KALIMERA – 5
DOS NARIZES DE CADA UM
“O nariz grego, que forma uma linha recta do topo interciliar à ponta, é considerado o nariz perfeito."
Harriet Hubbard Ayer (1849, Illinois - 1903, Nova Iorque)
E foi nestas divagações que dei por mim quando me meti num pequeno navio (ou seria um grande barco?) zarpando do Pireu rumo a Hidra com uma perspectiva de navegação de quase três horas e sem nada que fazer a não ser olhar o mar. A Graça, muito bem, deixou-se aquecer ao Sol da Primavera numa «chaise longue» mas as minhas lentes de contacto não me autorizam fechar os olhos para ensaiar algum «passe por brasas». Eis por que me dediquei a olhar para os narizes das gregas que passavam por nós e a lembrar-me de que todas eram naso-sósias da Maria Callas.
https://www.youtube.com/watch?v=sNEUdGZutGw
Não lhes perguntei se também cantavam ópera.
E a propósito da Callas (1923, Nova Iorque - 1977, Paris), contava-se que ela tinha uma irmã que, essa sim, era uma grande cantora, muito melhor do que a Maria, no dizer da professora de canto que nas respectivas juventudes ambas tinham tido na Nova Iorque natal. E as pessoas que contavam essa história (eventual balela cuja veracidade nunca investiguei) concluíam com a questão de se imaginar como teria sido se a irmã tivesse enveredado pela carreira lírico-dramática. Ao que eu tenho duas respostas para dar: 1ª – Não podem ser conhecidos os resultados duma experiência não experimentada e, portanto, daí resulta que todos os pensamentos não passem de meras especulações; 2ª – Se a «mana» se tivesse dado ao trabalho de “trabalhar a voz” e de estudar música como Maria fez, talvez pudesse ter sido alguém no canto lírico ou dramático mas optando por cozer meias e alinhavar bainhas de saias e calças, entrou no esquecimento das multidões que nunca a ouviram (nem, como eu, sequer sabem da sua existência).
Nem sequer sei se ela tinha a nacionalidade grega mas eu não podia estar na Grécia ignorando Maria Callas. Seria o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa.
A propósito de Roma, também me lembrei de outra história que se conta dos italianos na Grécia.
A certa altura da II Guerra Mundial, o palhaço «Duce» decidiu invadir a Grécia e foi um grande escândalo quando um Batalhão inteiro foi encurralado por uma pequeníssima força guerrilheira grega. Perguntado sobre quantos guerrilheiros os tinham detido, o Comandante italiano respondeu que eram dois.
- Como foi, então, possível que apenas dois guerrilheiros tivessem detido um Batalhão inteiro?
A resposta terá sido imediata:
- Eles cercaram-nos.
Verdade ou «história» (que também nunca me dei ao trabalho de tentar verificar), daqui se conclui da falta de convicção com que “lutavam” os italianos e da verdadeira valentia dos gregos.
Decididamente, os gregos não se deixaram influenciar pela «Commedia del Arte».
Terá o feitio do nariz alguma influência no caracter? Talvez… mas também não investigarei essa hipótese.
8 de Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca
(no porto de Hidra)