adja. Jefferson estava incomodado devido aos ataques que não acabavam, mesmo com todos os esforços de paz. Quis saber por isso, com que direito os muçulmanos continuavam a sequestrar e a matar os americanos.

- A resposta que ouviu, marcou Jefferson para sempre: "o Islão foi fundado nas Leis do Profeta, que estão escritas no Corão, e diz que todas as nações que não aceitarem a sua autoridade são pecadoras, que é direito e dever declarar guerra contra os seus cidadãos onde puderem ser encontrados e fazer deles escravos; e que todo o muçulmano que for morto na batalha irá de certeza para o Paraíso."

Jefferson ficou chocado. Ele não queria acreditar que uma religião literalmente mandava matar todos os que considerava infiéis e que quem morresse na batalha iria para o paraíso.

- Durante 15 anos, o governo americano pagou os subornos para poder passar com seus navios na região. Foram milhões de dólares, uma quantia que representava 16% de todo orçamento do governo federal. O primeiro presidente do país, George Washington, não queria ter forças armadas permanentes, por não ver riscos de ataques ao país, mas os muçulmanos fizeram mudar esta ideia. Os subornos serviriam para evitar a necessidade de ter forças militares permanentes, mas não estavam a funcionar porque os ataques continuavam. Quando John Adams assume a Presidência dos EUA, as despesas sobem para 20% do orçamento federal.

- Em 1801, Jefferson torna-se no terceiro presidente americano e, mal tinha esquentado a cadeira, recebe uma carta dos piratas aumentando o preço da autorização para  navegar naquela área. Jefferson fica louco e, agora como presidente, diz que não vai pagar nada.

- Com a recusa de Jefferson, os muçulmanos de Trípoli tomaram conta da embaixada americana e declararam guerra aos EUA. Foi a primeira guerra da América após a independência. A marinha de guerra americana foi criada exactamente para esse conflito. As actuais regiões da Tunísia, Marrocos e Argélia juntaram-se aos líbios na guerra contra os americanos, o que representava praticamente todo norte da África com excepção do Egipto.

- Jefferson não estava para brincadeiras. Mandou os seus navios para a região e o conflito durou até 1805, com a vitória americana. O presidente americano ainda colocou tropas ocupando o norte de África, para manter a situação sob controle.

Thomas Jefferson ficou realmente impressionado com o que aconteceu. Ele era contra as guerras e escreveu pessoalmente as leis de liberdade e tolerância religiosa que estão na origem da Constituição americana, mas entendeu que o Islão é totalmente diferente, era uma religião imperialista, expansionista e violenta.

Jefferson mandou publicar o Corão em inglês em 1806, lançando a primeira edição americana. Ele queria que o povo americano conhecesse o Corão e entendesse aqueles povos do norte da África que roubava, saqueava e matava, cobrava resgates e que declarou guerra quando os pagamentos cessaram.

Durante 15 anos, um diplomata de Jefferson chegou a dizer, que os americanos eram atacados porque não atacavam de volta, sendo vistos como fracos. A fraqueza americana foi um convite para os muçulmanos daquela época, como é hoje para o ISIS. 

Só houve paz na região quando Jefferson atacou e venceu a guerra, ocupando depois o território. Só assim foi conseguida a paz.

Eles estão como os motivadores da primeira guerra; foram eles que forçaram a criação das forças armadas que nem existiam, e fazem parte até do hino dos marines que começa com "From the Hills of Montezuma / To the shores of Tripoli".

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(por amabilidade de D. Martinho Pereira Coutinho)

O IMPÉRIO DO MEIO

As conversas são como as cerejas: agarrada a uma vem sempre outra e assim por aí além…

Já não sei como começou mas lembro-me de termos passado pela polémica marca chinesa de telemóveis e termos chegado ao valor real do Yuan.

E a questão a que chegámos, afinal, centra-se no conceito mais inesperado, na palavra «real», não no «valor». Que valor algum há-de ele ter, quanto mais não seja o que o Decreto determina.

Mas centremo-nos no que está em causa: quanto vale o Yuan?

E aqui se dividem as opiniões entre os que dizem que…

… está sobrevalorizado porque, depois de ter absorvido toda a massa quase incalculável das «senhas» (não convertíveis) que circulavam entre os chineses comuns, deveria ter-se desvalorizado para níveis certamente muito mais baixos do que o definido por Decreto;

… está subvalorizado para facilitar as exportações e dificultar as importações.

Desde já me coloco do lado dos que acusam o Yuan de estar sobrevalorizado.

Porquê?

Porque uma moeda cujo valor é definido por Decerto, não representa certamente uma economia transparente em que os preços se formem livremente. E isto mantém-se válido apesar de, entretanto, o Yuan ter sido indexado a um cabaz de moedas credíveis como são o Dólar americano, o Euro, o Yen e o Won da Coreia do Sul. Só que o valor de base é duvidoso pois ninguém me faz acreditar que a absorção de toda a massa monetária não convertível (o Renminbi não convertível) pelo sistema de uma única moeda em toda a República Popular da China, não tenha provocado grande mossa no valor da moeda que já então era convertível, o Yuan. E mais ainda, o «gato escondido com rabo de fora», revela-nos o Yuan, o Dólar de Hong Kong e a Pataca com o mesmo valor. Tudo cheira a artificial e, por causa da tal absorção da moeda não convertível, cheira a falsidade no sentido da sobrevalorização – o Yuan deveria ter um valor muito mais baixo.

Mas, para além destas anormalidades, há ainda outra que tem a ver com o volume de dinheiro anualmente lançado no mercado quando os orçamentos do Partido Comunista Chinês e das Forças Armadas chinesas são segredo de Estado. Qual a política monetária que sustenta uma tal opacidade orçamental? Sim, tudo me cheira a falso.

Quanto à hipótese de o Yuan já estar subvalorizado para sustentar as exportações e dificultar as importações, tenho a recordar que as desvalorizações…

… ou são discretas e decretadas depois do encerramento das grandes praças financeiras, de preferência ao final da tarde de 6ªs feiras para dar tempo à digestão do novo câmbio (até à 2ª feira seguinte) pelos mercados, ou…

… são deslizantes – o chamado «crawling peg» - de modo a que os preços se vão adaptando ao ritmo anunciado da própria desvalorização deslizante.

Em ambas as desvalorizações, os operadores económicos são beneficiados com a informação suficientemente atempada para se poderem adaptar aos novos câmbios e na respectiva correspondência a nível dos preços no mercado doméstico. E na actual sociedade da informação, é inútil pensar que o efeito surpresa exista.

Ora, se o instrumento da competitividade cambial era o efeito surpresa, então ele nunca existiu e actualmente, com a globalização, menos eficácia tal efeito poderia ter. A menos que haja preços tabelados e respectivo controlo policial, nessa situação, a ruptura dos abastecimentos só será evitada pelos mercados paralelos.

Eis por que cada vez mais tenho a política cambial por decreto como um bluff que, para além do mais, tenta esconder os factores da incompetitividade da economia cuja moeda é sujeita a tais desvalorizações. E a China tem outros motivos de salvaguarda da sua competitividade internacional a começar pela inexistência de sindicalismo livre e, consequentemente, pela prevalência de um mercado esclavagista de trabalho.

Então, se eu não acredito na política cambial que possa ou não estar subjacente ao Yuan, para quê preocupar-me com o tema?

Muito simplesmente porque a República Portuguesa se empenhou não há muito tempo em Yuans e o valor dessa moeda deixou de me ser indiferente: quanto mais desvalorizada, melhor para nós, seus devedores. É que eu, ao contrário de um tal que por aí anda, acho que as dívidas devem ser pagas – mas, se pudermos beneficiar de alguma desvalorização da dívida, tanto melhor.

15 de Outubro de 2019

Henrique Salles da Fonseca-16AGO16-2

Henrique Salles da Fonseca

OBVIOUSLY

Na minha actividade de reaproximação a Portugal dos descendentes dos «portugueses abandonados», são muitos os contactos que mantenho em todo o mundo, sobretudo naquelas partes em que tivemos um Império.

No Oriente e até no Extremo Oriente, são muitos os lusófilos que nutrem uma enorme admiração pelo nosso país. A maior parte dos meus contactos começou há pouco a aprender os primeiros rudimentos da nossa língua e até já está em andamento o dicionário de «Português de Portugal – Português de Malaca» Mas, daí, a conversarmos, vai uma grande distância. Por enquanto, servimo-nos do inglês como língua intermédia.

Foi assim que recentemente perguntei a um interlocutor, o que era feito de um terceiro de quem não tinha notícias desde há muito tempo. E a resposta foi rápida: - (…) it seemed to have become defunct after he passed away (…). «Parece que se tornou defunto depois de ter morrido».

Ainda não respondi porque ainda não parei de rir. A ver se consigo respirar um pouco…

Lisboa, 13 de Outubro de 2019

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Henrique Salles da Fonseca

 

DETERMINISMO OU LIBERDADE

[Na década de 30 do séc. XX] os sociólogos, democratas, livre-pensadores, partidários da liberdade individual, confirmavam com a sua ciência os valores aos quais espontaneamente aderiam. Aos seus olhos, a estrutura da civilização presente (densidade ou solidariedade orgânica) exigia de algum modo as ideias igualitárias, a autonomia das pessoas. Os juízos de valor ganhavam, mais do que perdiam em dignidade, ao tornarem-se juízos colectivos. Substituía-se com toda a confiança a sociedade de Deus. Aliás, o termo «sociedade» não deixa de ser equívoco pois ora designa os colectivos reais, ura a ideia ou o ideal destes colectivos. Na verdade, só se aplica aos agrupamentos particulares, fechados sobre si mesmos, mas menos do que as palavras «pátria» ou «nação» e recorda as rivalidades e as guerras (não se imagina facilmente uma sociedade alargada aos limites da humanidade inteira). Dissimula os conflitos que assolam todas as comunidades humanas. Permite subordinar à unidade social as classes opostas e conceber uma moral nacional que seria sociológica sem ser política.

 Ora, se este conceito designar o geral parcialmente incoerente dos factos sociais, desprovido de todo o prestígio emprestado, pergunto: não parece assim que o “sociologismo” junta, com uma relatividade sem limites, a redução dos valores a uma realidade mais natural do que espiritual, submetida a um determinismo e não aberta à liberdade?

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In «Memórias» - ed. Guerra & Paz, Fevereiro de 2018, pág. 122

 

COMPOSITOR A MEIO CAMINHO

Que Nietzsche se dedicava à música era tema meu desconhecido até ter começado  ler a biografia escrita por Sue Prideaux com edição portuguesa do Círculo de Leitores, Abril de 2019. Pelos vistos, sentava-se ao piano e lia à primeira vista qualquer partitura que lhe pusessem à frente e era também reconhecido nos meios estudantis como um grande improvisador.

Estando já na Suíça a dar aulas de Filologia Clássica na Universidade de Basileia, teve também oportunidade de se dedicar à composição.  A amizade próxima que o ligava ao casal Wagner também o incentivaria nesse sentido.

E porque queria saber o que o Mestre pensava da sua obra, decidiu certo Natal oferecer uma composição a Cosima, mulher de Wagner e filha de Liszt, que se prontificou a tocá-la em conjunto com Hans Richter pois que se tratava duma peça a quatro mãos.

Mas as relações de Wagner e Nietzsche vinham azedando pois o compositor era totalmente germanófilo e o filósofo era a favor da Cultura Universal cuja sede era então em Paris. Mas, para além desta questão político-cultural, havia outro motivo de azedamento das relações entre os dois homens: querendo Nietzsche publicar o seu livro O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, enviou o manuscrito ao editor de Wagner sem nada lhe dizer, o que levou o compositor a uma enorme irritação. E esta, sim, mais do que a discórdia política, foi a razão do muito mau feitio de Wagner para com Nietzsche naquela época. Mas, mesmo assim, o filósofo foi convidado para passar o Natal com os Wagner e, pelos vistos, também com o maestro Richter.

Retomando o fio, transcrevo da pág. 123 e seg. da obra citada:

Nietzsche considerava-se um compositor com algum talento e sentia-se exultante com a expectativa da admiração de Wagner. Quando Hans Richter e Cosima Wagner se sentaram finalmente ao piano de Tribschen para tocar o dueto para Wagner, o Mestre deu sinais de impaciência durante os vinte minutos que demorou a execução. A peça era típica das composições de Nietzsche neste período, um «pot pourri» de Bach, Schubert, Liszt e Wagner. Desconexas, demasiado emotivas e curtas no desenvolvimento, as suas composições despertam invariavelmente a ideia de que, caso tivesse vivido até mais tarde, talvez pudesse ter conhecido o êxito como compositor de música de cena para o cinema mudo. No entanto, por muito que rissem em privado, Wagner e Cosima calavam a fraca opinião que tinham da peça. Ela agradeceu-lhe a «bela carta» que acompanhava a prenda, mas não fez qualquer referência à música em si.

Posto o que a filosofia ficou com mais tempo na vida de Nietzsche.

Lisboa, 7 de Outubro de 2019

Henrique Salles da Fonseca

O COLAÇO DO REI

Do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa extraio que «Colaço» deriva do latim collacteus, -ei, que tanto é um adjectivo como um substantivo masculinos e que tem dois significados, a saber:

  1. Que ou quem, em relação a outra pessoa, foi amamentado ao mesmo peito, sem, porém, serem irmãos;
  2. Que ou quem é muito amigo ou muito íntimo de outra pessoa.

* * *

Dada a definição, passemos à história…

O meu irmão, nascido em 1939, não chegou a conhecer a mãe que morreu na sequência do parto. Passado pouco tempo, com o aparecimento dos antibióticos, essa morte não teria certamente acontecido. E se nessa época, pós Pasteur, já havia cuidados de higiene, imagine-se o que seria a mortalidade antes dele. Era, pois, frequente que os mais pequenos problemas provocassem a morte da mãe, do filho ou de ambos.

Morta a mãe ou sobreviva esta mas sem leite e salva a criança, havia que encontrar ama de leite, tarefa nem sempre fácil mas não impossível. Entre casadas e solteiras em condição láctea, sempre aparecia quem quisesse ganhar uns cobres para amamentar filho alheio. Eis como duas crianças, não irmãs, eram amamentadas pela mesma mulher, eis que se lhes chamava colaços, do mesmo leite.

Contudo, a História registou outro tipo de circunstâncias em que um filho perdeu o leite materno e teve que passar a fonte alternativa. Foi o caso do futuro rei D. Sebastião que, nascido a 20 de Janeiro de 1554, se viu privado da mãe, D. Joana de Áustria cujo irmão, Filipe II de Espanha, a requisitou em Maio desse mesmo ano para que ela desempenhasse a regência de Espanha enquanto ele se deslocava a Inglaterra. Eis como a D. Sebastião, aos quatro meses de idade, tiveram que arranjar uma ama de leite.

Não consta dos meus registos o nome dessa lactante nem do filho que já traria ao colo na certeza, porém, de que este e D. Sebastião foram colaços.

Que tipo de relações teriam os colaços? Boas – cada um mamando de seu peito; de competição – ambos disputando o mesmo peito.

Então, aceitemos que se um era inequivocamente D. Sebastião de Portugal, o outro era o seu colaço, muito provavelmente de estirpe plebeia, sem nome de grandes pergaminhos, ficando conhecido por «o Colaço» com um ou dois «eles», neste caso, «Collaço» como a etimologia latina sugere.

Da história que me foi contada, resulta que D. Sebastião e o seu colaço, o tal Collaço, mantinham boas relações e que este acompanhou o Rei na expedição a Alcácer Quibir.

E a especulação continua com o Collaço (ou Colaço) a morrer em combate, o Rei a sobreviver e a trocar de identidade com o amigo morto.

Resultado: o Colaço a ser metido em caixão como se fosse o Rei; D. Sebastião a pôr-se a caminho de Tânger sob a identidade de Colaço.

Aqui, faço um intervalo na história que me foi contada para lembrar que o préstito fúnebre de D. Sebastião de Silves até ao Mosteiro dos Jerónimos foi constituído por uns quantos Cavalheiros nomeados pessoalmente por Filipe II de Espanha, I de Portugal, pelo que, agora, sou eu a especular sobre o que possa estar dentro da urna em que supostamente jaz D. Sebastião: o Rei, o seu colaço, os restos de um animal, um monte de lixo ou de pedras? Nada melhor do que abrir a tumba e ver. Para quê? Não para reescrever a História, obviamente, mas apenas para medir o caracter de Filipe II de Espanha. E só.

Retomando a especulação inicial, o Rei, sob o falso nome de Colaço, ter-se-á fixado em Tânger e tido descendência. Uns séculos mais tarde, um seu putativo descendente regressou a Portugal sob a identidade, entretanto oficializada, de Alexandre Rey Colaço, pai de Amélia Rey Colaço.

Donde se conclui que mais vale ser Rey Colaço do que colaço do Rei.

Oxalá apareça quem goste de estudos genealógicos e se decida a verificar até onde vai a imaginação nesta história que me foi contada por um não académico.  

Outubro de 2019

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Henrique Salles da Fonseca

DIOGO FREITAS DO AMARAL

Diogo Freitas do Amaral.jpg

(21 de Julho de 1941 – 3 de Outubro de 2019)

 

CDS – Centro Democrático Social, o Partido de que foi o primeiro Presidente, em parte nenhuma do nome nem dos princípios por que sempre se regeu se afirma de direita. O «D» significa «democrático» no sentido que no Ocidente se dá ao conceito que é o de defensor da liberdade de opinião, dos Direitos Humanos em conformidade com a respectiva Declaração Universal de 1948, do pluripartidarismo, da independência dos Poderes Legislativo e Judicial, da dependência do Poder Executivo relativamente ao Legislativo, da dependência das Forças Armadas e de Segurança ao Poder Executivo. Nos seus princípios, o CDS não faz uma opção de Regime (República ou Monarquia) pelo que essa é uma matéria fora de discussão e que só a cada militante diz respeito.

Sob a égide de Diogo Freitas do Amaral, o CDS sempre se afirmou como seguidor dos princípios da Doutrina da Democracia Cristã, ou seja, da Economia Social de Mercado. O «C» significa «Centro» e não tem qualquer outro significado que não exactamente esse, ou seja, que não é de direita nem de esquerda. A génese doutrinária do CDS nada tem a ver com qualquer dependência do marxismo tanto praticante como seu «spin-off» mas, sendo incondicional defensor do Estado de Direito, opõe-se frontalmente a todas as formas de fascismo quer de direita quer de esquerda.

Sob a égide de Diogo Freitas do Amaral, ninguém entrou no CDS que não subscrevesse estes princípios doutrinários.

No dia da sua morte, continuo a crer que se manteve firme nestes princípios fundadores do CDS que, para além dele, muitos continuamos a considerar fundamentais. Mais opções que o Partido admitiu – Liberalismo e Conservadorismo - após a sua presidência, alteraram o modelo inicial e Freitas do Amaral não se terá sentido confortável.

Mas foi ele que nos deu os princípios fundamentais.

R. I. P.

3 de Outubro de 2019

Henrique Salles da Fonseca

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS – 2019

Circula por aí uma citação do Barão Otto von Bismarck que diz algo como «nunca se mente tanto como depois de uma pescaria, durante uma guerra ou antes de umas eleições».

Não sei ao certo qual a experiência eleitoral e, portanto, democrática do Barão von Bismarck mas o que sei é que ele foi o responsável por um desaguisado entre Nietzsche e Wagner já que o filósofo se insurgiu contra o cerco alemão a Paris que ele considerava a sede da moderna Cultura Ocidental enquanto o músico dizia que «se não fores capaz de voltar a pintar quadros, não és digno de os possuir» (Biografia de Nietzsche por Sue Prideaux, Círculo Leitores, pág. 119).

  • Porque não acredito na democraticidade do Barão;
  • Porque duvido da veracidade da fonte da dita citação;
  • Porque os Leitores do “A bem da Nação” não precisam de «ajudas» para se decidirem na opção do voto,

… decidi manter este blog afastado das discussões eleitorais.

E assim respondo à pergunta por que é que o “A bem da Nação” não participa na campanha eleitoral. E também para ter a certeza de que não tropeça nalguma mentira.

Outubro de 2019

Henrique Salles da Fonseca

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