KALIMERA – 2
EUFORIA
Dos dicionários se extrai que «euforia» é um sentimento de alegria e bem-estar que envolve o indivíduo ou que ocorre no meio social.
Muito a propósito, a palavra "euforia" tem origem no Grego "euphoria", que significa "capacidade de aguentar facilmente”, de "euphoros", onde "eu" corresponde a “bem” e “phoros” significa “o que carrega”.
O termo terá sido utilizado pela primeira vez em 1875 para referir o contentamento dos viciados em morfina. Convenhamos que não «entrou com o pé direito» no léxico moderno.
A palavra é também usada no sentido de bem-estar patológico, constituindo um sintoma de diversas doenças mentais. Mas é claro que um indivíduo eufórico nem sempre é portador de um problema psíquico.
Contudo, sendo mais intensa, mais breve, mais descontrolada e mais exteriorizada que o sentimento de alegria, a euforia também pode ser apenas uma alegria intensa e passageira que não afecta o estado do psiquismo.
Frequentemente, à euforia segue-se a melancolia e quando isso acontece de modo inexplicado, logo se associa o processo ao transtorno bipolar.
Na Grécia, à bolha bolsista dos tempos de Constantino Karamanlis, seguiu-se a denúncia do bluff em que a vida grega navegava num processo super-especulativo. Como um pouco por toda a parte, os bancos tinham desbragado a emissão do crédito nomeadamente aos clientes do retalho para que comprassem acções na bolsa eufórica mas quando viram «as barbas a arder» com o rebentamento da bolha especulativa e indesejados níveis de mal-parado, começaram a vender as carteiras tóxicas: os bancos estrangeiros venderam-nas aos bancos gregos e pisgaram-se da Grécia antes que tudo desse para o torto e os bancos gregos levaram Karamanlis a puxar os cordões ao erário público para que o sistema bancário genuinamente grego não fosse todo ao charco. O endividamento público disparou de níveis já muito altos para alturas estratosféricas e foi então que o «Schäuble mausão» falou mais alto do que os gregos gostariam de ter ouvido. E vai daí, eleições à vista porque Karamanlis só queria pisgar-se da cena que deixara instalar-se no sopé do Pártenon.
O processo de ajustamento passou por vários resgates de modos mais ou menos radicais sempre apontando para a redução da despesa pública. Mas os vícios eram tantos e tão antigos que só restava recrutar um «encantador de Senhoras» tais quais Ângelas e Cristinas, as chefas dos maiores credores, de modo a que o tempo fosse passando, o Tsipras pudesse manter-se na cadeira do Poder, se encenassem acções tão espectaculares quanto os credores queriam ver e tão demagógicas quanto ao povo apetecia.
Mas a mentira não pode eternizar-se e o «encantador de Senhoras» foi finalmente substituído por um triste insignificante de pastinha à cobrador de quotas de clube desportivo que, sem luzes nem ribaltas, passou a fazer o trabalho de casa contando os tostões e somando em vez de sumindo.
Resultado? Varoufakis foi à vida e anda agora a criar um Partido Pan-europeu enquanto o desgraçado Euclid Tsakalotos tenta repor alguma verdade nas contas públicas gregas. Mas não será com uma varinha de condão, não. O processo de emagrecimento das velhas mentiras sucessivas tem que ser progressivo de modo a não criar mais tensões sociais e, mesmo assim, lá vai dando um bom-bom ou outro de modo a que a Praça Sintagma não volte a ver mais cenas lancinantes como as da transição de 2015.
Crise? É claro que sim, ela existe. Mas disfarçada pela maquilhagem que os credores continuam a financiar.
À euforia seguir-se-ia a melancolia mas nós, os turistas, somos o verdadeiro anti depressivo de que a Grécia tanto precisava. E, pelo que vi, somos um fortíssimo remédio.
Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca