Coimbra estimava Trindade Salgueiro como alguma coisa de muito seu. Não era apenas o meio eclesiástico que o considerava uma glória da Igreja; era também o ambiente universitário – alunos e professores – entre os quais ele criara prestígio e simpatia e até a própria Cidade, sempre orgulhosa dos valores que nela florescem e se afirmam.
Todos receavam que cedo ou tarde lho viessem «roubar». Anos antes, a Cidade vira partir com mágoa para Lisboa, a ocupar o lugar de Arcebispo de Mitilene, outro Professor da Faculdade de Letras, que, em período em que não era fácil aos católicos e muito menos aos sacerdotes o acesso ao ensino universitário, conquistara pelo seu talento uma posição de relevo dentro da velha Universidade. Esta, que lamentara a sua ausência sentia-se agora honrada ao ver o seu antigo Mestre ascender a outra cátedra – a cátedra episcopal do Patriarcado de Lisboa e receber das mãos de Pio XI o barrete cardinalício.
Os olhos punham-se agora em Trindade Salgueiro.
O Bispo Conde, Coelho da Silva, quase espreitava as saídas do seu eminente colaborador, recoso, ele mais do que ninguém, de nova sangria no corpo depauperado de uma Diocese onde não abundavam os valores do quilate dele.
Todos os dias de manhã, após a aula no Seminário, Trindade Salgueiro passava pelo gabinete de trabalho do velho Prelado, que disso fazia questão. Pelas suas múltiplas relações, pela aceitação de que gozava em todos os meios, pela clarividência dos seus juízos, pela sensibilidade e zelo por tudo quanto constituísse serviço e prestígio da Igreja, Trindade Salgueiro, embora não desempenhasse propriamente cargos de governo na Diocese, revelava-se um instrumento precioso para esse efeito. Era uma espécie de jornal diário, ampla e prudentemente informado, que o Bispo utilizava para o desempenho do seu múnus.
Mas, se ele prestava um auxílio, não deixava, em compensação, de enriquecer o seu espírito neste diálogo quotidiano em que, com a espontaneidade que lhe era característica, o Prelado de Coimbra vazava a sua própria alma. E deste modo, a Providência o ia preparando para aquilo que desde há muito se esperava. No dia 26 de Novembro de 1940, a notícia da sua nomeação para Auxiliar do Patriarca de Lisboa e Bispo da Acção Católica, correu o País de lés a lés.
Coimbra não ficou contente. O júbilo pela honra de que era objecto um filho seu foi superado pela tristeza de perdê-lo. Alguém, em gesto de sentida e sincera amizade, teve ainda a veleidade de procurar assinaturas que, apresentadas a quem de direito, pudessem sustar a saída. Era desconhecer o modo de proceder da Santa Sé nesta matéria. O gesto ficava, porém, como o testemunho de amizade e de admiração de uma Diocese que via partir o Sacerdote mais prestigioso e mais qualificado.
Desde o dia 24 de Fevereiro de 1941, em que, na Catedral de Lisboa, Sua Eminência o Cardeal Patriarca o ungiu como seu Auxiliar com a Ordem do Episcopado, até 20 de Maio de 1955, em que a Santa Sé o foi buscar para governar esta gloriosa Arquidiocese de Évora, a vida de D. Manuel Trindade Salgueiro foi uma doação à Igreja – a continuação, agora em plano mais alto, da doação que vinha fazendo de si desde o dia da ordenação sacerdotal.
Ser Bispo não é posição cómoda nem fácil. Um homem inteligente só a aceitará como um serviço. A Igreja não a impõe a ninguém, mas propõe-na de tal maneira que um cristão, que tem consciência da sua responsabilidade e não quer cometer o pecado da cobardia, não encontra, por fim, outro caminho senão aceitar. Sabe que desde esse dia fez o sacrifício do que lhe restava ainda da sua liberdade e começa a fazer a aprendizagem (se é que a não havia feito antes) da única ciência que se não aprende dos livros: a ciência do sofrimento. É do Evangelho: quando pela boca da mãe, Tiago e João pediram ao Senhor um lugar junto d’Ele, no exame a que Jesus os sujeitou fez-lhes apenas uma pergunta: Sois capazes de sofrer? – Pela vida fora, com certeza, se lembraram algumas vezes da pressa e da ingenuidade com que haviam respondido: «Somos». A distância, porém, que vai da afirmação teórica à prática diária, só a experiência – uma dolorosa experiência – é capaz de medir.
É certo que o Bispo não tem o monopólio nem o exclusivo da cruz. Muitas outras vidas a experimentam também. Porém, a peculiaridade do Bispo é fazer das dores dos outros, dores suas; de carregar conjuntamente com as suas penas e pecados as penas e os pecados dos outros. Só depois de ser Bispo é que compreendi o sentido, para mim antes enigmático, da invocação com que todos os dias nos preparamos para a Missa: Senhor, liberta-me dos meus pecados próprios e perdoa ao teu servo os pecados alheios.
Que o homem tenha obrigação de pedir perdão pelas suas faltas pessoais, compreende-se; mas que deva sentir-se responsável pelos pecados dos outros, esse é o mistério da vida do Sacerdote. Esse é o mistério também – e por excelência – da paixão redentora de Jesus. Ser Bispo é entrar no mistério desta solidariedade que em Cristo, o único inocente, encontra a sua fonte e a sua mais elevada realização.
Disse há pouco que não é fácil a posição do Bispo. Muito menos é fácil a do Bispo da Acção Católica.
A Acção Católica é hoje um grande movimento da Igreja em Portugal. Alguém que tinha especial competência para o afirmar, disse um dia que nunca os católicos portugueses tinham tido organização que se lhe pudesse comparar em orgânica, em disciplina e em número de associados.
Mesmo os que ficam de fora e por qualquer circunstância não aderem ou não correspondem ao apelo do Papa ou dos Bispos, ou trabalham noutros movimentos de apostolado, também eles abençoados pela Igreja, são atingidos pelo clima que a Acção Católica fez nascer.
Manuel Trindade Salgueiro deu-se ao movimento de todo o coração. Durante 14 anos, ele foi o centro polarizador de uma actividade de múltiplos aspectos que atingiu e continua a atingir a Nação inteira e que o Decreto sobre o Apostolado dos Leigos, aprovado na última Sessão Conciliar, acaba de sancionar com a sua autoridade de supremo órgão do Magistério.
A toda a parte D. Manuel Trindade Salgueiro levou a sua palavra vibrante e eloquente. Seguiu de perto a organização, presidiu a congressos, a reuniões nacionais de assistência eclesiástica, a encontros de adultos ou de jovens de ambos os sexos, escreveu sem se cansar em jornais e revistas, procurando orientar, esclarecer, animar ou mesmo acordar os que dormiam ou se deixavam adormecer; redigiu relatórios minuciosos para apresentar na Conferência dos Bispos, organizou quadros de assistentes gerais e nacionais e para isso pediu, quase mendigou, a cedência de sacerdotes a Bispos deles carecidos para os serviços diocesanos. Aguentou embates, sofreu contradições… Sinto que o elenco não fica completo. Mas devo acrescentar ainda uma palavra: fez tudo isto com todo o seu ser - a inteligência, a vontade, os nervos e o coração! O coração! Este é que havia de acabar por ser a vítima de uma actividade que era vivida com a alma toda; mas a alma encontrava reflexos no débil instrumento que a servia.
Em Março de 1955 D. Manuel Mendes da Conceição Santos, o santo e apostólico Arcebispo de Évora, entregava a sua bela alma a Deus. Dois meses depois era nomeado para lhe suceder o já então Arcebispo de Mitilene, D. Manuel Trindade Salgueiro.
Novo caminho se abria agora diante dos seus passos. Não era já o trabalho especializado da orientação superior do movimento da Acção Católica; era o governo de uma Arquidiocese de gloriosas tradições culturais e apostólicas mas, ao mesmo tempo, a mais vasta e a mais dispersa das Dioceses de Portugal.
Pesava-lhe agora sobre os ombros, nas suas múltiplas facetas, o serviço de uma Igreja.
E o novo Arcebispo de Évora serviu. Serviu com o estilo que lhe era próprio, o que era o resultado da vida que vivera em Coimbra e depois continuara em Lisboa.
A vasta arquidiocese foi percorrida de lés a lés em Missões, que procuraram acordar a fé adormecida. Sempre que podia – e às vezes mesmo sem poder – lá estava a animar com a sua presença as actividades missionárias, o Senhor Arcebispo. Designadamente neste trabalho muito o ajudou o seu zeloso Auxiliar, há pouco nomeado pela Santa Sé Bispo Coadjutor do Timor português.
As Missões, porém, seriam fogo de palha, lampejo passageiro levantado por uma lufada de vento se, para garantir a continuidade da acção religiosa, não criassem os quadros necessários.
O antigo Presidente da Junta Central manteve em Évora a fé que tinha na Acção Católica, quando seu primeiro responsável em Lisboa. Multiplicaram-se por isso os cursos arquidiocesanos e regionais para os vários ramos, realizaram-se reuniões de assistentes e outras iniciativas destinadas a vitalizar a instituição.
Quando surgiu o inspirado movimento dos Cursos de Cristandade, que tamanha projecção está tomando nesta Arquidiocese e no País inteiro, D. Manuel Trindade Salgueiro acompanhou-o com solicitude, compreensão e entusiasmo.
O Senhor Arcebispo de Évora estava, porém, convencido – como o estão, sem dúvida, todos os seus Colegas no Episcopado – de que todo o seu trabalho seria limitado e praticamente inútil se não tivesse a trabalhar com ele, numa colaboração generosa, alegre e desinteressada, o clero da sua Arquidiocese.
É aqui que está o segredo do sucesso ou do insucesso da acção de um Bispo. Sem o Bispo, o clero assemelha-se a uma amálgama de órgãos dispersos, uma espécie de membros sem tronco nem cabeça. Mas Bispo, sem padres – sem padres que façam da sua vida um serviço alegre e generoso – é como um tronco sem membros. Ainda então a vida pode continuar a existir nos seus elementos essenciais (é possível a vida de um homem sem braço nem pernas), mas a irradiação será limitada e a actividade diminuta.
Daí o carinho com que os Bispos procuram ter unidos a si os seus padres e a dor que sentem quando porventura algum ser transvia ou por qualquer razão (somos todos tão frágeis!) não corresponde ao que a Igreja dele espera. O coração do Bispo sente-se dilacerado entre as necessidades do bem-comum que exigem firmeza na guarda da disciplina e a natural inclinação para compreender, perdoar e esquecer.
Sinto que ao dizer estas palavras, mais do que a própria experiência, que é curta, estou a reproduzir a experiência do Senhor Arcebispo de Évora, o qual em conversa íntima, muitas vezes repetida, não ocultava a amizade, o carinho e mesmo a veneração que tinha pelos seus Padres.
Esse mesmo carinho e solicitude estendia ele aos candidatos ao Sacerdócio, que nos Seminários Arquidiocesanos de Vila Viçosa e Évora se preparam para a grande e delicada missão que os espera.
Aos Seminários dedicou D. Manuel Trindade Salgueiro o melhor da sua atenção. Para eles mendigou o pão de que eles estão carecidos para poderem sustentar os seus alunos. Ao seu aperfeiçoamento e actualização não poupou sacrifícios e caminhadas. A morte veio colhê-lo, quando ainda há pouco havia iniciado uma ampla remodelação num dos edifícios que nesta cidade se destinam à formação dos candidatos ao sacerdócio.
Ao lado de D. Manuel da Conceição Santos, D. Manuel Trindade Salgueiro é credor da gratidão da Cidade e da Arquidiocese de Évora.
Devo pôr ponto final às pinceladas deste perfil.
Se quisesse compendiar tudo quanto disse e das palavras proferidas reter uma que fosse definitiva, diria que toda a vida de D. Manuel Trindade Salgueiro se resume em servir.
Serviu a Igreja com fé e devoção. Por ela esgotou os nervos e arrasou o coração. As palavras de comedimento e os conselhos de prudência que lhe vinham daqui e dalém não encontravam eco na sua alma apaixonada. Ele julgava um roubo ou uma cobardia furtar-se ao trabalho.
Disse que serviu a Igreja mas serviu a Pátria também.
As alegrias da Pátria foram alegrias suas; as tristezas e dores da Pátria ajudaram a rasgar-lhe as fibras do coração.
Não foi um político no sentido vulgar do termo. Não era essa a sua missão como sacerdote e como Bispo. Mas nem por isso a sua actividade de pastor deixou de ser benéfica para a pacificação e engrandecimento de Portugal.
Em livro recente – L’Oraison, problème politique – um célebre autor francês, perito do Concílio, procurou com muita lucidez demonstrar que a oração, isto é, a vida espiritual e religiosa, constitui elemento essencial do homem e consequentemente da comunidade política. Uma cidade sem igrejas é tão desumana como uma cidade sem instrumentos de trabalho.
O grande mérito de D. Manuel Trindade Salgueiro consistiu em, ao longo da vida, como escritor, mestre, sacerdote e Bispo, ter procurado acordar os homens para esta vida do espírito, sem a qual todo o trabalho da civilização corre o risco de ser um regresso à barbárie.
Como Agostinho de Hipona – ao qual em tantos traços se assemelhou – o seu esforço foi o de ajudar a construir na terra a Cidade de Deus.
Manuel Trindade Salgueiro foi um modelo de homem, de intelectual, de sacerdote e de Bispo.
Homem dotado de qualidades invulgares de carácter, de inteligência e de sensibilidade, acordava facilmente nos homens com os quais contactava, mesmo que não comungassem do fervor da sua fé religiosa, a sintonia do coração.
Nítida vocação de intelectual, foi um contemplativo da verdade, que ele procurou repartir com os outros, no magistério da palavra e da pena, no seminário, na cátedra universitária, no púlpito da sua catedral.
Sacerdote e Bispo, dominava-o a paixão de levar os homens a Deus. Em papel que traz a sua inspiração escreveu ele esta palavra de S. Francisco de Sales: Senhor, que eu aproxime de Vós todos aqueles que se aproximam de mim.
Um homem de tal robustez espiritual, a morte não o vence. As suas virtudes e o seu talento falam dele para além da morte.
Este homem, dotado de tão fina sensibilidade, foi também, no mais amplo significado do termo, um intelectual. Para quem o conhecesse de perto não seria, aliás, fácil descobrir qual das faculdades alcançava nele o predomínio: se a cabeça, se o coração. Em todo o caso a vocação intelectual deixou nele bem gravada a sua marca.
Cedo se revelou o seu amor ao estudo e a capacidade de aprender.
Pena seria se um talento, que se apresentava tão promissor, houvesse de ficar desaproveitado, como certas pedras preciosas que nunca chegam a espelhar o seu brilho por falta de lapidador idóneo, capaz de facetá-las. O que salva muitas vezes estes valores escondidos é a ambição – feliz e santa ambição! – de uma mãe que deseja para os seus filhos uma situação que ela porventura não teve. As mães são capazes de sacrifícios sem peso nem medida.
O exemplo vem já do Evangelho na pessoa da mãe de Tiago e de João: «Senhor, fazei com que estes dois meus filhos se sentem um à Vossa direita, outro à Vossa esquerda, quando se instaurar o Vosso reino».
A Providência serve-se destas preocupações, às vezes demasiado terrestres, para encaminhar os homens e as coisas para os seus fins altíssimos. Ela se encarregará, através das purificações do sofrimento – o «cálix» de que Jesus falou, em resposta, à mulher de Zebedeu – de dar o verdadeiro sentido ao fruto de um desejo materno.
Nesse já longínquo ano de 1911, em que o jovem Trindade Salgueiro terminou o curso de instrução primária, não consta que estivesse muito vulgarizada a instituição de bolsas de estudo, como acontece hoje por toda a parte, para permitir a ascensão de valores que, doutro modo, jamais se revelariam. Nessa altura, se isso acontecia, era por excepção. A Mãe, a qual não desejava ter um filho que viesse a morrer de naufrágio, como havia morrido o marido pescador, teve de suportar as consequências da sua generosa ambição. No testamento espiritual em que o Arcebispo de Évora espelhou a sua alma, há uma discreta alusão a esses primeiros anos em que, para o seu «Menino» ter uma posição na vida, muito trabalhou e sofreu a pobre Mãe.
Em Outubro de 1914, depois de ter concluído o 3.º ano no liceu de Aveiro, Trindade Salgueiro entrou no Seminário de Coimbra.
Havia completado, dias antes, 16 anos de idade. Não se podia dizer que fosse uma vocação tardia, mas já não era uma vocação de infância. Decidia-se a iniciar a vida eclesiástica precisamente na idade mais difícil – a idade em que os jovens começam a desabrochar para a vida afectiva e a deixar-se tocar pelo encanto e pela sedução do amor humano.
E decidia-se também numa época da vida da Igreja em que esta não prometia vida fácil a quem quisesse servi-la.
A Diocese de Coimbra, que nessa altura estendia a sua jurisdição até ao Vouga, englobando dentro do seu território a cidade de Aveiro e a populosa vila de Ílhavo, encontrava-se na situação de sede vacante. O bispo Bastos Pina, velho roble gigantesco, acabara por ceder ao peso dos anos e das desagradáveis surpresas que trouxera a mudança do regime. Era uma hora amarga aquela que atravessava a igreja em Portugal. A Lei da Separação, entre outras arbitrariedades cometidas, mandara encerrar todos os Seminários Menores. Dos Maiores a Lei apenas permitia que cinco continuassem abertos: deviam, porém considerar-se a funcionar em casa alheia, da qual haviam consequentemente de pagar renda, pois o Estado tinha confiscado em benefício seu a propriedade deles.
Muitos pais, que antes da proclamação do novo regime tinham incitado – nem sempre porventura com recta intenção – os seus filhos a seguirem a carreira eclesiástica, agora, perante os vexames e o cerceamento das legítimas liberdades a que eram sujeitos os católicos em geral e o clero em particular, tiveram medo.
O Seminário de Coimbra contava em 1910 mais de duas centenas de alunos; pouco tempo depois, via reduzido para 35 o número dos candidatos ao sacerdócio.
Antes de 1910 ninguém teria cometido a ousadia de pensar que fosse possível em Portugal uma Igreja livre, a qual, para ocorrer às suas necessidades, houvesse apenas de viver da generosidade dos fiéis. O meio século já decorrido é a demonstração de que é possível não só a existência de uma Igreja livre, num clima de mútuo respeito perante o Estado, mas também de uma Igreja viva e renovada.
Profetas da desgraça, porém, fora e dentro do País, auguravam para a Igreja, senão o desaparecimento, pelo menos um declínio fatal. Quem havia de nos dizer que, cinquenta anos depois, um Sucessor de Pio X havia de atravessar o Atlântico para, a convite das Nações Unidas, dirigir, da sede destas, a todos os povos não uma simples mensagem de paz, mas um autêntico código que regule a convivência pacífica entre as Nações?
Poucos seriam capazes destas previsões em Outubro de 1914, quando o jovem Trindade Salgueiro entrou no Seminário de Coimbra para seguir a carreira eclesiástica. Ser padre, quando tantos, receosos do futuro, renunciavam a sê-lo abandonando o Seminário, terá parecido uma loucura. Quem sabe se não terá sido precisamente esse espectáculo de abandono e o rosto da Igreja desfigurado pela perseguição, que acordou a vocação sacerdotal de Trindade Salgueiro, como a de alguns outros heróis de há cinquenta anos?
No ano seguinte tomava posse da Diocese o sucessor de Basto Pina. Era um antigo aluno da Faculdade de Direito de Coimbra, Governador do Bispado do Porto durante o exílio de D. António Barroso. Chamava-se D. Manuel Luís Coelho da Silva. Não é sem comoção que pronuncio este nome. Ele suscita no meu espírito um movimento de ternura e de gratidão. Conheci-o já no declínio da vida. O homem enérgico, que afrontou com indómita coragem inúmeras dificuldades, era nesta altura um leão moribundo. Quando a vida dele se finava, a minha apenas desabrochava.
Trindade Salgueiro encontrava-se na geração do meio: aquela que pôde colher a lição do ínclito Prelado e transmiti-la, aureolada de admiração e respeito, àqueles que vieram depois.
Seria difícil dizer até onde a sua alma ficou marcada pela impressão digital da grande personalidade do bispo Coelho da Silva. Frequentes vezes, em conversa particular ou em discurso público, lhe vinha à mente a lição da vida e os nobres exemplos do Bispo de Coimbra, tão fortemente a sua figura lhe tinha ficado gravada no coração.
Depois da primeira Grande Guerra, a Alsácia voltou à posse da França. O governo francês deu-se pressa em restaurar as antigas faculdades de Teologia de Estrasburgo. Para atrair escolares, ofereceu bolsas de estudo a alunos estrangeiros. Trindade Salgueiro, ordenado sacerdote em 1921, foi indigitado pelo seu Prelado para concorrer a uma dessas bolsas. No Outono de 1922 o jovem presbítero atravessou pela primeira vez a fronteira do País para começar os estudos superiores naquela cidade da beira do Reno. Aí alargou a sua cultura e a sua experiência humana.
Então, como agora, havia em Estrasburgo duas Faculdades de Teologia: uma católica, outra protestante. Estava-se nessa altura ainda longe do espírito ecuménico que havia de soprar sobretudo a partir da segunda Guerra Mundial. A Teologia revestia um aspecto polémico e apologético. Dentro dessa orientação, a Escola de Estrasburgo tornava-se notável principalmente pelos estudos de Teologia positiva e de investigação histórica. A ela pertenciam grandes figuras de teólogos que Trindade Salgueiro recordava sempre com veneração e carinho. Muitos deles eram colaboradores desse monumento de ciência teológica, honra da cultura católica francesa: o Dictionnaire de Théologie Catholique. Bastaria lembrar, além do nome de Mr. Amann que depois de Vaccant e Mangenot assumiu a direcção da enciclopédia e a levou a termo, os dos professores Gaudel e Rivière, para só citar aqueles de quem mais vezes lhe ouvi falar.
Foi nessa linha de investigação histórica que Trindade Salgueiro se deixou orientar durante o tempo dos seus estudos em Estrasburgo. O Título da tese de doutoramento fala por si: «La doctrine de Saint Augustin sur la grâce d’aprè le Traité à Simplicien».
A passagem pela França deixou marca indelével no espírito do jovem estudante. Desde então Trindade Salgueiro nunca mais deixou de ser um frequentador apaixonado dos livros franceses. Muitos nomes de autores de além Pirenéus, alguns deles já hoje suplantados por outros de brilho mais intenso ou simplesmente mais recente, aprendemo-los nós, os que passámos pelo Seminário de Coimbra na geração seguinte, da boca de Trindade Salgueiro: René Bazin, Paul Bourget, Paul Claudel, os Padres Gratry e Sertillange, Jacques Maritain, Henry Bergson, para só falar nalguns.
A frequência dos autores franceses, mais claros embora nem sempre tão profundos como os de língua alemã, contribuiu para um estilo de pensamento e de arrumação de ideias que era característica do espírito de Trindade Salgueiro. Os seus escritos, sempre bem esquematizados, límpidos e ordenados, a que não faltava às vezes uma pontinha de ironia queiroziana, revelava a ordem de um pensamento em que predominava o método da análise e da dedução. Por alguma coisa o seu espírito se tinha formado na prática de Descartes.
Trindade Salgueiro era uma vocação nítida de intelectual – não do erudito dado simplesmente à investigação, mas do homem que investiga para ensinar, que reflecte para transmitir. Disso deu ele sobeja prova durante o magistério exercido, com tanto brilho, no Seminário diocesano e, mais tarde, na Faculdade de Letras de Coimbra.
Alguém lamentará porventura que a este homem, tão amplamente dotado, não tenha disso possível deixar uma obra escrita à altura do seu talento. Esse, talvez esqueça que Trindade Salgueiro se ordenou primariamente para servir a Igreja e o serviço da Igreja obriga muitas vezes a renúncias dolorosas.
A cidade de Coimbra, pela presença ali da Universidade e especialmente dos jovens que a frequentam, oferece um vasto campo de apostolado. Rapazes e raparigas buscam o sacerdote a fim de encontrar nele a luz e a ajuda para os problemas da inteligência ou as dificuldades do coração.
Os serviços da Diocese, o magistério do Seminário, as obras de apostolado, requerem quem delas se ocupe e lhes garanta a existência e a eficácia.
Quem se ordenou para servir a Igreja, em época em que os apóstolos não abundam, sentirá pena de não poder consagrar mais tempo ao estudo, mas não pode deixar de prestar os trabalhos que lhe são pedidos ou de atender as almas que o procuram.
Esta divisão interior deve ter torturado a alma de Trindade Salgueiro, obrigado pelas circunstâncias de uma Diocese que se refazia a ter de multiplicar-se e de dispensar-se. Essa renúncia não será hoje o seu menor mérito junto de Deus.
Diz-se que Francisco Soares, que também foi professor de Coimbra, pesando antecipadamente a sua vasta obra na balança do juízo final, estaria disposto a trocá-la por um simples acto de amor de Deus. Quantos actos de amor de Deus e do próximo terá praticado D. Manuel Trindade Salgueiro durante os quinze anos em que exerceu o magistério no Seminário diocesano e na Faculdade de Letras, pregou semanalmente no púlpito da Sé Nova, escreveu o artigo do fundo do jornal «Correio de Coimbra», prestou assistência eclesiástica aos estudantes do C. A. D. C. e às raparigas universitárias – em tudo, instrumento dócil nas mãos do seu Prelado?…
Manuel Trindade Salgueiro foi um homem de Ílhavo. Dizer que foi um homem de Ílhavo é dizer que foi um homem que trazia o mar no coração e nas veias. Se se encostasse o ouvido ao seu peito, talvez se ouvisse dentro dele, como acontece aos búzios, o murmúrio das ondas.
Os homens de Ílhavo têm a vocação do Oceano. A sua terra é o mar. Ali vivem, ali trabalham e ali morrem também. Mais do que o lavrador, o seu destino está pendente do incerto e do imprevisto. Quando saem para o mar, acompanha-os sempre a dúvida do regresso. Talvez esteja aí a razão por que são tão profundamente religiosos. O Senhor dos Navegantes podia ali ser invocado antes mesmo de Ílhavo ser terra cristã. Junto dos altares da igreja paroquial há sempre luzes acesas em sinal de prece pelos que andam no mar, e as paredes da igreja e das capelas cobrir-se-iam facilmente de ex-votos de promessas feitas por homens em perigo, ou pelas mulheres e filhas deles que ficaram em terra à espera de eles voltarem.
Nem sempre as preces são atendidas. Há lâmpadas que parecem arder inutilmente. Há orações que se assemelham às pérolas perdidas no fundo dos Oceanos e parece não servirem a ninguém. Esse é um mistério cuja solução se encontra escondida no coração de Deus. As almas simples aceitam-no com resignação. A fé dá-lhes a resposta antecipada daquilo que não conseguem por ora compreender.
Manuel Trindade Salgueiro era filho de um homem do mar – de um homem que perdeu a vida no mar. Nos cemitérios das outras terras, pelas lápides sepulcrais pode refazer-se a história das gerações. Os filhos podem ajoelhar-se junto das jazidas dos pais: o pó das sepulturas é feito da carne dos seus maiores. Em terra de pescadores, porém o cemitério dos homens é, muitas vezes, o mar.
Um homem do mar, que perdeu o pai no mar, sente no marulhar das ondas o que os outros descobrem na brancura das campas ou na silhueta esguia e recolhida dos ciprestes. Talvez esteja nisso a razão por que D. Manuel Trindade Salgueiro gostava tanto do mar. Quando voltava a Ílhavo o seu passeio predilecto era até junto do amurada da Barra, em frente do Oceano, por onde todos os dias entram e saem os barcos que andam na faina da pesca.
O homem de Ílhavo tem um modo de ser especial. Senhor absoluto e plenamente à vontade dentro do barco, sente-se estranho em terra. A terra é o domínio da mulher. É ela que governa o dinheiro, que matricula os filhos na escola, que trata do baptizado ou dos papéis do casamento. Em terra o homem sente um complexo de inferioridade, ou, quem sabe, de superioridade, como se valessem pouco as coisas da terra, comparadas com aquelas, mais importantes, que ele vive em cima das ondas.
Tenho pensado no que teria sido aquela criança, órfã de pai desde os mais tenros anos, se, em vez do pai, lhe tivesse faltado a mãe. Em Ílhavo esta circunstância reveste um significado especial.
Conheci a Mãe de D. Manuel Trindade Salgueiro. Nessa altura já tinham passado as agruras e os apertos de uma vida pobre, que, para se manter com dignidade, teve de suportar sacrifícios e humilhações.
Quem nasceu de uma família rica ou mesmo remediada não é capaz de imaginar quanto é pesada a vida dos que nasceram privados de tudo. Um padre contemporâneo em Coimbra de D. Manuel Trindade Salgueiro, o Dr. Luís Lopes de Melo, que tão profunda influência havia de exercer na mocidade académica coimbrã, dizia em certa ocasião aos vicentinos: «Eu dou graças a Deus por ter nascido e crescido no meio do povo e nessa escola de pobreza e de trabalho. Devo à memória daqueles que me geraram esta palavra de gratidão. Vi-os sofrer, vi-os chorar, vi-os passar toda a espécie de privações para que o seu filho fosse crescendo numa posição social que eles não tinham».
Trindade Salgueiro podia fazer suas as palavras de Lopes de Melo – apenas com uma diferença: é que os sacrifícios que, no caso deste, eram partilhados pelo pai e pela mãe, no caso de Trindade Salgueiro recaíam apenas sobre os ombros débeis da Mãe.
Foram esses sacrifícios e essas angústias vividas pela Mãe e presenciadas pelo filho – e de que ele sabia ser o objecto e o motivo – que soldaram as duas vidas para sempre. A quantos filhos, que não estimam suficientemente os pais, teria sido útil uma experiência assim! É uma das facetas mais belas da personalidade deste homem, que foi um gigante do espírito, a ternura e o carinho que ele teve pela Mãe. Também a pobreza tem neste mundo as suas compensações.
Os homens, que encontram na vida uma mulher que lhes cativa o coração e com o qual constituíram um lar, podem continuar a amar a própria mãe e guardar para ela um cantinho no coração, onde se refugiam nas horas em que têm saudades de quando eram pequenos. Mas o amor da mãe tem ressonâncias inéditas no coração de um padre, que por vocação renunciou ao amor humano, para se dar todo ao amor de Deus e do próximo. Santo Agostinho (que foi também um órfão de pai – aliás duplamente órfão, pois Patrício era pagão) e, mais perto de nós, S. João Bosco ou o Cardeal Mindszenty poderiam ajudar-nos a descobrir este mistério de amor sublimado que é o amor do padre pela sua mãe.
Mas este Bispo, que cultivou com ternura comovente o amor da Mãe, não se deixou enredar no exclusivismo esterilizante em que se deixam cair tantos homens mesmo quando o objecto do seu amor é a pessoa da própria mãe.
Manuel Trindade Salgueiro foi um homem que cultivou a amizade para além do âmbito das paredes domésticas. Ele suscitava-a pela sua simples presença, pela solicitude e pela bondade do coração. Não foi um homem feito para viver sozinho. Por muito religiosa que fosse a sua alma, ele não recebeu a vocação do monge. O monge é um separado do mundo, alguém que vive, já no tempo, a condição da eternidade. Não consigo imaginar um monge a ler interessadamente um jornal diário e a procurar nele a notícia de um luto para levar à família uma palavra de consolação, ou então as vicissitudes de uma discussão ou de um acontecimento. Trindade Salgueiro foi um homem imerso no tempo; melhor diria, um homem debruçado sobre o tempo, ávido de fazer descobrir aos homens, que ele foi encontrando pelo caminho, as certezas donde contemplava e amava os seus irmãos.
A sua amizade não consentia acepção de pessoas. Este aristocrata do espírito era capaz de se fazer estimar tanto de altos magistrados, de professores da Universidade ou de pessoas de estirpe, como de gente humilde – os vizinhos do prédio em que morou, os antigos companheiros da escola primária, do liceu ou do Seminário.
A ele recorriam muitos em suas aflições. As relações, que se lhe foram deparando ao longo da vida, jamais as aproveitou para benefício próprio. A ambição foi vírus que nunca circulou nas suas veias. Foi doutor, professor universitário, académico, bispo sem nunca o ter desejado nem porventura suspeitado. Tudo isto lhe aconteceu, por desígnios de Deus ou justa estima dos homens, mas nunca porque o quisesse, ou tivesse dado um passo para isso. Mais do que a honra, que o vulgo aprecia e em que facilmente se fixa, ele via a responsabilidade e o serviço.
Procurei desenhar o perfil do homem.
Se agora quisesse encontrar uma palavra para definir esta fisionomia tão pouco vulgar nos traços físicos como nas características morais, teria de recorrer a um vocábulo estrangeiro, por não ser fácil encontrar outro que evoque de igual modo todas as facetas deste homem excepcional. Chamar-lhe-ia um gentleman.
Foi-o na apresentação exterior, sempre impecável, cuidada mas sem afectação, nobre mas com simplicidade. Foi-o também no trato afável, simples, cordial; no dom de simpatia com que sabia sintonizar-se com quem o procurava, mesmo que não estivesse de acordo com as suas ideias ou os seus sentimentos.
Se a palavra não se prestasse a um significado profano, que está longe da minha intenção como estaria longe da realidade, seria caso de empregar aqui o termo «elegância». Elegância é sinónimo de ordem, de harmonia, de compostura.
Não creio que esta harmonia e elegância exterior fosse possível sem um governo interior, fruto de uma sensibilidade apurada, que lhe veio da herança materna, de uma inteligência luminosa e de uma educação doméstica que se foi aprimorando ao longo da sua vida, em múltiplos contactos, desde os bancos do liceu e do seminário à cátedra universitária e à missão episcopal.
Os requintes de educação que alguns homens têm a felicidade de encontrar, desde o início, no berço e na tradição familiar – e outros aí poderiam encontrar mas não encontram – adquiriu-os D. Manuel Trindade Salgueiro, em larga escala, por intuição e esforço próprio. Nisso está o seu mérito. Poder-se-ia dizer dele que foi um nobre de espírito, trazendo embora nas veias o sangue de um pescador.
(Presidiu o Cardeal Patriarca às exéquias solenes realizadas na Catedral de Évora)
Parte 1
Eminentíssimo e Rev.mo Senhor Cardeal Patriarca
Ex.mo Representante de Sua Ex.ª o Chefe do Estado e Governo
Ex.mos e Rev.mos Senhores Arcebispos e Bispos
Senhor Ministro e Senhores Secretários de Estado
Il.mos e Rev.mos Senhores Capitulares da Basílica Metropolitana
Ex.mas Autoridades
Rev.mos Senhores
Cristãos
Senhoras e Senhores
Defunctus adhuc loquitur.
O defunto ainda fala.
Estou a vê-lo. Alto, franzino, quase transparente. Tenho nos ouvidos o timbre da sua voz, a que o gesto nervoso e amplo mais vivacidade emprestava. Parece-me sentir ainda a cadência dos seus passos, que o faziam adivinhar ao longe. A frase de Pascal, que ele tantas vezes citou na vida: l’homme c’est un roseau…o homem é uma cana, mas uma cana que pensa, quase se lhe poderia aplicar à letra. A encimar aquele corpo débil, que uma aragem faria vergar, havia uma cabeça – uma bela e inconfundível cabeça. Ela era o espelho da sua personalidade: testa ampla, emoldurada por madeixas de cabelos, que o tempo embranquecera; olhos fundos, que tanto eram capazes de um olhar de enternecimento e doçura, como de um brilho de indignação ou da mística fixidez de alguém que contempla o Absoluto. Face cavada de sulcos profundos, cuja mobilidade permitia o gesto do rosto, a completar aquele com que todo o seu ser físico comentava a palavra, que lhe saía dos lábios.
Ao vê-lo, muitas vezes me veio à lembrança a figura de Santo Agostinho ou então, mais perto de nós, o retrato do Cardeal Newman.
A cana vergou-se à impetuosidade do vento. Vergou-se e acabou por partir-se. Não foi o peso dos anos; foi a intensidade da vida.
Correram lágrimas em muitos rostos ao ver desaparecer o Pastor da Diocese e o Amigo querido. Raras vezes em Portugal a morte de alguém terá provocado, ao perto e ao longe, um coro tão unânime de gemidos e de saudade, como a morte de D. Manuel Trindade Salgueiro. Esse coro não se apagou ainda. Renova-se hoje, nesta Basílica Metropolitana, onde, durante dez anos, ele presidiu como Pontífice e ensinou como Pastor e Mestre.
Seja-me permitido que eu junte a esse coro também o preito da minha saudade pelo Mestre e pelo Amigo querido que, ao longo de mais de trinta anos, me distinguiu com a delicadeza da sua amizade e com as luzes da sua inteligência e do seu conselho.
As palavras que vou dizer trazia-as há muito gravadas no coração. Nunca lhas disse em vida, por um misto de receio e de pudor. Posso agora dizê-las, que os seus ouvidos já não ouvem nem os seus olhos, vivos e irónicos serão capazes de fazer calar a palavra do elogio e da gratidão. A gratidão agora tem o sentido de uma prece, e o elogio é feito mais por intenção dos vivos (a quem prestam os bons exemplos) do que por interesse do Morto, para quem todo o encómio proferido por lábios humanos se desvanece, perante a palavra do Senhor dirigida àqueles que bem O servem: Vem daí, servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor.