O acordo BREXIT parece difícil assim como o BREIN também o foi, se bem nos lembramos. Não me recordo de que no BREIN tenha havido demissões, referendos, zangas nem rangeres de dentes. Apenas me lembro de que os políticos ingleses de então queriam entrar num processo de «entramos, mas…». Ou seja, entravam em determinadas condições que seriam diferentes das dos demais membros da então CEE. Já nem me lembro de quais elas foram, essas condições. Mas entraram.
E agora saem mas, pelos vistos, agora são os «da casa» que põem condições: «saem se…».
Parece-me que há nisto tudo muita coisa que não fez nem faz sentido:
- Quero entrar no Clube mas só serei membro nos jogos ganhos.
- Saio do Clube mas não terei nada a ver com a responsabilidade sobre a massa falida.
Sim, tudo isto me parece leonino e estranho que não haja quem o diga.
E é assim que tudo me leva a crer que a História se vai repetir com o regresso da Inglaterra e respectivas colónias (Escócia, Gales e Irlanda do Norte) à EFTA e com a recomposição da grande zona europeia de comércio livre.
Estará a Escócia pelos ajustes? I doubt!
E se a minha doubt tiver fundamento, poderá ser a unidade do kingdom que fique posta em causa. Então, no espaço de um reinado, Isabel II ver-se-á transformada de Chefe de um Império em Chefe de um relativamente pequeno Estado insular.
Em inglês diz-se downsizing; por cá dizemos shame.
NAÇÃO,são muitos homens e mulheres que se alimentam do mesmo reservatório de língua e de cultura, que se submetem sem esforço a um complexo de tradições idênticas, que se reclamam duma história comum e dum futuro convergente.
Maimónides - nome latinizado do judeu Moisés Ben-Maimon
InO MÉDICO DE CÓRDOVA – Herbert le Porrier – Bizâncio, 5ª edição, Junho de 2016, pág. 161
A propósito do vídeo que circula na Internet com um discurso do Doutor Salazar proferido em cerimónia comemorativa do 20º aniversário do seu Governo, ocorre-me dizer que o meu apoio ou a minha oposição ao Doutor Salazar se definiam em função das políticas específicas que ele seguia.
Nunca pondo em causa a seriedade da sua atitude nem a firmeza e integridade do Estado de Direito que confirmou e moldou, concordei com o seu posicionamento no que respeitou à política externa e às políticas de cariz financeiro mas quanto à política de desenvolvimento, já não pude prestar-lhe grande aplauso.
No que se refere ao Estado de Direito salazarista, tratava-se de um Direito autocrático mas não caprichoso, um Direito imbuído de uma lógica conhecida por todos e aplicado a todos, ou seja, o contrário do fascismo que esse, sim, se baseia no improviso e no capricho do ditador.
Eis por que entendo que, não sendo o Doutor Salazar (nem pretendendo ser) um democrata, não era fascista apesar de dispor de um instrumento como a PIDE que, obviamente, merecia a minha estranheza.
Mas como opor-se ao então NKVD, antecessor do KGB?
É que continuo a crer que o grande objectivo do Doutor Salazar era impedir que a URSS apertasse a Europa entre a Cortina de Ferro e uma Península Ibérica controlada pelo PCP e pelo PCE como a Guerra Civil espanhola (numa primeira tentativa) e o 25 de Abril de 1974 (na segunda) demonstraram.
Por isso, à PIDE competia impedir as movimentações dos comunistas; quanto aos democratas provenientes da I República, julgo que o Doutor Salazar os considerava uns românticos inofensivos mas que, sendo muito palavrosos, os queria moderar.
* * *
Ainda a propósito, é agora a vez de tudo me levar a observar cuidadosamente o que se perfila com os populismos emergentes.
Como alerta Madeleine Albright no seu livro «Fascism: A Warning», não estará o fascismo iminente?
Com a veneranda idade de 26 anos, morreu hoje inesperadamente a minha égua Lola depois duma grande e longa dedicação à Escola de Equitação do meu Clube e duma reforma de grande felicidade nos últimos 3 anos em que a montei diariamente banindo todo o stress e tudo fazendo com muita suavidade.
Vou ter saudades do relincho com que me recebia ao ouvir a porta do meu carro a fechar anunciando a minha chegada e a malga de cenouras com que a brindava antes de tudo o mais. Seguia-se a limpeza geral para depois irmos passear com ela a mordiscar umas ervas antes de fazermos alguns exercícios de aquecimento em espáduas a dentro a passo e a trote. A saída a galope era quase sempre feita dentro da pirueta a passo a que se seguia um encurtar do trote para aproximação progressiva ao rassemblé.
Pelo que me contaram, o fim terá chegado sem sofrimento. Estava à janela da box como era seu costume e quando meia hora depois o tratador lhe foi dar a ração, já não vivia.
Esta frase pode dar a ideia de que se trata de um livro bem humorado mas, pese embora alguma graça que possamos encontrar aqui ou ali, o tom geral da obra é duma seriedade absoluta raiando mesmo a sisudez histórica. Não chega às profundezas mórbido-fantasiosas de Edgar Alan Poe mas ultrapassa-o durante algumas cenas, em especial as relacionadas com os «mimos» dispensados pelo KGB e pela Gestapo aos respectivos «hóspedes».
São 1070 páginas de texto nesta edição que refiro e por isso mesmo sugiro ao futuro leitor que se equipe de alguma ajuda física para suporte do livro, a menos que queira logo de início ficar com uma dor na mão direita e, a partir da metade, sentir a dor passar para a mão esquerda.
De maneira a não estragar a leitura dos futuros leitores, apenas refiro que se trata da história duma belíssima jovem espanhola loira, magra e alta (o que só por si foge ao padrão por que esperávamos numa espanhola) que começa durante a Segunda República espanhola, passa pela II Guerra Mundial e pela Guerra Fria estendendo-se até à queda do Muro de Berlim.
Nem sei como classificar os personagens pois são vários os de importância central. Trata-se de um bisneto que foi encarregue por uma tia de desvendar a vida duma misteriosa bisavó que durante várias gerações foi tabu na família. Os narradores são vários e todos são importantes pois sem eles nada saberíamos. Sim, é uma tessitura do mais curioso que tenho lido e que, para nosso grande espanto, não conduz ao labirinto. Pelo contrário, tudo é rectilínio na marcha do tempo e a cada página nos sentimos mais interessados pelo que irá decorrer ao longo da História da Humanidade neste período do séc. XX.
É na página 924 que encontro um enigma pelo que desafio o leitor a descobrir como é que a visita entrou na casa se o visitado, paralisado e agarrado a uma poltrona, estava sozinho e longe da porta. Ou estaria numa cadeira de rodas?
Sim, é um romance mas é tão verosímil que só perderá em cultura histórica quem o não ler.
E não se esqueça, leitor: são 1083 páginas contadas.
Mais: assim como com a diva, de uma espanhola também não se espera que passe pela vida a cantarolar; espera-se que cante a plenos pulmões correndo a pauta por completo.
Durante cinquenta e seis anos – desde que terminou a última guerra civil – o coronel não fizera outra coisa senão esperar. Outubro era das poucas coisas que chegavam.
Gabriel García Márquez
In «Ninguém Escreve ao Coronel», Abril Controljornal, Edipress, Junho de 2000, pág. 5.
- Não é revelado nenhum grande mistério; o véu do futuro não é rasgado.
Da visão…
- Serão talvez apenas projecções do mundo interior de crianças, crescidas num ambiente de profunda piedade, mas simultaneamente assustadas pelas tempestades que ameaçavam o seu tempo.
Das revelações…
- A doutrina da Igreja distingue «revelação pública» e «revelações privadas»;
- A «revelação pública» (…) é o Antigo e o Novo Testamento;
- A «revelação privada» aplica-se a todas as visões e revelações verificadas depois da conclusão do Novo Testamento. O seu papel não é (...) “completar” a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente numa determinada época da história.
Das autoridades (credibilidades)…
- A autoridade das revelações privadas é essencialmente diversa da única revelação pública [onde] é o próprio Deus que nos fala;
- A revelação privada (…) manifesta-se credível porque faz apelo à única revelação pública;
- Às revelações [privadas] aprovadas não é devida uma adesão de fé católica; estas revelações requerem, antes, uma adesão de fé humana ditada pelas regras da prudência, que no-las apresentam como prováveis e religiosamente credíveis;
- É uma ajuda que é oferecida, mas não é obrigatório fazer uso dela;
- O critério para medir a verdade e o valor duma revelação privada é a sua orientação para o próprio Cristo; quando se afasta d'Ele, quando se torna autónoma ou até se faz passar por outro desígnio de salvação, melhor e mais importante que o Evangelho, então ela certamente não provém do Espírito Santo;
- Frequentemente, as revelações privadas provêm da piedade popular e nela se reflectem.
Das profecias…
- No sentido da Bíblia, [a profecia] não significa predizer o futuro, mas aplicar a vontade de Deus ao tempo presente e consequentemente mostrar o recto caminho do futuro;
- A predição do futuro tem uma importância secundária;
- Nas revelações [profecias] de Fátima, trata-se disto mesmo: ajudar-nos a compreender os sinais do tempo e a encontrar na fé a justa resposta para os mesmos.
Das visões…
- Não eram captadas por todos os presentes mas apenas pelos «videntes»;
- Trata-se (…) da percepção interior que, para o vidente, tem uma força de presença tal que equivale à manifestação externa sensível;
- Este «ver interiormente» não significa que se trata de fantasia, que seria apenas uma expressão da imaginação subjectiva. Significa, antes, que a alma recebe o toque suave de algo real mas que está para além do sensível, tornando-a capaz de ver o não-sensível, o não-visível aos sentidos: uma visão através dos «sentidos internos»;
- Os destinatários preferidos de tais aparições [são] as crianças: a sua alma ainda está pouco alterada e quase intacta a sua capacidade interior de percepção;
- Se na visão exterior já interfere o elemento subjectivo, isto é, não vemos o objecto puro mas este chega-nos através do filtro dos nossos sentidos que têm de operar um processo de tradução, na visão interior isso é ainda mais claro, sobretudo quando se trata de realidades que por si mesmas ultrapassam o nosso horizonte;
- O vidente (…) vê segundo as próprias capacidades concretas, com as modalidades de representação e conhecimento que lhe são acessíveis. (…) Tais visões não são em caso algum a «fotografia» pura e simples do Além, mas trazem consigo também as possibilidades e limitações do sujeito que as apreende;
- As imagens delineadas [pelos pastorinhos] são (…) fruto duma percepção real de origem superior e íntima; nem se hão-de imaginar como se por um instante se tivesse erguido a ponta do véu do Além, aparecendo o Céu na sua essencialidade pura, como esperamos vê-lo na união definitiva com Deus. (…) As imagens são uma síntese entre o impulso vindo do Alto e as possibilidades disponíveis para o efeito por parte do sujeito que as recebe, isto é, das crianças.
Interpretando o «segredo» de Fátima…
- Os pastorinhos experimentaram uma visão do inferno. Viram a queda das «almas dos pobres pecadores». Em seguida, foi-lhes dito o motivo pelo qual tiveram de passar por esse instante: para «salvá-las», para mostrar um caminho de salvação.
- O futuro não está de forma alguma determinado imutavelmente e a imagem vista pelos pastorinhos não é, absolutamente, um filme antecipado do futuro, do qual já nada se poderia mudar;
- O seu sentido é mobilizar as forças da mudança em bem. Por isso, há que considerar completamente extraviadas aquelas explicações fatalistas do «segredo» que dizem, por exemplo, que o autor do atentado de 13 de Maio de 1981 teria sido, em última análise, um instrumento do plano divino predisposto pela Providência e, por conseguinte, não poderia ter agido livremente, ou outras ideias semelhantes que por aí andam. A visão fala sobretudo de perigos e do caminho para se salvar deles;
- O caminho da Igreja é descrito como uma Via Sacra, como um caminho num tempo de violência, destruições e perseguições;
- Na visão, podemos reconhecer o século vinte como o dos mártires, como o dos sofrimentos e perseguições à Igreja, como o das guerras mundiais e de muitas guerras locais que ocuparam toda a segunda metade do mesmo, tendo feito experimentar novas formas de crueldade;
- Uma frase da carta que a Irmã Lúcia escreveu ao Santo Padre no dia 12 de Maio de 1982: «A terceira parte do “segredo” refere-se às palavras de Nossa Senhora: “Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas”»;
-Não existe um destino imutável, [dado] que a fé e a oração são forças que podem influir na história e que, em última análise, a oração é mais forte que as balas, a fé mais poderosa que os exércitos;
- A conclusão do «segredo» lembra imagens, que Lúcia pode ter visto em livros de piedade e cujo conteúdo deriva de antigas intuições de fé;
- A visão da terceira parte do «segredo», tão angustiante ao início, termina numa imagem de esperança: nenhum sofrimento é vão e, precisamente uma Igreja sofredora, uma Igreja dos mártires, torna-se sinal indicador para o homem na sua busca de Deus. Não se trata apenas de ver os que sofrem acolhidos na mão amorosa de Deus como Lázaro, que encontrou a grande consolação e misteriosamente representa Cristo, que por nós Se quis fazer o pobre Lázaro; mas há algo mais: do sofrimento das testemunhas deriva uma força de purificação e renovamento, porque é a actualização do próprio sofrimento de Cristo e transmite ao tempo presente a sua eficácia salvífica;
- PERGUNTA: O que significa o «segredo» de Fátima?
– RESPOSTA: Os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do “segredo” de Fátima parece pertencerem já ao passado»; quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido; o que permanece é a exortação à oração como caminho para a «salvação das almas» e, no mesmo sentido, o apelo à penitência e à conversão; desde que Deus passou a ter um coração humano e deste modo orientou a liberdade do homem para o bem, para Deus, a liberdade para o mal deixou de ter a última palavra.
* * *
Eis o que Joseph Card. Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, afirmava em 2000 (documento não datado) no seu Comentário Teológico especial e que pode ser lido integralmente em
e que eu aqui resumi por transcrições sucessivas numa selecção que, espero bem, não lhe tenha deturpado o sentido.
Parece-me que o então futuro Papa Bento XVI tratava Fátima com algum racionalismo académico, especialmente erudito, afastando-se do fervor típico da fé popular que tem aquele santuário como «oráculo mariano».
Para não estragar leituras futuras, recorro à sinopse do filme (não a do livro) que encontrei na Internet:
«As pontes de Madison County» é a história de Robert Kincaid, fotógrafo famoso e de Francesca Johnson, mulher de um agricultor do Iowa.
Kincaid, de 52 anos, é fotógrafo da National Geographic — um estranho e quase místico viajante dos desertos asiáticos, dos rios longínquos, das cidades antigas, um homem que se sente em desarmonia com o seu tempo. Francesca, de 45 anos, noiva italiana do pós-guerra, vive nas colinas do Iowa com as memórias ainda vivas dos seus sonhos de juventude. Qualquer deles tem uma vida estável, e no entanto, quando Robert Kincaid atravessa o calor e o pó de um Verão do Iowa e chega à quinta dela em busca de informações, essa estabilidade desaba e as suas vidas entrelaçam-se numa experiência de invulgar e estonteante beleza, que os marcará para todo o sempre.
* * *
Mas não resisto a transcrever algumas frases que chamaram a minha atenção…
Ela desejou-lhe comboios a vapor a sair de estações no Inverno. (pág. 196)
Está-se sempre a lidar com os mercados e os mercados, que são mercados de massas, destinam-se a satisfazer gostos medianos. (…) O mercado mata mais paixão artística do que qualquer outra coisa. É um mundo de segurança para a maioria das pessoas. Querem segurança, as revistas e fabricantes dão-lhes segurança, dão-lhes homogeneidade, dão-lhes o familiar e confortável, não os desafiam. (pág. 220)
- Chamam a isto um prado ou pastagem? – perguntou ele e ela respondeu que era uma pastagem alertando-o para ter cuidado com as bostas. E ele, de apaixonado que estava, achou que nas palavras dela até a bosta da vaca era uma inspiração de grande romantismo… (pág. 223)
(…)vinte minutos intensos do tipo que só os soldados, cirurgiões e fotógrafos compreendem. (pág. 230)
Com o tempo, os computadores e os robôs ficam com o poder. Os humanos ocupar-se-ão dessas máquinas mas isso não requer coragem nem força, nem qualquer característica semelhante. Nós renunciámos à nossa liberdade de acção, organizámo-nos, abafámo-nos, abafámos as nossas emoções. Há a eficácia, a produção e todos os outros conceitos artificiais. Juntamente com a liberdade de acção, desaparece o «cowboy», ao mesmo tempo que o leão-da-montanha e o lobo-cinzento. Não resta muito espaço para os viajantes.
(…) as hormonas masculinas são a causa derradeira da discórdia neste planeta. Uma coisa era dominar outra tribo ou outro guerreiro. Outra é possuir mísseis e destruir a Natureza da maneira que estamos a fazê-lo. Temos de sublimar de alguma maneira essas hormonas masculinas, ou pelo menos controlá-las. (pág. 245)