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A bem da Nação

LIDO COM INTERESSE – 74

 

 

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Título – EL MONARCA DE LAS SOMBRAS

Autor – Javier Cercas

Editor – LITERATURA RANDOM HOUSE, Lima, Peru

Edição – 1ª, Fevereiro de 2017

 

Foi numa das minhas passagens pelo aeroporto de Lima, capital do Peru, que comprei este livro julgando tratar-se de um novo escritor peruano. Não, é espanhol. Mas li-o na mesma e a literatura peruana fica para um dia, lá para a frente, em que outro bookiniste não me induza em erro. Entretanto, uma vez que o meu universo da literatura peruana se limita a Mário Vargas Llosa, acho que não tenho motivos de queixa que me obriguem a correr a trás de algum outro escritor peruano que, muito provavelmente, não chegará ao nível deste que já conheço. Eis por que me aconselho calma na busca que farei.

 

Quanto a este que agora acabei de ler, Javier Cercas, é claramente um bom contador de histórias e prendeu-me desde o início até ao fim. Mas, mais do que a história (que nos é apresentada como verdadeira), apreciei o estilo literário com formas de construção das frases que me encheram de curiosidade. Por exemplo, intercalando entre cada raciocínio a conjunção «e» (em castelhano, «y»), faz parágrafos quase duma página inteira sem que o leitor perca o fôlego. Mais: obriga-nos a seguir a sequência que nos quer contar com um ritmo que a divisão em diversos parágrafos poderia quebrar e distrair-nos. Garante, pois, uma unidade de escrita que, afinal, não cansa.

 

Fez-me lembrar o que se diz de Saramago que parece escrever sem pontuação. É o que me dizem pois nunca li – nem tenciono ler – escritos do pensador de Lanzarote.

 

Outra curiosidade: Cercas intercala, entre aspas, diversas frases em discurso directo num parágrafo em discurso indirecto. E quando ficamos à espera duma grande confusão, damos por nós a constatar que, afinal, é uma escrita limpa.

 

Forma muito interessante, lê-se bem.

 

No que se refere ao conteúdo, a história é sobre a guerra civil de Espanha, a de 1936-39 e o personagem central é tio-avô (materno) do autor. Tudo começa num lugarejo perto de Trujillo, ali pouco depois da nossa Elvas e metade do livro é o autor – politicamente conotado com a esquerda ou, pelo menos, com a não-direita - a procurar uma justificação para escrever um livro sobre esse tio-avô que lutou nas tropas franquistas.

 

Livro sem a mais pequena ponta de «suspense» (desde o início que sabemos como a história acaba), dá para perceber as motivações de uns e outros na sociedade quase hermética de um «pueblito extremeño» durante os prolegómenos da que viria a ser uma das maiores matanças de espanhóis. E histórica e sociologicamente, é esta a grande virtude deste livro.

 

Li a versão original, castelhana, mas a tradução portuguesa chegou agora às nossas bancas.

 

Para acabar, uma breve referência ao autor, Javier Cercas, que nasceu em Ibahernando em 1962, é professor de literatura espanhola na Universidade de Girona e tem no seu curriculum de escritor várias obras editadas e traduzidas.

 

Outubro de 2017

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Henrique Salles da Fonseca

PERU – 12

 

CUSCO

 

No final da crónica anterior aprazei para agora um relato sobre a nossa visita a Cusco mas, pensando um pouco mais, acho que os meus leitores ficam muito mais esclarecidos se forem à Internet e procurarem informação sobre essa cidade. Para já, sugiro que vejam em https://pt.wikipedia.org/wiki/Cusco e logo de início vão ver que o nome da cidade, em língua quéchua, significa «o umbigo do mundo». Confesso que já li descrições mais agradáveis como por exemplo, a «cidade das luzes» relativamente a Paris, uma outra qualquer a que chamam «a pérola do Adriático», etc. Mas umbigo… ná!

 

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Sim, tem história que basta para encher um livro ou dois mas estejam tranquilos que não vos maço com isso. Maço-vos com outras coisas. Por exemplo…

 

… por exemplo com algo que consciencializei em Cusco mas de que ninguém me falou: a dicotomia étnica da sociedade peruana. Sim, há nitidamente dois Perus, o nativo - tanto genuíno como misto – e o de «pura raza española». O nacionalismo peruano é quéchua (e das demais etnias indígenas que erradamente misturo por completo numa só), seja ele puro ou misto; os «espanhóis» estão lá para ganhar dinheiro sem beliscarem a pele. Digo eu, mas sinto que estou a generalizar demais. O leitor dará um desconto a seu bel critério.

 

E porquê em Cusco? Porque esta é a capital do Império do Inca, não Machu Picchu que era apenas um local de contemplação religiosa (eis o grande templo ao Deus Sol) e de fuga das maldades profanas. A propósito, também de refúgio contra os espanhóis. E foi precisamente em Cusco que os invasores concentraram a sanha da sua maldade enquanto se limitaram a passar em frente pelo sopé da famosa montanha.

 

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E o nacionalismo peruano é em Cusco que se concentra enquanto em Lima são os «de pura raza española» que se pavoneiam.

 

Bastaria a militância «cusqueña» dos nossos guias turísticos para dissipar quaisquer dúvidas. Mas é um nacionalismo positivo a favor da cultura nativa, não contra quem quer que seja. E isso só lhes fica bem, acho eu.

 

Como já referi em crónica anterior, foi-nos apresentada com algum detalhe a mitologia inca - que tiveram o cuidado de não identificar como teologia. E a pergunta que se impunha era a de saber se continua a haver fiéis dessa religião. A resposta foi dúbia, falaram de sincretismo entre a religião tradicional e o cristianismo, disseram que sim e mais que também… e eu fiquei na mesma, sem saber nada de concreto. Quero, contudo, acreditar que os antigos rituais de sacrifícios animais já não se realizem e muito menos os humanos. Haverá hoje um ensino daquela religião numa base meramente cultural, sem fé.

 

E o que fazem por lá os «espanhóis»? Fazem política e ganham dinheiro.

 

Finalmente, como na música, esta viagem concluiu-se com um «da fine al capo» ou, mais prosaicamente, como a pescadinha de rabo na boca: voltámos a Lima, almoçámos num restaurante no Bairro San Borja e isso permitiu-nos melhorar substancialmente a ideia inicial sobre Lima que, afinal, também é uma bela cidade.

 

No dia seguinte, 6ª feira, 13 de Outubro, voámos de regresso à Europa sem solavancos nem outros azares.

 

Outubro de 2017

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 Henrique Salles da Fonseca

PERU – 11

 

VALE SAGRADO – MACHU PICCHU

 

Então, se em Puno estávamos a 3800 metros de altitude, vá de amarinhar pelas montanhas acima até que chegámos aos 4955. E o mais curioso é que não senti o mínimo incómodo. Parámos frente a mais uma montanha imponente que nos fazia esquecer a altitude a que já chegáramos e vai de reparar num riacho que passava por baixo da estrada em que estávamos estacionados e que ali mesmo se dividia em dois: um ramo virava para o vale que nós acabávamos de percorrer e o outro seguia pelo nosso caminho em frente. O que, relativamente ao nosso sentido de marcha, voltava para trás, tinha como destino desaguar no Titicaca; o que se nos adiantava, desaguaria lá longe, directamente, no Pacífico.

 

O local em que nos encontrávamos era, como já deu para perceber, a divisória de duas bacias hidrográficas: a do Titicaca e a de Cusco.

 

O ribeirinho das nossas arrecuas vagueava um pouco sem rei nem roque pelo vale que acabáramos de subir através de paisagens imponentes mas de pastoreio extensivo e agricultura escassa duma população relativamente empobrecida; o da frente, saía do nosso apeadeiro logo num caneirinho, todo pimpão. Logo ali à frente, surgiram uns edifícios rodeados de parques onde pastavam alguns lamas e qual não é o meu espanto quando leio um placard a anunciar o «Centro de Estudos Genéticos e de Melhoramento das Raças de Camelídeos» (lamas, alpacas e vicunhas) da Universidade de Cusco. Toma e embrulha! Para quem, como nós, acabava de percorrer uma região economicamente atrasada, aquela inesperada visão do novo vale, era francamente prometedora. E a promessa cumpriu-se.

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Assim foi que começámos a percorrer o vale a que os quéchuas desde sempre chamam «sagrado», tal a riqueza da agricultura, a democratização da propriedade, o bem-estar relativo que por ali se observa. E porquê? Porque, como já anotei, a gestão da água se faz desde a fonte e vai até muitos quilómetros além, onde o vale se transforma num canhão apenas transponível com alguma dificuldade no sopé de Machu Picchu.

 

O ex-libris por excelência do Peru é de acesso difícil. Propositadamente, claro! E, mesmo assim, o Inca não se livrou da grande desgraça espanhola que o assoberbou com o apelido Pizarro.

 

Depois de termos deixado o autocarro, passámos para duas carrinhas que nos transportaram ao fim do Vale Sagrado. Metemo-nos então numa luxuosa carruagem de um comboio que haveria de percorrer um canhão entre montanhas durante uma hora e meia, em paralelo com o rio Urubamba (o tal riacho que tínhamos visto nascer lá nos píncaros) para finalmente chegarmos à cidadezinha que, entre penhascos descomunais, se localiza no sopé do Monte Velho a que os quéchuas chamam Machu Picchu. Ao Monte Novo chamam os nativos Huayna Picchu e é esse que habitualmente aparece nas fotografias deixando o verdadeiro nas costas do fotógrafo.

 

Mas não vou estar aqui a descrever o que está muito bem apresentado na Internet, por exemplo, em https://pt.wikipedia.org/wiki/Machu_Picchu

 

 

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O mais fantástico de tudo é que todos os que estávamos exaustos, coxos, palpitantes e não sei mais quê, subimos por ali acima quase como se estivéssemos de visita à «Companhia das Lezírias», ali a seguir a Alcochete. Será esse o fascínio de Machu Picchu, o de reerguer os caídos e reanimar os moribundos? Talvez. O que sei é que amarinhei – por vezes agarrando-me sabe Deus onde – mas não me senti doente e apenas dei por mim salutarmente cansado.

E dali seguimos para Cusco…

 

Até amanhã.

 

Outubro de 2017

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 Henrique Salles da Fonseca

PERU – 10

 

LAGO TITICACA

 

Puno é o nome da cidade que parece uma favela brasileira sem as fachadas rebocadas e se enrola no extremo norte do Lago Titicaca, essa enorme massa de água doce abastecida por cerca de 25 rios que descem das neves andinas.

 

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Com uma área de cerca de 8400 km2, o lago é mesmo grande, situa-se a 3821 metros de altitude e divide-se entre o Peru (cerca de 2/3 da superfície) e a Bolívia (o resto).

 

Sugiro a quem quiser saber mais, que visite a Wikipédia, p. ex. em

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lago_Titicaca

 

Ficámos instalados num hotel magnífico – «El Libertador» - situado numa ilha a que se acede por uma pequena ponte a partir de Puno. A bem dizer, tendo lá chegado à noite, nem sequer notei a ponte e duvidei de que estivéssemos numa ilha. Mas estávamos. Disso me certifiquei na manhã seguinte quando nos dirigimos para o «vaporetto» que ali não recebe tal nome mas que me fez lembrar os dito cujos.

 

Tinham-nos dito que o lago é limpo e puro como uma noiva em dia de casamento mas, no ancoradoiro, a água fervilhava de reacções químicas variadas provocadas pela decomposição de… nem quero imaginar. Sei que uma das nossas companheiras de aventura tropeçou à entrada do barco, mergulhou uma perna no dito «caldo» e arranjou uma série de chatices na pele. Portanto, a noiva não é assim tão limpa e pura como nos quiseram fazer crer. Pelo menos, na zona do embarcadoiro.

 

E zarpámos rumo às famosas ilhas flutuantes que – quiseram fazer-nos crer – são habitadas por grupos de algumas famílias que ali nascem, vivem e morrem. Foi uma visita interessante mas eu fiquei com a sensação de que estava a visitar um jardim zoológico. Tudo me pareceu ficção, arranjo para turista ver, irreal. E se é real, então não abona nada a favor de quem permite que haja gente que assim continue a viver. Sobretudo, bem próximo duma grande cidade como é Puno.

 

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Aos barcos de junco chamam Uros mas a evolução tecnológica fê-los perder grande parte do velho encanto pois agora a estrutura é composta por alguns milhares de garrafas de plástico vazias. Flutuam melhor e têm uma durabilidade muito maior que antigamente mas, contado o «segredo», tudo parece ainda mais artificial.

 

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Libertados do folclore, navegámos sem grandes vagares durante cerca de duas horas até à ilha de Taquile onde almoçaríamos. E almoçámos mas… tivemos que escalar uma rampa e alguns «degraus incas» (feitos à trouxe-mouxe) que nos deixaram derreados apesar de, por vezes, nos termos agarrado ao chão, a quatro como a bicharada, para melhor distribuirmos o peso… que nunca imagináramos tão pesado. E durante o nosso desespero, eramos ultrapassados por carregadores nativos que transportavam às costas trouxas «só» de 30 kgs. Mas eles têm os glóbulos vermelhos a condizer com aquelas altitudes e nós estamos aclimatados à altitude zero. E, vai daí, almoçámos e quisemos crer que a descida ia ser «trigo limpo». O tanas!!! Na descida, os músculos são outros que não os da subida e voltámos a ter que descansar nos muros e muretes que bordejavam a famigerada rampa. Mas chegámos ao barco cujas cadeiras, afinal, eram muito mais confortáveis do que inicialmente nos tinham parecido.

 

A ilha de Taquile foi presídio durante o período espanhol, hoje está dedicada ao turismo a tempo inteiro e não há por lá cães, gatos nem cavalos; para além das pessoas, só há lamas, ovelhas e vacas. À hora da nossa passagem, também estavam como nós, cansadas, com a diferença de que elas estavam deitadas e a ruminar; nós não.

 

E zarpámos para o hotel onde chegámos duas horas e tal depois. Era o fim da tarde.

 

Do ancoradoiro ao hotel havia que subir uma centena de degraus turísticos (suaves) mas eu estava com os meus glóbulos vermelhos exauridos do esforço anterior e senti-me a morrer. E para não morrer despudoradamente no parque de estacionamento a meio da escadaria, resguardei-me entre dois carros ali estacionados e encomendei-me… Mas não quis o Altíssimo receber-me naquele dia pelo que lá consegui respirar fundo umas quantas vezes e arrastar-me até ao hall do hotel onde um «botones» me ferrou com uma máscara de oxigénio nas ventas sem me perguntar se eu queria ou deixava de querer. E, depois, subi ao quarto a que eles por ali chamam «habitacion».

 

Amanhã há mais…

 

Outubro de 2017

Barranco, Lima, Peru, 12 de Outubro de 2017.jpg

 Henrique Salles da Fonseca

PERU – 9

 

COLCA

 

Penhascos literalmente andinos e abismos tipicamente dantescos, eis o cenário que nos é oferecido neste passeio que nos faz saudades das planuras de Vila Franca de Xira ou da Camargue onde o Ródano finalmente se banha no Mediterrâneo.

 

Colca é uma cidade, um rio e um vale. A cidade – a que por ali chamam Chivay - deveria ser apodada com diminutivo para corresponder à realidade; o rio – no troço que vimos – é um riacho; o vale é ubérrimo mas rapidamente se transforma num canhão só habitado pelos majestosos condores.

 

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Apesar de se localizar no ponto mais fundo do vale agrícola, a cidade está a 3 650 metros de altitude, tem cerca de 5 mil habitantes, não tem desemprego e só lá se chega por estrada de montanha (bem asfaltada como todas as que usámos no Peru) mas não aconselhável a condutores com atracção do abismo. E sabendo que para de lá sair teríamos que regressar pela mesma estrada, perguntei onde o rio ia desaguar e se não havia estrada que o acompanhasse. Que desagua no Pacífico mas que o vale se transforma logo ali a seguir num canhão medonho a que só raros montanhistas se atrevem a aceder. Uma estrada por ali? Só se fosse toda ela em túnel numa das falésias. Não, é mais fácil a agradável «passear» pela estrada que já existe com belas vistas das montanhas.

 

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O hotel em que ficámos é mesmo no último palmo de terra que o homem normal pisa antes de o vale se transformar no tal canhão medonho. E para tranquilidade dos temerosos, há por ali nascentes efervescentes a convidar ao banho que nos lembram o caracter sísmico de toda a região em que os tremores de terra são o pão deles de cada dia. E se um cataclismo nos fecha ali naquele buraco? Não aconteceu o pior e tudo se resolveu a bem. Até o caminhito de acesso ao hotel que o nosso autocarro percorreu a contar os centímetros que lhe sobravam até à parede abrupta de um dos lados e do abismo do outro nos mostrou que a tal estrada de montanha é uma brincalhotice de crianças de escola. E, no regresso, para facilitar tudo, tivemos que nos cruzar com uma carrinha que se agarrou à parede como uma lapa e nós, os do carrão grande, que nos despenhássemos por ali a baixo… Sim, a gestão de todo o processo circulatório no dito caminhito, passou a ser feito não mais em centímetros mas sim nas suas parcelas. E como prova este escrito, tudo acabou com a naturalidade requerida pelos espíritos eruditos e tranquilos.

 

Apesar de tudo, já eu conhecendo a estrada de entrada e saída do vale pela montanha abaixo e acima, decidi que no regresso haveria de me concentrar no lado da parede em vez de olhar para o vazio dos abismos. Assim fiz e evitei sufocos estrangulantes de paisagens imponentes mas depois destas visões dantescas, não tardará muito para que o turismo de maior altitude que me permitirei futuramente seja, no limite, ao nível do segundo piso da Torre de Belém.

 

Mas aquela é a verdadeira casa do condor e é por ali que ele sia e passa…

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Outubro de 2017

 

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 Henrique Salles da Fonseca

PERU – 8

 

AREQUIPA

 

Certa vez, em Lisboa, ao entrar na pastelaria em que habitualmente tomo o meu segundo pequeno almoço, vi um carro mal-estacionado a ser rebocado pela Polícia Municipal. Poucos minutos depois, ao sair da dita pastelaria, vi um outro carro a estacionar no tal lugar de que o anterior tinha sido rebocado. Porquê? Porque os sítios não transmitem a sua própria história, é necessário conhecê-la. E é a isso que me dedico com alguma militância: conhecer a história dos sítios, das pedras que pisamos.

 

Aqui, onde piso, quem é que já aqui pôs o pé e com que sentido o fez?

 

Eis o que pensei quando pisei as primeiras pedras que me foram apresentadas à entrada da «Plaza de Armas» de Arequipa.

 

À saída de Lima com destino a Arequipa, o vôo foi cancelado para nos lembrarmos de que estávamos em «terra de fronteira» da nossa organização civilizacional em que os direitos do consumidor são (mais ou menos) sagrados. Ali, pelos vistos, os direitos do consumidor são discutíveis se não mesmo discutidos. Mas lá seguimos no vôo seguinte. À janela, vi o que nos passava por baixo, a imponência do deserto de Atacama. Não tão bonito como o Sahara (inexcedível em matizes coloridos, sombras e luminescências) mas belo como só um deserto sabe ser. Uma particularidade: alguns lagos que não dá para adivinhar se são naturais ou artificias mas sem um mínimo de vegetação envolvente, paisagem completamente careca. Mistério que ficou por esclarecer até ao final da viagem. A aproximação da pista do aeroporto de Arequipa é quase tão «lunar» como a homóloga de El Calafate, na Patagónia argentina, no outro extremo (o do Sul) do deserto de Atacama. Terrível mas belo, «quand même».

 

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E, pelo sopé de um vulcão, entrámos na cidade…

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Perante a imponência da «Plaza de Armas» com a catedral mais do que magnífica e os seus «portales» (arcadas laterais), tudo o resto se dilui mas não se pode ir a Arequipa sem se visitar o «Convento de Santa Catalina» que, só por si, “fala” muito sobre a vida que por ali se viveu.

 

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As filhas «más» (não casáveis) das «boas» (ricas) famílias ou as viúvas ricas sem descendência directa, pagavam para se poderem recolher ao convento onde passavam a ter uma vida austera mas em que se podiam fazer acompanhar de serviçais que lhes prestassem a assistência próxima. Assim, era fundamental fazerem-se anteceder de um vultoso dote que revertia ab initio (e sem putativa devolução no caso de desistência do ingresso) para o património do convento.

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Chegaram a viver no convento mais de 400 pessoas entre religiosas e serviçais mas actualmente já só ali vivem menos de 100 freiras. E, segundo consta, não há serviçais para ninguém.

 

Que as Senhoras e meninas ricas para tivessem que ir com mais ou menos convicção religiosa, vá que não vá…, mas as serviçais, essas, é que eu lamento. Já era mau ter que servir em regime de quase escravatura mas, para além disso, serem «enterradas vivas», deveria ser de loucura.

 

Hoje, felizmente, temos a Segurança Social e amanhã vamos até ao Vale de Colca.

 

Outubro de 2017

Barranco, Lima, Peru, 12 de Outubro de 2017.jpg

Henrique Salles da Fonseca

PERU – 7

 

E MAIS QUÊ?

 

Fechei a crónica anterior com esta pergunta «E mais quê?» para logo de seguida me auto-responder «Já lá vamos…». Eis-nos, então, no sítio em que a resposta implicaria estarmos: aqui, na crónica seguinte e, mais especificamente, no Peru integrando um grupo de turistas tão portugueses como eu, muito afáveis e que criaram um ambiente magnífico, a não esquecer. Gente com que é fácil criar amizades.

 

Saímos de Lisboa de avião com destino a Madrid e vá de acelerar o passo em Barajas para apanharmos o avião com destino a Lima. Vôo sem história, chegámos ao destino na manhãzinha seguinte para uma visita ao centro histórico da cidade. Só rumaríamos ao hotel pelo meio da tarde.

 

Depois de saber que a História do Peru tem sido uma panóplia de violência e descaminhos (a começar pelos sacrifícios humanos aos Deuses quéchuas até à ladroagem de Fujimori e Toledo, passando pelo terrorismo do «Sendero Luminoso» e do «Túpac Amaru» e sem esquecer os terramotos, os tsunamis, as secas extremas e o «El Niño»), não me admirei com a primeira impressão que nos foi servida, algo depressiva, da periferia da cidade entre o aeroporto e a zona mais central na qual havíamos de nos alojar.

 

O que mais me impressionou foi o ar de desmazelo dos prédios pois a maior parte deles não está rebocada dando a impressão de cópia das favelas brasileiras. E porquê? Porque se o edifício não estiver concluído, a taxa municipal é muito mais baixa do que se o reboco alindar o imóvel. E como não deve haver «licenças de utilização», tudo está habitado e a funcionar numa base precária. Mais: é corrente ver os prédios inacabados em altura pois à medida que os proprietários vão tendo disponibilidades financeiras, aumentam mais um piso e não se preocupam com o alindamento dos pisos de baixo. Sim, um verdadeiro espectáculo terceiro-mundista.

 

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Mas à medida que nos aproximamos do centro, tudo melhora pois as municipalidades sucessivas por que se passa têm legislações diferentes e nas zonas nobres não há desleixo. Pelo contrário, há esmero.

 

O ajardinamento sistemático dos separadores centrais nas avenidas, nos jardins públicos, nos jardins privados das moradias, quase nos fazem esquecer de que estamos num deserto que a Mãe Natureza ali plantou, o que continua o de Atacama, mais a sul… Pensei mesmo em escrever um livro cujo título fosse «O jardineiro de Atacama». Mas acho que tenho mais que fazer.

 

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Foi neste primeiro dia que visitámos o centro histórico e reconheço magnificência ao palácio presidencial e a diversos edifícios que por ali estão. A Catedral, afinal, é quase toda de madeira coberta de estuque como consequência dos abalos telúricos que a destruíram diversas vezes e que acabaram por convencer os responsáveis de que mais vale edificar algo que abane mas que se aguente do que algo que resista, parta e se desmorone.

 

Visitámos também uma casa senhorial duma família muito conhecida lá no burgo mas cujo nome me escapou por completo. Vivem lá mas têm uma parte que nós, os forasteiros, podemos visitar. E de vez em quando vê-se uma ou outra pessoa a passar por ali com ar de quem está em casa. E está mesmo! Senti-me como um penetra numa festa para que não tivesse sido convidado. Pelos vistos, as despesas de manutenção do palacete são ajudadas pelos bilhetes que as agências de viagens pagam pelas nossas visitas (e que nos são debitados no preço total da viagem, claro está). Relativamente àquela família, dizem-me que a base da fortuna é a exploração mineira de… não sei quê.

 

A propósito, a economia peruana tem uma fortíssima componente mineira mas não vos maço agora com esse tema tão pouco turístico. O Google informa quem se interesse por isso.

 

E amanhã há mais… Até amanhã, durmam bem!

 

Outubro de 2017

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Henrique Salles da Fonseca

PERU – 6

 

QUEM COM FERRO MATA, COM FERRO MORRE

 

Poderia ter sido um esplendor da civilização cristã mas não foi nada disso. Foi apenas um malandro odiado e temido. Chamava-se Francisco Pizarro, foi o autêntico Stalin do séc. XVI e teve o fim que merecia, decapitado.

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Vamos a ele… com a ajuda da Wikipédia.

De seu nome completo Francisco Pizarro González, nasceu em Trujillo, na Extremadura espanhola, em 16 de Março de 1476 e fez diabruras até 26 de Junho de 1541 quando foi assassinado em Lima e o seu corpo, decapitado, arrastado pela Praça de Armas até ao esfrangalhamento quase completo. Os ossos acabaram varridos para uma caixa que foi depositada por ali... Passados séculos, foram finalmente identificados e colocados num ataúde apropriado que se encontra exposto numa lateral da Catedral de Lima pois mesmo que maligno, não pode deixar de ser considerado importante na História do Peru. Mas quem nos mostra o local, tem o cuidado de dizer que não se trata duma capela; é apenas um local. Aliás, passou à História como "o conquistador do Peru" pois subjugou o Império do Inca ao poderio espanhol. Mas fê-lo de modo especialmente sanguinário e repugnante aos olhos actuais - e em especial aos dos coevos, claro, que lhe sofreram a maldade.

Mas – e lá vem o tal «mas» que tanto relativiza os juízos – é preciso saber-se que o rapaz foi abandonado na tenra infância, que guardou porcos para que alguém lhe desse alimento e o deixasse dormir no chiqueiro, que só foi tardiamente reconhecido pelo pai, que quem o deveria acolher não descansou enquanto o não embarcou num navio da conquista lá pelo ano de 1489, rondava ele os 13 anos de idade. Quem o educou, então? Os suínos que pastoreara ou os javardos bípedes embarcados por indulto das cadeias espanholas? Dá para imaginar os atropelos a que foi submetido…

E assim se fabrica uma besta.

O primeiro registo oficial que o menciona é a documentação da expedição de Vasco Núñez de Balboa no Panamá em 1513, onde aparece como obscuro oficial, quase analfabeto. Desde aí, desenrolou-se-lhe a vida na aventura da conquista da América, nas primeiras colónias espanholas na América Central, então chamada «Castilla de Oro», o que mais lhe rendeu aflições com índios e companheiros espanhóis do que honra e glória. Até que, em 1517, lhe foi atribuída a tarefa de aprisionar o seu antigo chefe, Balboa, por ordem de Pedro Faria, o novo Governador colonial.

Foi em 1524, já com cinquenta anos de idade, que se juntou a um oficial menor chamado Diego de Almagro, ambos acalentando planos depois de ouvirem a narrativa de Pascual de Andagoya que, embora regressasse ferido e sem riquezas de uma expedição mais ao sul, teria obtido a informação de um nativo que, apontando mais para o sul, lhe dissera que conhecia o Pirú, reino onde "se come e se bebe em vasilhas de ouro".

Aproximando-se de um rico comerciante da Colômbia, o juiz Gaspar de Espinosa, Pizarro obteve um patrocínio e em Novembro de 1524, fez-se ao Pacífico com oitenta homens e quatro cavalos.

Infrutífera viagem, regressaram sem riquezas ou glórias (Almagro perdeu, entretanto, um olho nos combates travados com nativos), foram necessárias muitas negociações para o financiamento de uma nova expedição que, entretanto, foi minuciosamente contratada por escrito no qual já se previa a conquista do Peru ainda desconhecido e já se tratava da partilha das suas riquezas.

Foi em Novembro de 1526 que Pizarro voltou ao mar desembarcando na foz do Rio San Juan na costa da atual Colômbia onde ficou com a maior parte dos seus homens enquanto Almagro voltava ao Panamá com uma das embarcações para buscar mais reforços. A outra embarcação, sob o comando do piloto Bartolomeu Ruiz, prosseguiu, passando o Equador, ocasião em que teve o primeiro contacto com a civilização Inca: tratava-se de uma grande jangada impulsionada por uma vela quadrada na qual havia homens e mulheres bem vestidos com túnicas de lã, usando ornatos feitos do tão ambicionado ouro.

Três Índios foram aprisionados para servirem de intérpretes. Bartolomeu Ruiz voltou e reuniu-se com Pizarro. Pouco depois chegou Almagro com um reforço de 90 homens. Entretanto, Pizarro já havia perdido muitos homens vítimas da fome e do escorbuto (?). Traçando com a espada uma linha na areia, desafiou todos a passarem para o lado dele, onde estariam a luta e a morte mas também a fama e a fortuna. Apenas onze espanhóis e um grego se lhe juntaram; os outros regressaram ao Panamá.

Pizarro e companheiros esperaram numa ilhota ao largo da costa durante sete meses, até que o Governador do Panamá lhe enviou um barco com novos recrutas. Embarcando, esta força expedicionária navegou mais para o sul por mais de 25 dias até ao golfo de Guaiaquil onde um daqueles índios, já intérprete, explicou que se tratava do porto quéchua mais setentrional, a actual cidade de Tumbes. Ficando aí alguns espanhóis, Pizarro prosseguiu mais para o sul até Guayaquil onde foi confrontado com um grande número de jangadas repletas de guerreiros nativos. Trocando informações com eles, Pizarro exibiu as vistosas armaduras, arcabuzes e vinho e os quéchuas falaram abertamente da sua civilização admitindo a existência de ouro, prata e pedras preciosas. Algumas semanas depois, Pizarro voltava ao Panamá com artefactos de metal e tecidos finos indígenas, algumas lamas e vários jovens índios destinados ao serviço de intérpretes, prova mais que suficiente para fundamentar nova expedição.

Prosseguindo os seus objetivos, Pizarro voltou a Espanha e diante da corte de Carlos V fez a apologia dos esplendores do Peru fazendo coro com os relatos ainda mais auspiciosos de Hernán Cortés, que regressava da conquista do México. Em 26 de Julho de 1529 a rainha assinou a «capitulación» que autorizava Pizarro a conquistar e explorar as riquezas do Peru nomeando-o Governador e Capitão- Geral.

Em 1530, Pizarro reuniu-se no Panamá com Almagro e rumou para o sul fundando, em Setembro de 1532, o primeiro estabelecimento hispânico na costa do Peru denominado San Miguel de Piura, formando uma força de conquista com sessenta e dois cavaleiros e cento e seis infantes com a qual avançou continente adentro na "Conquista do Império Inca".

No dia 16 de Novembro de 1532, Pizarro, com a sua pequena força expedicionária, chegou a Cajamarca onde, deixando a maior parte dos seus homens fora da cidade, aceitou o convite do imperador Atahualpa para um jantar no qual fez assassinar a sua pequena guarda de honra e aprisionou o próprio imperador. Seguiram-se chacinas medonhas de todos os que ousavam aparecer-lhes à frente. No ano seguinte, Pizarro invadiu Cuzco e derrubou o rei local.

Considerando Cuzco muito distante e muito acima no planalto, Pizarro fundou a cidade de Lima no dia 18 de Janeiro de 1535, prosseguindo em grandes chacinas pois as forças quéchuas (do Inca) tentaram retomar Cuzco. Derrotadas finalmente por Almagro, julgou-se este em condições de tomar a cidade para si, gerando uma disputa com Pizarro que o derrotou e executou ali mesmo, em Cuzco. Corria o ano de 1538.

Zangados, partidários de Almagro foram ter com Pizarro que entretanto estava em Lima, assassinaram-no em 26 de Junho de 1541, decapitaram o cadáver e fizeram-no arrastar pela Plaza Mayor até ficar em pedaços.

Como já disse, encontra-se depositado em ossário exposto na Catedral de Lima.

Do outro lado da Plaza Mayor, foi há pouco tempo apeada a estátua que o representava, procedimento que muito irritou a UNESCO cujos membros não têm seguramente antepassados importunados por Francisco Pizarro González, esse autêntico Stalin do séc. XVI.

Sim, é assim mesmo: quem com ferro mata, com ferro morre.

E mais quê? Já lá vamos…

Outubro de 2017

Barranco, Lima, Peru, 12 de Outubro de 2017.jpg

 

Henrique Salles da Fonseca

PERU – 5

 

MITOLOGIA E TEOLOGIA

 

«Mitologia» vem de mito que é algo que não existe, que é ficcional; «Teologia» tem a ver com «teo», Deus.

Só a nossa religião é teológica; todas as demais são mitológicas.

 

Inti é o nome quéchua do Sol, tido pela divindade mais significativa da mitologia quéchua, a do Inca.

Culturas anteriores à quéchua tinham Viracocha como sendo a suprema divindade. A definição completa do seu poder absoluto passava pela enumeração da sua superioridade sobre a água, a terra e o fogo mas evoluiu para um conceito mais complexo que acabou por se tornar no Deus único e criador universal, Inti.

Até aqui, parecia que estávamos a falar do nosso Deus mas este novo e muito poderoso Deus do Sol não estava sozinho, estava casado com a sua irmã, a Lua, com quem compartilhava uma posição igual no tribunal celestial. A Lua era conhecida por Mama Quilla.

Inti.jpg

 

Inti era representado por uma elipse ou disco de ouro; Mama Quilla, por uma figura de prata.

Mama Quilla.png

 

Como criador do Universo, Inti era adorado e reverenciado, mas também concedia (ou não) favores e ajudava (ou não) a resolver problemas e a aliviar as necessidades; só ele podia dar boas colheitas, curar doenças e providenciar a segurança exigida pelo homem. E no meio de Natureza tão agreste com desertos tão áridos, com chuvas diluvianas, com tremores de terra e tsunamis tão devastadores, bem se compreende como esta (e qualquer outra) divindade era importante para acalmação das gentes da sua fé.

A Mama Quilla competia a gestão do fervor religioso das mulheres, nomeadamente das Mama Conas, que formavam o núcleo de fiéis seguidoras que eram as sacerdotisas encarregadas pela Deusa de guardarem e instruírem as vestais que residiam no templo anexo aos aposentos do Inca e cujas funções eram não só de índole puramente religiosa mas também a de garantirem a descendência do próprio rei. Em resumo muito erudito, «orare et coierit».

Com a chegada dos espanhóis em 1532, chefiados por Francisco Pizarro, tudo isto foi desbaratado, templos arrasados e gentes insubmissas passadas a fio de espada.

O objectivo era o de destruir a mitologia e impor a teologia. Sim, sim… e o de obter o ouro e outras preciosidades que os quéchuas possuíam.

E quem era esse tal Francisco? Já lá vamos…

Outubro de 2017

Barranco, Lima, Peru, 12 de Outubro de 2017.jpg

Henrique Salles da Fonseca

PERU – 4

 

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA…

 

… tanto dá até que fura.

Sim, o problema do Peru resulta da falta de água ou do excesso dela.

Eis como as coisas se passam:

  • A costa ocidental da América do Sul é banhada por uma corrente oceânica que vem da Antártida, e, portanto, constituída por água fria (chamada do Chile ou de Humboldt) sem grande evaporação e que, portanto, não humedece suficientemente o ar;

Corrente de Humboldt.jpg

 

  • Quase todo o litoral ocidental sul americano é desértico por ali imperando o Deserto de Atacama que, sendo fundamentalmente chileno, se estende ainda por vastas zonas do sul do Peru quase alcançando Lima onde se limita a mudar de nome várias vezes até atingir a Colômbia e sabe-se lá até mais onde…
  • Nos Andes peruanos só neva a partir dos 4500 metros de altitude pelo que, daí para baixo, a água é (ou deveria ser) gerida gota a gota.

Mas – e há sempre um «mas» - lá pelas alturas de Dezembro, desabam chuvas diluvianas trazidas do mar por fortes ventos num fenómeno de contraciclo a que a época do ano sugeriu que se chamasse «El Niño», «O Menino» (Jesus). Assim como que naquela nossa expressão de que “não há fome que não dê em fartura”, também o Peru passa de repente duma extrema secura para uma situação de enxurradas terríveis que levam tudo à frente até ao afogo no mar.

 

El Niño.jpg

 

Se a isso juntarmos a permanente ameaça (e ocorrência frequente) de terramotos e tsunamis, dá para compreender que aqueles povos se agarrem com força a uma Fé que os faça crer numa vida melhor no Além.

E, contudo, vê-se gente feliz um pouco por toda a parte.

Outubro de 2017

Barranco, Lima, Peru, 12 de Outubro de 2017.jpg

 Henrique Salles da Fonseca

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