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A bem da Nação

GUTERRES, MERKEL E A SENHORA BÚLGARA

 

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1 – Ser Secretário-Geral da ONU não é para qualquer um. Por mais pergaminhos que se tenha. Aqui, neste Fórum Internacional, que reúne todas as sensibilidades diplomáticas e onde a GEOPOLÍTICA é a mandante pura e dura, só ocupa o cargo quem tiver, pelo menos, o acordo dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e, diga-se, a simpatia, pelo menos a simpatia, dos outros dez membros não permanentes. O veto de um permanente deita logo tudo a perder.

 

2 – É evidente, que o nosso Engenheiro Guterres, tendo sido Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, e por isso diligente conhecedor dos corredores diplomáticos e não diplomáticos dos poderes mundiais, pisando as alcatifas dos poderosos deste Mundo, ou pisando os terrenos do sofrimento dos sem poder também deste Mundo, deveria saber, ou suspeitar, que de tantas andanças, foi criando aqui e acolá muitos apoios, mas também muitos anticorpos.

 

3 - Chegados aqui, parece-me que uma tal Chanceler Alemã tinha garantido à diplomacia lusa que nada tinha contra o tal Engenheiro, só que, passados meses, uma Senhora Merkel, com tantas arrelias que vai tendo, esqueceu-se do que disse ou não disse e saca da cartola uma coelha, perdão, uma búlgara, por sinal vice-presidente da Comissão Europeia e, amparada por um tal senhor Juncker e por um tal senhor Ban Ki Moon, que vai, ou não, estragar a nova carreira do tal Engenheiro, que vendo há uns anos o seu País a resvalar para o pântano, resolveu que era melhor dar novo rumo à sua vida política. E se bem o pensou, melhor o fez.

 

4 – Ora aqui é que está o busílis. Porque a ONU, neste momento, e se o nosso Engenheiro mantém as mesmas ideias, também é, ou melhor, sempre foi um pântano, e neste momento ainda mais perigoso, onde já não nos afundámos mais, porque o nuclear é um problema não resolvido. Mas, declaração de interesses: prefiro mesmo assim uma ONU, do que nada haver.

 

 5 – Quanto a dar o dito pelo não dito da Senhora Merkel, ou a arte de tirar o tapete a este ou áquele, veio à minha recordação um certo sótão emprestado, onde um tal Sampaio ou um tal Constâncio, ou ambos, conspiravam contra um tal doutor Soares. Assim rezam as crónicas dos tempos.

 

6 – Mas, e para finalizar. Seria bom que a nossa diplomacia e outros também manobradores, lessem, ou melhor, estudassem Franco Nogueira, e cá para nós, também Jaime Gama (peixe de águas profundas), que não lhes ficaria nada mal, ou meditassem em duas simples frases de homens batidos do ponto de vista militar ou político. Tomem nota do que dizia Kaúlza de Arriaga quando falava, vejam lá, nas chamadas “MUDANÇAS IMPREVISÍVEIS”, e Silva Cunha quando se referia aos “IMPONDERÁVEIS DA POLÍTICA”. Pois. Tenho dito. Mas para que não restem dúvidas: Boa sorte Senhor Engenheiro Guterres. Sempre era um português num comando mundial.

 

José Augusto Fonseca

José Augusto da Fonseca

VOZES DO MAR

HSF-Tejo em Belém (10JAN15).jpg

Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...

Tu falas de festins e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

 

 

FLORBELA ESPANCA.jpg

Florbela Espanca

AS MENTIRAS DO BILIONÁRIO

 

Após o primeiro debate entre Hillary Clinton e Donald Trump, a corrida à Casa Branca entrou na recta final, numa semana em que subiram as intenções de voto em Trump e os candidatos estão empatados…

 

Trumpinocchio.jpg

 

O que era improvável, vai acontecendo. Devido ao populismo.

Donald Trump é um exemplo do populismo ocidental. As suas falhas decorrem da sua falta de princípios. O problema não é ser agressivo, mas escolher amigos e inimigos de modo infantil sem qualquer sentido de interesse nacional. Se diz bem de mim, afirmou Trump sobre Putin, direi bem dele.

Trump tem quatro bandeiras

  1. No comércio internacional seguirá o americanismo e não o globalismo;
  2. Quanto a Estrangeiros, Imigrantes e Muçulmanos diz que no primeiro dia, expulsará os imigrantes criminosos;
  3. Quer legalizar a posse de armas para diminuir o risco de ataques terroristas;
  4. Quer a redução de impostos para aumentar o investimento.

No seu discurso saudosista, Trump culpa a globalização como origem dos males americanos. Por estranho que pareça, um discurso coincidente com o do perfeito idiota latino-americano: julgar que a esfera nacional é controlada por decisões estatais.

1. Americanismo e não o globalismo

A primeira mentira do bilionário resulta de não entender que o capitalismo tem uma escala global de operações. Isolar-se é ignorar as cadeias globais de valor que alimentam os fluxos de comércio e capitais e o desenvolvimento. A maior parte do valor criado por produtos não reside na produção mas nos serviços e aplicativos.

As políticas proteccionistas produziriam efeitos perversos. Trump mente quando diz que a Ford e a Apple trarão as fábricas de regresso à América. Nada disso sucederá. O chamado “gráfico da curva sorriso” mostra como o valor agregado das transacções não reside na produção dos bens mas no processo de pesquisa, desenvolvimento, publicidade, gestão de marca, serviços.

2. Expulsará os imigrantes criminosos

Numa nação que sempre se orgulhou dos imigrantes, é obra dizer como Trump, expulsarei os imigrantes ilegais, manipulando o clima actual de medo e insegurança, provocado pelos ataques do EI na Europa e pelas ameaças aos EUA

A mentira do bilionário é que quem entra ilegalmente nos EUA não é terrorista nem bandido, mas busca uma vida melhor. Gente que fica com trabalhos não qualificados e sub-empregos pois sabe que americano médio tem melhor formação.

Segundo a Business Insider, os estrangeiros nos EUA são empregadas domésticas, trabalhadores rurais, caixeiros de lojas; nada disto ameaça a empregabilidade dos americanos. Expulsá-los, além de gerar caos social e escassez de mão-de-obra, retiraria 7 milhões de contribuintes e consumidores. Além disso os imigrantes cometem menos crimes do que os locais.

3. Legalizar a posse de armas

Ao comentar atentados terroristas, Trump refere que, caso houvesse civis armados a história seria diferente. É mentira. Em média morrem mais de 10 mil pessoas nos EUA por ano, devido a armas de fogo. Uns concluem que o porte de armas permitira a autodefesa. Mas os estudos mostram não haver relação directa entre armas em circulação e a incidência de homicídios cometidos com armas. É a conclusão da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS), de 2002, após rever centenas de estudos. E atenção: a taxa de homicídios nos EUA é 4 vezes superior à média dos países com elevado índice de IDH.

4. Redução de impostos

Trump defende a baixa de impostos, a fim de libertar capitais e recursos para a poupança e investimento mas nunca se refere a como diminuir os gastos federais.

O seu plano é reduzir impostos sobre a classe mais rica e os mais pobres. Abaixo de 25.000 dólares anuais, haverá isenções. As grandes empresas baixarão para 15% e as multinacionais poderão repatriar os lucros a uma taxa de apenas 10%.

Mas e o orçamento? A diminuição dos tributos aumentará o défice fiscal e o endividamento do país e reduzirá recursos para cumprir promessas. Com uma dívida de US$ 14 triliões, equivalente a 100% do PIB americano, a estratégia não parece boa.

Trump mente ao afirmar que a redução de impostos aumentará investimentos e o crescimento. Políticas de redução de taxas sem redução de gastos do Governo aumentam o défice federal, reduzem a poupança interna, aumentam a taxa de juros, e acabam por reduzir o investimento potencial. Perde-se o efeito positivo do corte: o aumento de incentivos para empreender, produzir e poupar. Em resumo: não há evidências de que a redução de impostos traga benefícios ao crescimento económico.

Mas que dizer do crescente apoio a Donald Trump por parte do eleitorado americano? Será que Trump representa os ideais do americano médio? Os americanos acreditam nas suas entradas à cowboy? A história responderá se será eleito mas desde já é preocupante.

Trump explora a seu bel-prazer a ignorância da grande massa americana. Os dados são implacáveis e os estudos contrariam-no. Mas ele soma e segue. Que tragédia no país com tantos Prémios Nóbeis e universidades de excelência.

Os americanos já tiveram Presidentes tão mal qualificados como Trump e sobreviveram. Mas Donald Trump é uma ameaça e a falta de qualidade de Hillary Clinton está a tornar possível o impensável.

 

26 de Setembro, 2016

 Mendo Castro Henriques.jpg

Mendo Castro Henriques

Universidade Católica Portuguesa

SÔR HENRIQUE

 

Fulano de Tal.jpg

 

Todos nós já passámos pela desgraça de sermos tratados pelo nome próprio quando abordados pelos profissionais dos call centers ou equivalentes.

 

Foi o caso, ontem, quando uma diligente menina da oficina do meu carro me tratou por «Sôr Henrique». Imediatamente antes de lhe desligar o telefone, mandei-a aprender a lidar com os clientes. Ainda lhe ouvi de raspão um «An?» de espanto.

 

Reconheço que não fui um exemplo da boa educação mas o serafismo não é propriamente uma característica latina e há coisas com que me «passo». E esta do «Sôr Henrique» é uma delas. O mais triste é que essas pessoas nem sequer percebem a razão do meu agastamento.

 

O conhecido de um amigo meu, posto perante tal tratamento, responde com uma fleuma que eu não consigo assumir perguntando, muito “inocentemente”, algo como «não me lembro da escola em que andámos para me tratar pelo nome próprio...». Mas na escola e na tropa o tratamento entre iguais é por «tu» e não por «Você» pelo que eu acho que a pergunta do conhecido do meu amigo é cínica de mais para poder ser considerada subtil.

 

Bimbismo à parte, continuo a achar que o tratamento pelo nome próprio é monárquico – o Senhor D. Henrique, por exemplo – e que o tratamento republicano é pelo apelido – o Senhor Fonseca. Em casos mais identificados, os republicanos portugueses gostamos de ser tratados pelo título académico – o Senhor Engenheiro, o Senhor Doutor, o Senhor Arquitecto, etc. Reminiscências monárquicas resultantes da falta de condados e marquesatos a que nós, plebeus, não podemos recorrer (não que nos importassemos...).

 

Mas a menina do call center nada sabe sobre o meu título académico porque, no acto de inscrição do meu carro lá na oficina eu nada disse sobre essa questão (nem ninguém me perguntou porque não vinha de todo a propósito). Mas «Sôr Henrique» é que não!

 

Contudo, eu conheço alguém que sabe «a potes» destas coisas do protocolo e do atendimento e daqui peço ajuda ao meu Amigo Embaixador José de Bouza Serrano para que me ensine o que lhe aprouver acerca disto tudo e, sobretudo, em relação à questão mais importante que é a de como havemos de resolver esta matéria que tanto incomoda quem leva carros às oficinas.

 

Lisboa, Setembro de 2016

 

Henrique-piscina dos monges em Kandy, Sri Lanka.JP

Henrique Salles da Fonseca

DO MALTRATO DOS TOUROS E DOS CÃES

 

As Touradas são Espelhos e Modelos de Vida individual-política-social

 

Num mundo em que a crueldade entre os humanos faz parte da ordem do dia, até parece cinismo erguer-se a voz contra a barbaridade com que se tratam animais em touradas ou contra a bestialidade com que se tratam outros animais.

 

É triste e de mau gosto a tradição de se terem cães acorrentados junto a casas de pessoas sem vergonha pelo trato indigno que lhes dão.

 

Dogo Canário.png

 

Também muitas pessoas passam ao lado sem atenderem ao pedido de um carinho ou ao grito de uma oração canina que apenas incomoda quem a ouve ou se torna desapercebida a quem já se habituou ao seu queixar: http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/oracao-de-cao-1333096

 

Seria de registar, como indicativo do desenvolvimento de uma sociedade, o grau de sofrimento e na sua maneira como trata os animais.

 

De facto, a maneira de tratar um animal pode dizer muito sobre o carácter de uma pessoa ou sobre a realidade da sua consciência. Seria cinismo condenar-se certas atitudes de violência contra a vida em casa e na escola e ritualizá-las como divertimento e como exemplo em festas sociais.

 

As Touradas legitimam a guerra contra a inocência da vida

 

O Vaticano, embora respeite as tradições dos povos e as festas populares em torno das suas igrejas e capelas, sempre condenou as corridas de touros apesar de elas oferecerem possibilidades de lucros a nível local.

 

O primeiro espectáculo de touros registado terá sido no séc. IX na Espanha.

 

Em Portugal, o padre Manuel Bernardes (1644-1710) condenava as corridas de touros, dizendo: “O jogo de feras foi introdução do demónio, como todas as mais do gentilismo, para que o coração humano perdesse o horror à morte e ao derramamento de sangue humano e aprendesse a ferocidade de costumes e indómito das paixões”.

 

O Papa Pio V, em 1567 publicou a Bula “Salute Gregis Dominici” proibindo as corridas de touros e decretando pena de excomunhão imediata a qualquer católico que as permitisse ou participasse nelas. Ordenou igualmente que não fosse dada sepultura eclesiástica aos católicos que pudessem morrer vítimas de qualquer espetáculo taurino. Pio V, considerava estes espectáculos alheios de caridade cristã Cf. http://basta.pt/igreja-catolica-e-touradas/

 

A igreja na sua perspectiva de inculturação cedeu muitas vezes às necessidades do povo, tendo havido também párocos interessados nestas e noutras festas populares.

 

Não deveria ser legítimo, em nome da arte, permitir a agressão física e moral contra animais, pessoas ou grupos sociais, nem tão-pouco qualquer interesse político ou económico deveria legitimar ou negligenciar tais atitudes. O facto de um “socialismo” institucional estar interessado em apagar usos e costumes de culturas no sentido do estabelecimento de um igualitarismo universal, não pode constituir argumento para não se obstar à brutalidade expressa nas touradas.

 

António Justo.jpg

António da Cunha Duarte Justo

O PADRE JOSÉ MARIA

FGA-P.José Maria e Ir.Quitéria.png

Obra da Rua – Casa do Gaiato

 

 

Há já anos que a Obra da Rua procura canonizar o grande Homem que foi o Padre Américo Monteiro de Aguiar, o fundador desta Obra maravilhosa. E não tem conseguido.

 

Acabo de receber a notícia que outro dos Grandes Homens que abraçaram esta Obra, em idade avançada, e há vários anos a sofrer dum mal incurável, estaria deixando esta Terra onde tanto bem e tanto se dedicou sempre aos outros de forma integral, total, humilde.

 

O meu muito querido amigo, irmão, exemplo, o Padre José Maria que conheci em Lourenço Marques em 1971.

 

Fez uma grandiosa Obra em Moçambique. Há anos a sofrer, e conseguindo, Deus sabe com que sacrifício, esquecer as dores físicas, para continuar, simples como as criancinhas que Jesus chamou para o seu lado, a trabalhar arduamente para que a Obra da Rua não parasse e seguisse sempre em frente com a sua Casa do Gaiato, as creches, os postos de saúde, a construção de casas para velhinhos que tudo haviam perdido e com outras inúmeras acções e problemas.

 

Neste momento está, lá no altíssimo, o Cristo, de braços abertos, à espera da alma de um Homem que cumpriu, integralmente com o ensinamento: “amai aos outros como a ti mesmo... sobretudo as criancinhas”!

 

“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos”.

 

Além da muita admiração e profundo respeito pela sua dedicação, aliás doação total da sua vida, uma amizade muito profunda nos unia, certamente fruto da minha pequenez humana face à grandeza da alma deste irmão.

 

Lembro com imensa saudade ver o Padre Zé, aos Domingos, na linda capela que ele projectou e lá está na Casa de Moçambique, fazer a sua homilia para aqueles fiéis moçambicanos que mal falavam português. Padre Zé, sem nunca ter perdido o seu sotaque do norte de Portugal, voz baixa, sem microfone, seu ar humilde, sua imensa simplicidade, falava àquele povo que o ouvia em profundo e respeitoso silêncio, sem possivelmente entender o que ele dizia. Não precisavam entender. Na frente deles estava um homem de Deus, que os amava e daquela alma, daquela boca, só podiam sair palavras que os abraçava a todos, no mesmo abraço fraternal, no abraço do Cristo que os amava.

 

Outro homem que deveria ser canonizado.

 

A vida segue. Mas o Padre Zé vai fazer muita falta.

 

Até a mim que há anos estou a milhares de quilómetros de distância, mas não esqueço aquela figura amiga de Homem de Deus, do seu exemplo, da sua amizade.

Impossível não deixar rolar cara abaixo umas quantas lágrimas.

 

A verdade é que nos sentimos mais pobres.

 

De dor, saudade, ternura, e muito respeito.

 

Que o Senhor tenha piedade de nós, os egoístas.

 

À Irmã Quitéria, que admiro profundamente e que fica agora responsável por aquela admirável Obra em Moçambique, todo o meu carinho, amizade e respeito.

 

Que Deus a ampare, sempre.

 

25/09/2016

Francisco G. Amorim-IRA.bmp

Francisco Gomes de Amorim

 

 AS PESSOAS | Casa do Gaiato, Moçambique

Director – Pe. José Maria Ferreira Costa
Directora Adjunta – Irª Quitéria Paciência Torres

 

DIZ-SE QUE HERR SCHÄUBLE É MAU!

 

 

Schäuble.png

 

 

Corria o ano de 2013 e dizia-se que «O ministro alemão das Finanças ignora de modo grotesco a crise social europeia»;

 

Herr Schäuble afirmava então: “Ignorem os profetas da desgraça. A Europa está a ser consertada.”

 

E mais se dizia que «O mundo, visto de Berlim, é quase perfeito: “A receita está a funcionar, para desgosto dos numerosos críticos nos media, nas universidades e nas organizações políticas internacionais. O ajustamento era ambicioso e, por vezes, doloroso, mas a sua implementação é flexível e adaptável. As redes de segurança europeias providenciaram uma mistura bem calibrada de incentivos e solidariedade para amortecer o sofrimento.”


O texto de Herr Schäuble é assustador porque é um dogma de fé. As “organizações internacionais” e as “universidades” bem podem produzir estudos – que, entretanto, se têm vindo a comprovar – sobre os riscos da política económica seguida pela Alemanha que, do alto do seu poder e da sua religiosidade intrínsecas, Schäuble ignora-os. A crise social nos países do Sul, os 27,8% da população grega sem emprego, os 16,5% de portugueses sem emprego, os 26,3% de espanhóis sem emprego e os 17,3% de cipriotas sem emprego não entram nas contas de Herr Schäuble.


O ministro alemão das Finanças ignora, de um modo grotesco, a mais grave crise social depois do fim da Segunda Guerra, afirmando que, “em apenas três anos, os custos unitários de trabalho e a competitividade estão rapidamente a ajustar-se (...) e os défices a desaparecerem”. A recessão na zona euro acabou.


O mais traumático no texto de Herr Schäuble, mesmo que tenha sido escrito na semana decisiva de uma campanha eleitoral onde o seu posto está a votos, é que ele despreza ostensivamente a realidade e, nomeadamente, os números. O final do texto é particularmente esclarecedor da arrepiante mistura de fé com bruxaria: “Os sistemas adaptam-se, as tendências mudam. Por outras palavras, o que foi partido pode ser reparado. A Europa de hoje é a prova.”


É extremamente grave o delírio de Herr Schäuble. Mas o mais grave ainda é que ele se pega.»

 

Assim dissertava Ana Sá Lopes no jornal «i» em 18 Set. 2013 – http://www.ionline.pt/iopiniao/herr-schauble-delirio-pega-se


E, contudo, sou da opinião de que Schäuble estava dentro da razão.

Porquê?

Porque:

  • A Europa do Sul foi tomada por uma classe de políticos que não hesitou em «comprar» votos usando a demagogia paga com dinheiros públicos e daí surgiram os gigantescos défices;
  • A Europa do Sul sempre gostou muito mais de folgar nas belas praias (o famoso licenciado em «5º ano de praia») do que estudar nos livros, daí a grande deficiência na instrução e formação e, daí, a pobreza estrutural dos PIB's com inerente dependência económica externa e consequentes dívidas privadas;
  • Os políticos da Europa do Sul convenceram as suas populações de que é aos ricos que cumpre pagar a crise travestindo esse conceito marxista na famosa «solidariedade europeia»;
  • A Europa do Sul contou com todos esses ovos na cloaca da galinha e agora diz que os culpados são os ricos que não querem pagar a factura dos seus dislates, da sua «dolce vita»;
  • O escol de cada povo da Europa do Sul (não confundir com Governos nem com políticos demagogos) já percebeu que a mudança era inevitável e urgente;
  • O escol de cada povo da Europa do Sul rapidamente se apercebeu de que ele próprio teria que ser o agente dessa mudança não esperando pelas medidas de política sempre emperradas por Tribunais Constitucionais e organizações quejandas;
  • O escol de cada povo da Europa do Sul não perguntou aos Governos o que deveria fazer: fez!

Schäuble tinha razão quando proferiu aquelas afirmações: a Europa do Sul estava a safar-se, a modificar estruturalmente os «modelos de desenvolvimento» que a tinham atirado para o abismo, acabando com as actividades que se tinham revelado perniciosas e a desenvolver as que são efectivamente virtuosas, a substituir inaptos por gente profissionalmente competente, a exportar em vez de chorar sobre a ruína dos respectivos mercados domésticos.

 

Mas, entretanto, concertaram-se pérfidas «geringonças» e a evolução sã corre agora o risco de ruir. E depois dessa hecatombe virá por certo à tona o populismo de direita de que a «Alternative für Deutschland» e o «Front National» são meros exemplos.


O drama está em que, à falta de hábitos de estudo e da preferência pela «dolce vita», o escol de cada povo da Europa do Sul não conta com quaisquer ovos na cloaca das galinhas. E, se necessário, o populismo há-de inventar galinhas sem cloaca!


A demagogia tanto saúda de punho erguido como de braço estendido. É uma chatice!

 

Henrique Salles da Fonseca-16AGO16-2

Henrique Salles da Fonseca

CAMÕES, O “IMPARCIAL”

 

 

O trinca fortes, Camões

 

As armas e os barões...

Cantando espalharei por toda a parte

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

 

 

 

O nosso épico não se fez rogado a enaltecer os feitos lusíadas nem a denegrir os que se nos opunham: nós, os heróis; eles, os vilões.

 

E assim fomos criados num imaginário glorioso que então nos levou «além da Taprobana» mas que ainda hoje nos faz sonhar com a Lusitânia Armilar onde cabem todos os que se sentem portugueses mesmo que já não falem a nossa língua e já lhes rareiem os genes lusitanos.

 

E é nestas brumas poéticas que me lembro de Heródoto, o pai da História, que tanto contava os feitos dos vencedores como dos vencidos para «impedir as grandes e gloriosas acções de gregos e de bárbaros de perderem o tributo de glória que lhes é devido».

 

Sim, Heródoto praticava a imparcialidade e era objectivo na descrição dos feitos que relatava. Por isso se credibilizou como historiador e não como poeta ou contista.

E se essa objectividade lhe atribuiu a «paternidade» da História, ela inspirou também todo o método científico, o mesmo que nos permite, tantos séculos depois, estarmos onde estamos, a desbravar os limites do Universo e a «tratar por tu» o núcleo das células.

 

Hoje, os lusíadas do século XXI, estamos todos em pé de igualdade, sem suseranos nem servos, sem dominadores nem dominados. Assentes na realidade, cumpre-nos aceitar as coisas como elas efectivamente são e, não querendo discutir as situações a que a História nos conduziu, resta-nos a possibilidade de tirarmos o maior proveito das circunstâncias, sem cenários mirabolantes.

 

Apetece, no entanto, perguntar como teria sido o nosso percurso nacional se em vez de Camões tivéssemos sido influenciados por Heródoto. Ninguém consegue imaginar os resultados duma experiência não experimentada mas talvez possamos admitir um percurso como o da Nação grega. E vai daí, não haveríamos por certo de querer a troca quando pela Grécia só a metade Sul de Chipre sonha enquanto nós temos – apesar de tudo – uma dimensão universal.

 

E como estaria hoje a nossa auto-estima se não fossemos diariamente achincalhados pelos telejornais?

 

E como estaria hoje a nossa determinação se não fossemos diariamente desmotivados pelos gatunos?

 

E como estaríamos hoje se os políticos se entregassem ao bem comum com a mesma tenacidade com que se dedicam ao «tira-te tu para me pôr eu»?

 

E como estaríamos hoje se a base da nossa cultura não fosse a fantasia épica e sim a verdade histórica?

 

Seríamos talvez uma Nação sorumbática, instalada, maçuda e rica mas não teríamos certamente as gargalhadas das anedotas nem os sonhos de voltarmos a ser a Nação gloriosa que nos contaram. E sem esperança não há futuro.

 

VIVA CAMÕES!

Dança com serpente.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(algures na Amazónia, MAR16)

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