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A bem da Nação

NAS SALSAS ONDAS

 

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Dizia-me há dias um amigo que nas férias, sem nada que fazer, lhe dá para escrever. Ao que lhe perguntei: - E do que mais gostamos do que de pensar? O texto que então me enviou acabava com a informação (cont.) que para mim significa que o prazer da aprendizagem não cessa ali. Aguardo os próximos…

 

Quanto a mim, já não distingo as férias das não-férias, os dias úteis dos outros (que, por exclusão de partes, devem ser inúteis), todas as horas de todos os dias são iguais e, como sou dono da minha agenda, tanto posso estar a estudar e a escrever às quatro ou cinco da manhã como a dormir às seis ou sete da tarde. Parece que o Doutor Salazar também fazia isso de estar a descansar (as pessoas importantes não dormem) a qualquer hora e estar a trabalhar quando todos os outros à sua volta estariam a dormir. De vigília? Não. Relativamente ao Doutor Salazar, quem estava de vigília era a PIDE; ele estaria a pensar e a decidir.

 

E cada vez mais me convenço que todas as horas são boas para aprender e que é frequente aprender alguma coisa quando menos se espera. Mas porque esse inesperado momento é isso mesmo, inesperado, todos os momentos em que descanso são putativamente perdidos no ganho de saber ou, no mínimo, de alguma sabedoria. Só que, dormir é necessário e não há que dormir menos do que o imprescindível para não se agarrar alguma moléstia cardíaca. Mais do que isso, é mândria. Vai daí, alguma aceleração atípica de um aposentado, o que também pode fazer mal ao coração.

 

Contudo, se todos estes argumentos aconselham ao abrandamento do ritmo, é um ditado popular que me alerta contra a aceleração: - Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo.

 

E lá vem a aprendizagem inesperada. As últimas linhas do romance «A brasileira de Prazins» de Camilo Castelo Branco citam uma frase de Voltaire que me faz pensar redobradamente na volatilidade de todas as nossas preocupações: «Deixaremos este mundo tolo e mau tal qual ele era quando cá entrámos». Não sei se é verdade mas faz-me pensar.

 

E pensar é do que gosto tanto no alto da montanha como aqui onde estou, junto das salsas ondas.

 

Tavira, Agosto de 2016

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Henrique Salles da Fonseca

PORTUGAL A ARDER E...

 

 

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Portugal arde no continente e até na ilha da Madeira; a devastação e os desastres são horríveis.

Em 2003 e em 2005 escrevi os textos abaixo a propósito de fogos:

 

Pegou  fogo! 

Ainda  a  propósito  e...  a  tempo?

 

Todos os anos a mesma cegada. Vem o verão, um calor insuportável, uma secura tremenda e aí está o país a arder.

Este ano, um dos anos mais quentes que a história regista desde há vários séculos, tinha que arder mais. E foi uma catástrofe. Grande parte fogo posto, grande parte os mesmos incendiários e, pelos vistos, por todo o lado a mesma insana benevolência, a que algumas almas obscuras chamam de direitos humanos, poupando duros castigos a semelhantes canalhas.

Há uns quinze anos ardeu uma grande parcela das matas da Serra de Sintra. O fogo andou por onde quis e o vento o levou mas, chegando a uma área de belíssimos cedros (uma das tais Pináceas), não entrou. Rodeou os cedros, que se limitaram a ficar chamuscados na orla, e seguiu adiante na sua destruição. Passada a desgraça lá restava imponente, de pé, ligeiras feridas do duro combate, uma, infelizmente pequena, mata de cedros, heróicos sobreviventes daquela violência.

A pergunta que surge de imediato a qualquer um: porque não se plantam mais cedros? Porque não se fazem “cinturões” ou “aceiros” de cedros, já que, por diversas vezes ficou demonstrado que estas árvores não deixam o fogo propagar-se, pelo menos com a impressionante velocidade dum pinhal ou eucaliptal?

A resposta é simples: um pinheiro ou um eucalipto levam pouco mais de meia dúzia de anos a crescer para corte - se entretanto o fogo não os devorar! - e um cedro uns trinta! Quem quer fazer investimentos a trinta anos?

Onde está o grande Rei (“R” maiúsculo!) D. Dinis? Imaginem que esse Rei tivesse a mentalidade tacanha que, de há muito, vem presidindo os destinos de Portugal? O que tinha acontecido? O mar já teria levado uma boa parte da costa e a grande epopéia que honra e mostrou ao mundo a fibra dos portugueses... nem sequer teria acontecido! Naquela altura ainda não se faziam embarcações em fibra de vidro.

Sempre ouvi dizer que governar é prever, segundo os chineses. Não será possível fazer um plano de reflorestação a 30, 40, 50 anos? Foi o tempo que demorou a completar a auto estrada Lisboa-Porto, iniciada pelo também Grande ministro o Eng. Duarte Pacheco no início dos anos 40. Se uma auto-estrada (auto-estradeca de 300 km!) leva 50 anos a concluir, o futuro do interior do país não pode ser planificado para um prazo desses?

Todos sabemos que depois do terreno queimado os problemas que se levantam são imensos e enormes: empobrecimento, erosão, assoreamento de rios e barragens, destruição total ou quase de todo o eco sistema, etc., mas insistir naquilo que todos sabem que não resulta - plantar somente pinheiros e eucaliptos - é sem dúvida estar a jogar dinheiro fora e continuar a pôr em risco a vida de muita gente e deixar para os vindouros um deserto!

Será isso que as gentes, e porque não os governantes, querem?

15/Set/03

 

Dois anos depois, 2005, voltei à carga:

 

Os  fogos  “populares” 

 

Há dois anos, grassava por Portugal um fogaréu imenso, como habitual, escrevi uma pequena crônica sobre os fogos, e lembrava um episódio que salvara uma boa área da serra de Sintra. Arderam eucaliptos e pinheiros mas o fogo não penetrou nos cedros.

Mandaria a lógica plantar mais cedros. Pelo menos fazendo com eles cortinas que pudessem conter a voracidade das chamas que sempre, sempre e cada vez mais, se declaram nesta época do ano em Portugal e não só. Temperaturas que rondam os 40° C e humidade do ar muita vez abaixo dos 30%, não há floresta que aguente.

Não se sabe qual o fenómeno que num passado não tão remoto, provocou, sempre no hemisfério norte, as glaciações com seus períodos interglaciares, mas o que se sabe é que com o aumento de temperatura do nosso planeta, e o também visível aumento da área de influência do deserto do Saara, somados à falta de limpeza das florestas e rarefação de agricultores, gente do campo, nas aldeias, que ao primeiro sinal de fumo acudia com baldes e boa vontade, a ameaça dos fogos só tende a piorar.

Vão talvez dizer que o problema não terá grande solução, visto que só se podem plantar pinheiros e eucaliptos, que são os que mais rapidamente crescem e melhor servem as celuloses!

Os que mais rapidamente crescem, vírgula, quando crescem, se o fogo os não destrói, o que está acontecendo com cada vez maior e mais rápida intensidade. As celuloses terão que estudar alternativas, porque entre material talvez não tão adequado - e nem saberia dizer se isto é verdadeiro ou não - e troncos queimados com terras cada vez mais improdutivas, a solução não parece difícil de tomar.

O projeto de conservação (?) das matas e florestas, em Portugal, é um projeto a prazo médio. Vinte, trinta anos. Talvez caro. Mas entre a hipótese de termos um país minimamente decente para os vindouros, ou um campo arrasado, queimado, improdutivo, e um gasto anual imenso para combater o incombatível, não parece haver muita dúvida no caminho a seguir.

Tem que plantar outras espécies a intervalos regulares. Porque não frutíferas? Até atraem alguma fauna, esta a flora, etc. Ou será melhor continuar a esterilizar as terras com a ganância da venda rápida de madeira (de paupérrima qualidade) ou aumentar os lucros das celuloses?

Tem muito engenheiro florestal que saberá dar uma reposta conveniente.

A pergunta que fica é simples, como a faria qualquer criança: porque não se começa a executar um tal plano? Não temos em Portugal engenheiros silvicultores capazes de elaborar, com muita rapidez, um plano destes, à escala até nacional? Temos, muito bons, com arquitetos paisagistas, à frente dos quais me atrevo a sugerir o prof. Gonçalo Ribeiro Telles. O que falta então? Vontade e força política? Para variar deve ser isso. Sempre a maldita política que, em nome do desenvolvimento do país, muitas vezes só isto faz: atrasa-o.

13-jul-05

 

 

Passam os anos e nada muda. Lembro outro episódio passado também há anos no Norte de Portugal. Grassava outro incêndio. A chefe dos Serviços Florestais conseguiu prender o incendiário e, de acordo a lei (direitos humanos e outras cretinices) entregou-a à polícia. Já não recordo o desenvolver do drama: ou a polícia ou o tribunal, ouviram o delinquente e... soltaram-no!

Hoje continua a passar-se o mesmo. E a “justiça” parece não perceber que esses delinquentes são ferozes assassinos. Destrói-se o meio ambiente, as propriedades particulares – casas e bens – morre gente queimada e... os assassinos ficam à espera da próxima oportunidade.

Ou há um lapso de dignidade, de lei ou de coragem para pôr esses energúmenos na cadeia por 40 ou 50 anos. Ou, para um tratamento mais rápido, ser levado de helicóptero e deixado no meio do fogo. Lá bem no centrinho onde o churrasco fosse mais quente. De certeza que a aprenderia... tostado.

Lembro ainda um juiz que proferia sentenças inéditas que eram criticadas nos jornais, sempre positivamente;

Uma delas: um jovem que ao andar nos carros elétrico (bondes) sempre tinha mão baixa para a meter nas bundas das jovens ou senhoras. Apanhado, preso, foi a julgamento. Sentença: durante dois anos não pode andar nos transportes públicos! Perguntaram ao juiz: E como ele se vai deslocar? – Nos mesmos transportes; mas vai ser o indivíduo mais bem comportado lá dentro. Se prevaricar apanha uns quantos anos de prisão!

Aceiros para evitar a expansão do fogo... não valem muito. Limpeza dos ramos secos nas matas... quem vai apanhá-los, como se fazia há 50 anos para ter lenha em casa?

As florestas estão cheias de combustível, a terra aquece cada vez mais, e ninguém parece querer ver mais além do que o “próximo ano”, pedindo aviões emprestados para ... para o que? Atenua? Talvez, mas não resolve.

Parece que quem comanda o país tem como lema “Deixa arder que eu pago!

É triste ver como se abandona o pouco que se tem.

 

11/08/2016

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Francisco Gomes de Amorim

CURTINHAS nº CXLVII

 

equívocos & vistas curtas

 

  • Bons tempos aqueles em que bastava um Banco (ou qualquer outra sociedade comercial) manter intacto o seu Capital Social (isto é, as entradas de capital que os seus sócios realizavam, ou se comprometiam a realizar) para fazer o que melhor lhe aprouvesse.

 

  • Representasse, apenas, uma ínfima parcela do seu Balanço, fosse manifestamente insuficiente para absorver as perdas prováveis nos riscos a que se expunha – tanto se dava. Importante, importante mesmo, era não perder o Capital Social por efeito de má fortuna (leia-se: prejuízos acumulados).

 

  • E foi à sombra deste cânone que a Banca portuguesa viveu os seus dias de ouro, com Balanços em expansão acelerada e Capitais Próprios a marcar passo, o que proporcionava invejáveis rentabilidades – e instilava a ideia de excelente gestão.

 

  • O Acordo Basileia II (2006) veio anunciar o fim desses tempos – e a crise financeira internacional (2007-2010?) enterrou-os de vez.

 

  • Hoje em dia os Bancos têm de dispor de Capitais Próprios suficientes para absorver, não só as perdas já incorridas, mas também as perdas prováveis, mesmo em conjunturas bastante adversas. O Capital Social, esse, pertence irremediavelmente ao passado – uma vez realizado, não interessa para mais nada.

 

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  • Imagine, Leitor, um Banco como um veleiro: a dimensão do Balanço são as velas que, aproveitando o vento (os riscos a que o Banco se expõe), imprimem velocidade (lucros brutos); os Capitais Próprios são a quilha para lhe conferir estabilidade, mesmo com vento rijo (riscos elevados), mesmo no meio de tormentas (conjunturas especialmente adversas).

 

  • Actualmente, os Capitais Próprios de um Banco são vistos, antes do mais, como a garantia que os seus accionistas prestam a favor de quem tenha interesse directo legítimo na continuidade desse Banco (depositantes, obrigacionistas, outros credores).

 

  • E, para serem uma garantia que conforte capazmente, têm de estar investidos em activos facilmente liquidáveis e com valor realizável que não ofereça dúvidas.

 

  • A ideia, tão querida entre nós, de que o Capital Social é a primeira fonte de financiamento das actividades de um Banco não tem, assim, o menor fundamento – é um equívoco grave, mas, por cá, muito comum. Estamos todos a pagá-lo bem caro.

 

  • Voltando à CGD. Que necessita de maiores Capitais Próprios, é ponto assente. De quanto? Tudo dependerá: (i) das perdas já incorridas, mas que não estão ainda deduzidas aos Capitais Próprios (tarefa do Auditor Externo); (ii) das perdas prováveis a que se encontrar exposto o seu Balanço actual (tarefa do Supervisor); (iii) do modelo de negócio que vier a adoptar (tarefa do Accionista).

 

  • Os dois primeiros pontos são a herança do passado - o que está feito, está feito, não há volta a dar. O ponto verdadeiramente importante é, porém, o último: como enfrentar o futuro.

 

  • Ora, é precisamente aqui que entronca a tese segundo a qual “a missão da CGD é financiar a economia”.

 

  • Um equívoco mais, posto que a CGD tem outras missões para além de financiar: (i) é uma peça fundamental no nosso sistema de pagamentos (esta, aliás, a missão de longe mais importante); (ii) desempenha um papel muito relevante no incentivo ao aforro - quando emite instrumentos financeiros remunerados e resgatáveis à vista (Depósitos a Prazo).

 

  • Começando por aquela primeira missão. Tempos houve em que a CGD era “a Caixa Geral do Tesouro” – o que é dizer, a instituição em que o Tesouro depositava todos os seus haveres e através da qual fazia os seus pagamentos. Não mais.

 

  • Desde a década de ’80 que o Tesouro tem, ou pode ter, conta em qualquer Banco. Esta dispersão dos saldos do Tesouro impede que tais fundos sejam usados como um elemento estabilizador (e primeira defesa!) do mercado monetário interbancário em Portugal. Na ausência de um Banco de Tesouro (onde o IGCP se integraria), eis uma função que poderia muito bem ser confiada à CGD - onde, aliás, já esteve - com apreciáveis vantagens.

 

  • Os instrumentos financeiros resgatáveis têm, para os investidores/aforradores mais avessos ao risco (que são a grande maioría), uma dupla vantagem: para além de renderem, o emitente deve restituir na íntegra o capital investido, mesmo se liquidados antecipadamente.

 

  • É certo que Fundos de Tesouraria (Unidades de Participação) e Estado (Certificados de Aforro) também os emitem. Mas os Depósitos a Prazo, mesmo que rendam menos, oferecem: (i) uma segurança (a cobertura pelo Fundo de Garantia dos Depósitos, o facto de o Banco emitente dispor de Capitais Próprios que respondem pela dívida e ter acesso às facilidades de liquidez do Banco Central) que não está ao alcance das Unidades de Participação; (ii) uma flexibilidade (diversos prazos, resgate a qualquer momento) que os Certificados de Aforro, por serem Dívida Pública, não têm, nem podem ter (porque tal encareceria o respectivo custo do capital).

 

  • E quanto a financiar? Financiar o quê e como?

 

  • Nestes últimos 25 anos, a CGD pouco ou nada se distinguiu dos restantes Bancos Comerciais. Todos competiram por: (i) financiar o Estado; (ii) financiar a tesouraria corrente e alguns projectos de investimento de empresas; (iii) financiar a compra de habitação própria; (iv) financiar a compra, pelas famílias, de outros bens e de serviços. E, de quando em vez, também entravam no capital de empresas (lá tinha que ser).

 

  • O peso de cada uma destas, digamos, “linhas de negócio” ia variando ao sabor dos dias - e variava também de Banco para Banco. Mas, no essencial é um modelo de negócio centrado no financiamento da procura interna - cujos efeitos cedo (logo em 1999) começaram a ser visíveis: os desequilíbrios crescentes (e insustentáveis) da BTC têm origem nele.

 

  • A questão é esta: poderá a CGD prosseguir neste modelo de negócio? Não me refiro já aos efeitos nefastos na BTC. Tenho em mente, apenas, a sua solidez e estabilidade financeiras.

 

  • Um Banco financiar o seu próprio Estado deixou de ser bem visto: em conjunturas adversas (crises financeiras, etc.) a economia fica ainda mais fragilizada. Mas a CGD não está impedida de o fazer, desde que possa afectar à Dívida Pública em carteira Capitais Próprios que lhe permitam passar nos testes de stress (de EBA/BCE) sem comprometer a sua capacidade para continuar a financiar tudo o resto.

 

  • A CGD financiar o investimento empresarial? Certamente. Com duas ressalvas: (i) enquanto permanecerem no seu Balanço, estes empréstimos põem o sistema de pagamentos em contacto directo com riscos financeiros - o que é perigoso; (ii) o prazo médio dos seus depósitos é muito inferior aos prazos de financiamento mais adequados à generalidade dos projectos de investimento – e isso abala os alicerces da sua solidez financeira.

 

  • Tal como nos projectos de investimento, quem pretende comprar casa própria, não pede só dinheiro emprestado, pede também prazo para pagar (15 anos, ou mais). Ora, se estes empréstimos hipotecários forem mantidos no Balanço até serem integralmente pagos, a CGD não tem como se financiar nos mercados financeiros em prazos tão alargados.

 

  • Uma vez mais, é o desequilíbrio acentuado entre prazos de exigibilidade do Activo e prazos de exigibilidade do Passivo (no jargão técnico: mismatch) – e o risco de refinanciamento que lhe está associado - que poderá deitar tudo a perder ao primeiro sinal de crise.

 

  • Mas a hipoteca de imóveis não é uma garantia sólida que supre tudo isso? Sim e não. Vender um imóvel em execução de uma hipoteca, isoladamente, pode ser rápido e até por um preço satisfatório. Agora, vender de uma assentada muitos imóveis não é fácil, uma vez que, por cá, não existe um mercado imobiliário digno desse nome: o mais certo é os preços virem por aí abaixo - e o valor realizável do bem hipotecado não dar para cobrir o crédito em incumprimento.

 

  • A dura realidade, Leitor, é que as hipotecas (de casas e outras) não valem grande coisa em períodos de crise – e a CGD sabe isso melhor do que ninguém. Importa, pois, que o modelo de negócio escolhido a deixe bem preparada para enfrentar crises e conjunturas adversas.

 

  • Grande parte do crédito ao consumo tem por destino financiar a aquisição de bens e serviços importados. Por isso, não creio que seja a isto que a tese “financiar a economia” aluda. Acresce que, nesta linha de negócio, o risco de crédito é também extremamente sensível ao desemprego que acompanha as conjunturas recessivas – cujos efeitos negativos tende, aliás, a ampliar.

 

  • Todas estas quatro linhas de negócio acima resumidas têm em comum serem soluções de financiamento com endividamento. Para uma economia que se encontra há cerca de 15 anos em situação de sobreendividamento, é capaz de não ser muito avisado pretender relançar a CGD à custa de mais dívida do Estado, das Empresas e das Famílias.

 

  • Então, por que não orientar a CGD para a oferta de soluções de financiamento sem endividamento – como seja a subscrição de capital das empresas (Acções, Quotas)? Afinal, sempre ajudaria a recapitalizá-las, amortecendo-lhes o endividamento excessivo.

 

  • Por três razões principais: (i) em geral, Acções (e Quotas) não são aplicações elegíveis para os Capitais Próprios de um Banco (ver mais acima porquê); (ii) é um erro que se paga muito caro financiar com dívida (em larga medida, depósitos cujos prazos contratados raramente excedem 3 anos) posições de carteira que, por definição, não têm prazo fixado para o respectivo reembolso (como é o caso das Acções e das Quotas); (ii) se cada empréstimo bancário em Balanço torna o sistema de pagamentos (que deve ser mantido ao abrigo do mais ínfimo risco, recordo) vulnerável ao risco durante um prazo bem determinado, cada Acção (ou Quota) no Balanço mantém essa vulnerabilidade ad perpetuum.

 

  • Então, perguntará o Leitor, em vista de tudo isto, o que sobra?

     

    (cont.)

    Agosto de 2016

Palhinha Machado.jpgA. Palhinha Machado

 

A CONCORRÊNCIA DOS ADVOGADOS

 

O computador tornar-se-á no advogado de defesa

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 do cliente e no impulsionador de empresas

 

Na revista Cícero, li uma notícia sobre a empresa Leverton. Esta desenvolveu programas de sofware, para empresas bilionárias, que podem ler e avaliar contratos e outros documentos de carácter jurídico.

 

Já há tais programas em 20 línguas, o que tornará tudo mais rápido, mais barato e de maior confiança que advogados.

 

A revista alemã Cícero (03,2016) refere que o software se baseia na tecnologia Deep Learnings. A tecnologia que se tornará o grande concorrente dos advogados.

 

O que hoje é feito para grandes empresas endinheiradas, reverterá, com o tempo, em benefício dos mais fracos, através da sua disponibilização para as massas.

 

A nova tecnologia ajudará advogados mas constituirá um grande desafio até para os juristas da área do direito da concorrência.

 

Esta inovação será a maior afronta também para a concorrência com escritórios internacionais de advogados.

 

As companhias de seguros estarão muito interessadas no desenvolvimento da nova tecnologia.

 

Pelos vistos, cada usuário de Internet, com o tempo, terá no seu computador um advogado de defesa.

 

DIGITALIZAÇÃO DAS EMPRESAS

FACTOR IMPRESCINDÍVEL DO LUCRO

 

No futuro toda a empresa, grande, média ou pequena, terá de se digitalizar. A digitalização será um factor imprescindível de crescimento económico, como prevêem analistas dos mercados. Digitalização é a ordem do momento especialmente para médias e grandes empresas que queiram acompanhar o futuro.

 

Encontramo-nos num mundo em mudança total. A digitalização será o pressuposto necessário para receber contratos, orçamentos, corrigir erros, guia de remessa, propaganda, instruções de trabalho, cooperação com empregados e clientes, poupar tempo e deslocações, etc.

 

Pelos vistos, o futuro não dorme! Quem não se antecipa ao presente não terá sucesso e produz os habituais queixosos do presente.

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António da Cunha Duarte Justo

 

CHURCHILL - HERÓI, PRÉMIO NOBEL E…

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Há acções que nos surpreendem pela positiva, como prova de coragem, de paciência, de sentido de missão ou de sangue-frio; justamente por isso os seus autores se tornam heróis aos nossos olhos. E gostaríamos de os ver sempre assim, heróis! Sem baixezas… ou abstraindo mesmo das pequenas escorregadelas.

 

A não ser que tenha havido um esforço sério por praticar o bem, para fazer o que é correcto, arraigando virtudes no proceder habitual, eles não estarão isentos de deslizes, alguns fortes, cedendo a paixões, à sêde do poder ou a mesquinhas vinganças.

 

Ao ler o livro The end of poverty, de Jeffrey Sachs, tinha-me chamado a atenção, esta frase: “A maior ilustração da irresponsabilidade imperial britânica foi a sua resposta às repetidas fomes e doenças epidémicas durante a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX” (Penguin Books, pg. 174). Que exagero, pensava eu, ou apenas força de expressão.

 

Alguns autores britânicos como William Darlymple ou Angus Maddison, nos seus estudos histórico-económicos tinham evidenciado como a riqueza que a Índia produzia fôra sendo destruída abruptamente a ponto de passar de mais de 24% antes da colonização, para menos de 4% na retirada dos ingleses. É muito de louvar que os investigadores britânicos não se tenham deixado levar por fábulas e superficialidades, na linha da exaltação nacionalista tão frequente na Europa, muitas vezes fomentadas pelo governo ou algum sector fascista. Intrigado com as afirmações de Sachs, tentei saber do alcance de tal ‘irresponsabilidade’.

 

Na verdade, segundo relatos históricos, na 2ª parte do século XIX e na 1ª do século XX, entre 15 a 29 milhões de pessoas terão morrido de fome e epidemias na Índia, sem que os dominadores colonialistas tenham mexido um dedo! E só no ano de 1943, quando Churchill era primeiro ministro, a situação era muito grave, com extrema falta de mantimentos na região de West Bengal, de capital em Kolkota. A fome apertava e os chefes colonizadores locais mandaram telegramas urgentes a Churchill chamando a atenção para a gravíssima situação e queriam proceder à distribuição de mantimentos armazenados para o efeito. Churchill opôs-se, com veemência, alegando uma justificação, que nada justifica, senão um ódio mal-contido aos indianos: ‘que poderiam fazer falta aos britânicos’, anafados e bem-alimentados.

 

E no papel do telegrama recebido anotou esta frase cínica e cruel: ‘Como é que Gandhi não morreu ainda?’ (de fome, por suposto). Impediu que se acudisse à fome. Deixou que morressem, em consequência, 4 milhões de cidadãos Indianos, em 1943 (cfr. Shashi Tharoor, https://www.youtube.com/watch?v=f7CW7S0zxv4 at Oxford Union)

 

Desenterrar atrocidades coloniais? Sim, para reavivar a memória e aprender dos erros do passado e, no mínimo, para se ter a humildade de os reconhecer e pedir desculpas! ‘Purificar a memória’, chamou o Santo Papa João Paulo II. Foram 4 milhões de vidas humanas ceifadas pelo capricho de um ‘herói’, com poder e com armas! Qualquer juiz sensato classificaria, sem hesitar, de crime com premeditação.

Desgraçadamente, na colonização britânica na Índia, estes casos macabros nem foram um acto isolado, nem infrequente… O desrespeito pelos cidadãos indianos foi acompanhado de ódio mal contido; talvez por os ingleses se sentirem humilhados com a superioridade moral e intelectual dos indianos que não davam importância ao colonizador. Recorde-se o massacre de Jallianwalla Bagh, no Amritsar, em que centenas de indianos foram mortos a sangue-frio e muitos mais feridos quando se manifestavam pacíficamente, sem nenhumas armas na sua posse!

 

As seguintes palavras pronunciadas no Parlamento britânico, são atribuídas a Lord Macaulay, proferidas em 2 de Fevereiro de 1835 (ele foi membro do Supreme Council of India, quando W. Bentick era Governador-Geral): “Viajei ao longo da Índia e tomei o pulso: não vi nenhum mendigo ou ladrão. Vi tal riqueza no país, tais valores morais, pessoas de tal calibre que não penso que alguma vez consigamos conquistar este país se não partimos a coluna vertebral desta Nação, que é a sua herança espiritual; por isso, proponho substituir o seu velho e antigo sistema de educação e a sua cultura…”

 

Churchill é um herói para os europeus. Mas como pessoa de forte personalidade não admitirá que não seja recordado com todos os seus atributos, em corpo inteiro, sem camuflagens, como sempre foi: herói e assassino de 4 milhões de indianos!

 

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Eugénio Viassa Monteiro

HUMOR DIPLOMÁTICO

 

 

Quem se fia na electrónica corre o risco de contar com meios que por vezes falham acabando por se desiludir com os progressos do que all we take for granted.

 

 

Foi o caso do Luís Soares de Oliveira, Embaixador, que me enviou várias vezes a mesma mensagem porque o sistema o avisava de que a mensagem não tinha seguido. E quando lhe fiz saber que já tinha recebido a dita mensagem, logo disse que a insistência lhe fazia lembrar uma conhecida cena da nossa História Diplomática.

 

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O Rei D. Carlos recusara o pedido de agrément a Porras y Porras (apelido de uma distinta família espanhola) que o Rei Alfonso XIII de Espanha queria acreditar como Embaixador em Lisboa e o Conde de Arnoso, secretário de D. Carlos, perguntando se a recusa era por causa do nome, o rei respondeu: - Não é o nome, é a insistência.

 

 

Já conhecendo a passagem que sempre considerei admirável, respondi ao Luís Soares de Oliveira que: Essa do D. Carlos é famosa e vale bem uma divulgação para que outros conheçam o espírito de humor do Rei. Ele poderia ter muitos defeitos – em que o principal era ser monárquico – mas tinha muitas qualidades que merecem realce.

 

 

Logo na volta do correio e sem repetições, responde o meu ilustre interlocutor: «Quanto ao D. Carlos ser monárquico, tenho dúvidas. Uma vez que assistia no Teatro D. Maria à estreia de uma peça de D. João da Câmara, propôs condecorá-lo ao que o dramaturgo respondeu: - Não posso aceitar pois sou republicano. Ao que D. Carlos respondeu: - Aí está uma posição em que o meu cargo me impede de o apoiar

 

 

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  Henrique Salles da Fonseca

GOVERNO ABSOLVE A CORRUPÇÃO

 

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UM EXEMPLO DE ÉTICA REPUBLICANA

 

SOCIALISTA APLICADA


 

Governo cúmplice com 3 Secretários de

 

Estado considera o “caso encerrado”

 

 

Os secretários de Estado Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira, do governo de António Costa, foram assistir a jogos do Europeu a convite e à custa da GALP! O Governo em vez de demitir os seus representantes, torna-se cúmplice com eles ao considerar o “caso encerrado” (observador); para continuar a enganar o povo, promete fazer um “código de conduta” moral, como se os privilegiados da república não precisassem de se submeter a leis mas apenas a recomendações morais da classe. De facto o Governo Geringonça concretiza uma ética republicana à portuguesa num imbróglio, do qual tem bem vivido uma elite “esclarecida „formada nas pegadas do Marquês de Pombal e fomentada principalmente pelos homens do avental a agir a partir das cavernas da república.

 

O SEAF justifica a “boleia” recebida com o argumento

 

do povo corrupto e dos costumes

 

É especialmente grave o facto de o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, se ter aproveitado da "boleia" da GALP apesar de a pobre GALP, que o convidou, andar em conflito com o Estado por dever ao fisco 100 milhões de Euros. E o SEAF ainda não se demitiu nem o governo se incomoda com os estragos porque, na sua autossuficiência esclarecida, sabe que um republicanismo esquerdista tem o povo bem açamado e, como tal, sem alternativas. Esta atitude mostra que o espírito corrupto é considerado normalidade no republicanismo português.

 

Pior ainda, o SEAF, como diz a Sábado, considerou "com naturalidade, e dentro da adequação social, a aceitação deste tipo de convite”. Em texto claro diz: o que fiz é legitimado por um povo corrupto como eu porque, o que fiz, fi-lo “dentro da adequação social”.

 

Num país em que se passa, sem mais, de altos cargos públicos para o privado e em que a promiscuidade entre política, PPPs/ privado são factos, isto é apenas a ponta do iceberg da corrupção e da irresponsabilidade pública, que não conhece conflitos de interesses. Num outro estado democrático, a consequência seria a demissão imediata. Imagine-se o descaramento cínico do Secretário ao dizer que vai reembolsar a empresa pagando as despesas! A maior tragédia está ainda no facto da grande maioria da esquerda estabelecida assumir a posição do roto a apoiar o esfarrapado! Meu Deus, tanta inocência saloia a viver de coutadas ministeriais e a comportar-se de modo anti-social “como elefantes em loja de porcelana”!

 

Sinal da corrupção institucional:

 

Todos os partidos não terem exigido a demissão

 

A distância entre a boleia e a demissão é o espaço que fica entre a corrupção e a honra!

 

Em política “as coisa não são o que são” e menos ainda o que deveriam ser. Por isso, os seus beneficiados só aceitam a moral passada pelos moinhos do partido ou da loja.

 

Alguns comentadores e estrategas da loja não vêem com bons olhos a discussão do caso considerando a demissão do SEAF um assunto reservado ao Presidente da República, “o único que teria competência para tal!” Esta, como a criação de um “código de conduta” não passam de uma tentativa para reduzir a ética do acto a um assunto a resolver entre políticos; isto é baixo e de mau gosto, equivaleria a partir-se do pressuposto que a política vive no gueto sendo já de si corrupta, ao perder a noção da realidade e dos factos e ao fabricar os próprios códigos éticos em proporções partidárias; ignorar o sucedido não passa de uma desculpa de mau pagador com uma mentalidade que confunde o cargo público com o privado (Um acto cometido no foro político tem muito mais gravidade do que no foro privado!). A única postura possível para Rocha Andrade e quem mais aproveitou da “boleia” seria a demissão, se vivêssemos num país acordado e de olhar menos fixo na manjedoura.

 

 

O que fez o SEAF e seus colegas não é mais do que o que fazem certos dignatários, ao fazer-se convidados por secções do partido, onde se chega a fazer até viagens com fins privados, receberem ajudas de custo e deixarem-se ainda pagar o jantar pela secção do partido ou por alguém em princípio de carreira!

 

O problema nacional está na falta de civilidade que se alimenta da falta de honestidade, da falta de prestígio e de honra! A gravidade da questão torna-se crónica quando tais factos passam pela opinião pública e são percebidos como coisa natural, reduzível a um problema de explicação ou de justificação, e como tal sem efeitos.

 

Oportunistas e medrosos não gostam de

 

cidadãos críticos

 

Muitos amigos do taxo e da esquerda radical, sentem-se incomodados com a crítica pública surgida. Reagem culpabilizando os Media por terem colocado a questão à luz do dia, quando poderiam ter calado, como têm feito outras vezes!

 

Temos um país de elites autoritárias e paternalistas que, na tradição portuguesa república de fundo mafioso, reservam para si a crítica, a moral e o decidir. A arrogância é tanta numa esquerda incomodada que considera a colocação do caso na discussão pública como um acto de “atirar de ossos para a matilha”. Esquecem que uma classe política, seja ela de esquerda ou de direita, que só tenha “ossos para atirar à matilha” (povo) já não tem por onde se pegue, porque de democrática não tem nada.

 

Os donos do burgo vão atirando os seus ossos enquanto saboreiam a carne e ainda são tão cínicos e autistas que se sentem incomodados pelo barulho que o povo faz ao terrincar os ossos.

 

Quando os beneficiados da política consideram a crítica pública ao caso como um “achismo” subjectivo e acham que a competência crítica e a decisão de demissão deveria ser reservada ao PR, tornam-se coniventes com os seus, metendo o presidente onde ele não é chamado. Entretanto o Governo comprometeu-se aprovando o suborno de pessoas públicas (um “delito de cavalheiros”!).

 

É natural que cada qual acha com a sua acha, mas o que é escandaloso é que aqueles que vivem das achas do Estado se achem no direito de reservarem o machado da razão só na defesa da sua acha. Na crítica que a esquerda faz à crítica pública pretende tirar a legitimidade de crítica ao cidadão para, a jeito autoritário, a submeter aos órgãos dos comprometidos no sistema (ao código da sua ética!). Não se contentam com o proveito, querem continuar a ver a voz da ética pública reduzida à competência dos beneficiados do regime republicano jacobino dominante.

 

A moral do ministério quer lavar descaradamente umas corrupções em nome de outras! Por isso, cargos políticos cada vez se tornam menos atractivos para pessoas sérias. Especialmente na política encontra-se gente com mãos para tudo, mas coitada, sem força para as pôr na consciência.

 

É sintomática a argumentação de quem justifica a corrupção dos seus com a corrupção cometida pela outra parte. Os corruptos encontram-se sempre em boa companhia e sabem-se protegidos pelos seus “meninos do coro” contra os meninos do coro do outro lado, como se ética e responsabilidade política se deixassem reduzir a uma cantiga! Na chuva da corrupção quem se molha com ela são sempre os outros ou quem não tem o guarda-chuva do poder ou da instituição.

 

Em Portugal temos corporativismos de branqueamento da corrupção onde cada grupo lava a sua roupa suja mas sempre no tanque do outro! A culpa justifica-se com a culpa e consegue viver bem da culpa alheia.

 

O governo geringonça fortalece o consenso que no serviço público a honestidade não entra ao serviço. Ao cidadão pertence a análise e a crítica pois dele depende a consciência nacional que fundamenta a competência para julgar o assunto, doutro modo, a competência é alienada em favor de interesses individuais e sectários.

 

A exigência da demissão de Rocha Andrade e dos colegas cúmplices é uma questão de ética e de civilidade e um sinal de que no país ainda há gente que não quer dar continuidade à corrupção.

 

ACDJ-Prof. Justo-3.jpg

António da Cunha Duarte Justo

THE POWER AND THE GLORY

 

 

Foi na minha juventude que «The power and the glory» me chegou numa tradução francesa que me não deu o prazer por que eu esperava. Vou ter que o reler no original ou numa tradução portuguesa; os tradutores portugueses têm tido um trabalho notável.

 

Diz-se que, de toda a língua inglesa, é o romance mais lido no século XX mas diz-se tanta coisa...

 

graham-greene.jpg

 

Sei que tudo resultou de uma viagem que Graham Greene fez ao México – a Tabasco e Chiapas – para conhecer a perseguição religiosa que por ali acontecera nos anos vinte por ordem de Plutarco Callas.

 

Lembro-me que o enredo se refere aos dramas de um padre católico que continuava na região. Perseguido pela polícia, não era herói nem santo e vivia na clandestinidade com a certeza de ser um pecador por ter uma filha mas, destruído pela bebida, perseguido e fraco, para ele a fé era uma certeza que não se deixava limitar pelas misérias do mundo e que conduzia o crente ao poder e à glória.

 

A matéria histórica está pormenorizadamente relatada por vários sítios e para a conhecer não é hoje necessário sair de casa pois a Internet dá-nos informação de sobra. E fá-lo em todas as perspectivas – a dos perseguidores e a dos perseguidos – o que nos permite imaginar as «coisas» pelos vários lados.

 

Não é, pois, para conhecer a História que vou reler o livro; é para ter o prazer literário que me lembro não ter tido com a tradução francesa.

 

Mas é também para me aproximar da questão psicológica da figura central do enredo para quem todas as misérias mundanas são afinal ultrapassadas pela fé. E a questão vai ser a de saber se por causa da fé aquele farrapo conseguia continuar no vício ou se só a fé o fazia transportar a cenários virtuais de poder e de glória que, na realidade, não possuía. Vícios apesar da fé ou quê?

 

Para já, dá para imaginar a desgraça de quem tem vícios e não tem fé.

 

Vou ler, já volto...

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Henrique Salles da Fonseca

BRASIL FALIDO

 

Carta aberta ao Ministro das Comunicações
 

Brasil falido?

O Rio de Janeiro está, e os Correios também

 

 

Brasil de parabéns. Está a fazer umas Olimpíadas espetaculares elogiadas pelo mundo fora.

 

Mas... tudo muito bonito por fora mas por dentro, vamos ver.

 

O resto do país é um chorar e ranger de dentes: o trivial de inflação, insegurança, burocracia, etc., aquilo que para nós é mais comum do que feijão com arroz.

 

Lembram do Mensalão? Naquela altura os milhões ou bilhões roubados saíram principalmente dos Correios. Rebentaram com eles!

 

Os Correios? Ah! Uma calamidez. Pior do que calamidade.

 

Alguns exemplos:

 

1.- Sou correspondente de um jornal no Canadá, há onze anos. Tudo quanto recebo é um exemplar do jornal que, durante muito tempo chegava com regularidade, demorando cerca de uma semana a vir de Toronto ao Rio.

 

Este ano, passadas já 32 semanas, tudo quanto recebi foram dois jornais: um em Março e outro em Abril. Cadê os outros, senhor ministro das comunicações e senhor diretor dos Correios?

 

2.- Ontem chegou uma carta vinda de São Paulo. Postada dia 22 de julho, levou 19 dias para chegar. Terá vindo a pé?

 

3.- Encomendei pela Internet umas peças. Coisa miúda, vinda de São Paulo. Ao fim de mais de uma semana recebo informação dos Correios que teriam vindo fazer a entrega em minha casa, três dias seguidos, e não tinha ninguém em casa! Deslavada MENTIRA! Eu quase não saio de casa, e se o faço é, talvez, uma vez por semana e olha lá.

 

Mas agora tinha que ir até ao dia 10 ao Posto do Tanque (Rio de Janeiro). Pesquisa na Internet e encontro três postos no Tanque, 3. Fui ao primeiro, enfrentei uma fila curta porque sou idoso (e bota idoso nisso) e... não era ali. Fui ao segundo: é mentira não existe. Desisti. No dia seguinte comecei a caça ao pokemon dos Correios e acabei por encontrar. Umas dez pessoas em frente a um portão, na calçada, me fizeram pensar que ali era ponto de ónibus. Não era. Estavam à espera de entrar para reclamar os seus pertences. Por sorte não chovia!

 

FGA-Correios.jpg

A “sala” de espera no posto dos Correios!

 

O senhor é idoso tem prioridade! – Muito obrigado.

 

Esperei que atendessem uns 4 ou 5 que já lá estavam e finalmente mandaram-me entrar. Um cubículo miserável, uma só atendente, uma senhora com um olho tapado porque tinha sofrido uma intervenção e um outro lá mais dentro à procura do que os “bestas”, como eu, reclamavam. Uma montoeira incrível de caixas, maiores e menores, envelopes, tudo numa desorganização impressionante. A senhora, meia doente, com dificuldade para escrever e ler, mas assim mesmo estava a trabalhar, teve que me pedir para eu ler o número da minha identidade. Ela não conseguia. Brava senhora.

 

Esperei. O colega que andava a catar o que se reclamava, perguntava lá de dentro: É uma caixa grande????? – Não. É coisa pequena.

 

Finalmente apareceu!

 

Cartas e documentos, muitos deles com contas para pagar estão chegando depois do prazo!

 

Uma VERGONHA. Um tremendo descaso e desprezo pelo povo, o contribuinte, o que paga tudo, sofrendo.

 

De resto... vou contar o quê?

 

Um atleta judoca, olímpico, foi assaltado na rua e ficou com um olho negro!

 

Duas outras atletas foram assaltadas na rua: dinheiro, celulares, etc... sumiram.

 

Uma patrulha do exército entrou por engano numa favela e foi recebida a tiro. Um soldado morto. A favela é terra DELES, da banditagem. Não é do Brasil.

 

Mas, “O Rio de Janêro continua lindo!”

 

12-Ago-16

FGA-2OUT15.jpg

 Francisco Gomes de Amorim

MENTES BRILHANTES

 

 

 

Sempre gostei de assistir ao espectáculo que as mentes brilhantes exibem ao exporem o resultado das suas confabulações mas confesso que sempre lhes troquei as voltas preferindo lê-las a ouvi-las. Lendo-as, tenho tempo; ouvindo-as, temo perder o fio à meada e correr o risco de ser enrodilhado. Lembro-me da história que ouvi em criança daquele cigano que falava muito depressa quando queria vender uma certa mula manca – pensaria ele que o comprador teria que dar muita atenção ao discurso e ficava sem tempo para observar a mula com o cuidado conveniente. Contavam-me que nunca chegara a vendê-la.

 

Portanto, gosto de mentes brilhantes lidas, não ouvidas.

 

Varoufakis.jpg

 

A super pausada leitura que venho fazendo vai já para um ano do livro de Yanis Varoufakis, «O MINOTAURO GLOBAL»1, leva-me a pensar que desta vez o cigano foi o Tsipras que arranjou um galã para encantar as grandes credoras na Alemanha e no FMI e lhe encomendou o encantamento suficiente para lhe dar tempo - a ele, o cigano - de consolidar a maluqueira sobre as ruínas de Atenas. Mas o encantamento não produziu quaisquer efeitos junto da «angélica teutónica» e diz-se que foi fogo fátuo na «charmante gauloise». E como o cigano não ia ficar para sempre com a mula manca, empandeirou-a para qualquer lado e mudou de discurso.

 

Pois. Mas eu hoje não quero saber do discurso do cigano e interesso-me sobretudo pelo relinzurro (nem relincho nem zurro) da mula.

 

E porquê nem relincho nem zurro? Porque Varoufakis zurze no capitalismo mas não lhe apresenta uma alternativa credível. Pior: aponta críticas aos credores mas não acha necessário corrigir sequer um pequeno vício nos devedores. Ficamos a saber do que ele se queixa mas sem que nos aponte uma solução.

 

Assim, não vale. E não vale porque não conduz a qualquer parte; constrói um beco sem saída. E como o mundo não acaba no fundo desse beco, é a construção desse «cul de sac» que não faz sentido.

 

A sua tese contra a austeridade também não faz sentido se nos lembrarmos de que foram os países devedores que foram aos mercados de capitais pedir dinheiro emprestado, não foram os detentores desses capitais que impuseram aos perdulários receberem os seus capitais. E a única forma de servir a dívida é deixar de gastar mais do que se produz – a isso chama-se anular défices – e passar a gerar poupanças, sendo que ambos os patamares se alcançam pela redução da despesa (a tal austeridade) e pela produção de bens e serviços transaccionáveis, nunca pela manutenção de défices nem pelo incentivo ao consumo.

 

Mas é claro que Varoufakis tem razão em várias coisas e, dentre essas, realço o absurdo em que se transformou a utilização dos modelos macroeconómicos e o «gato por lebre» dos produtos financeiros tóxicos. De ambas, tratarei futuramente num outro pequeno texto em que resumirei o que Varoufakis delas conta e com que – desde já aviso - eu concordo.

 

Se a estes absurdos juntarmos a manipulação dos mercados em vez da normal especulação bolsista, temos que reconhecer que o Poder do Mundo foi tomado por loucos se não mesmo por criminosos. E neste particular, também tenho que concordar com ele.

 

Sim, gosto de mentes brilhantes mas Deus nos livre das que são marotas.

 

Tavira, Agosto de 2016

 

 

HSF-AGO16-Tavira

Henrique Salles da Fonseca

 

 

1 - BERTRAND EDITORA, Lisboa, 1ª edição, Junho de 2015

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