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A bem da Nação

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 7

 

- Já disse, não há tempo a perder, quero tudo e já!

 

Quem assim pensa não tem tempo para avaliar se os meios são legítimos para alcançar o objectivo e muito menos tempo tem para saber se os procedimentos são éticos. E não tem tempo para analisar a questão ética porque a ignora propositadamente ou – pior ainda - porque a desconhece em absoluto.

 

Então, para ter tudo imediatamente, há que ter os meios de pagamento para o efeito e, das duas, uma: ou os herda ou os cria.

 

A herança pode, contudo, não ser suficiente para o financiamento das ambições (que podem ser desmedidas) e, portanto, lá vai o ambicioso ter que criar mais riqueza.

 

A criação (de riqueza) é, contudo, confundida amiúde com posse (da dita riqueza) sendo que esta segunda pode resultar da produção propriamente dita ou do roubo, tendo este a ver com a posse de algo por meio ilegítimo.

 

Então, estamos numa de que quem tudo quer de imediato e não olha a meios para alcançar fins, não hesita em recorrer a todos os expedientes para satisfazer as ambições. Daí, à trafulhice, não dista muito ou não dista mesmo nada.

 

E o que é que está a dar lucros que se vejam?

 

Tem tudo a ver com o risco: quanto mais arriscado um negócio, maiores perspectivas de lucro ele apresenta. E se o risco passar para as bandas da ilegalidade, então as margens são ainda mais altas.

 

A tentação é grande e há muito quem se sinta tentado.

 

Mas há «coisas» que por aí andam, de que muita gente fala às claras, mas que também me fazem muita confusão. Refiro-me ao «bitcoin» cuja publicidade nos entra pelos e-mails a oferecer lucros chorudos num piscar de olhos.

 

Bitcoin.png

 

Moeda virtual, quem a emite e quem lhe garante um valor? E o valor que alguém lhe atribui, como é calculado?

 

Eis um tema sobre que eu gostaria de ouvir o «Banco de Portugal» a transmitir uma ou outra informação e, no seu silêncio, que fale o «Banco Central Europeu» ou, mais sofisticado ainda nos dias que correm, o «Banco de Inglaterra».

 

Aos gananciosos não lhes chega o «narcodólar» e inventaram agora uma nova moeda falsa.

 

E é neste mundo que vivemos - não há dúvida, o maligno anda mesmo à solta.

 

Quem quiser, que se arrisque mas se tudo der para o torto, que não se queixe pois o risco é a alma do negócio, muito mais do que o segredo.

 

(continua)

 

Janeiro de 2019

Rua mais estreita de Estocolmo.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(JAN19-cidade velha de Estocolmo)

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 6

Jean-Francois Revel.jpg

 

Foi o académico francês Jean François Revel (1924-2006) que em 1976 glosou o tema da tentação totalitária fazendo-nos recordar, entre outros temas, que todo o político gosta muito mais de mandar sem oposição do que ter que aturar uns quantos «empatas» que só fazem é tolher-lhe a vontade e os feitos. A questão da fiscalização da governação pela oposição democrática é matéria que incomoda todos, por mais democratas que se intitulem e mesmo que neguem a pés juntos tal incómodo.

 

É muito ténue a fronteira entre a democracia musculada e o totalitarismo e todos estamos recordados do impacto que a teorização democrata teve no combate efectivo aos totalitarismos nos países vergados pelo comunismo. Sim, foi grão a grão que o muro de Berlim foi cavando a sua própria queda – com uma «ajudinha» do lado de cá pois íamos crescendo e eles falindo.

 

Julgávamos que o totalitarismo morrera mas esquecemo-nos de que a tentação totalitária, sub-repticiamente, persiste. E, donde menos se deveria esperar depois da «vacina lestiana», chega-nos pela mão esquerda sob pretextos tão variados como a necessidade de combate a um putativo desmembramento nacional versus a necessária unidade nacional, como a «vontade popular» de combate aos «abusos capitalistas» em defesa dos explorados, como a introdução de reformas radicais numa sociedade conservadora e avessa a mudanças «fundamentais».

 

Assim surgem os Partidos únicos nos Estados de constituição recente (por exemplo, Angola, Moçambique, etc. que assentaram praça sob o jugo soviético), as políticas autoritárias (por exemplo, a Venezuela e demais países sul-americanos em confronto mais ou menos aberto com os EUA), a propaganda de base doutrinária se não mesmo religiosa (por exemplo, a Turquia que, entretanto, apesar de membro da NATO, anda de namoro com o novo czar de todas as Rússias).

 

Tudo pretextos para se justificarem as ditaduras quando já julgávamos que a humanidade delas se tinha libertado.

 

Inocentes, fomos apenas wishful thinkers, uns tontos.

 

A diferença está em que a democracia, cúmulo de virtudes dos direitos humanos, tem que ser criada todos os dias e sem limite temporal enquanto as ditaduras, todas malignas sejam elas de que banda forem, são criadas da noite para o dia e apanham os inocentes desprevenidos.

 

Então, se no caso venezuelano a boçalidade do cenário de desespero humano e falência económica aponta para um final mais ou menos previsível e não muito longínquo no tempo, no caso turco – país de fronteira civilizacional – a coisa «pia muito mais fininho».

 

E é precisamente esta finura – mais do que o facto de eu conhecer a Turquia melhor do que a maior parte dos turcos – que me preocupa e me leva a orar às forças do bem que travem as suas opostas.

 

A ver…

 

(continua)

 

Janeiro de 2019

Amazónia-ABR16.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(algures na Amazónia, ABR16)

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 5

Deus.jpg

 

 

Alá não é o Deus dos muçulmanos mas é, sim, como se diz Deus em árabe.

 

Quer os teólogos muçulmanos queiram quer não, Alá é precisamente o mesmo que Jeová é para os judeus e Deus é para os cristãos.

 

As diferenças resultam da exegese que cada um faz dos respectivos textos sagrados. Mas há quem não faça exegese nenhuma e cumpra o seu texto sagrado à letra - os muçulmanos sunitas relativamente ao Corão.

 

Vai daí, estamos todos «à pega» quando o cumprimento literal do texto sagrado sunita assenta em ordens tais como

 

Quando os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os - (Corão, 9ª Surata, versículo 5)

 

Mas, apesar de não fazerem a exegese, não se coíbem de dar motes. Eis algumas frases «simpáticas» de um dos teólogos muçulmanos mais radicais, o Sheick Hassan al-Banna (1906-1949), fundador da hoje tão actuante «Fraternidade Muçulmana»:

  • É da natureza do Islão dominar, não ser dominado, impor a sua lei a todas as Nações e fazer alastrar o seu poder ao planeta inteiro.
  • O punhal, o veneno e o revólver… Estas são as armas do Islão contra os seus inimigos.

 

 

Sim, no sec. XXI continua a haver quem mate em nome do Deus infinitamente bom e tenha o desplante de apregoar que o Islão é uma religião de paz. Claramente, na vertente sunita, não é!

 

E são precisamente os sunitas que estão a invadir a Europa, para além dos que já cá estavam. A diferença está em que o proselitismo sunita – na sua versão mais radical, a wahhabita – vem sendo financiada pela Arábia Saudita, a mesma que se diz tão «amiguinha» dos EUA.

 

Mas dado que o clero sunita não tem uma estrutura hierárquica que discipline a mensagem transmitida, cada mulah é livre de pregar o que lhe apetecer sem ter que prestar contas a ninguém. Vai daí, o descontrole é total e parece instalar-se uma competição de encarniçamento contra os infiéis e de destabilização da sociedade de acolhimento, cristã ou oriunda do cristianismo. Mais: uma sociedade de acolhimento fundada em valores benignos, não mais belicosa como nos tempos da intransigência medieval, aberta ao acolhimento de quem a procura.

 

O resultado é a destruição de um tecido pacífico por um clima de rancores cada vez mais cruzados.

 

Sim, anda o maligno à solta e bem necessário sería que alguém tomasse providências antes que seja tarde, antes que a mostarda chegue ao nariz dos pacíficos, antes que o caldo se entorne e alguém invoque São Bartolomeu.

 

(continua)

 

Janeiro de 2019

Bondi-2017.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(Bondi, arredores de Sydney, 2017)

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 4

 

Recapitulando, os temas que mais chocalham o meu equilíbrio são

  • a ascensão da China,
  • a invasão muçulmana da Europa e o correspondente «revivalismo» sunita,
  • a tensão totalitária na Turquia e na Venezuela,
  • o bitcoin e o narcodólar

 

* * *

 

A China tem crescido porque o Ocidente assim o tem determinado.

 

Xangai.jpg

 

Na ânsia dos custos baixos, as empresas americanas (foi com os americanos que tudo praticamente começou depois de Nixon ter lá ido encontrar-se com Chu En Lai) pensaram – e conseguiram – inundar os mercados mundiais com produtos baratos. Se a deslocalização empresarial levava Detroit e outros centros industriais americanos à falência, isso era questão que não lhes dizia respeito, os políticos que pensassem numa solução. Elas, empresas deslocadas, riam-se dos sindicatos que assim se especializavam no desemprego absoluto.

 

Comércio livre, sim, bem como livre circulação de capitais mas quanto à livre circulação da mão de obra é que, pelo contrário, nem à mão de Deus Pai: sindicalistas americanos na América; «sindicalistas» chineses na China. E nada de misturas nem trocas de poiso. E os sindicatos concordam com isso pois que, entretanto, se transformaram em forças radicalmente conservadoras e não querem a concorrência barata.

 

A China propriamente dita ia invadindo o resto do mundo com toda a espécie de quinquilharia vendida nas prolíficas «lojas dos chineses».

 

Mas a China (a verdadeira, não a minúscula Taiwan) é politicamente comunista e, por paradoxal que isso seja, assenta actualmente numa economia capitalista. Conjugação dos antagónicos ou farsa política?

 

Como pode um regime ferozmente totalitário conviver com uma economia liberal?

 

Que perspectivas de desenvolvimento endógeno existem num regime de Partido único?

 

O que acontecerá quando o proletariado perceber que o crescimento está a abrandar radicalmente, que as diversas «bolhas» estão a rebentar (por exemplo, as cidades fantasma plantadas no meio de nenhures só para que os dirigentes cumpram o plano ditado a partir do centro decisório), que as «grandes» investidoras estatais estão a falir (e a cair no controle directo de Pequim com sérios problemas pessoais para os dirigentes afastados dos cargos que vinham desempenhando) e que ele, proletariado, continua com 5 dias anuais de férias e está a ser silenciado para fingir que tudo continua uma serena maravilha apesar de o desemprego por aquelas bandas corresponder a abandono com 3 meses de subsídio não renováveis?

 

Quanto custa o funcionamento do Partido único e o das gigantescas Forças Armadas (segredos de Estado) e que política orçamental e monetária financia tudo isso?

 

A China está certamente muito próxima de perceber que se pode mentir durante algum tempo e engar algumas pessoas mas que é impossível mentir sempre e tentar enganar toda a gente.

 

Os castelos de cartas não são eternos nem a diáspora chinesa é estanque em relação aos que lá permanecem e cada vez se saberá mais que cá fora se vive em condições incomparáveis com o que por lá conseguem.

 

A China vai implodir e não tardará muito.

 

E depois?

 

Não tenho uma bola de cristal mas «cheira-me» que ficarão na China as empresas ocidentais cujas produções se destinem ao abastecimento do mercado interno, se esse ainda existir com algum significado depois de uma livre discussão política pluripartidária, depois de a moeda chinesa passar a valer o que deve valer e não o que os decretos determinarem, depois de existir liberdade sindical, depois de haver uma política monetária credível suportada por uma política orçamental transparente e não mais secreta como hoje acontece.

 

Resta por saber como ficaria tudo a partir do momento em que o Ocidente desistisse da China que, entretanto, se revelara o seu próprio algoz. A pergunta que se impõe é: o que será a China quando o comunismo cair? Eventualmente, uma «molhada de brócolos».

 

Só que, entretanto, não há folga enquanto o pau não nos sai das costas.

 

É que tudo isto, sim, merece ser corrigido condicionando seriamente o maligno que por aí continua à solta.

 

(continua)

 

Janeiro de 2019

Xangai-DEZ06-2.jpg

Henrique Salles da Fonseca

(Xangai, 2006)

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 3

 

Nos dois textos anteriores sob a mesma epígrafe, abordei dois factores que contribuem directamente para a soltura do maligno, a saber, respectivamente, o antiquíssimo conflito de gerações e a actual pós-modernidade à mistura com a toxicodependência e com o inerente narcotráfico. Ambos, numa perspectiva local.

 

Para sarilho já bastaria, mas há mais…

 

O meu mundo evoluiu de acordo com a minha vontade:

 

  • Rendição do Japão (na Europa já não havia guerra quando eu nasci em Junho de 1945)

Rendição do Japão.jpg

 

  • Evolução da guerra fria no sentido da vitória ocidental até ao derrube do muro de Berlim

Derrube muro Berlim.jpg

 

  • Prevalência dos valores democráticos com garantida liberdade de opinião, afirmação do empreendedorismo, obtenção de grande segurança social.

Assembleia da República.png

 

Seria hipócrita se dissesse mal do eurocentrismo. Mas, conhecendo muito mundo extra-europeu, não hesito em afirmar que «nem só da Europa vive o mundo». E não me refiro a uma questão geográfica pois tanto a América Latina como a Austrália e a Nova Zelândia são claramente europeias enquanto o Magreb e o Mackresh, aqui bem próximos, pouco ou nada têm a ver connosco.

 

Mas há equilíbrios a que nos habituamos e as mexidas provocam tonturas. Por exemplo, a tão propalada ascensão da China, a invasão muçulmana da Europa e o correspondente «revivalismo» sunita, a ascensão totalitária na Turquia e na Venezuela, o bitcoin e o narcodólar, etc., etc.

 

(continua)

 

Janeiro de 2019

Bali, Tirta Empul - 1.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(Bali, santuário de Tirta Empul, SET18)

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 2

R. Augusta, Lisboa.jpg

 

Uma das «coisas» a que nos habituamos fácil e rapidamente é à qualidade de vida. Assim é que todos na Europa temos como adquirida a segurança social, a reforma, a democracia, as férias, etc. A paz internacional também é um «must» - relativamente recente, sim, mas todos a vemos como um dado adquirido.

 

A segurança física, essa, lastimavelmente, não está assim tão garantida como todos gostaríamos.

 

Porquê?

 

Porque o pai e a mãe foram trabalhar enquanto os filhos ficaram nas ruas da selva urbana e suburbana e, cumprindo o espírito gregário que rege a nossa espécie, constituíram grupos que nem sempre se dedicam às causas mais nobres.

 

Jovens desenquadrados da cultura da tradição dos pais, não tiveram quem deles cuidasse e gentilmente os acolhesse e integrasse numa cultura urbana.

 

E, mesmo esta, que cultura é?

 

A cultura pós-moderna, laica, dissociada de valores religiosos e correspondentes moral e ética. Uma cultura que, não crendo numa vida para além da morte, quer usufruir de tudo imediatamente num regresso ao objectivo platónico da primazia do prazer a que juntou o hedonismo, o consumismo, o exibicionismo.

 

E se não houver meios para obter todo o prazer desejado e tudo o que se vê nos escaparates, rouba-se porque vinga o sentido de posse e a legitimidade é um conceito não incutido por qualquer enquadramento ético.

 

Com a agravante do narcotráfico e da toxicodependência.

 

E se tudo começou pela selva urbana dos bairros de lata, não tardou assim muito para que o cenário se instalasse por entre o cimento do centro.

 

Eis como o maligno se soltou bem perto de todos nós.

 

(continua)

 

Janeiro de 2019

Jakarta - 2 (SET18).jpg

Henrique Salles da Fonseca

ANDA O MALIGNO À SOLTA – 1

 

A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais, são simplesmente maus. - frase que Platão atribui a Sócrates em diálogo com Polemarco, in «A República».

Platão.png

 

* * *

 

Habituamo-nos a viver em determinados enquadramentos e, quando sentimos que as «coisas» mudam, sentimo-nos perdidos e somos levados a pensar que as novas gerações é que são as culpadas dos desarranjos por que passamos. E quanto mais aposentados estamos, mais desadaptados nos sentimos e não faltará muito para que digamos que «anda o maligno à solta».

(continua)

Janeiro de 2018

Navegando arquipélago Estocolmo.jpg

Henrique Salles da Fonseca

LIDO COM INTERESSE – 88

BERNSTEIN.jpg

Título – LEONARD BERNSTEIN

Autor – Barry Seldes

Editora – Bizâncio

Edição – 1ª, Outubro de 2010

 

* * *

 

Conceitos relevantes (que fui buscar à Wikipédia) para se perceber um dos tipos de questões que interessavam a Bernstein:

 

  • Música tonal - é toda a música que apresenta uma tonalidade definida, ou seja, uma hierarquia entre as notas utilizadas, girando em torno de uma principal;
  • Música atonal - é a música desprovida de um centro tonal, ou principal, não tendo, portanto, uma tonalidade preponderante;
  • Dodecafonismo - as 12 notas da escala cromática são tratadas como equivalentes, ou seja, sujeitas a uma relação ordenada e não hierárquica. As notas são organizadas em grupos de doze notas denominados séries as quais podem ser usadas de quatro diferentes maneiras; 1) série original, 2) série retrógrada (a série original tocada de trás para a frente), 3) série invertida (a série original com os intervalos invertidos) e 4) retrógrado da inversão (a série invertida tocada de trás para a frente). - Todo o material utilizado numa composição dodecafónica, seja melódico (estruturas horizontais) ou harmónico (estruturas verticais), deve ter origem na série.

 

Mas ele interessava-se também por outros tipos de assuntos. Por exemplo, pela política. E, neste aspecto, foi para mim uma surpresa ao ficar a sabê-lo da esquerda mais activa nos EUA, a ponto de em tempos ter pertencido ao Partido Comunista da América – o que conseguiu encobrir nas várias investigações de que foi alvo ao longo da vida pelas autoridades da segurança interna, nomeadamente o FBI e comissões constituídas nos tempos da «caça às bruxas» de Joseph McCarthy.

 

Nesta matéria, aliás, o livro é muito detalhado pois parece que o respectivo Autor, Barry Seldes, se não é militante dessas bandas, imita muito bem, tal a militância que ele próprio exala ao longo de toda a obra.

 

Contudo, musicalmente, Bernstein era conservador pois sempre alinhou pela música tonal e guerreou a atonalidade dos compositores mais reactivos contra Hitler, Mussolini e outros ditadores que tais. Mais: defendia a tese de que a música tonal, melodiosa e harmónica, é natural no ser humano e que a atonal só se percebe como reacção contra situações que se pretende denunciar.

 

Nós, leigos, conhecemos o West Side Story como a sua obra mais importante mas, afinal, ele tem outras que passaram com maior ou menor êxito pela Broadway e por diversas salas de concerto nas Américas e na Europa. Mas ficou por criar aquela «obra maior» que ele tanto tentou compor e nunca conseguiu. Porquê? Porque «quem muitos burrinhos toca, algum fica para trás». Actividade política por paixão (a causa israelita também o ocupou muito) e regência de orquestras por vocação e necessidades monetárias, não lhe deixaram tempo para a composição mais profunda e ficou-se por obras que ele próprio acabou por considerar menores.

 

Enfim, um personagem controverso em muitos aspectos da vida – a que o livro se refere amiúde - só recebendo louvores unânimes na divulgação musical e no brilhantismo das suas interpretações.

 

Para mim, reconheço com tristeza, foi um ícone que se desequilibrou do pedestal e quase caiu.

 

Janeiro de 2019

O caos e a ordem.jpg

Henrique Salles da Fonseca

MELHOR PENSANDO…

 

Sem a revolução russa de 1917, muito provavelmente Hitler teria acabado os seus dias a pintar postais numa das organizaçõezitas em que começou. Sem Lenin não teria havido Hitler.

Simon Montefiore.pngSimon Sebag Montefiore

(historiador, autor de uma biografia de Estaline)

Simon Montefiore-livro.jpg

 

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