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A bem da Nação

SUBSÍDIOS PARA A CABOVERDEANIDADE (6)

 

 

 

As lutas dos escravos das Américas durante a primeira fase da globalização do capitalismo, as lutas dos operários industriais da Europa: reformismo ou revolução social?

 

 

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Com o novo modo de transporte transoceânico, cujas tecnologias nomeadamente barcos e navios de todos os tamanhos e feitios, seus cascos e seus velames sofisticados, permitindo bolinar ou avançar em zigue-zague com vento contrário pela proa, caravelas de velas latinas (triangulares), ou redondas (quadradas) com três a quatro mastros, para descobrir, caravelões de cabotagem, naus geralmente de três a quatro cobertas, podendo transportar até mil pessoas e perto de duas mil toneladas, galeões e outros mais rápidos de mais de meia tonelada, fragatas ainda mais pequenas e outros tipos de pequenos navios e barcos, armamento, nomeadamente espingardas e artilharia, fortalezas inexpugnáveis de pedra talhada e de alvenaria pré-fabricada, transportadas e montadas no destino, em poucos dias, como a da Mina, orientação e determinação das coordenadas geográficas em mar alto, no Hemisfério Norte como no Hemisfério Sul, determinação das profundidades, hidrografia, estudo das correntes, dos ventos, marés e climas para planificação das carreiras, cartografia, roteiros, diários ou livros de bordo, “que nós os pilotos portugueses temos” para citar as palavras do piloto anónimo de Vila do Conde (Com. Nac. para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 2000, Viagem de um Piloto Português do Século XVI à costa de África e a São Tomé, introdução, tradução e notas de Arlindo Manuel Caldeira, primeira edição, Lisboa, 149 p.), livros de armação, logística, bolacha de água e sal, etc., desenvolveram, aperfeiçoaram e mantiveram secretas dos concorrentes mais poderosos (Jaime Cortesão, 1981, 3º. Edição, Os descobrimentos Portugueses, volume III, capítulo V, Lisboa), foram os portugueses, que primeiro se lançaram na globalização do mercado, levando consigo os caboverdeanos para os quatro cantos do mundo. Tinham, para isso, condições favoráveis, a posição geográfica de Portugal aberta para o oceano e voltando as costas à Europa, as tradições milenares de cabotagem marítima entre a Europa do Norte e o Mediterrâneo, as recentes tradições guerreiras das cruzadas da reconquista da península hispânica, os Templários e os seus navios enviados de França pelo seu último grão-mestre Jacques de Molay, antes de morrer na fogueira e preservados na Ordem de Cristo por El Rei Dom Dinis, o Lavrador, classes médias, artífices e mercadores competentes e dinâmicos em Lisboa e outros portos, vilas e cidades, comerciantes, financeiros, engenheiros navais e mecânicos, arquitectos, letrados, juristas e médicos competentíssimos, no comércio e na indústria privados e públicos, na universidade e na corte. Era uma sociedade multicultural e tolerante, onde conviviam as três religiões do livro e se falava o latim, que deixou de se falar, dois séculos antes dos países da Europa Central, mas continuou a escrever-se, o português, que substituiu o latim na oralidade e começou a escrever-se em verso e em prosa, mesmo antes da independência do país, o chamado caldaico, ou primeira língua de Hespanha, ou “língua de Cristo”, língua dos proto-fenícios, fenícios, cartagineses ou púnicos e hebreus, que teria sido utilizada até ao fim da Idade Média (Moisés Espírito Santo, 2000, O Brasonário Português e a Cultura Hebraica, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões, Universidade Nova de Lisboa, 303 p.), depois o hebraico ao qual se chamava também caldaico por serem muito próximos, falado e escrito na Hespanha desde a colonização fenícia, isto é muito antes do latim e, depois do latim, ao lado do português, continuando o hebraico a ser ensinado nas sinagogas, até às perseguições e advento da Inquisição (Alexandre Herculano, 1852 , História da origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo I, Livraria Bertrand, Lisboa, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 332 p.), sem esquecer o árabe, língua da mesma família semítica do hebraico ou caldaico, além do berbere falado pelos colonos mouros vindos de Marrocos com o seu general Tárique Ibn Ziad.

 

Para a globalização, os portugueses, pouco numerosos, precisavam de mão-de-obra, que, por pouco tempo, foram aprisionar, fazendo razias na costa de Marrocos a retribuir as razias que faziam os norte-africanos nas costas da Europa. Depois dos seus navegadores terem encontrado escravos à venda, mais a Sul, na costa da África Tropical, o Infante Dom Henrique veio a proibir as razias, em 1448, por incompatíveis com o comércio, indispensável ao financiamento das navegações.

 

Na história dos escravos comprados em África e transportados para Cabo Verde e São Tomé e, depois, para as plantações de cana e engenhos de açúcar das Américas, foram numerosas as resistências e as revoltas contra os maus-tratos e exploração impiedosa, que caracterizaram a acumulação do capital na América e na Europa.

 

Em São Tomé a revolta do rei Amador em 1595-6, foi a primeira, seguida por outras. Já nos referimos à resistência dos escravos angolares provenientes de São Tomé, que foram falar o seu dialecto angolar do crioulo santomense para as montanhas vizinhas de Cartagena das Índias, dando origem ao idioma palenqueiro da família linguística santomense. Em São Tomé, primeiro os montes e as florestas, depois o sul da ilha habitado pelos angolares tornaram-se autónomos (Gerhard Seibert, 2004, Os angolares de ilha de São Tomé: náufragos, autóctones ou quilombolas? Textos de história, vol. 12, Nº ½, p. 43 – 63; Arlindo Manuel Caldeira, Rebelião e outras formas de resistência à escravatura na ilha de São Tomé, séculos XVI a XVIII, Africana Studia, Nº 7 Edição da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, p. 101 - 136).

 

Até na pequena ilha de Ano Bom, com sete quilómetros de comprimento, três de largura e só dezassete quilómetros quadrados de superfície, povoada em meados do século dezasseis por colonos santomenses patrões e cativos, que organizaram a cultura do algodão em pequenas plantações, os escravos obrigaram as autoridades a abandonarem a ilha, no início do século XVIII e opuseram-se a três tentativas de regresso das autoridades eclesiásticas e administrativas de São Tomé. Contrariamente às revoltas dos Palmares no Brasil, à independência de Haiti e outras revoltas na América, em Ano Bom começou por ser abolida a escravatura, quase dois séculos antes da sua abolição na Europa e na América e a pequena ilha manteve-se independente de 1700 a 1885. O país era governado por um conselho de três anciãos e havia um mestre-escola. Não havia forças policiais e repressivas, os homens iam à pesca e as mulheres cuidavam das pequenas lavras. Os terrenos que ficavam sem produzir mais de dois anos podiam ser ocupados por qualquer família. Ano Bom mantinha ligações com a economia global, fornecendo água e víveres frescos aos navios que por lá passavam, com a condição de serem cristãos, como eram todos, naquela época (Arlindo Manuel Caldeira, sem data, Medo e religião popular na ilha de Ano Bom, Uma aproximação histórica, séculos XVI a XIX, Comunicações, Colóquio, Instituto Camões, 14 p., http://cvc.instituto-camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/arlindo_ caldeira.pdf;  2009, Organizar a liberdade, Independência de facto na ilha de Ano Bom durante os séculos XVIII e XIX, Int. Conf. Between three continents, rethinking Equatorial Guinea on the Fortieth Anniversary of its independence from Spain, Hofstra Univ. New York, 2-4 April 2009, 18 p.).  Não foram só os povos escandinavos e anglo-saxões, que mantiveram viva a democracia dos primórdios, ou das sociedades primitivas. Isso também aconteceu nas colónias portuguesas, mais precisamente na ilha de Ano Bom, um “palope” antes da letra, ou o primeiro dos palopes.

 

No Suriname o crioulo dividiu-se em duas línguas, surinamês, hoje língua nacional, e saramacano falado na floresta, que teve origem, em 1690, com a fuga dos escravos da plantação dum caboverdeano português chamado António Machado, os quais se apelidaram Matjau, pelo nome do patrão.  Depois do papeamento, o saramacano é a língua crioula das Caraíbas mais rica em léxico de origem portuguesa e mais próxima da língua caboverdeana, uma das duas que menos se relexificaram, por falta de contacto com as línguas dominantes neerlandesa, inglesa e francesa, no caso do saramacano, ou por contacto mais prolongado com a língua portuguesa ensinada nas sinagogas, como foi o caso do papeamento nas ilhas ABC.

 

Os escravos que fugiram, para as montanhas, foram chamados chimarrões, termo gaúcho do Sul do Brasil, porque, como as vacas e bois, fugiam para os matos, vivendo ali sem sujeição alguma. Chimarrão é equivalente de barbatão, derivado de bravo, no Nordeste (Cândido de Figueiredo, 1944, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 2 volumes, 10ª edição, Livraria Bertrand, Lisboa. 1944). Este termo português deu maroon em inglês, marrons em francês, para os escravos designados por fujões, em Cabo Verde. Escravos maroon e marrons foram numerosos na Jamaica, Guadalupe, e outras Antilhas. As revoltas de escravos levaram à revolução e independência prematura de Haiti da qual ainda não se restabeleceu esse povo infeliz e multiplicaram-se no início do século XIX, levando o Governo Britânico a abolir a escravatura em 1823. Kofi dirigiu a revolta dos escravos das plantações do vale do rio Berbice (1763-64), na actual Guiana e, enquanto defendia a independência, procurou estabelecer laços económicos com as plantações. Na Guiana ainda, mais tarde em 1823, produziu-se a revolta das plantações do rio Demerara (Winston F. Mcgowan et al., 2009, Themes in African-Guyanese History, London, 462 p.), que forçou a abolição da escravatura, no Império Britânico.

 

Estas lutas dos trabalhadores escravos de origem caboverdeana e africana, nas Américas, durante a acumulação do capital, devem ser consideradas, como percursoras das lutas da classe operária europeia no século XIX, que seduziram Karl Marx e Friederich Engels, a tal ponto que eles passaram a considerar a luta de classes como o motor da história e a maneira mais rápida de atingir a utopia duma sociedade de justiça e democracia, sem classes. A história provou que estavam enganados, a luta da classe trabalhadora desembocou em reformas da sociedade existente, em vários países europeus, e produziu uma nova sociedade de classes, em outros, a utopia continuou a ser um objectivo irrealizável, um ideal, do qual devemos tentar aproximar-nos pelo trabalho e reformas, sem ser impacientes em querer estabelecê-lo custe o que custar, contra a paz social e o trabalho, contra a democracia e contra a moral. A luta dos escravos de origem africana já tinha geralmente resultado na ascensão dos escravos a pequenos proprietários desde os vadios e escravos forros da ilha de Santiago aos chimarrões ou fujões das Antilhas, até à abolição da escravatura.

 

Com excepção de Cabo Verde, houve revoltas organizadas, onde havia escravos, desde a revolta pacífica de Ano Bom, as revoltas com guerra do mato de São Tomé, com guerra e repressão na Guiana, na Jamaica, ilha em que os escravos organizaram mais revoltas do que o total de todas as outras revoltas das Antilhas Britânicas, na Guadalupe e quase todas as outras Antilhas francesas, espanholas e até dinamarquesas. Só se registou uma trágica utopia e retrocesso em Haiti, consequência da revolução francesa. Em Haiti, a luta dos escravos contra a sua condição social desembocou no regresso da sociedade tradicional africana, sem abolição da escravatura, tal como tinha acontecido antes no Brasil, quando os trabalhadores escravos de Pernambuco aproveitaram a guerra entre o Brasil Holandês e o Brasil Português para se refugiarem no quilombo dos Palmares, onde falavam crioulo. Depois de negociar com o governador da capitania de Pernambuco, o Presidente da República dos Palmares Ganga Zumba havia acordado submeter a República à Coroa Portuguesa, contra paz e alforria de todos os seus cidadãos. Foi substituído pelo jovem Francisco Zumbi de 23 anos de idade, que não acreditou na promessa do governador e prometeu defender os Palmares e lutar vitoriosamente contra as autoridades. Francisco Zumbi nasceu forro em1655, na Serra da Barriga, Alagoas. A partir dos seis anos foi educado por um missionário, que lhe ensinou a ler e a escrever português e latim e a quem ajudava na missa quotidiana. Desta sua educação cristã conservou certamente a imagem do Apocalipse com uma sociedade harmoniosa no Céu, que ele tentou realizar nos Palmares, onde a agricultura de subsistência, por conta própria dos trabalhadores forros era um grande progresso para eles, em comparação com o trabalho escravo em grandes plantações. Ainda não tinha 40 anos, quando foi derrotado e o seu quilombo dissolvido por Domingos Jorge Velho, bandeirante, chegado expressamente de São Paulo com os seus soldados índios. Não voltou a haver negociações com a Coroa Portuguesa, que tinha abandonado o quilombo à agricultura de subsistência, durante quinze anos, até enviar o bandeirante paulista, em 1694. Francisco Zumbi, jovem e inexperiente desfez o acordo realista e vantajoso já obtido pelo Presidente da República dos Palmares Ganga Zumba. Morreu, com muitos outros, inutilmente, na força da vida, os cidadãos livres dos Palmares, perderam as suas terras e de camponeses proprietários voltaram a ser escravos, dispersando-se pelos mercados e plantações. Em consequência desta derrota e dispersão e do abandono das suas plantações em Pernambuco, pelos caboverdeanos judeus, embarcando com os holandeses para a Guiana, o crioulo caboverdeano acabou por se extinguir no Brasil.

 

Também os escravos, comprados principalmente em Zanzibar, se revoltaram no século IX, na Mesopotâmia arabizada, au sul do actual Iraque. Esta revolta, uma das sete maiores revoltas de escravos da história, começou em 869 e só cerca de quinze anos mais tarde o exército do Califado Abassida conseguiu derrotar os escravos aos quais se tinham juntado os beduínos.

 

Voltando à Guiana, podemos ainda lembrar, que, após a abolição da escravatura, no século XIX, todos os escravos abandonaram as plantações, indo desbravar terreno, onde, por conta própria, se dedicaram à agricultura de subsistência. Obrigaram o governo da colónia a mandar vir trabalhadores contratados da Índia, falantes de hindi. Estes aprenderam crioulo nas plantações de cana e engenhos e também começaram a cultivar arroz na Guiana. Nenhum vocábulo do abstracto hindi, língua materna dos trabalhadores indianos e uma das línguas nacionais da Guiana, entrou no léxico da língua crioula guianesa.

 

O trabalhador escravo aspirava a ser pequeno proprietário, a trabalhar por conta própria e dispor dos frutos do seu trabalho, como ficou provado com a abolição, nos países onde tinha terras disponíveis para arrotear e cultivar, nomeadamente a Guiana e a Ilha de Ano Bom. Também o operário assalariado aspira a trabalhar por conta própria, quando pode e a melhorar as condições de vida da sua família, deixar um futuro melhor aos seus descendentes. A luta da classe operária da Europa seguiu o caminho do reformismo na Europa Central e Setentrional com bons resultados e também deu origem, primeiro, a uma tragédia, na Rússia e, depois, reanimou um velho imperialismo com roupa nova, para exportar essa tragédia.

 

Se tivessem estudado a experiência dos trabalhadores escravos da América, os revolucionários europeus dos séculos XIX e XX poderiam talvez ter renunciado a lançar o apelo à luta de classes militarizada do Manifesto Comunista (Karl Marx e F. Engels, Fevereiro de 1975, Manifesto do Partido Comunista, Publicações Notícias, Lourenço Marques, capa e orientação gráfica de António Bronze, 58 p.) e evitado as tragédias e apocalipses terrestres do século XX, mas tudo o que vinha das colónias e das culturas africanas era considerado com superioridade, desdém e soberba, na Europa, até aparecer a pintura cubista e a música jazz, no século XX. Certos historiadores, vítimas deste desdém europeu, tentaram encontrar percursores das reivindicações operárias do capitalismo moderno, nas corporações de artesãos da Idade Média da Europa e não repararam nas reivindicações e revoltas de trabalhadores escravos menos longínquas no tempo e, sem comparação, mais duras e vastíssimas, durante a primeira fase da globalização do mercado na América (Seymour Martin Lipset, Gary Marks, 2001, Porque não houve socialismo na América, traduzido do inglês, 2000, It didn´t hapen here – Why socialism failed in the United States, Lisboa, Quetzal Editores, 458 p.).

 

O Manifesto do Partido Comunista não apelou à formação de nenhuma nova sociedade ideal, utópica sem classes, aonde pretendiam chegar os seus autores e seguidores. Foi um apelo à formação do capitalismo de estado, um tipo de sociedade que não era novo e já tinha manifestado as suas grandes limitações. Este Manifesto contém muito concretamente (p. 42 e 43) um programa não exclusivo das seguintes dez “medidas” para “centralizar todos os meios de produção nas mão do Estado”: (1) “reapropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda em proveito do Estado”, não se mencionava aqui o proveito do proletariado, nem o proveito da sociedade; (2) “imposto fortemente progressivo”; (3) “abolição do direito de herança”; (4) “confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos”; (5) “centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio dum banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo”; (6) “centralização nas mãos do Estado de todos os meios de transporte”; (7) “multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado…”, ou seja industrialização em grande escala; (8) “trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura (sic)”; (9) “combinação do trabalho agrícola e industrial…”; (10) “educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas (…), combinação da educação com a produção material.” Só esta última medida contém uma reforma social importante. Porém, a igualdade de direitos das mulheres com os homens não passou pela cabeça dos autores, no século XIX, ou não desejaram apresentá-la no Manifesto. O primeiro autor foi um chefe de família patriarcal, ou machista, como se diria hoje e tinha uma esposa dedicadíssima e submissa, que traiu com uma empregada doméstica, durante uma das ausências da família, na Alemanha. O filho dessa empregada foi perfilhado pelo segundo autor (Jacques Attali, 2005, Karl Marx ou l’esprit du monde, Paris, Librairie Arthème Fayard, Paris, 539 p.). A penúltima medida do Manifesto é vaga, poderia tratar-se de agro-indústrias “nas mãos do Estado”, ou da combinação do trabalho, nas plantações e nas fábricas ou engenhos tal como existia, em Cabo Verde, no século XV, com os panos de algodão e depois em São Tomé, no início do século XV, com o açúcar de cana de que este país foi o maior exportador, antes do Brasil e, finalmente, na América, no tempo da escravatura, mas, aqui no Manifesto, é tudo “pertencente ao estado” e está tudo “nas mãos do Estado”, o que não era o caso no século XV.

 

Para chegar ao capitalismo de estado, que, com a expropriação da propriedade privada, tinha que criar uma nova classe minoritária dirigente, “exploradora do trabalho do homem pelo homem”, ou melhor vivendo dos frutos do trabalho produtivo alheio, que veio a ter o nome de “nova classe” na Iugoslávia (Milovan Djilas, 1957, The New Class, Frederick A. Praeger, New York, 215 p.) e de “nomenclatura” na Rússia (Michael Voslensky, 1980, La Nomenklatura, les privilégiés en URSS, tradução francesa, Paris, Le Livre de Poche, 572 p.), este manifesto político não pretendeu enveredar pelo caminho da concertação, consenso e reforma para a solução dos conflitos sociais. Escolheu o afrontamento, a ruptura, o combate, a “destruição violenta” (p. 32) e a “guerra civil” (p. 32), a “revolução comunista” (p. 42). Para atingir os seus fins políticos declarados e muito concretos, que eram o capitalismo de Estado, o Manifesto começou por chamar primeiro proletários e logo “soldados da indústria” (p. 28) e “verdadeiros exércitos industriais” (p. 21) aos operários da grande indústria, apresentou a história como “uma guerra ininterrupta” (p. 20), uma “guerra perpétua” (p.30). Nos seus prefácios a várias edições Friedrich Engels, um apaixonado das aventuras bélicas, na boa tradição prussiana, como uma vez notou o seu amigo Karl Marx (Jacques Attali, 2005), procurou sublinhar ainda mais este apelo à luta de classes militarizada e enunciou a palavra de ordem: “englobar num grande exército único todas as forças combativas da classe operária da Europa e da América” (p. 15). Pode ainda ler-se num desses prefácios a seguinte frase: “neste momento, o proletariado da Europa e da América passa em revista as suas forças mobilizadas pela primeira vez num só exército, sob uma só bandeira…” (p. 17). Esta frase é mais ridícula do que outra coisa.

 

Nos países da Europa Central e do Norte, onde os partidos da segunda Internacional Socialista seguiram a via reformista, os progressos sociais foram importantes no Século XX. Na Rússia, o Partido Social-Democrata chamado Maioritário (bolchevique) por Lenine, quando obteve uma maioria, porque uma parte dos seus opositores estavam ausentes durante a votação, mas que, depois, sempre se manteve minoritário, fez uma revolução, que foi um golpe de estado para eliminar a guarda feminina do Palácio do Crémelhine.  Depois tirou do governo o Partido Social-Democrata dito Minoritário (menchevique) e instalou-se no seu lugar. Poucos meses após a sua instalação no Crémelhine, o Partido Social-Democrata dito Maioritário perdeu as eleições legislativas e logo a seguir impediu a tomada de posse dos deputados eleitos, proclamando a ditadura do proletariado, coisa que Marx e Engels só tinham previsto fazer depois de assegurada democraticamente uma maioria à classe operária e ao partido comunista.

 

Instalado no poder, o Partido Social-Democrata dito Maioritário fez várias tentativas para aplicar o programa do Manifesto, que fracassaram umas atrás das outras.

 

A socialização do solo veio juntar-se ao êxodo rural para levar a fome às cidades. O monopólio de cereais do governo soviético resultou em carência, que levou o mercado livre e o comércio de víveres para a clandestinidade, dita mercado negro. O governo e os sovietes (concelhos de trabalhadores) locais acabaram por enviar tropas bem armadas do Exército Vermelho fazer requisições e confiscar os produtos agrícolas dos camponeses, deixando-os esfomeados.

 

Na indústria, o Partido Social-Democrático dito Maioritário, que veio mais tarde a chamar-se Partido Comunista (Maioritário), por deliberação do seu sétimo congresso (6-8.3.1918), começou por socializar as minas dos Urais e as grandes empresas siderúrgicas e, depois, os transportes e os têxteis. A gestão das empresas pelos sovietes, ou assembleias de trabalhadores revelou a incompetência destes. Passaram a ser geridas por conselhos de administração com um terço de operários e dois terços de profissionais designados pelo Estado. A nacionalização das empresas generalizou-se, entre 1918 e 1921 a empresas e oficinas cada vez mais pequenas. Esta nacionalização fracassou logo e o rendimento da indústria russa passou de 100 % em 1912 a 14 % em 1920. Não bastou substituir os concelhos de administração por direcções de burocratas, engenheiros e antigos empresários, foi decretado também o trabalho obrigatório. Trotsky atribuiu ao estado o direito de militarizar o trabalho durante o terceiro congresso dos sindicatos russos, em 1920. As greves foram reprimidas com trabalhos forçados. A partir de 1921, o sistema de organização das fábricas e de contratação e remuneração dos operários voltou ao que era antes de 1917, o controlo operário foi suprimido e Lenine gabou-se de que a implantação do “socialismo”, isto é da primeira fase da utopia, seria um facto, precisamente por ele ter aceitado e incluído na organização soviética os últimos progressos realizados pelo capitalismo, sem explicar porque é que tinha seguido a via revolucionária, tentando destruir o capitalismo, voltando para trás e perdendo tempo, em vez de prosseguir a via reformista, para o melhorar. O Partido Comunista acabou por abrir as portas ao capital estrangeiro para que viesse acudir à Rússia e ganhar dividendos. Para o comércio exterior foram criadas sociedades anónimas com metade de participação de capitalistas estrangeiros. Essas sociedades anónimas tiveram um papel importante na importação de máquinas e mais tarde fábricas e assistência técnica para as fazer produzir (chaves na mão e produtos na mão), durante a industrialização e os planos quinquenais, que precederam a segunda guerra mundial.

 

O orçamento e as finanças públicas seguiram pelo mesmo caminho desordenado e pelos meandros do socialismo real, cuja compreensão estava vedada aos não iniciados na fé da utopia. Depois de corrigidos da inflação, os défices orçamentais passaram de 66,6 % em 1918 a 86,9% em 1920, um valor sem precedentes históricos (Ferdinand Tönnies, 1933, Desarrollo de la Cuestión Social, tradução castelhana do original alemão, segunda edição, Editorial Labor S. A., Barcelona, Buenos Aires, 200+XVi p.).

 

A curto prazo, o socialismo na Rússia e colónias causou “um retrocesso catastrófico na produção da agricultura e da indústria” (Ferdinand Tönnies, 1933), ilustrando o fracasso da “combinação do trabalho agrícola e industrial” da nona medida do Manifesto.

 

A longo prazo, o capitalismo de estado iniciado em 1921 e apoiado mais tarde nos chamados planos quinquenais (David Priestland, 2013, A Bandeira Vermelha - História do Comunismo, Lisboa, Texto, 781 p. traduzido do inglês The Red Flag - A History of Communism, 2000) foi um fracasso económico de que a Rússia portentosa acabou por sair diminuída e enfraquecida, perdendo muitas das suas colónias, cerca de setenta anos depois. Era de esperar, porque, ainda que houvesse um poderoso computador, com um poderosíssimo programa económico instalado para elaborar os planos quinquenais, nenhuma equipa de burocratas da nomenclatura apoiada pelo partido, polícia e exército conseguiria reunir nem sombra de todos os dados e informações económicos necessários para fazer correr o programa nesse computador. Segundo David Priestland a própria designação de plano era enganadora, porque muitas vezes as metas indicadas tinham sido fixadas arbitrariamente pelo próprio Estaline, eram muito ambiciosas e impraticáveis. Assim, o primeiro plano quinquenal foi considerado cumprido ao fim de quatro anos, quando faltava ainda realizar 40% dos seus objectivos. Depois, tornou-se regra os funcionários mentirem nos seus relatórios sobre as realizações do plano, nas suas regiões, para protegerem o seu emprego, a sua liberdade e a sua vida contra os castigos do novo imperador Estaline.

 

Entretanto, depois da segunda guerra mundial, muitos outros países ocupados pelo exército soviético, ou como resultado das suas próprias revoluções, baseadas em várias versões do marxismo-leninismo, tinham copiado a moda do Manifesto e dos fracassos económicos já patentes do moderno capitalismo de estado, sem mercado livre e com mercado clandestino. Para isso contribuiu o sistema de promoção da moda marxista-leninista da URSS bem organizado e generosamente dotado de recursos financeiros pelo Governo Soviético. Ainda está por avaliar tudo o que este governo gastou, para fazer funcionar esse sistema de propaganda e promoção, durante a sua existência, não só em publicações e meios de informação, mas também no financiamento de partidos comunistas e “progressistas”, em todo o mundo. Quando Gorbatchov anunciou o fim do financiamento do sistema de propaganda, que a URSS mantinha no estrangeiro, muitos jornalistas e intelectuais de esquerda pararam de enviar para os jornais os seus artigos e crónicas, como foi o caso em Portugal dum conhecido “anti-fascista” do grupo de Argel, Fernando Piteira Santos, com o Diário de Notícias. As guerras e guerrilhas revolucionárias do século XX desperdiçaram recursos sem conta, principalmente os recursos humanos do “capital mais precioso”, como chegou a dizer Estaline, depois de ceifar sem piedade vidas humanas preciosas, que foram contabilizadas pelo próprio (2,75 milhões de pessoas mortas de fome, exaustão e doença nos campos de concentração da União Soviética). Como mais tarde Mao Tse-tung na China, durante a sua revolução cultural, só o fez, para chegar ao poder totalitário e se manter no poleiro de maneira sustentável, ou vitalícia. O desenvolvimento social e económico do globo terrestre foi, desta maneira atrasado durante todo aquele século XX. Alguns países, felizmente poucos e pequenos, ainda não conseguiram safar-se do atraso e miséria impostos pelas famílias reinantes marxistas-leninistas do chamado internacionalismo proletário ou socialismo real, nomeadamente, na favela das Antilhas, com os dois irmãos revolucionários à cabeça duma nomenclatura formada pela polícia e os seus chibatos, sendo os membros desta classe dirigente mais bem pagos do que os da competentíssima e dedicada classe médica cubana. O irmão mais velho já reconheceu ter tomado o caminho errado, porém, velhos e feios como estão, continuam a gostar muito das exibições, nos meios de comunicação. Na Coreia do Norte, o quartel e o campo de concentração combinaram-se numa sociedade retrógrada, com o seu carcereiro, dirigente “bem-amado” de pai para filho e a fome endémica já matou mais de dois milhões de pessoas.

 

O balanço deste sistema económico de capitalismo de estado e político de ditadura totalitária foi globalmente negativo, mas incluiu importantes resultados positivos que foram obtidos no sector cultural, com a eliminação do analfabetismo e o ensino universal e na solidariedade social com o acesso aos cuidados sanitários, igualdade de acesso dos géneros e a muito apregoada mas problemática erradicação da prostituição. Porém, verificou-se, que estes progressos na solidariedade social eram precários, de elevado custo ético com milhões de trabalhadores forçados ou escravos e de mortos no vigor da vida, em numerosos campos de concentração, mais tarde eufemisticamente chamados campos de reeducação, no Vietname e no Norte de Moçambique. Este capitalismo de estado socialista era, na realidade, um estado esclavagista e a escravatura tinha se tornado “uma componente central da economia soviética, com o chocante número de quase cinco milhões de reclusos a integrarem todo o sistema do gulague” (sistema de campos de concentração e trabalho forçado da URSS), em 1947, equivalendo a cerca de 20 % da força de trabalho e fornecendo mais de 10 % da produção industrial da União Soviética. Logo a seguir à morte de Estáline, Lavrenti Béria, georgiano como ele e chefe da polícia secreta, informou os seus colegas da direcção do partido, que “definhavam no Gulag mais de 2,5 milhões de pessoas que não constituíam qualquer ameaça para o estado e propôs a libertação de mais de um milhão de reclusos não políticos.” (David Priestland, 2013). Foi vítima da luta pelo poder entre os seus colegas, que o assassinaram.

 

Quando acabou o socialismo real, verificou-se que os resultados positivos eram dificilmente sustentáveis e houve uma regressão na solidariedade social financiada pelo estado. O ensino médio e secundário universal obrigatório e o desenvolvimento sem precedentes do ensino superior foi a conquista positiva destas revoluções marxistas-leninistas. Levou a um grande desenvolvimento científico, a URSS ultrapassou a Europa e os Estados Unidos da América nesse sector, culminando com a iniciativa da exploração do sistema solar. Porém, logo apareceram dissidências e lutas pelo poder dentro da nomenclatura e o sistema económico e político acabou por se desmoronar ou implodir.

 

Não valia a pena termo-nos inspirado, nem tentado copiar tal sistema económico e político, nos países de língua portuguesa a partir de 1974.  O capitalismo de estado nasceu em Portugal depois da primeira revolução burguesa da Europa, em 1383-85, na cidade de Lisboa (Álvaro Cunhal, 1975, As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média, Lisboa, Editorial Estampa, 132 p.). As suas limitações já eram sobejamente conhecidas em Portugal, onde, com a Inquisição, acabou por comprometer o desenvolvimento económico do país. Depois de ter comprometido o desenvolvimento económico de Portugal e também da Espanha, séculos antes, o capitalismo de estado também comprometeu, na Rússia, o desenvolvimento económico desse grande país. A Rússia com as suas colónias já tinha caído no poço de Chissano, meio século antes de Moçambique e da independência dos “palopes” e a URSS pairava então, em 1974, no mito de super potência e caminhava rapidamente para a implosão. Depois do apocalipse real das purgas, deportações e execuções de Estaline e dos seus tribunais semelhantes aos da Santa Inquisição portuguesa, numa analogia flagrante entre os processos de Moscovo e os de Lisboa, quatro séculos antes, em que os juízes eram também parte interessadíssima e comprometida, (p. 11 e 12, 1960, António José Saraiva, Inquisição e Cristãos Novos, Porto, Editorial Inova, 327 p.), com delatores, torturas físicas e morais e sem justiça independente, a própria nomenclatura soviética já não acreditava na utopia marxista-leninista do comunismo. Os delatores ou familiares da Santa Inquisição católica romana recebiam uma boa parte do património confiscado aos operadores económicos, que denunciavam, os delatores do KGB só recebiam um prato de lentilhas, sob forma de promoção na hierarquia da nomenclatura, que lhes permitia, quanto muito, sair da miséria e beneficiar de condições de vida comparáveis às das classes trabalhadoras dos países de mercado livre. Mesmo para eles, este sistema não era atraente.

 

Nos palopes, os dirigentes da nomenclatura de Cabo Verde foram os que mais depressa se aperceberam do logro e tomaram medidas preventivas e correctivas atempadamente, para não voltarem a cair no ciclo das fomes. Evitaram os fracassos patentes da maioria das medidas do Manifesto Comunista e desenvolveram a décima medida de educação das crianças e adultos. Foram militaristas desorientados e também antidemocratas para se apropriarem do poder, mas felizmente não chegaram a ser revolucionários, uma vez no poder abstiveram-se de destruir. A começar pelo primeiro presidente de Cabo Verde (Aristides Pereira, p. 249, 253, 297, entrevistado por José Vicente Lopes, 2013, Aristides Pereira: Minha Vida Nossa História, Praia, Spleen Edições, 492 p.), valeu-lhes a sua caboverdeanidade, que evitou novas calamidades. Puderam empenhar-se na solução das antigas calamidades crónicas, a falta de água para a agricultura e o analfabetismo. Entre os palopes, foram os únicos, que souberam evitar o neocolonialismo soviético (Aristides Pereira, falando do seu primeiro ministro e sucessor Pedro Pires, p. 423, obra citada), que trouxe guerras civis a Moçambique, Angola e Guiné e dizimou os seus quadros políticos. Deram um grande exemplo aos “palopes” e também a Portugal. Educaram a juventude caboverdeana e preparam-na para os desafios do desenvolvimento em todos os sectores e longitudes. Acabaram por renunciar a medidas administrativas repressivas, ao partido único e abriram as portas à democracia, que continua a ser o menos pior dos regimes políticos, como lembrou Winston Churchill. Contrariamente a outros países, como Portugal, para não falar de países africanos e latino-americanos, a democracia de alternância dos partidos políticos tem funcionado satisfatoriamente em Cabo Verde.

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José Carlos Mucangana

ATENTADO...

 

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... CONTRA OS SISTEMAS POLÍTICOS OCIDENTAIS E

CONTRA O CRISTIANISMO

 

Berlim como símbolo do cristianismo e Nice como símbolo da República

 

 

O atentado em Berlim provocou 12 mortos e 49 feridos (destes encontram-se 14 em perigo de vida). Eram pessoas que se alegravam como outros, nos milhares de mercados de natal que tradicionalmente se realizam durante as quatro semanas de advento, em todas as cidades e aldeias da Alemanha. Fica a compaixão com as vítimas.

 

A Polícia Judiciária Federal alemã busca o tunisino Anis Amri, disponibilizando um prémio de recompensa pela captura que vai até 100.000 euros. No camião, foram encontradas impressões digitais e os documentos do refugiado tunesino (tolerado) de 24 anos de idade (em posse de diversos documentos de identidade); Anis Amri já tinha sido condenado a quatro anos de prisão na Itália mas a Tunísia não o aceitou e ele depois de cumprida a pena submergiu na sociedade pedindo depois refúgio na Alemanha. A Alemanha tolerava-o dado não o poder enviar para a Tunísia. Os Verdes não estão de acordo considerar os países do norte de África como países seguros onde se possa reenviar refugiados não reconhecidos como tal.

 

O delinquente islamista era "soldado do Estado Islâmico", segundo declarou o porta-voz do EI Amak.

 

As pessoas de boa vontade e o povo alemão encontram-se assustados e tristes e a chanceler sente-se “horrorizada, chocada e profundamente triste”. Para estas coisas “não há respostas simples”, confessa ela. Este é o maior ataque na Alemanha que atinge profundamente a Chanceler dos refugiados.

 

Atentado contra os símbolos da cultura ocidental

 

O atentado de Berlim repete a estratégia do atentado de Nice perpetrado na França a 14 de julho passado, dia nacional da República, e que provocou 86 mortos e 400 feridos. Na França são atacados os valores republicanos da revolução francesa e em Berlim é atacado o cristianismo, como sua fonte.

 

Apesar do grande empenho e da alta competência e actividade do sistema de segurança nacional, a Alemanha não conseguiu impedir o que um dia teria de acontecer.

 

O islamismo fanático está consciente da importância dos símbolos, dos mitos e das ideias como motivadores de acção e como fundamentos em que assenta a história de toda a cultura, nação ou civilização. Por isso escolhem bem os espaços e os tempos da sua intervenção na sua luta anti-cultural. O mercado atacado tem grande densidade de significado e conteúdo: fica mesmo ao lado da “Igreja do Memorial”, que é símbolo da paz e da reconciliação e como mercado do advento prepara a festa do Natal.

 

A logística do fanatismo cria rituais e contra-símbolos como mensagens estatuídas, nos minaretes do tempo, a avisar contra os símbolos dos adversários. De fora operam com atentados, de dentro não aceitando as canções de natal ou a festa do são martinho, cruzes, etc. Pelo que observo, nas sociedades onde se encontram, como pessoas são geralmente muito simpáticas mas como grupo religioso, geralmente lutam pelo seu direito de grupo mas não pela humanidade ou pelos direitos da pessoa (a defesa destes enfraqueceria o grupo!).

 

O problema não está nos refugiados mas na ideologia. Não se trata agora de criminalizar tantos refugiados vítimas da guerra nem de abdicar de uma sociedade aberta e livre mas de levar os chegados a abrir-se à abertura que lhes permite serem eles (e, por outro lado verificar até que ponto os imigrados são integráveis; sim porque uma civilização não pode transformar-se numa floresta aberta). Não chega perseguir aqueles que em nome do Islão praticam a barbaridade, é preciso que o islão se transforme de maneira a aceitar os outros como pessoas e não apenas como crentes de um lado e adversários do outro. Doutro modo o Ocidente passa a viver na reacção ao medo e na caça daqueles que alimentam a suas energias negativas a partir do Corão (até surgiu a ideia de encerrar todos os mercados de natal na Alemanha assim como a de evitar festas de natal nos jardins de infância ou nas escolas para se não ferirem susceptibilidades islâmicas! Entretanto optaram por colocar cubos de cimento nos acessos aos mercados de natal). Há que purificar as águas do abuso na fonte, doutro modo tudo não passará de maculatura. Uma sociedade aberta não se pode desculpar por ter de defender a abertura, uma sociedade aberta tem o direito de exigir dos hóspedes também a abertura que eles exigem para si. Doutro modo autodestrói-se. Combater os nazis e seus dizeres e ignorar os dizeres (suras) do Corão que são mais desumanos que os dizeres dos nazis é confundir e enganar a sociedade. O Corão precisaria de ter notas explicativas que neutralizassem a guerra e que justificam.

 

Os políticos e a economia são os mais responsáveis do estado a que chegamos porque pretendem enganar o cidadão dizendo que na guerra declarada à cultura ocidental se trata apenas de casos individuais ou de grupos extremistas e, por isso, não exigem o estabelecimento de acordos bilaterais de abertura que assegurem nas sociedades islâmicas o respeito pelos cristãos e ateus como acontece nas sociedades ocidentais com os muçulmanos. A troca e o intercâmbio não é suficiente nem honesta se uma parte se preocupa apenas com o dinheiro como se o mundo se reduzisse a um supermercado.

 

Também é verdade que uma cultura se afirma em grande parte pela economia e tecnologia mas estas não são monopólio eterno do Ocidente e no futuro quem mais se afirmará serão as culturas com economias fortes. O ocidente vive na ilusão de poder continuar a abdicar da sua cultura e só com a economia e meia dúzia de valores desencarnados poder continuar a influenciar determinantemente o mundo sem uma plataforma cultural vivida; equivoca-se não se tornando consciente das razões da sua decadência. Nos inícios havia a guerra entre tribos, depois entre nações e agora dá-se entre civilizações. O ocidente encontra-se num momento da História semelhante ao dos judeus no tempo em que os romanos lhe destruíram o templo. Deles poderia o Ocidente e em especial a Europa aprender muito. O povo judeu integrou nele a interculturalidade sem perder nem renegar a sua identidade. Por isso continua a ser no mundo uma referência positiva e ao mesmo tempo, com o cristianismo, um grande impulsionador da história humana. Nos países onde os judeus se encontram, a civilização avança sem que se imponham. Estes poderiam constituir para as elites europeias um exemplo de abertura e de autodefinição na medida em que ad intra se aceitam como judeus crentes e judeus seculares e ad extra se afirmam no respeito pelas leis que vigoram nos países onde se integram sem quaisquer devaneios ideológicos de grupo.

 

A culpa repartida traz mais juros para as partes

 

Quem é o culpado do atentado? O assassino, o EI, o Islão? Esta é uma questão complicada e difícil de responder na nossa sociedade, habituada a culpar o cristianismo pelas maldades acontecidas em épocas passadas. O ressentimento é alimentado e cultivado por grupos de interesses que se aproveitam do sistema e procuram justificar-se buscando a culpa nos outros.

 

Por vezes tem-se a impressão que a culpa repartida traz mais juros para todos os grupos de interesses organizados no Estado, de forma autónoma, mesmo contra os interesses da nação e do povo. Por vezes tenho a impressão de encontrar um certo paralelo na atitude de tanatofilia dos suicidas bomba muçulmanos na defesa do islão e uma atitude de tanatofilia de muita gente da esquerda radical que consciente ou inconscientemente disputa pela morte da própria cultura.

 

Independentemente da realidade manifestada nos factos, cada partido reage aos atentados segundo a sua ideologia e programa, o que é natural em democracia. O que se torna estranho é o facto dos adversários de dentro se aproveitarem do inimigo de fora como aliado de luta para defesa da própria ideologia e ataque da do concorrente político; o factual passa à margem e o todo também. Agora, na rua, formam-se manifestações paralelas da direita e da esquerda, umas contra as outras; o que não se vê são manifestações de muçulmanos contra a barbaridade cometida. Procura-se tirar capital político das acções abomináveis em que cada parte aponta no sentido do polo contrário. Alguns falam de “mortos de Merkel” e da culpa da política de refugiados do governo alemão, outros vêm no acontecido um mal menor numa sociedade aberta, outros sentem satisfação e interesse em que se caia no caos, porque este lhes ofereceria mais oportunidades, que uma sociedade ordenada e próspera não ofereceria.

 

A discórdia e a luta de uns partidos contra os outros é aquilo que mais alegra e dá força aos islamistas. A sociedade se não quer ver a sua liberdade roubada terá de a defender, mas a sociedade de interesses encontra-se polarmente dividida predominantemente empenhada em fazer valer os interesses de uma parte contra os da outra perdendo-se na concorrência partidária sem se empenhar por encontrar um consenso do que constitui as colunas da própria identidade cultural que possibilita a uns e outros uma existência baseada na sustentabilidade.

 

Aos problemas da dinâmica democrática junta-se os parâmetros de uma outra sociedade concebida em termos fascistas que se exprimem, cada vez mais, numa sociedade com mais de 5 milhões de muçulmanos (quatro milhões de turcos cujas associações que de facto se sentem mais ligadas a Erdogan do que à constituição alemã). Os interesses de uns e de outros encontram-se à mistura e repartidos por diferentes facções políticas e económicas, todas elas interessadas no negócio com eles.

 

O islão-político conhece bem as fraquezas do Ocidente que, sem uma identidade comum será fácil de dividir ainda mais e de dominar tal como aconteceu a Roma perante os vizinhos bárbaros.

 

Enquanto o terrorismo internacional servir os interesses de algum grupo dentro de um país, ele não poderá ser combatido consequentemente sem haver “guerra-civil” ideológica. Haverá sempre a compreensão e os aliados que sacrificam a vítima em favor da agressão, tal como acontece hoje na Síria.

 

De facto não se trata já de deixar o terrorismo entrar na sociedade, ele já se encontra nela, camuflado de diferentes formas; o que se combate fora encontra-se dentro e vice-versa. Torna-se grutesco que vítimas da injustiça se tornem injustas tornando suas vítimas os humanos que os acolhem. A guerra gera guerra.

 

A paz não pode ter um só sentido em vias paralelas, pois nunca nos encontraríamos, doutro modo ganhará o que tiver a estratégia de autoafirmação exclusiva e mais agressiva.

 

O atentado de Berlim não é um ataque à Alemanha mas aos fundamentos da sua identidade na sua vertente religiosa do Natal e na vertente política da revolução francesa.

 

Apesar das provocações na própria casa, os cristãos têm de defender a abertura que lhe é própria na convivência com o próximo; para o cristão a dignidade é inerente ao homem e não a uma confissão. No caso, como se trata de interesses políticos não seria oportuno, depois de se ter apanhado na face direita, oferecer a esquerda, mas de fugir ao círculo vicioso de pagar o mal com o mal. O ódio é o pior companheiro porque, além de vingativo e cegar, traz consigo danos emocionais, físicos e espirituais. O mal não vem de fora; ele só se afirma porque se encontra dentro de nós e na sociedade que deformamos.

 

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António da Cunha Duarte Justo

 

ALEMANHA - GRANDE OFENSIVA CONTRA ISLAMISTAS

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 ASSOCIAÇÃO SALAFISTA PROIBIDA

 

Aumento da Roupa islâmica nas ruas é Sinal do Avanço do Islão radical

 

No dia 15.11.2016 realizou-se a maior operação policial em 10 estados federais. 1900 polícias fizeram buscas em 60 cidades a 200 habitações, escritórios e mesquitas da organização salafista “A Verdadeira Religião”( rede de pregadores), que foi proibida na Alemanha por ser contra a Constituição. O seu chefe Abou-Nagie encontra-se actualmente na Malásia. (Ele já tinha recebido ilegalmente, com a família, apoios sociais em Berlim no valor de 53.000€).

 

A polícia confiscou armas, computadores, várias facas, um facão, um soco-inglês e pirotecnia, ninguém foi preso na altura. Através do controlo policial geralmente discreto, a Alemanha consegue evitar actos de violência maiores na sociedade.

 

O Gabinete Federal para a Protecção da Constituição avalia o crescente número de radicais salafistas islâmicos na Alemanha em cerca de 1.200 homens e mulheres (20% mulheres!). A tática da organização é: primeiro distribuir o Corão e, em seguida, levar a aderir ao “Estado Islâmico”.

 

Sob o pretexto da distribuição do Corão em zonas de peões, a organização “Lê” fazia reclame pelo Estado Islâmico (Distribuíram na Alemanha, até 2016, 3,5 milhões de exemplares do Corão e no estrangeiro cerca de 26 milhões). Na Alemanha há cerca de 9.200 salafistas; 140 jovens foram radicalizados pelo grupo tendo ido como jihadistas para as zonas de combate na Síria e no Iraque.

 

Muçulmanos salafistas rejeitam a democracia e apenas reconhecem a jurisprudência islâmica (Sharia) e a “ordem islâmica” como única forma legítima de Estado e da sociedade. No início, quando o salafismo começou a distribuir o Corão nas zonas de peões, ninguém imaginava a pólvora que ele contém e então diziam não se poderem discriminar porque também se pode distribuir a Bíblia.

 

Na rua cada vez se nota mais a roupa islâmica como o sinal do avanço do Islão radical. O Problema do lenço tem a ver com o Islão político, com aspectos religiosos, feministas, minorias e direitos humanos, geralmente não tratados. A mulher muçulmana que tapa o corpo e põe o lenço assume uma áurea de vítima: vítima do Islão e da sociedade ocidental porque na sua decisão não é livre de fugir à pressão social de timbre fundamentalista muçulmano nem à pressão de timbre emancipatório ocidental.

 

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António da Cunha Duarte Justo

“O ISLÃO É INCOMPATÍVEL COM A DEMOCRACIA OCIDENTAL”

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MUÇULMANOS PODEM SER DEMOCRATAS - O ISLÃO NÃO

 

O cientista e politólogo Hamed Abdel-Samad constata que “o Islão é incompatível com a democracia, muçulmanos podem muito bem ser democratas… são democratas não por serem muçulmanos mas apesar de serem muçulmanos” (HNA 11.11.2016).

 

Muçulmanos e não muçulmanos defensores de uma modernização do islão na Europa, declaram-se fracassados e impotentes nos seus esforços de implementação de um islão mais democrático e aberto, dado a política europeia favorecer um islão de lenço e não apoiar as pessoas defensoras da modernização do islão nem um laicismo islâmico.

 

O cientista muçulmano Prof. Dr. Bassan-Tibi que sempre lutou por um islão filantrópico, democrático e humanista na Europa, vê tal intento frustrado, numa entrevista ao Cícero. Também segundo ele, muçulmanos liberais não são tomados a sério pelas instituições sociais nem são convidados pelas instituições públicas; convidados são os representantes tradicionalistas de organizações muçulmanas e mesquitas. Geralmente, em torno das mesquitas formam-se associações de utilidade pública que fomentam o gueto.

 

Abdel-Samad critica a vigente cultura de debate social que evita ou impede de falar a quem analisa objectivamente as coisas e fala texto claro e, por outro lado, concede palco a quem ideologiza e tudo isto em nome da tolerância que se baseia no medo de uma análise científica do assunto e, como tal se evita, com o pretexto de que uma discussão aberta e livre poderia fomentar a xenofobia. Com medo de encarar a realidade como ela é, prefere-se viver de diálogos oportunos para fazer salão e para alguns, mas que não tocam o âmago das questões e deste modo não servem também o islão.

 

Os nossos políticos estão interessados em que não haja uma discussão aberta sobre o assunto porque por um lado perderiam adeptos islâmicos e eleitores não islâmicos e triam de tomar mais medidas em favor da integração. Esta é uma questão muito complicada devido aos muitos interesses em jogo, sejam eles de assunto partidário e política ou de interesses profissionais como é o caso de assistentes sociais, advogados, médicos, professores, indústria e todo o comércio.

 

O islamismo considera a mulher como despojo nas suas conquistas e permite aos homens bater nas suas mulheres ou considerá-las como objecto sexual e como “sementes de colheita” (Corão), diz Abdel-Samad, defensor de um islão moderno.

 

Muito da nossa boa gente e até intelectuais preferem viver de ideias de um conhecimento superficial do islão para poderem aparecer nos palcos públicos (vivendo da ideia errónea de que as religiões defendem todas o mesmo), não notando que assim estão a apoiar o radicalismo islâmico e a impedir a formação de um islão moderno.

 

“O Corão protocola diferentes estádios ou condições em que Maomé e a sua comunidade se encontravam. Quando se sentia fraco e oprimido pregava a tolerância e o perdão e quando formou um exército com a comunidade, entrou em conflito com povos politeístas, judeus e cristãos, então são protocoladas no Corão as passagens de exclusão (xenofobia) e de ódio”, atesta Abdel-Samad. Uma vez que o Corão é visto como a última palavra de Deus imutável e intangível torna-se difícil pronunciar-se, sendo lógica a contradição e a ambiguidade do esmo Corão. “O Corão ordena aos muçulmanos que não façam amizade com cristãos nem com judeus porque são piores que animais e são impuros”; isto contradiz a dignidade e a igualdade; revela-se como uma boa estratégia porque o contacto poderia levá-los a comparar e a pensar mais diferenciadamente. Em geral, como nos Testemunhas de Jeová, o contacto inter-familiar de muçulmanos e cristãos não é desejado, a não ser no trabalho e com representantes.

 

Na crítica que se faz é determinante distinguir-se entre pessoa e ideologia. Uma coisa é o islão e outra coisa são os muçulmanos. Estes não devem ser abordados com preconceitos nem devem ser excluídos.

 

Uma pesquisa feita na Alemanha em 2015 revela que 57% dos residentes na Alemanha vêem o islão como ameaçador e 61% dizem que ele não se enquadra na democracia e dois terços rejeitam a afirmação de que o islão faz parte da Alemanha.

 

Muitos crentes fazem guerra fora e dentro: em nome da liberdade religiosa, exigem direitos especiais (acabar com a carne de porco nas escolas, pôr salas de oração à sua disposição, libertar as meninas de aulas de natação, de viagens de estudo, etc. e evitar gestos de cortesia, como apertar a mão a mulheres; estas são consideradas impuras no tempo da menstruação.

 

Em democracia é natural que os grupos de interesse se juntem para defenderem os seus interesses; a democracia, porém deveria estar mais atenta a quem se serve dela para impor costumes e leis antidemocráticas. Na Alemanha cada vez se sofre mais com a ligação do chauvinismo nacional turco promovido e controlado pelo governo turco que envia os seus funcionários para dirigir as mesquitas e por grandes organizações turcas numa Alemanha com 4 milhões de turcos que apoiam maioritariamente o regime fascista de Erdogan.

 

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António da Cunha Duarte Justo

O FANATISMO EMPURRA O MUNDO

 

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ATENTADO CONTRA CRISTÃOS COPTAS

 

Domingo, 12.12.2016 o ministro egípcio da saúde deu conhecimento de um atentado muçulmano no Cairo na catedral copta de S. Marcos. O atentado provocou 25 mortos e 49 feridos, durante uma missa.


Mais um atentado à conta do Islão! E muitos teimam em continuar a afirmar que este, como outros, é apenas excessos de extremistas da "religião da paz". Pelo que a realidade mostra por todo o lado, não. Pela paz é, certamente, a maioria dos muçulmanos mas o islão não. Em nome dele, sem contradição das massas muçulmanas, se cometem imensas barbaridades contra a humanidade.


Os cristãos coptas, uma comunidade cristã antiquíssima em toda a região constitui hoje uma minoria de 10% da população egípcia.


Al-Sisi, o presidente, decretou um luto nacional de três dias. De facto, a “Irmandade Muçulmana” é uma ameaça contínua não só para os cristãos mas também para os muçulmanos que querem viver em paz e sossego. A Irmandade tem ligação com o Daesh.


Os fanáticos muçulmanos determinam não só a imagem mas também a actualidade do Islão. Em nome da honra do Islão assassinam e destroem enquanto os civilizados explicam as suas barbaridades em nome da compreensão e da tolerância.


Será que a História lhes dá razão ao provar que quem se afirma com fanatismo e mais violência cria os pressupostos do futuro que então os legitimam e lhes dão razão... Porque será que no mundo ainda há tanta gente a viver da produção e do uso das armas e do combate por ideologias?

 

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António da Cunha Duarte Justo

SUBSÍDIOS PARA A CABOVERDEANIDADE (5)

 

 

A nova linguística soviética e como foi que Estaline esclareceu os camaradas desorientados, que misturavam política e ideologia com a linguística, na Universidade de Baku. Estaline parece ter aprendido com os seus erros, depois do gulague e do respectivo holocausto, tornou-se promotor da liberdade de opinião na ciência.

 

A experiência relativamente recente da União Soviética (URSS) mostrou-nos que, quando os cientistas e investigadores misturam a política com a ciência, esta última afunda-se. O académico ucraniano Trofim Denisovich Lysenko (1998-1996) tornou-se célebre por ter defendido uma genética proletária, oposta à genética burguesa americana. Para ele, os genes eram conceitos burgueses. Desta maneira, por falta de genes, a genética soviética perdeu a sua razão de ser e definhou.

 

JCH-Lysenko.jpgTrofim Denisovich Lysenko (Wikipedia), com o seu olhar de psicopata assustado pela sua própria sombra.  Lysenko foi um biólogo e agrónomo soviético de nacionalidade ucraniana, que rejeitou a genética mendeliana.  Era a favor das teorias de hibridização do horticultor russo Ivan Vladimirovich Mitchurin, criticou a genética «burguesa» americana e pôs em dúvida a existência dos genes, em nome duma nova genética «proletária».

 

T. D. Lysenko, o membro da academia, que prejudicou a genética, desviando-a do campo da ciência para o campo da política, como escreveu o Doutor Almerindo Lessa (1960, Seroantropolgia das Ilhas de Cabo Verde, Mesa-redonda Sobre o Homem Caboverdeano, Mindelo, 21 a 24 de Julho de 1956, Junta de Investigação do Ultramar, Estudos, Ensaios e Documentos Nº 32, 159 p.), era bem conhecido em Cabo Verde e a sua genética sem genes foi discutida durante a mesa-redonda do Mindelo sobre o homem caboverdeano, em 1956, à qual participaram 23 investigadores caboverdeanos, 1 indo-português e 6 portugueses.

 

JCH-Marr.jpgNikolai Yakovlevich Marr, (1865 – 1934), professor georgiano da Universidade de Leninegrado, que introduziu a luta de classes na linguística e que, por isso, foi reconhecido e galardoado com o Prémio Lênine pouco antes de morrer

 

Disparates deste quilate surgiram também, na linguística soviética. Após o golpe de Estado do partido bolchevique, que ficou conhecido por grande revolução socialista de Outubro, um professor da Universidade de São-Petersburgo, Nicholas Yakovlevich Marr (1864-1934), decano do Departamento das Línguas Orientais, que era filho de pai escocês e tinha nascido de mãe georgiana, na Transcaucásia, aderiu ao marxismo-leninismo que estava oficialmente na moda e quis interpretar a linguística à luz dessa doutrina política. Tratava-se dum profissional de mérito reconhecido, que, só depois da revolução, se tornou marxista-leninista. Aderiu ao partido bolchevique, provavelmente a toda a pressa para defender a sua cátedra e não ser saneado, e depois tentou ser consequente, estudando o marxismo-leninismo, inspirando-se deste na sua actividade profissional, a que tentou dar um cunho original e criador, como todos os verdadeiros cientistas. Estas tentativas levaram-no a misturar a política com a ciência, a sua obra científica ficou esterilizada pela política e deixou de ter interesse.

 

A partir daí, teve uma carreira brilhante e tornou-se o mandarim da linguística soviética com a sua “nova doutrina linguística”, segundo a qual a noção de protolíngua era fictícia e as línguas nacionais se tinham formado pela convergência de numerosos dialectos tribais, uma origem “sociolinguística” antes da letra (Manuel Monteiro da Veiga, 1995, p. 19, O crioulo de Cabo Verde-Introdução à gramática do Crioulo, Instituto Caboverdeano do Livro e do Disco, Praia, 490 p. Ver Subsídio 9.). A linguística comparada era “burguesa” ao passo que a sua “nova doutrina linguística” era marxista e proletária, porque, segundo ele, as línguas tinham evoluído com as lutas de classe, como parte integrante da superstrutura ideológica. Recebeu o prémio Lenine em Janeiro de 1934, ano em que morreu e teve funerais oficiais (René L'Hermitte, 1984, Science et perversion idéologique: Marr, marrisme, marristes, une page de l'histoire de la linguistique soviétique, Institut d’Etudes Slaves, Paris, 104 p.).

 

A linguística soviética foi dominada pela nova linguística de classe até que Marr e os seus discípulos da Universidade de Baku, Azerbeijão fossem criticados pessoalmente pelo primeiro tsar (= imperador) da URSS, Yosif Visarionovitch Djugachvili, conhecido pela sua alcunha Estálhine e caucasiano como N. Y. Marr (Joseph Staline, 1950, A propos du marxisme en linguistique, in Derniers Ecrits 1950-53, Editions Sociales, Paris, p. 11 – 59).

 

JCH-Staline.jpg Iosif Vissarionovich Djugashvili (Wikipedia), mais conhecido pela alcunha, que escolheu na clandestinidade, Stálhine, 1979 - 1953, marxista-leninista georgiano, que, cerca de vinte anos depois de subir ao trono, desembaraçou a linguística da luta de classes, mas que parece não ter chegado a ser conhecido dos linguistas cabo-verdianos, que introduziram a resistência dos escravos na linguística, outros vinte anos mais tarde.

 

Estaline negou que a língua fosse uma super estrutura (institucional e cultural) acima da base social, que definiu como “regime económico da sociedade a uma dada etapa do seu desenvolvimento”. Lembrou que quando o regime económico se modifica, aparece a superstrutura que corresponde ao novo regime, mas que isso não acontece com a língua. Exemplificou com a língua russa, que se manteve essencialmente a mesma, enquanto que a sociedade russa tinha atravessado três regimes económicos diferentes, feudalismo, capitalismo e socialismo, assim designava ele o capitalismo de Estado, com as respectivas superstruturas diferentes. Sublinhou que a língua é radicalmente diferente da super estrutura.

 

A seguir vamos resumir os principais esclarecimentos feitos por Estaline, no seu estilo pesado e repetitivo, como respostas a questionários e a cartas de linguistas e membros do seu partido único. Começa por lembrar, que não sendo linguista, não poderia dar inteira satisfação aos seus camaradas mais competentes do que ele em linguística, mas que podia falar com conhecimento de causa das relações entre o marxismo e as ciências sociais. Era um autodidacta, que mostrou, nos seus últimos escritos, ter espírito prático, aberto às realidades e pouco dogmático.

 

(1)     Contrariamente à super estrutura a língua “não é obra duma classe qualquer, mas de toda a sociedade, de todas as classes da sociedade, (…) é criada como língua do povo inteiro, única para toda a sociedade”. É uma ferramenta de comunicação entre os homens e o seu papel “não consiste em servir uma classe em detrimento das outras, mas serve indiferentemente toda a sociedade, todas as classes da sociedade.”

 

Acrescenta, mais adiante, que a língua “serviu de igual modo os membros da sociedade, independentemente das suas condições sociais” e que

 

(2)     A língua “está directamente ligada à actividade produtiva do homem”, por outras palavras ao trabalho.

 

Foi como língua de trabalho que os caboverdeanos ensinaram a sua língua materna, primeiro na Ásia e na África, a seguir, no Brasil e depois nas Guianas e Antilhas, aos escravos que lá encontraram e aos que iam chegando numerosos de África.

 

Entre as outras opiniões e comentários de Estaline para esclarecer os “camaradas desorientados”, interessa citar ainda mais dois.

 

(3)     “Não se pode compreender as leis do desenvolvimento duma língua, sem estudá-la em relação estreita com a história da sociedade, com a história do povo ao qual pertence a língua estudada, seu criador e falante.”

 

Infelizmente a longa e rica história do povo caboverdeano está insuficientemente conhecida e estudada dentro do Arquipélago e ainda menos conhecida e estudada está a história da nação caboverdeana espalhada pelo mundo, no império português e como ramo da diáspora portuguesa, porque a história oficial portuguesa, tem escondido e ignorado até hoje páginas e capítulos importantíssimos da história de Portugal e seu Império. Voltaremos a discutir mais demoradamente este assunto em subsídios que se seguem. Ainda vamos a tempo de eliminar esta grande lacuna e desenvolver o estudo da história das diásporas caboverdeanas nas nossas universidades.

 

Infelizmente, os crioulistas do século XX gastaram os seus preciosos recursos para tentar compreender a formação das línguas crioulas com a ajuda da sociologia, quando deviam ter estudado a história dos seus falantes. Acumularam milhares de páginas de trabalho inútil. Já não vamos a tempo de recuperar todos os esforços desperdiçados, esta lacuna e desorientação dos crioulistas deu como resultado, durante um século de abnegado trabalho intelectual, a inúmeros disparates, meio século antes e meio século depois de Estaline se ter debruçado sobre a glotologia ou linguística.

 

Estaline criticou mais do que a perversão ideológica da linguística. Criticou também as escolas sectárias que se tinham formado nas universidades a partir dessa perversão e do culto dogmático prestado ao mandarim e suas teorias sem fundamento científico.

 

(4)     “Está universalmente reconhecido que não pode haver ciência a desenvolver-se e prosperar, sem uma luta de opiniões, sem liberdade de crítica”, escreveu ele. Foi por isso, que Estaline criticou a escola da nova linguística de classe, que se tinha tornado um grupo fechado à crítica, mas aberto aos privilégios burocráticos e mercantis, onde só progrediam e subiam na hierarquia os adeptos incondicionais do mandarim desorientado.

 

Parece que os marxistas-leninistas caboverdeanos foram melhores discípulos de Trotsky do que de Estaline, cujas obras aparentemente desconheciam. Com a leitura dos comentários de Estaline à nova linguística soviética poderiam ter evitado misturar a investigação científica com a política, como infelizmente fizeram, cobrindo carências de informação, estudo e investigação com conceitos políticos, nomeadamente a “resistência dos escravos sublimada”.

 

Porém, mais vale tarde do que nunca, ficam neste subsídio registadas as ideias mais importantes, que Estálhine, marxista-leninista convicto, exprimiu sobre a linguística, em geral e sobre a nova linguística soviética, em particular.

 

Nos próximos subsídios tentaremos compreender e discutir mais detalhadamente as teorias da nova linguística caboverdeana baseada na sublimação da resistência dos escravos.

 

Antes de terminar, queríamos ainda confirmar que o tsar autodidacta da URSS não deixava de ter espírito prático, aberto às realidades e pouco dogmático e até parece que aprendia da sua própria experiência, praticando a auto-crítica!...

 

No apocalipse terrestre da URSS, as vítimas contam-se aos milhões, entre elas muitos cientistas, como o grande economista russo Nikolai Dmitriyevich Kondratiev, nascido na aldeia de Galuevskaya, província de Kostroma, ao Norte de Moscovo, aos 4 de Março de 1892 e fuzilado aos 17 de Setembro de 1938, em Suzdal, perto de Moscovo. Era filho de camponeses da nacionalidade komi. Foi preso em Julho de 1928, depois de ter visitado a Universidade de Minnesota e outras universidades americanas. Depois de ter cumprido a pena foi novamente julgado, condenado a dez anos de prisão incomunicável e logo fuzilado antes de ter começado a cumprir a nova sentença. Tinha 46 anos, escreveu os seus últimos livros na prisão e correspondia-se com sua esposa e sua filha Elena. Não foi enviado para a Sibéria e a proximidade de Moscovo da prisão, onde estava, indica que Estálhine queria ler o que ele ia escrevendo e que a ordem para ser fuzilado veio directamente do secretariado do comité central do PCUS. Antes de ser preso, Kondratiev trabalhou no ministério da agricultura soviético e foi um dos promotores da nova política económica (NEP, em russo) adoptada por Lenine. Tinha proposto um plano quinquenal para a agricultura. Pensava que se devia começar por desenvolver o sector agrícola, seguindo-se a indústria. Estaline decidiu que a industrialização forçada, tirando recursos financeiros à agricultura, era o caminho mais rápido para chegar ao “socialismo” num só país. Kondratiev elaborou a teoria dos grandes ciclos económicos, que tomaram o seu nome (ciclos de Kondratiev ou ciclos K), para explicar o desenvolvimento económico e as crises cíclicas do capitalismo, ciclos de 60+/-15 anos, aos quais o capitalismo de Estado da URSS não podia subtrair-se. Staline mandou fuzilar Kondratiev, que tinha ousado pôr em causa o mito da construção do socialismo a desembocar no comunismo.

(https://en.wikipedia.org/wiki/Nikolai_Kondratiev). 

 

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O economista Nikolai Kondratiev com sua filha

(http://imperor.net/en/heroes/nikolai-kondratiev-russian-economist/)

 

Dois anos depois, foi assassinado, no México, Lev Davidovich Bronstein, mais conhecido pela sua alcunha Trotsky, que nasceu aos 7 de Novembro de 1879, na aldeia de Bereslavka, Ucrânia, no seio duma família de agricultores abastados e morreu a 21 de Agosto de 1940, na cidade de México, um dia depois de ter sido agredido pelo assassino (https://en.wikipedia.org/wiki/Leon_Trotsky). O KGB tinha organizado três grupos independentes de assassinos e um célebre pintor mexicano do partido comunista também tinha tentado assassiná-lo. Com um grupo de capangas metralhou a residência descarregando as munições. Com Trotsky, Estálhine queria enterrar a teoria de que não era possível estabelecer o socialismo num único país, mas só ajudou a criar o mito do seu camarada, que tinha fundado o Exército Vermelho, militarizado o trabalho (Ver Subsídio 6.) e a quem se pode reconhecer um olhar de psicopata, mesmo nas fotografias tiradas há dezenas de anos. 

 

O ciclo Kondratiev fez implodir a URSS. Em 26 de Dezembro de 1991, a URSS dissolveu-se.

 

Depois de ter mandado assassinar um brilhante economista russo e muitos outros homens e mulheres de ciência, durante grande parte da sua vida, foi nos seus últimos dias, que o primeiro tsar soviético escreveu o que citámos mais acima: “Está universalmente reconhecido que não pode haver ciência a desenvolver-se e prosperar, sem uma luta de opiniões, sem liberdade de crítica”. Como interpretar esta sua frase? Aprendeu dos seus erros? Desculpava-se? Estava arrependido? Todos os seus assassinatos seriam, para ele, ossos do ofício dum político? Mesmo com espírito prático e aberto às realidades e pouco dogmático, não passava dum típico marxista-leninista convicto e realizado…

 

 Jose Carlos Horta.jpg

José Carlos Mucangana

SE A MINHA ILHA SOUBESSE…

 

MM-gruta da Madalena, Açores.jpg

 

 

Sei das belezas incontornáveis

Das grutas da Madalena

Mas de grutas, já tenho a minha quota…

Por isso, comprei na Vila uns postais

Para enviar aos Amigos!

 

Já vi alguns ninhos dos canários da terra

É hora da procriação…

Pequenos e aguerridos

Defendem a bicadas

O que lhes pertence…

Será

Que eu deveria ter feito o mesmo?!...

 

Além da sombra

Que o fim do dia projecta

Pairou no ar deste Sol-pôr

O voar dum milhafre…

Com ele me vou

Esfaimada

Em busca de alento!...

 

Há dentro de mim

Um incêndio maior

Do que aqueles

Que tanta vez grassam

Por essas encostas…

E meu coração

É perigosa labareda

Sem fim à vista!...

 

Sempre que passeio

Prás bandas do mar

Lamento a minha falta de habilidade

Para a pintura…

As suas cores

Mudando hora a hora

Vão dos tons negros

Aos claros vibrantes

Num piscar de olhos…

Como a vida!

 

Maria Mamede.jpgMaria Mamede

O MEU RETRATO

Francisco Gomes de Amorim, 1954

 

Que tal me apresentar, agora, que finda o 2016?

Depois de ultimamente ter escrito algumas passagens da minha vida, sobretudo dos primeiros anos – aliás já escrevi inúmeras de outras épocas e idades – uma jornalista quis fazer-me uma entrevista “relâmpago”, moderna, tipo “pergunta / resposta” (quem, ou qual ou o que mais gosta ou admira), que até foi divertida!

Depois de tudo coligido mandou-me o resultado, e creio que jamais tal “brilhante entrevista” foi ou será publicada. Vai agora para quem quiser ler.

Saiu assim:

P: - Família?

R: - É algo sagrado. Mas não gosto de falar nisso porque tenho vivido muitos momentos muito difíceis e dolorosos.

P: – Leitura?

R: - História, geografia política, etnografia, sociologia, alguns romances.

P: – Autores?

R: - Desde os antigos aos modernos honestos (raros!) para a história. Romances: Camilo Castelo Branco, João Guimarães Rosa, Gilberto Freire, Mia Couto, Ariano Suassuna, Óscar Ribas, Antero de Quental, Wenceslau de Morais.

P: – Poetas?

R: - Se não citar Camões e Fernando Pessoa vão me jogar no lixo! Mas não esqueço João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. Aliás não sou de ler muita poesia.

P: - Música?

R: - Clássica e alguma moderna.

P: – Quem ou qual?

R: - Vivaldi, Corelli, Albinoni, Pachebel, Paganini, e tantos outros do Barroco, Mozart, Beethoven, Liszt, Rossini, Bach, Joaquin Rodrigo, Flamenco, tango, fado, chorinho, samba canção, morna de cabo verde e coladeira, bandas militares escocesas, toques militares de clarim, rebita de Angola e... outras!

P: - Intérpretes?

R: - Rubinstein, Yehudi Menuhim, Paco de Lucia, Mercedes Sosa, Amália Rodrigues, Vinicius de Morais, Maria Callas e...

P: – Desportos?

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R: - Como todo o garoto joguei futebol. Depois brinquei de toureiro e levei muita marrada, mas sobretudo ténis, um pouco de golfe e vela. E gostava muito de atletismo. Nunca ganhei um campeonato, mas joguei muito.

P: – Automóvel?

R: - Os melhores, hoje, são os mais confortáveis. Dantes... isso já lá vai.

P: – Moto?

R: - Também tive durante uns anos, mas quando vi que estava na idade de me quebrar todo se caísse, desisti!

P: – Comida?

R: - A boa. Nada dessas modernices que levam um feijão, uma folhinha de salsa e um molho colorido para fazer bonito. Gosto do cozido à portuguesa ou minêra, bacalhau, marisco e frutos do mar, peixe e carne, enfim, gosto de tudo que tenha o que comer e seja bom! E adoro fruta.

P: – E doces e guloseimas?

R: - Não sou muito de doces, mas sempre como um pedacinho se não for muito doce.

P: – Bebidas?

R: - A água, pura, é a rainha das bebidas, mas eu bebo pouquíssima, porque normalmente não presta. Nem a engarrafada. Bebida numa fonte pura, fresquinha é inigualável. O rei das bebidas é o vinho tinto, seguido do branco, depois vem a cerveja e, vez por outra, raro, um Porto, Ginginha, Gin, Cointreau ou Whisky.

FGA

P: – Moda?

R: - Uma piada, normalmente de mau gosto, ou péssimo. Há anos aboli a gravata porque acho uma mariquice que para nada serve. Tenho roupa comprada há mais de trinta anos que continuo a usar.

E como os meus pés têm tendência a inchar e dar uma incómoda sensação de calor, também há anos que adoptei sandálias, que uso mesmo quando sou convidado para festas elegantes, como casamentos.

A moda das mulheres hoje é feita para as desnudarem. Elegância houve talvez... quando?

P: – Jogo?

R: - Detesto casinos. Aquilo é um antro de perdidos. Mas há mais de 20 anos que jogo o mesmo número na lotaria e nunca ganhei um centavo!

P: – Hobby?

R: - Além de algumas escritas em que vou exercitando a memória e ocupando o maldito tempo livre, gosto de bricolagem. Até gostaria de ter sido marceneiro!

P: – Mulheres?

R: - Além das filhas e netas só houve, e só há, uma. Claro que gosto de ver uma mulher bonita e por vezes ainda deixo os olhos percorrerem todo aquele “proibido”! Está no meu DNA machista!

P: – Qual o seu tipo de mulher?

R: - De físico, a Vénus de Milo. De espírito, inteligente, mãe, simples, batalhadora.

P: – E de homem?

R: - O mais belo físico de homem, também grego, é o Discóbolo. E tem que ser inteligente, valente e humilde.

P: - Que mulheres mais admira?

R: - D. Zilda Arns que criou a Pastoral da Criança, a Irmã Quitéria Paciência da Casa do Gaiato de Moçambique, Irena Sendler que salvou milhares de crianças judias, a minha mãe que enviuvou com 34 anos e sete filhos e teve uma vida difícil, e minha mulher que começou com oito filhos e hoje só tem seis.

P: - E homens?

R: - Francisco de Assis, Angelo Roncali o grande Papa João XXIII, o padre José Maria da Casa do Gaiato, Don Vitoriano Aristi com a sua Fé contagiante, o meu pai, e um homem que muito ajudou a moldar a minha personalidade, o engenheiro Augusto Matos Rosa.

P:– Se fosse um animal, qual gostaria de ser?

R: - Bom, animal já sou, mas se não fosse um homo sapiens, preferia ser um burro, um jegue.

P: – Porque?

R: - É um animal maravilhoso: forte, trabalhador, dócil, humilde. E quando se zanga dá uns coices lindos!

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P: – Já falou várias vezes em humildade. Porque?

R: - Porque é dos humildes o Reino dos Céus, e só com humildade poderemos viver em Paz neste mundo.

P: – Gosta que lhe dêem presentes?

R: - Não. Acho que não mereço e há gente, muita, que precisa mais do que eu.

P: – Amigos?

R: - São uma bênção, e nesse aspecto fui abençoado. Tenho muitos, infelizmente a imensa maioria a viver muito longe, e face à idade também uma grande quantidade deles, como irmãos, já nos deixaram.

P: – O que mais deseja para os seus filhos, familiares e amigos?

R: - Paz e que se amem sempre uns aos outros. E a todos os outros.

P: – Que mensagem deixaria para os jovens?

R: - Nunca percam o entusiasmo e a generosidade da juventude mesmo que cheguem aos 100 anos, nem aceitem como verdade tudo aquilo que vos querem meter na cabeça. E, para variar, não deixem, nunca, de ser simples, humildes e valentes.

- Obrigado

- Obrigado, eu.

N.- Agora que já me conhecem não esqueçam de me desejar um 2017... em Paz!

26/12/2016

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Francisco Gomes de Amorim

PERGUNTAS PROIBIDAS

NÃO HÁ NATAL EM ALEPPO

Este será o Natal da nossa vergonha em Aleppo. Ninguém sai ileso. A começar pela mínima culpa do silêncio de quem escreve estas linhas

 

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Natal é a festividade cristã em que um menino vem trazer a paz. Os meninos da Síria que conhecemos são Aylan Kurdi morto na praia, fugido de Kobani, cidade mártir das batalhas entre terroristas muçulmanos e forças curdas; e Omra Daqneesh numa cadeira de ambulância, coberto de sangue e poeira após um ataque aéreo russo…

 

Este será o Natal da nossa vergonha em Aleppo. Ninguém sai ileso. A começar pela mínima culpa do silêncio de quem escreve estas linhas, mas que há muito conhece o hino da resistência de Niemoeller. “Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei…” Sabemos como termina esta ladainha.

 

Falar sobre Allepo não exige ser especialista em geopolítica nem economia; exige compaixão. E essa escasseia entre quem presume saber o que passa com a massa de informações da net e wikileaks. Informação não substitui discernimento, e contagia e intoxica a massa de pessoas que quer encontrar um culpado… quando o grande culpado é a falta de solidariedade em tempos de chumbo, a falta de ética em sociedades doentes que deixam à solta o terrorismo, o vencedor da competição entre poderes brutais.

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Um dia saberemos a verdade sobre Aleppo. Mas desde já sabemos que tudo começou há quase seis anos com a Primavera árabe, em Março de 2011. Durante um ano, as pessoas saíam das mesquitas e protestavam contra Assad. Em resposta, o regime matou dezenas de manifestantes. Nas semanas seguintes, esses mortos eram usados ​​como mártires para inspirar novos protestos, e assim até à guerra civil.

 

A Primavera Árabe foi uma criação das populações árabes. Há muito racismo por detrás do argumento que foram os EUA e a Europa a conspirar: como se os tunisianos, líbios e egípcios fossem massas de gente ignara e prontos a serem manipulados pelos ocidentais. Foi genuína a revolta do estudante que se imolou pelo fogo na Tunísia; a dos tripolitanos que já não suportavam o jugo de Kadaffi; a dos egípcios que detestavam Mubarak, o carrasco e bom aliado dos norte-americanos. Claro que não houve Primavera Árabe na Árabia Saudita; e a do Iémen é esmagada noutra guerra remota.

 

O movimento de massas árabes ameaçou americanos e europeus. Mas os governos ocidentais alinharam com as novas forças emergentes e seu desejo de liberdade, entretanto muito frustrados. No Norte de África, alcançaram-se equilíbrios instáveis. Sobrou a Síria, sem petróleo nem gás e com um mosaico de religiões e etnias coladas pelo regime de excepção do regime Baath desde 1963.

 

Queremos culpados pela deterioração da situação da Síria em guerra civil? Um deles foi o próprio Assad, cujo regime começou a matar quem exigia um novo governo.

 

Queremos culpados? O Exército Sírio Livre com desertores do exército e civis guerrilheiros que iniciaram represálias contra o regime. É uma força sunita mas inclui Alauitas, uma corrente xiita a que pertence o próprio Assad.

 

Queremos culpados? Os jihadistas e outras forças islâmicas juntaram-se à luta contra Assad: a Frente de Nusra, controlada pela Al-Qaeda, apoiada com dinheiro e armas pela Turquia e Arábia Saudita, E muitos outros grupos menores com alianças mutantes. E por cima de todos, o califado terrorista DAESH ou IS.

 

Queremos culpados? Os EUA e a UE que, uma vez iniciada a guerra civil, ajudaram a “oposição moderada” do Exército Sírio Livre com armas e apoios aéreos.

 

Queremos culpados? A nova Rússia de Vladimir Putin que envia os Spetnaz a preparar o terreno e os aviões em bombardeamentos indiscriminados.

 

Queremos culpados? O islamo-fascista Erdogan que colocou a Turquia a ganhar com a espoliação das riquezas da Síria, e controlou o tráfico de refugiados para a Europa.

 

A lista de responsáveis é grande. Hillary Clinton recomendou as operações norte-americanas; os mercenários da Arábia Saudita e do Qatar na Jihad de Aleppo. A Arábia Saudita e Turquia, potências sunitas. O Irão, o poder xiita rival que controla o Hezbollah.

 

Quando os distúrbios da Primavera Árabe se desencadearam no início de 2011, a CIA e a frente anti-iraniana de Israel, Arábia Saudita e Turquia viram uma oportunidade de ganhar uma vitória geopolítica. Regime change, no jargão neoliberal de Washington. O embaixador americano Stevens, foi morto em Benghazi enquanto dirigia uma operação da CIA para enviar armas da Líbia para a Síria.

 

O califado do DAESH, ou ISIS é até agora o único vencedor da guerra civil síria. Mas é pouco provável que contra ele se consiga reconstruir um grande acordo dos culpados da guerra da Síria.

 

Até à queda de Aleppo, a regra era: a mudança de regime em primeiro lugar, o cessar-fogo depois.

 

Após a queda da Aleppo dos resistentes, a regra mudou. A política ocidental sofreu uma derrota. Assad cantou vitória com o apoio da Rússia e do Irão. Os mercenários enviados para derrubar Assad são jihadistas radicais com suas próprias agendas, agora derrotados em Aleppo mas há uma semana reconquistaram Palmira.

 

A manipulação da comunicação social é grande. Até parece que ninguém sabia, que uma boa parte da Síria já estava destruída; que muitas das centenas de milhares de mortos já tinham morrido; que os oito milhões de refugiados já se estavam a refugiar.

 

Ninguém sabia? Alguns denunciaram. A Amnistia Internacional avisou desde o início da repressão pelo regime de Assad em Março de 2011. O Vaticano avisou sempre desde 2011. Os médicos e capacetes brancos avisaram. A Organização para os Refugiados avisou. Ninguém ligou.

 

Não vai haver Natal na Síria para ninguém. Um dia saberemos o que se passou na Síria, sobre quem inventou o DAESH, sobre o que a humanidade tem de pior ao destruir um país que era viável. Mas que haja Natal em nós, ao pensarmos ou rezarmos pelo quase meio milhão de mortos que a guerra já levou, dizendo Nunca mais, Aleppo!

 

20 de Dezembro, 2016

 

Mendo Castro Henriques

Mendo Castro Henriques

Professor na Universidade Católica Portuguesa

TRETAS # 18

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OU O GRILO COME A ALFACE, OU VAMOS TER DE JEJUAR

 

  • Pois é. Pedir emprestado tem essa coisa aborrecida que é a obrigação de restituir. Um ferro! Que bom seria terem os credores fraca memória – ou um enorme coração, para inscreverem as nossas dívidas numa folha de alface e darem-na ao grilo.

 

  • Por cá, a Dívida Pública (um dia irei à Dívida Privada) já está em 130% do PIB nominal (PIBn de ora em diante)…and counting. Provavelmente mais, por força das responsabilidades contingentes subscritas pelas empresas públicas que o Governo não pode deixar falir. Alguma vez será paga?

 

  • Resposta pronta: sim, não, talvez, depende.

 

  • Mas antes de ir à resposta sempre digo que relacionar o stock de Dívida Pública com PIBn é como comparar batatas com cebolas - ou um monte de pedras com um caudal de água.

 

  • O PIBn é um fluxo, num dado intervalo de tempo (o ano civil, por regra), de bens e serviços valorizados a preços correntes. A Dívida Pública, essa, é uma quantidade acumulada (um stock) numa data que nem sempre coincide com o último dia do intervalo de tempo a que o PIBn respeita.

 

  • O que faz sentido mesmo é comparar o serviço da Dívida Pública (os pagamentos devidos de capital e juros) com o PIBn – para ter uma medida do esforço, ao nível da esfera real da economia e do rendimento gerado, que é exigido para servir essa dívida. Por exemplo: o serviço da Dívida Pública grega nos próximos 10 anos é inferior ao da Dívida Pública portuguesa, apesar de o stock de Dívida Pública grega ser muito superior ao da Dívida Pública portuguesa. Mas seja “Dívida Pública/PIBn”.

 

  • Há que começar por dizer que a pergunta está mal formulada. O que verdadeiramente interessa não é pagá-la por inteiro, mas reduzi-la a uma dimensão que seja “sustentável”. Mas, que raio será um stock de Dívida Pública “sustentável”?

 

  • As opiniões sobre o que entender por “sustentável” são mais que muitas. Mas, para o que aqui importa, limito-me a acolher dois critérios. Um, de tesouraria: que seja ínfima a probabilidade de o serviço da Dívida Pública ser interrompido (vulgo, default) no decurso do ciclo económico. Outro, macroeconómico: que a política orçamental possa ser prosseguida sem pôr em causa o equilíbrio interno (nível do desemprego, nível do produto potencial) e/ou o equilíbrio externo (BTC não deficitária, nível das disponibilidades sobre o exterior) da economia.

 

  • À luz de qualquer destes critérios, o stock da Dívida Pública será “sustentável”, crê-se, se se situar claramente abaixo de 60% do PIBn. Contando com uma prudente folga para reagir a crises imprevistas, digamos que 40% do PIBn. Assim sendo, não há que pagá-la até ao último cêntimo. Basta reduzi-la no equivalente a 90% do PIBn. Coisa pouca. Nada de pessimismos, portanto!

 

  • Como se sabe, a inflação dilui o esforço de servir dívidas, salvo se estas estiverem indexadas à inflação, ou se forem denominadas em moeda estrangeira. Se conseguirmos o feito de manter invariante o stock da Dívida Pública todo o tempo necessário, então, mesmo sem crescimento económico, a resposta é: SIM - bastará para tal uma inflação média de 12,5%/ano para, decorridos 10 anos, voltarmos a ter uma Dívida Pública “sustentável” sem nada fazer.

 

  • Sendo denominada em Euros, a nossa Dívida Pública é como se fosse toda ela em moeda estrangeira – e um processo inflacionista com aquela amplitude teria de ocorrer, não só internamente, mas também transversalmente em toda a Zona Euro. Duvido que a Alemanha esteja pelos ajustes.

 

  • Se confiarmos, apenas, na inflação, ainda sem crescimento económico, para repor a sustentabilidade de uma Dívida Pública estática, com a inflação média que a Alemanha parece tolerar bem (e que o BCE toma por alvo: 2%/ano), demorariamos só 60 anos (quase 3 gerações!) a lá chegar.

 

  • Mas algum crescimento económico deverá haver, entretanto. Admitindo que, no futuro previsível, a inflação na Zona Euro não descolará dos 2%/ano (porque com a Alemanha não se brinca), a economia portuguesa terá de crescer pelo menos 10,3%/ano para que o actual stock de Dívida Pública seja finalmente “sustentável” daqui a 10 anos.

 

  • E ao ritmo a que a nossa economia tem crescido no período pós-troika (aliás, superior ao crescimento médio anual nos 15 anos precedentes) nem daqui a 30 anos atingiremos o nirvana da “sustentabilidade”. Logo, neste cenário do stock de Dívida Pública invariante, a resposta é: NÃO – ou, vá lá, TALVEZ, mas só se, entretanto, a paciência dos credores não se esgotar.

 

  • A realidade, porém, é que o stock da Dívida Pública nunca deixou de aumentar no passado recente. É certo que alguns dos maiores “saltos” resultaram do reconhecimento de passivos até então escondidos e que as variações no stock da Dívida Pública não têm que reflectir fielmente os deficits orçamentais. Mas, à falta de melhor, é aos deficits orçamentais que vou recorrer como indicador.

 

  • Ora, com deficits orçamentais da ordem de 2%-2.5% do PIBn, e o stock da Dívida Pública a aumentar nessa medida, a nossa economia terá de crescer a uma taxa média de 2,9%/ano para que, ao fim de 25 anos, voltemos a ter uma Dívida Pública “sustentável” aos olhos dos nossos credores.

 

  • Não será um crescimento à “tigre asiático”, ou à “tigre celta”, mas teremos de recuar até ao período da adesão à, então, CEE para encontrar dinamismo parecido. Resposta: TALVEZ - com muita dificuldade, se tudo correr muito bem e os credores tiverem uma paciência franciscana.

 

  • Como o caso da Grécia (referido mais acima) mostra, o maior defeito deste indicador “Dívida Pública/PIBn” é ele não reflectir minimamente a calendarização dos reembolsos e o peso dos juros - o serviço da dívida, em suma. E é, precisamente, o peso dos juros que faz detonar o 2º critério de “sustentabilidade”, mesmo antes de causar a ruptura da tesouraria do Estado (1º critério).

 

  • Até hoje a Dívida Pública portuguesa tem sido “sustentada” unicamente pela estratégia de política monetária do BCE (quantitative easing) que mantém acima do par as Dívidas Públicas das principais economias europeias (mas não a portuguesa) e assegura a liquidez da Dívida Pública portuguesa.

 

  • Mesmo assim, a nossa Dívida Pública está a pagar um prémio de risco (relativamente à Dívida Pública alemã) da ordem dos 3%/ano para ter investidores interessados – muitos deles, e em número cada vez maior, por cá residente (Bancos, FGD, FESS, Fundos de Pensões e simples cidadãos).

 

  • Hélàs! Como tudo na vida, também esta estratégia do BCE há-de ter um fim.O que nos acontecerá quando o cenário macroeconómico tradicional for reposto: a economia portuguesa e as economias nossas parceiras a crescerem 2%/ano (ou um pouco mais), a inflação a tentar furar o tecto dos 2%/ano e, consequentemente, as taxas de juro de referência a colarem-se aos 4%/ano?

 

  • Se, num futuro assim, os nossos credores continuarem a ver-nos com bons olhos (o que é dizer: se aquele prémio de risco não aumentar) as yields da nossa Dívida Pública rondarão os 7 %/ano (para mais e não para menos). E, mesmo se aquele prémio de risco não variar (o que é pouco provável), os juros a pagar anualmente saltarão dos actuais 5% do PIB (aprox.) para quase 10% do PIB. Não instantâneamente, mas à medida que o stock da Dívida Pública for sendo refinanciado.

 

  • Cabe, então, perguntar: A economia suportará um acréscimo da carga fiscal da ordem dos 5%-6% do PIB? Se não suportar, que despesas públicas serão sacrificadas para que o deficit se mantenha dentro dos limites do Pacto Orçamental? Ou deita-se a toalha ao chão, pede-se emprestado também para pagar juros e coloca-se o stock da Dívida Pública numa trajectória explosiva apontada ao default?

 

  • Para os mais distraídos, convém lembrar que, em caso de default, a impossibilidade de financiar no exterior o deficit (incluindo juros) levaria directamente ao lançamento de empréstimos internos forçados (ditos “patrióticos”), à redução drástica das transferências sociais e dos serviços públicos não ligados ao exercício da soberania – e, quase de certeza, à atrofia desta ou daquela função de soberania.

 

  • Como facilmente se percebe, a “sustentabilidade” da Dívida Pública não é compatível com um stock que não pára de crescer, por pouco que seja, ano após ano. A dura realidade é que nenhum Governo até hoje quis, ou conseguiu pôr-lhe travão.

 

  • E outra realidade não menos dura é que só com um stock estabilizado (isto é: que não aumente) será possível negociar a re-estruturação da Dívida Pública em condições, se não as mais desejáveis, pelo menos não excessivamente recessivas – e minimamente honrosas.

 

  • Vendo tudo isto, espero veementemente que os credores (incluindo os credores que residem por cá) condescendam em registar a nossa Dívida Pública numas folhas de alface para darem ao seu grilo de estimação - e que o bichinho não perca o apetite.

DEZEMBRO de 2016

António Palhinha Machado

A. Palhinha Machado

 

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