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A bem da Nação

PORTUGAL EM PERIGO?

 brexit.jpg

 

SEM O REINO UNIDO, A POLÍTICA ALEMÃ FICA

EM MINORIA NO CONSELHO DA UE

 

Reforço das Posições minoritárias do Conselho?!

 

 

Muitos alemães andam bastante desiludidos com o Brexit. Agora a “fracção do sul”, em torno da França, passa a ter uma posição determinante dentro do Conselho da UE na determinação dos seus destinos; a Alemanha perde os 29 pontos da sua aliada GB. Enquanto os países do Norte apostavam na força da economia (liberalismo económico) e no reformismo, os do Sul desafiam mais o Estado que querem mais forte e consequentemente com uma política mais proteccionista.

 

O grande problema alemão surgirá da falta do Reino Unido na UE, porque, segundo a constituição da UE, bastam 35% dos votos dos Estados membros para bloquear as decisões. A França passa assim a ter mais poder e, deste modo, poderá, com os membros do sul, fomentar o proteccionismo, retardar as reformas e talvez conseguir um Euro mais fraco. Consequentemente, a Alemanha passará a ter uma posição minoritária no Conselho Europeu. Por isso fará tudo por tudo para que se faça uma mudança do contrato da UE no sentido de voltar a introduzir o fortalecimento das posições minoritárias. (Por outro lado a França está muito dependente da Alemanha, o que a não tornará muito fidedigna na qualidade de defensora dos interesses dos estados dos sul).

 

O Prof. Dr. Hans-Werner Sinn adverte a Alemanha para intervir no sentido de fortalecer a sua posição em relação à nova constelação de forças entre os Estados membros depois do Reino Unido abandonar definitivamente a UE, o que acontecerá certamente em 2019. As negociações do Brexit começarão no Outono e prevê-se que se prolongarão por dois anos. A GB está interessada em colocar a sua economia em fraldas enxutas, neste espaço de tempo; não é mero acaso o facto de a primeira visita ao estrangeiro da chefe do governo britânico ter sido à Alemanha, onde foi recebida com honras militares.

 

Perderá Portugal perder o seu potencial futuro?

 

O Reino Unido, como potência europeia de grandeza comparável à França e à Alemanha ao pretender sair da UE talvez o faça também por razões de poder soberano e de influência muito concretas. A razão fundamental do Brexit veio da política de refugiados na UE e das consequentes medidas para limitar a soberania dos países. A Inglaterra sabe bem que se continuasse na UE teria muito provavelmente, também ela, de colocar o muito do seu mar à disposição de Bruxelas (UE) que com o argumento de criar uma fronteira comum contra os refugiados se apoderaria dos mares que pertencem de momento aos Estados ainda em parte soberanos! (Coitado de Portugal! Com a UE perdeu já a pesca e as indústrias de roupas e calçado mas com tal medida perderia o seu futuro!).

 

As grandes potências são eficientes nas suas estratégias e na preparação exímia dos acordos; seria de esperar que as elites dos Estados membros mais fracos, desta vez, estejam mais atentas para que futuros acordos não sejam feitos à custa da EU ou dos países menos atentos; doutro modo tornar-se-ia indiferente o pertencer ou não pertencer à UE. Ângela Merkel e Theresa May procuram ganhar tempo, o tempo que faltará a Bruxelas para poder pensar com a cabeça dos povos da Europa!

 

Não só de pão vive o homem” (Mt 4,4)! Os ingleses estão preparados para serem mais senhores deles mas também para apertarem o cinto: talvez se fechem um pouco ao mundo para se abrirem um pouco mais a ele! Quanto a problemas, como de costume, o povo suportá-los-á. Segundo uma investigação referida na imprensa alemã, 600.000 pessoas britânicas especializadas tencionam continuar a sua carreira profissional num outro país da UE; isto significaria um arrombo para a indústria britânica. A desunião da Europa fortalece outras potências na concorrência pelo poder económico, político e cultural num momento da História em que cada nação está dependente das outras. A Europa precisa porém de um grande abanão para poder acordar para a sua missão de caracter integral e inclusivo. Com a experiência das duas grandes guerras e nas figuras de Hitler e de Estalin a Europa autêntica acabou; poderia recomeçar de novo com uma Alemanha genuína (Infelizmente a Alemanha apenas se preocupa com a economia europeia sem ter em conta a defesa da sua cultura (também do idealismo alemão que atraiçoa!) Pelos vistos a UE tem em vista a destruição das possibilidades de futuro das soberanias menos poderosas!

 

A Europa é um mosaico de mentalidades diferentes. Os latinos são crentes do Estado; os germânicos reconhecem-no como pai mas confiam no próprio trabalho, na inovação tecnológica e na concorrência. Falta aos dois blocos a redescoberta da alma que os uniria no respeito por diferentes mentalidades.

 

Uma curiosidade

 

Adam and Eve.png

 

O Reino Unido e a Alemanha são governados por filhas de párocos: Theresa May e Angela Merkel determinam a marcha da Europa. As mulheres encontram-se na avançada também no FMI e os USA também passarão, certamente, a ser governados por uma mulher. Apesar da presença feminina relevante, domina na política e na economia o espírito masculino protestante! (Talvez se consiga um equilíbrio social da masculinidade e da feminilidade na Europa quando os padres católicos puderem casar!)

 

Margaret Thatcher dizia: “Se quiseres que alguma coisa seja falada, pergunta a um homem; se quiseres que alguma coisa seja feita, pergunta a uma mulher.” Tem-se a impressão que os homens andam a viver à custa dos galardões anteriormente conquistados. A sua soberania continua visível numa sociedade de estruturas masculinas muito embora assumida por mulheres!

 

*Distribuição dos votos do Conselho da UE (órgão deliberativo)

França, Alemanha, Itália e Reino Unido têm 29 votos cada; Espanha e Polónia: 27 votos; Roménia: 14 votos; Países Baixos: 13 votos; Bélgica, República Checa, Grécia, Hungria e Portugal: 12 votos; Áustria, Bulgária e Suécia: 10 votos; Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Lituânia e Eslováquia: 7 votos; Chipre, Estónia, Letónia, Luxemburgo e Eslovénia: 4 votos; Malta 3 votos.

 

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António da Cunha Duarte Justo

 

DA BONDADE - 1

 

 

 

 

A bondade é inocente; a caridade é activa; o amor é altruísta.

 

Mas também digo que a bondade é infantil, que a caridade é obrigação cristã e que o amor é compaixão.

 

Perguntado sobre o que é a compaixão, um monge budista explicou a quem o ouvia que se, ao entrarmos numa sala interior, virmos uma flor num vaso e pensarmos se ela nos agrada ou não, estaremos a ver o mundo numa perspectiva do nosso próprio interesse, do nosso bem, numa perspectiva egocêntrica e talvez mesmo num limite de egoísmo; mas se pensarmos que aquela mesma flor estaria muito melhor se estivesse ao ar livre, junto das suas congéneres e à luz directa da vida, então estaremos a ver o mundo na perspectiva do próximo, na do interesse alheio, estaremos numa perspectiva não interesseira a querer o bem desse alguém e até sem sequer pensarmos em nós. A esta dádiva ao próximo chamam os budistas compaixão, a mesma a que os cristãos chamam amor. “Alter ego” - outro que não eu - eis por que o amor é altruísta.

 

Camoneando…

 

Camões nos Passos Perdidos (José Malhoa).jpg

  

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

 


É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que ganha em se perder;

 


É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

 


Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 

 

 

 

Julho de 2016

Henrique-piscina dos monges em Kandy, Sri Lanka.JP

Henrique Salles da Fonseca

(junto à piscina dos monges budistas no mosteiro de Polunaruva, Sri Lanka, Novembro  de 2015)

 

 

LIBERDADE DE ESCOLHA NO ENSINO

ENSINO PÚBLICO E PRIVADO.png

Este é que é o verdadeiro critério: o que não serve deve ser substituído por aquilo que é bom. E quem deve avaliar são os pais, com as suas opções, não os sindicatos nem o ministro.

 

É convicção geral que apenas as famílias ricas têm os filhos a estudar nos centros privados e que os pobres vão para o ensino oficial onde têm tudo pago. Talvez entre nós esta convicção tenha base na tradição de os meninos preguiçosos e chumbões, de famílias ricas irem para os colégios internos.

 

As ideias feitas, os preconceitos, sobre este assunto parecem reduzir a capacidade de pensar com isenção e profundidade, o que me leva a recordar um estudo cuidado, de muitos anos e de forte impacte, que abalou as convicções tradicionais face ao relato e contacto com factos sobre os quais vale a pena voltar a perder uns minutos.

 

O estudo recolhido no essencial no livro The Beautiful Tree: A Personal Journey into How the World’s Poorest People Are Educating Themselves, de James Tooley (2009, Cato Institute), revela práticas de famílias pobres em flagrante contradição com as convicções dos responsáveis pelo ensino em diferentes países. Após anos de investigação – confrontando os achados com os responsáveis do ensino, num estreito contacto com a realidade escolar na África, na Índia e noutros países asiáticos –, encontrava evidências bem ao invés das certezas profundamente arraigadas. Por facilidade, eu referirei apenas a cidade de Hyderabad, embora o fenómeno se desse no resto da Índia, nos países africanos e asiáticos, como o autor relata no livro.

 

Notava ele que no casco antigo da cidade de Hyderabad, as escolas oficiais gratuitas tinham boas instalações físicas, laboratórios e ginásios e professores diplomados; apesar disso, os pais das crianças pobres não mandavam os filhos para essas escolas; muito perto, surgiam escolas privadas, com instalações decrépitas e sujas, com professores sem a habilitação adequada, sem laboratórios nem ginásios; melhor, tudo improvisado. E os pais pagavam uma propina mensal e a escola era cada vez mais solicitada, o que permitia ter umas propinas baixas. Nos Ministérios e nas instâncias oficiais a convicção inabalável e firme era que só os ricos iam para as essas escolas privadas, onde se pagava!

 

O autor não conseguia explicar a contradição entre a realidade que constatava com os seus olhos e a versão dos burocratas dos corredores do poder, que nunca saíam dos seus gabinetes – se é que iam aos gabinetes –, para ver a realidade. Repetiam a sua ‘cassete’ de que o ensino gratuito oficial era utilizado pelos pobres e só os ricos mandavam os filhos para as escolas privadas.

 

Tentou chamar a atenção em todos os níveis da burocracia; e depois de os ter levado a visitar as escolas e conversado com os pais dos meninos pobres, fez-se luz naquelas mentes: onde as crianças de verdade aprendiam era nas escolas privadas. Porquê? Havia um Director responsável e dedicado que sentia o drama dos pobres; e os professores eram dedicados, imaginativos, vindos de estratos pobres também, que estimulavam com concursos, visitas, exposições dos alunos, etc.; nunca faltavam e sabiam motivar. Os pais, alguns analfabetos, viam que as crianças ali aprendiam, estavam felizes, exigidas e a trabalhar. Daí que pagassem a propina, com sacrifício mas com gosto.

 

O ensino oficial era gratuito… em boas instalações, com livros e uniformes dados, mas os professores, colocados por cunhas dos políticos, faltavam quando apetecia; o clima era de amiguismo irresponsável. Não havia inovações, e os Directores não podiam exigir dos protegidos políticos uma prestação justa face à remuneração que recebiam. Nestes últimos anos, felizmente, os abusos vão-se reduzindo, há mais moralização com o novo Governo, e interiorização do sentido profissional e de justiça na acção.

 

Estou a referir-me a países em desenvolvimento. Contudo, não deixa de haver parecenças com os desenvolvidos. Lembrava um político nosso que num local com ensino oficial e privado (este com contrato de associação, para a comparação ser válida), se se tratava de fechar turmas por falta de estudantes, deveriam fechar-se as que tivessem menos alunos inscritos, porque os pais sabem bem o que tem qualidade. Este é que é o verdadeiro critério: o que não serve deve ser substituído por aquilo que é bom. E quem deve avaliar são os pais, com as suas opções, não os sindicatos nem o ministro.

 

Se nem todos têm meios económicos, parte do dinheiro com a Educação deveria aplicar-se em contratos de associação para criar uma real liberdade de escolha, que têm os ricos, por terem dinheiro, mas não têm os pobres. O ensino oficial ganharia mais qualidade ao competir, ao querer ser uma real alternativa ao ensino privado. Ganharia, sem dúvida o país!

 

31/7/2016

Eugenio Viassa Monteiro.jpg

Eugenio Viassa Monteiro

Professor da AESE-BusinessSchool e Dirigente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-India

O FASCISMO EM MARCHA...

 

Continência.png

 

 e a política europeia em sentido a fazer-lhe continência!

 

GOLPE DE ESTADO DE ERDOGAN CONTRA A DEMOCRACIA QUE DEMOCRATICAMENTE O APOIA


 

 

A Turquia torna-se cada vez mais num país de braços no ar e de lenços na cabeça. O presidente turco Erdogan declarou a suspensão da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e o Estado de Emergência por três meses, ficando assim com direitos absolutos. (Será esta uma maneira indirecta de poder também introduzir a pena de morte?).

 

Chega a ter-se a impressão que nos encontramos no início da era muçulmana! O radicalismo muçulmano determina o sentir dos povos e a cedência de liberdades nas chamadas sociedades livres. Ao saneamento de milhares de juízes, de soldados, de polícias e de outros funcionários da administração segue-se o saneamento dos agentes de ensino.

 

O despedimento de 1.5oo reitores de universidade e a retirada da licença de ensino a 21.000 professores do ensino privado é mais um acto radical eficiente para o saneamento de um Estado que Erdogan e seus sequazes querem ainda mais uniforme. Em todos os regimes os fascistas de direita e de esquerda procuram ter sempre o ensino sob o seu controlo ideológico. Ciente de que a religião é o melhor garante de sustentabilidade, Erdogan aposta sistematicamente no fomento de um islão sunita retrógrado; no tempo de sua actuação política, já foram construídas mais 10.000 mesquitas.

 

Este golpista enganador trabalhou sistematicamente a longo prazo para conduzir o país ao fascismo.

 

Mais preocupante ainda é o facto de ter recebido 60% dos votos dos turcos que vivem na Alemanha e ainda o facto de muitos destes se manifestarem violentamente na Alemanha a favor do golpista Erdogan. Quando há algum acto terrorista, os mesmos não se manifestam. Na Alemanha vivem cera de três milhões de turcos e de turco-descendentes. À semelhança do que acontece na Turquia, apoiantes de Erdogan, organizaram um serviço online onde se pretende fazer o alistamento de cúmplices e simpatizantes com a intentona para poderem ser mais eficientemente perseguidos.

 

A raiva do povo contra as elites turcas, de orientação moderna, é insaciável. Erdogan, um filho do povo, vinga-se da elite secular servindo-se do povo. Em democracia o povo é quem determina a razão!

 

O presidente quer ser o novo Ataturk da Turquia mas no sentido contrário. Conseguirá atrasar eficientemente o ponteiro da história da Turquia e irá dar que fazer à política europeia que em breve terá de abrir as portas a muito mais refugiados: os da síria e de outros estados muçulmanos e ainda mais curdos e outros que o Estado turco ainda perseguirá mais.

 

A Turquia e o comportamento de muitos turcos na Alemanha poderia ser um sinal para o que a Europa acorde e reflita sobre o que está a acontecer à Europa sob a acção de políticos mais interessados em administrar a miséria e a decadência da Europa, do que em defender os valores que a tornaram grande e exemplar para todas as sociedades.

 

Erdogan, embora retrógrado e ditador, procura, à sua maneira, construir uma Turquia dominante. É um líder coerente que aposta no poder da luta cultural e religiosa, deixando atónitos os políticos ocidentais que, à custa da própria cultura e do povo, pensam dominar o mundo através da economia!

ACDJ-Prof. Justo-3.jpg

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António da Cunha Duarte Justo

 

O MAU ESPÍRITO

 

 

Sobreviver no interior brasileiro nos séculos passados não era coisa pra fracos. Enriquecer, então, era questão para destemidos aventureiros dispostos a tudo enfrentar, matas, índios, animais selvagens, grileiros, falta de alimentos e remédios. Trabalho duro e perigoso que muitas vezes levava à perda da própria vida.

 

 

Era comum fazendeiros que possuíam terras adquiridas por sesmarias, compradas ou ocupadas por grileiros, recrutassem jagunços pagos para “limpar” o terreno. Só depois assumiam e construíam naquele espaço a fazenda.

 

Em tempos de “limpeza”, as ferramentas mais utilizadas eram as armas de fogo, além dos instrumentos de trabalho para desbravar a terra. Guaiaca ajustada na cinta ou cruzada no peito, punhal estrategicamente escondido no cano interno das botas de couro, eram indispensáveis para impor respeito e se manter vivo. Andar por caminhos desérticos e inóspitos, ou em matas cerradas, exigia coragem e equipamento!.

 

Bem antes dos estrangeiros chegarem àquelas bandas interioranas já desbravador português, usando o índio amansado como guia, adentrava e “limpava” o terreno. Motiva-o a posse das terras e as riquezas que poderia tirar delas, explorando, abrindo clareiras para criar gado ou para plantar pro sustento.

 

Instalados, vinham as disputas pelos território e pelas águas que lhes garantiam a subsistência e influência. Animosidades por divisas e desvios de cursos de águas eram frequentemente resolvidas à bala, quando na conversa não se chegava a contento.

 

Naquele dia, os fazendeiros Jacinto e Fabiano se estranharam. O motivo era posição da cerca que lhes dividia as fazendas. Achando-se lesado, Jacinto reclamava que haviam entrado metros na sua propriedade, situação que Fabiano contestava. Depois de muita discussão, tudo ficou na mesma. Irritado, tempos depois, o fazendeiro Jacinto desvia o curso do riacho que nascia nas suas terras e atravessava as do vizinho, deixando sem água o pasto e o gado do outro fazendeiro. Guerra declarada, os dois não podiam se encontrar sem que essas questões viessem à baila.

 

Em terras de pouca água, os bichos logo buscam a fonte. E assim o gado rompeu a cerca e pulou para o pasto vizinho onde podia matar a sede e comer capim. Quando Jacinto percebeu a situação procurou Fabiano para reclamar e pedir para que ele consertasse a cerca arrebentada. Nova discussão para que o riacho e divisa fossem para o lugar original. Ninguém quis voltar atrás e tudo acabou numa cusparada tendo como resposta um tiro mortal. No dia seguinte acharam o corpo de Fabiano já em incipiente estado de putrefação. Foi uma comoção. Os filhos do fazendeiro morto juraram vingança. Suspeitaram do vizinho renitente que passou a carregar consigo dois revolveres carregados no coldre, prontos para a descarga conveniente.

 

Ciente da lei do sertão, Jacinto dizia para a família:

- Quando eu morrer vocês me enterrem com meus dois revólveres, vai que lá, do outro lado da vida, eu encontre um mau espírito...

 

Enterro no sertão brasileiro.png

 

Se bem foi dito, melhor foi feito. Passou-se algum tempo até que um dia um sujeito mal encarado foi visto nas redondezas. Capa escura, surrada, que ia até as canelas, chapéu preto de feltro enterrado na cabeça escondia parcialmente a fisionomia. No peito, transpassada, uma cinta de couro cru, brilhante, desgastada pelo uso, onde se via uma pequena bolsa de carregar balas e um coldre preenchido. Era um matador, jagunço contratado. Já se suspeitava, era o anúncio de morte encomendada!

 

Jacinto foi encontrado morto na estrada, com um tiro na cabeça, vítima de uma tocaia.

 

Do jeito que surgiu, o jagunço desapareceu sem deixar rastro. O fazendeiro foi enterrado com suas armas, como pedira, nas terras disputadas. Respeitaram a sua vontade, sabe-se lá se ainda teria que se ver com algum mau espírito...!

 

Uberaba, 25/07/2016

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

 

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