ANDA O MALIGNO À SOLTA – 2
Uma das «coisas» a que nos habituamos fácil e rapidamente é à qualidade de vida. Assim é que todos na Europa temos como adquirida a segurança social, a reforma, a democracia, as férias, etc. A paz internacional também é um «must» - relativamente recente, sim, mas todos a vemos como um dado adquirido.
A segurança física, essa, lastimavelmente, não está assim tão garantida como todos gostaríamos.
Porquê?
Porque o pai e a mãe foram trabalhar enquanto os filhos ficaram nas ruas da selva urbana e suburbana e, cumprindo o espírito gregário que rege a nossa espécie, constituíram grupos que nem sempre se dedicam às causas mais nobres.
Jovens desenquadrados da cultura da tradição dos pais, não tiveram quem deles cuidasse e gentilmente os acolhesse e integrasse numa cultura urbana.
E, mesmo esta, que cultura é?
A cultura pós-moderna, laica, dissociada de valores religiosos e correspondentes moral e ética. Uma cultura que, não crendo numa vida para além da morte, quer usufruir de tudo imediatamente num regresso ao objectivo platónico da primazia do prazer a que juntou o hedonismo, o consumismo, o exibicionismo.
E se não houver meios para obter todo o prazer desejado e tudo o que se vê nos escaparates, rouba-se porque vinga o sentido de posse e a legitimidade é um conceito não incutido por qualquer enquadramento ético.
Com a agravante do narcotráfico e da toxicodependência.
E se tudo começou pela selva urbana dos bairros de lata, não tardou assim muito para que o cenário se instalasse por entre o cimento do centro.
Eis como o maligno se soltou bem perto de todos nós.
(continua)
Janeiro de 2019
Henrique Salles da Fonseca