Historicamente, o populismo tornou-se uma força importante na América Latina, principalmente a partir de 1930, estando associado à urbanização e à dissolução das estruturas políticas até então na mão de aristocracias rurais. No Brasil, remetamo-nos à figura de Getúlio Vargas; na Argentina, a Juan Péron e a sua mulher, «Evita».
A política populista caracteriza-se menos por um conteúdo determinado do que por um "modo" de exercício do poder, a demagogia, ou seja, dizendo ao povo o que ele quer ouvir. O que, na prática mais comum, consiste apenas em dizer mal das elites.
Para ser eleito e governar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional com o "povo". Isso implica um sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos através da simpatia daquelas.
O populismo é denegrido pelas correntes político-ideológicas, tanto de esquerda como de direita. O termo tem sentido pejorativo e é usado como arma de combate discursivo para a desqualificação do oponente.
Na Argentina, a anti-peronista União Cívica Radical e no Brasil, a direita representada pelo anti-varguismo da UDN – União Democrática Nacional, sempre recriminaram o populismo pelas suas práticas vulgares e atitudes "demagógicas", nomeadamente a concessão de benefícios sociais através do aumento da despesa pública, a chamada «compra de votos». Por outro lado, a esquerda criticava o caráter desmobilizador das benesses populistas que faziam crer que tudo dependia apenas da vontade de um caudilho bonapartista.
Recentemente, as críticas mais frequentes apontam para que o populismo promove uma espécie de pseudo-democracia ao beneficiar os sectores de classe média e baixa com prejuízo dos demais cidadãos e limitam o poder das elites políticas.
Foi num cenário de exigência de igualdade, de construção duma sociedade sem classes, de reforma agrária, invasão de terras, de latifundiários em fuga ou resignando de vastas áreas e de uma geração de jovens que se consideravam na sombra social mas que agora estavam dispostos a conquistar um lugar ao Sol, que os revolucionários perceberam que podiam levar por diante a sua obsessão de implantação do comunismo. Tinham à disposição jovens universitários ávidos da motivação que lhes proporcionaria a justiça social. Todos, em idades propícias à absorção de emoções e de grande inocência perante a «lavagem ao cérebro» que lhes era feita por marxistas «plantados a dedo» nas Associações de Estudantes das Universidades. O método foi o de não transmitir argumentação crítica mas sim pensamentos emotivos baseados em ideias simples e dogmáticas, essência do fanatismo.
Mas, afinal, os inocentes sabiam ler e não pertenciam a outra classe que não a da burguesia. Pequena, talvez, mas burguesia e não proletariado. E mesmo que tivessem origens proletárias, as suas ambições íntimas eram burguesas.
O desencanto foi o destino quando viram os seus ideais de liberdade e glória social atraiçoados pela realidade da ditadura do proletariado, pelas decisões «unânimes» dos Comités Centrais, pela vigilância dos controleiros, enfim, por algo que nada – mas absolutamente nada – tinha a ver com democracia.
E esse continua a ser o erro da esquerda dogmática, o de julgar que lida com proletários quando, na realidade, lida com burgueses que não se deixam manipular como boçais que efectivamente não são.
E onde encontrar essas massas proletárias ávidas da liberdade propagandeada quando a indústria foi desmantelada pelas exigências absurdas desses dogmáticos que entretanto regem a gerontocracia em que se deixaram cair? Esse é o vazio perante o qual os velhos esbarram e só não se desmobilizam porque não conhecem outra doutrina que não a da cartilha soviética. Para esses, é tardia a mudança e só o dogmatismo lhes sustém um pouco o desespero porque se pudessem pensar por si próprios, há muito que também eles para lá teriam resvalado de corpo inteiro.
Pois é, o século XXI ocidental não tem o dogma como paradigma e, pelo contrário, a sua juventude puxa pela cabeça ao enfrentar a invasão de outras civilizações – essas, sim, dogmáticas – para sobreviver mantendo os Valores da liberdade democrática e algum bem comum.
O desencanto da geração que nasceu nos 50 não foi suficiente para prevenir o embate civilizacional neste início do séc. XXI deixando a liderança a Partidos amolecidos que terão uma séria responsabilidade no que de mal nos acontecerá depois de todos estes desencantos se somarem. Mais do que uma sociedade acomodada, os invasores encontram uma sociedade liderada maioritariamente por Partidos contentes com a suavidade do politicamente correcto que construíram; todos liberais só divergindo nas congregações mais ou menos conhecidas, mais ou menos secretas em que os seus membros se integram, todos empenhados na divisão do bolo sem que o eleitor se aperceba claramente do que lhe sonegam.
Mas há sempre um limite pois não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo.
E, das duas, uma: ou nos resta navegar de desencanto dogmático em desencanto de moleza se não tivermos a força das convicções profundas da liberdade democrática como a temos entendido no Ocidente desde a segunda guerra mundial ou então, resta-nos seguir a sugestão de Karl Popper que é, na consumação do desespero global, irmos todos para o Inferno.
Contudo, há mais um «mas» que é o de não nos deixarmos manipular nem nos deixarmos amolecer. E isso pode ser muito mau para quem nos tem manipulado e amolecido sob o título da governança pacífica e da continuidade dessa mesma governança. Pacífica ou podre? Eis a questão.
Questão que horroriza a diplomacia do croquete perante quem fala grosso, mesmo que do nosso lado e tenha sotaque de Manhattan. Mais do que o conteúdo do discurso, o que mais horroriza a diplomacia côr-de-rosa é o tom. O que não isenta o Fulano de uma certa boçalidade. Mas não será o tempo de se usar um pouco dela perante a invasão sunita da Europa?
Pior que ser explorado por um capitalista, é não haver um capitalista que nos queira explorar.
Rosa Luxemburgo
Filósofa marxista polaco-alemã. Tornou-se mundialmente conhecida pela militância revolucionária ligada à Social-Democracia da Polónia, ao Partido Social-Democrata da Alemanha e ao Partido Social-Democrata Independente da Alemanha.
Nascimento: 5 de Março de 1871, Zamość, Polónia
Falecimento: Assassinada em 15 de Janeiro de 1919, Berlim, Alemanha
Cônjuge: Gustav Lübeck (desde 1898)
Formação: Universidade de Zurique
Ao fim de muitos anos, ainda hoje me pergunto se não terá sido Rosa Luxemburgo a sugerir os fundamentos do Baader Meinhof.