As guardiãs do templo encarregavam-se de transmitir aos crentes as respostas dos deuses. Faziam-no por palavras vagas e sentidos amplos de modo a que todas as realidades que no futuro o problema respondido pudesse assumir ficassem cobertas pelas sábias respostas. Os deuses nunca se enganavam e o comércio divino ficava assegurado.
Embuste puro.
A clareza da comunicação está na razão directa da seriedade do comunicador e só embusteiros podem afirmar que a clareza se confunde com inocência.
Antes de agarrarmos na caneta (ou de começarmos a mexer os dedos sobre o teclado), temos que definir exactamente o que queremos dizer. Em primeiro lugar, temos que saber como a «história acaba» pois a escrita é a construção do silogismo que conduz à conclusão. Se assim não for, a divagação impera, a leitura cansa, os jogos de palavras ridicularizam o escritor, a mensagem esvai-se e corre-se o risco da crítica de que andamos por cá apenas a consumir oxigénio.
«E tudo espremido, deu em nada» – eis o que muito me apetece dizer quando leio certos filósofos que mais parecem pitonisas ou holandeses errantes ao leme de navio fantasma: parece não saberem onde querem chegar, não têm uma rota definida, jogam com as palavras como se fossem poetas, escrevem frases longuíssimas que parecem destinadas a levar o leitor à errância. E aplicam palavras de quilo demonstrando grande erudição, o que logo retrai a crítica.
Nós, os leigos que pagamos impostos, ficamos espantados com tanta sapiência, gastamos o chão a caminho dos dicionários da nossa própria língua e chegamos ao fim com a consciência de grande ignorância, se não mesmo de estupidez: fé no oráculo e espanto frente à pitonisa.
E, contudo, as coisas podiam ser muito mais fáceis. Corria-se o risco de perda do encanto perante raciocínios de grande erudição sobre conceitos tão gerais que só um deus concebe mas, em compensação, haveríamos de perceber a filosofia com relativa facilidade, a escrita enxuta seria a norma e a transparência dos raciocínios atrairia mais crentes.
E como os maiores filósofos da História tinham outras profissões que não essa diletância de andarem pelos jardins a filosofar, aqui fica a sugestão para quem optou dizer-se filósofo profissionalizando-se nesses pensamentos que de tão elevados ninguém de bom senso lhes chega: agarrem num desses filósofos e decomponham-lhes as frases de modo inteligível pelo comum dos mortais.
Mas antes de iniciarem a tarefa, vão aprender um pouco de aritmética e de matemática elementar pois todos sabemos que uma frase tem que ter sujeito, predicado e complemento directo mas caso este falte, conclua-se a frase com reticências para que tudo fique na tal vacuidade tão ao vosso gosto, filósofos de profissão.
E se se considerar que uma vírgula corresponde ao sinal mais (+) somando duas ideias e o «e» corresponde ao sinal vezes (x) conjugando duas ideias, tudo se torna mais lógico e enxuto. E não hesite em fazer frases curtas apenas com uma ideia pondo os conceitos complementares entre parênteses ou mesmo em notas de rodapé.
Prezado jovem filósofo de profissão: se tiver quem lhe pague rendas confortáveis, agarre-se à “Crítica da razão pura” do seu mestre Immanuel Kant e pode ter a certeza de que fica com trabalho para o resto da sua longa vida. Não ficará na História como um grande produtor de filosofias novas mas as hostes que lhe pagam as rendas hão-de ficar-lhe agradecidas por ter desmantelado um mito. Mas não explique, traduza apenas.
E se Kant soubesse aritmética? Eventualmente, os incrédulos tornavam-se crentes.
Angola, como todos os países africanos, usa muito provérbios. Faz parte inseparável da sua cultura e têm sempre uma profundidade grande. Vamos começar por um, angolano:
Muezu ua muadiakimi, a-u-sung ni ndunge (*)
Barbas de homem idoso, com jeito se puxam
(Com brandura, tudo se consegue)
Antes de continuar com contos tradicionais, duas histórias de portugueses em Angola, muito conhecidas da velha gente daqueles tempos, mas ainda hoje recordá-las é um prazer grande.
Henrique Galvão, que chegou a ser um homem da confiança do Salazar, depois o seu mais terrível adversário, foi preso em Lisboa, evadiu-se da cadeia, fez o primeiro sequestro mundial de um avião, da TAP, obrigando-o a ir para Casablanca, depois repetiu a iniciativa ao sequestrar o navio “Santa Maria” que deu um tremendo brado internacional, mas ninguém lhe pode negar que não tenha sido uma personalidade de valor. Meio louco como o seu compadre Humberto Delgado. Aliás, não simpatizavam um com o outro!
Quando Inspector Superior Ultramarino, numa das suas inspecções a Angola, quis visitar alguns Postos da Administração que jamais tinham sido inspeccionados por alguém.
Chega um dia a um desses postos, lá bem “perdido” no interior da savana africana; o Chefe do Posto, espantado, vê ao longe a poeira levantada por um carro, caso inédito, imaginando que seriam caçadores perdidos, espera que os viajantes desembarquem. Sai um deles que se lhe dirige e se apresenta:
- Henrique Galvão, Inspetor Superior Ultramarino.
O Chefe de Posto sabia que nunca ali tinha ido qualquer superior a ele, desconfiado, pensa que é piada e responde:
- Não precisa vir com essa conversa de Inspector, que aqui jamais veio gente dessa. Mas nem por isso deixarei deo receber o melhor que posso, neste fim do mundo onde tudo falta. Mas “papo” de Inspector é que não tem graça!
Henrique Galvão gostou da atitude do jovem Chefe de Posto, que acabou por saber que era mesmo o “chefe máximo” da Administração Ultramarina, elogiou-o e parece que depois o promoveu!
Lá no canto sudeste de Angola havia um outro Posto, junto à fronteira com o Sudoeste Africano, hoje Namíbia, igualmente isolado do mundo dos brancos e cuja função, além da política de ocupação, era mandar relatórios mensais sobre as actividades da sua área: chuvas ou secas, quantos nascimentos, quantas mortes, do povo e do gado, eventuais doenças que não havia nem brigas entre etnias, enfim um sossêgo, para que se fosse tendo noção do que ali se passava e, talvez, talvez, se fizesse no fim uma estatística geral de Angola! De mentirinha.
Como é de calcular, esses relatórios não tinham qualquer valor porque os nativos não iam ao Posto declarar nascimentos e mortes, nem informavam quantas vacas ou cabras tinham nascido. Era tudo “conversa fiada”, mas o Chefe do Posto tinha que enviar, mensalmente, um relatório com esses dados para o Administrador da Circunscrição que ficava talvez a uns 200 ou 300 quilómetros de distância. Essa entrega era confiada a um cipaio, uma espécie de polícia rural, a maioria analfabeta. Chamava-se a esse relatório, uma carta, mukanda!
Todos os meses o cipaio tinha que percorrer centenas de quilómetros e levar as mikanda, que, possivelmente o Administrador nem lia.
O Chefe do Posto de tantas mandar acabou por considerar aquilo um trabalho idiota e talvez inútil e decidiu agir de outra “melhor” forma: escreveu meia dúzia de pré monitorados relatórios, envelopou-os todos, com as datas exteriores programadas e bem destacadas, entregou-os ao cipaio e disse-lhe:
- Como você sempre fez, continuará a ir todo o mês levar uma mukanda à Administração. Eu vou deixar todas as mikanda aqui, e você, uma vez por mês tira a de cima e leva.
- Tá bem, patrão.
O Chefe deixou o Posto onde nada havia para fazer, passou a fronteira e foi passar uns meses de férias em Portugal, certo de que ninguém daria por isso.
Mas o cipaio, no começo do terceiro mês, olhou para as mikanda, ainda havia três para entregar, e pensou:
- Para quê ir lá todo o mês. Vou só mais uma e levo logo tudo.
Se bem pensou. assim o fez e a manobra foi descoberta! O Chefe já não retornou ao Posto!
Os contos tradicionais africanos, quer sejam de Angola ou de outro país são quase sempre de animais, por onde se tiram lições para os humanos e revelam um profundo conhecimento da vida animal e as transpõem, com humor, para a dos homens.
Um tigre voltava para casa depois de um dia a caçar, quando de repente se encontra num curral de carneiros. O tigre que nunca havia visto um carneiro, aproximou-se com ar humilde e perguntou: “Como te chamas, amigo?”
O carneiro, com a sua voz rouca e colocando uma pata no peito do tigre respondeu: “Sou um carneiro. E tu quem és?” “Um tigre”, respondeu cheio de medo. Mais morto do que vivo, despediu-se do carneiro e correu para casa.
Um chacal vivia perto da casa do tigre e este disse-lhe: “Amigo chacal, estou sem alento e meio morto do susto, pois acabo de me encontrar com um animal de aspecto horrível, com uma grande cabeça, que me disse com uma voz rouca: “Sou um carneiro.”
“Mas tigre que tonto és!” gritou, rindo o chacal. “Deixar escapar um pedaço de carne tão tenra e assustar-se por um carneiro! Porquê? Amanhã de manhã iremos lá os dois e o comeremos juntos.”
No dia seguinte caminharam os dois para o curral do carneiro e quando este, que havia saído para ver onde encontrava comida fresca, viu que no alto do morro apareciam o tigre e o chacal, temeu que aquilo acabasse mal, correu para avisar a sua esposa, e disse-lhe: “Temo que hoje seja o nosso último dia porque o tigre e o chacal vêm contra nós. O que vamos fazer?” – Não te assustes – disse a esposa – toma um dos filhos nos teus braços, sai com ele e belisca-o para que chore como se tivesse fome.” Assim fez o carneiro, enquanto os dois companheiros se acercavam. Quando o tigre voltou a ver o carneiro encheu-se de medo outra vez, queria voltar-se e ir embora, mas o chacal, prevendo isso, amarrou-se ao tigre com uma tira de couro, e dizia-lhe - “Anda. Segue-me ” - quando o carneiro gritou alto e forte enquanto beliscava o filho:
- “Fizeste bem, amigo chacal, de trazer-me este tigre para comer, pois ouves como chora o meu filho pela fome que tem?”
Ao ouvir estas terríveis palavras o tigre, apesar dos rogos do chacal, arrancou a correr cheio de pânico, o mais rápido que podia e arrastou o chacal por montes e vales, através de arbustos espinhosos e rochas chegando a casa com o chacal quase morto.
E assim se escapou o carneiro!
Ikumbakumba yoñhosi ihai imbi engolo okunwa (**)
Os urros do leão não impedem a zebra de beber água.
Já alguma vez lhe aconteceu chegar ao fim da última página de um livro e voltar logo de seguida à primeira? Pois foi o que me aconteceu com este livrinho de PeterSloterdijk com apenas 103 páginas de texto. E fiz mesmo mais: reli também o prefácio para ter a certeza de que agora, sim, também ali, havia de saborear coisas que à primeira me pudessem ter escapado.
O livro tem um subtítulo que o identifica como «um breviário de Platão a Foucault» e reúne os prefácios que Sloterdijk fez para cada filósofo integrado numa obra algo monumental com os principais textos originais dos 19 Autores bibliografados. Ficaram de fora Heidegger e Adorno cujos herdeiros, detentores dos respectivos direitos, não permitiram a reprodução dos textos seleccionados. Herdeiros também têm temperamento, não só os filósofos.
Sem lermos, portanto, a dita obra monumental com os principais textos originais – sem comentários de comentário a comentários – ficamos com uma panorâmica extremamente interessante (e sintética) do pensamento europeu desde alguns séculos antes de Cristo (Platão viveu entre 427 e 347 a.C.) e o pleno século XX (Foucault viveu entre 1926 e 1984).
E porque não ouso comentar, limito-me a respigar algumas das frases que chamaram a minha atenção.
Platão
(...) a filosofia logo no seu início é inevitavelmente uma iniciação ao grande, ao maior, ao maior que tudo; apresentou-se como escola da síntese universal; ensina a pensar o múltiplo e desmedido numa totalidade boa; é a introdução a uma vida sob um progressivo peso intelectual e moral; julga estar à altura da oportunidade de corresponder à crescente complexidade do mundo e à soberania intensificada de Deus através do esforço constante para alargar as almas; convida a uma mudança para uma nova construção muitíssimo espaçosa para a casa do ser; quer fazer dos seus alunos habitantes de uma Acrópole lógica; desperta neles o impulso para se sentirem em casa nas sete partidas do mundo.
Santo Agostinho
A alma do augustianismo sóbrio está maculada por uma corrupção insanável. Por isso, o trabalho da recordação do bem supremo terminará no conhecimento desesperado de que ela nunca mais pode reencontrar, pelas suas próprias forças, a participação incólume na luz do bem. (...) o amor de Deus já não tem sequer o carácter de uma dedicação que afirma uma simpatia universal e incondicional mas sim o de um indulto fortemente selectivo, condescendente. (...) Na esfera augustiniana, mesmo os mais pios retêm até ao fim razões para duvidar da sua salvação.
Descartes
O que foi a Guerra dos Trinta Anos se não o combate de meras verosimilhanças que saltaram dos seminários teológicos para os campos de batalha? (...) Simboliza como ninguém a vitória do engenheiro sobre o teólogo.
Leibniz
O universalismo leibniziano significa a (...) sucessão tipológica do mago da Renascença no cientista universal, barroco. (...) conduzir estes impulsos “fáusticos”, cujas formas selvagens desembocavam em charlatanice (...) Onde estava a magia há-de estar a politecnia. (...) Leibniz, o último, o mais brilhante e mais frio dos doutores fáusticos, aplanou o caminho ao cortejo triunfal de uma ciência não fáustica
Kant
Civilidade significa pôr-se do lado civil entre filosofia monástica e filosofia civil (...) no sentido do republicanismo erudito (...) em que o homem kantiano é de raiz o companheiro de espécie e, nessa medida, cosmopolita. (...) Exige-se a todo o indivíduo racional que actue não só como membro útil da sua sociedade nacional como também que dê provas igualmente, e sobretudo, como funcionário da espécie dotada de razão. (...) Na sua religião civil os santos hão-de se tornar juristas e os heróis, parlamentares.
Fichte
O ofício de pregoeiro foi descoberto e justificado no princípio segundo o qual a aquisição da liberdade significa nada menos do que uma ressurreição dos mortos – daqueles mortos que continuamos a ser enquanto vegetamos na idolatria da realidade exterior. (...) como há-de ser bem sucedido o entendimento entre os vivos que estão bem vivos e os mortos que vão vivendo? Como é que os não alienados se hão-de dirigir aos alienados? (...) não terão os vivos de desesperar sempre dos mortos recalcitrantes? (...) A guerra civil entre o espírito filosófico e o senso comum é uma constante da história cultural da Europa antiga. Mas enquanto os antigos sábios se ocultavam em resignação da massa imutavelmente estúpida, têm os modernos, como iluministas, de passar ao ataque pedagógico. Fichte, o autor da sublime falácia segundo a qual a vida do género humano avança segundo um plano fixo que será alcançado porque deve e tem de ser alcançado.
Hegel
Se o espírito mete ombros à tarefa da sua dispersão através dos tempos, é porque só ao longo deles amadurece até ao fim dos tempos e acima do tempo. A nossa afeição ao provisório deve perecer até que tudo se tenha transformado em cinza e saber. (...) poderão intelectos finitos, num qualquer modo enfatuado, estar no fim? Poderão eles, com razões que sejam mais que presunções vaidosas, afirmar de si próprios que eles próprios anunciam e encarnam o fim? (...) Bem pode a maioria dos mortais prender-se ao provisório e vegetar até ao fim da sua existência na obscuridade e na obstinação (...) o reconhecimento de todos por todos estaria formalmente consumado através do acesso de todos ao estatuto da cidadania.
Schelling
(...) estava finalmente entre nós alguém que conhecia os segredos de Deus, a falar a partir do absoluto. (...) muitos houve que fitaram as suas peças de bravura com o olhar de lagarto da mediania serena. (...) No grandioso afastamento das grandiosidades impertinentes da razão, dá-se a conhecer a assinatura do pensamento contemporâneo e da filosofia do «ainda não».
Marx
Compreender as inspirações marxistas significa debruçar-se sobre a história espectral dos conceitos que, enquanto poder que se tornou Estado, espírito que se tornou técnica e dinheiro que tudo liga, sugam mais do que nunca a vida dos indivíduos. (...) O núcleo da sua crítica da economia política é necromancia.
Sartre
Explicável apenas pela sua liberdade, o homem é o ser sem perdão. (...) a Igreja católica foi um asilo para todos aqueles que se viram desprovidos de solo firme. (...) A vanguarda entre os absurdos anónimos que constituem o núcleo da modernidade (...) adquiriu um ponto de apoio sólido em atitudes e na vida talhada à medida da moda.
E porque o rol já vai longo, por aqui me fico. Outras frases bem interessantes poderia transcrever mas tiveram que ficar no tinteiro as de Aristóteles, Giordano Bruno, Pascal, Schopenhauer, Kirkegaard, Nietzsche, Husserl, Wittgenstein e Foucault.
Quer conhecê-las? Leia o livro completo e não se vai arrepender:
Exigências sem Orçamento económico que as acompanhe são Fogo-preso
Arouca ardeu e Portugal continua a arder, o povo sofre e protesta mas Lisboa não ouve, nem pode ouvir, porque se encontra demasiado longe da província e o governo está demasiado empenhado na plantação dos seus eucaliptais de ideologia. O povo, tal como a floresta, é passivo e portanto propício a ser sempre surpreendido pelas chamas dos interesses corporativos.
O Fogo consome a Caça e o Povo é posto à Caça de Gambozinos
OOBSERVADORrefere que já em 2005 Arouca perdera 90 quilómetros quadrados devorados pelas chamas do fogo sem que, em consequência disso, algo importante acontecesse. Agora que arderam “170 quilómetros quadrados” de Arouca – uma catástrofe para a fauna-flora e turismo - surgiram iniciativas exigindo limites à plantação deeucaliptos.
Sem um conceito económico base, feito pela Câmara a acompanhar as reivindicações e sem uma política governamental de aproveitamento económica das florestas nem um programa do governo de investimento florestal que sustente as reivindicações, tudo não passará de mais umas folhas de eucalipto a estalar nos ares da informação.
As medidas de reflorestação exigiriam, para se tornarem eficientes, um programa concreto geral do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento para investimento na floresta em parceria com os fundos europeus.
Propostas políticas que não tenham inerentes a elas um conceito económico que proporcione rentabilidade para lhes dar chances de aplicação serão destruídas pela briga política habitual que distrai do essencial para viver de regulamentações feitas em cima dos joelhos.
Concretamente, Arouca e o Governo, além dos industriais da zona deveriam elaborar um programa económico tendente a solucionar o problema dos incêndios na região. Esse programa poderia receber muitos milhões de euros dos fundos estruturais (e outros) da União Europeia. Para isso precisam-se, nas Câmaras, técnicos especializados em projectos de investimento que prestem apoio a iniciativas locais feitos em parceria com empresas ou proprietários locais e apoiados pela UE.
Aprender da Idade Média para democratizar a economia
Falo disto porque estou habituado a verificar que, na Alemanha, iniciativas culturais, ecológicas, de protecção de animais, de produção de energia renovável, etc. fazem acompanhar as suas exigências com propostas ou estratégias de aproveitamento económico ou são justificadas pela defesa do património histórico e cultural. Num tempo em que a economia é credo tornam-se inocentes medidas teóricas sem que mostre a possibilidade de servir a ecologia e a região sem proporcionar lucros económicos. Em cada Camara municipal terá de haver órgão conglomerador de iniciativas que reúna sob o seu tecto parcerias entre Camara, associações sem fins lucrativos e grupos económicos interessados em investimento. Projectos concebidos sob tal constructo têm imensas chances de conseguir meios económicos para as iniciativas que tomem em mão e implementem.
A ausência de uma política económica e ecológica para as florestas torna a discussão num lugar para o escape de sentimentos frustrados e um motivo de sorriso cínico para os Ministérios, se continuar na mesma óptica do passado. O corporativismo muito arraigado em Portugal e que se tem revelado muito útil para a maçonaria e para outros grupos, reverter-se-ia em benefício público se fosse organizado a nível camarário na tradição dos homens bons e de “Os 24 mestres do povo” que defendiam os interesses das profissões e das regiões. Talvez seja preciso voltar à Idade Média para democratizar a economia! Para isso há que tirá-la dos monopólios de corporações ideológicas para as disponibilizarmos em proveito do povo. Na Idade Média vimos na Casa dos 24 o surgir da ideia da democratização da economia (política regionalista) através dos interesses de uma burguesia surgente que se debatia contra os interesses monopolistas do clero e da nobreza.
Vamos nacionalizar e regionalizar os partidos!
Os políticos apoderaram-se do lugar do clero na sociedade e o grande capital ocupou o lugar da nobreza. Hoje para sermos modernos e para democratizarmos a economia será necessário reencontrar a ideia medieval da regionalização e da indústria regional, sendo, para isso, necessário acabar com os monopólios ideológicos que deixam a província arder enquanto se aquecem nas suas chamas no parlamento e nas centrais do poder. Os deputados das regiões terão de redescobrir o campo e a floresta e a não os trocarem pelos areais das ideologias partidárias com bom assento no parlamento.
Concluindo: No rescaldo dos fogos torna-se urgente democratizar e regionalizar a economia. Imagine-se que os representantes do povo passavam mais tempo em torno da terra e do seu povo e não se exilavam vivendo todo o tempo na capital em torno do partido e do parlamento. A política que urge não é tanto nacionalizar bens e terras mas nacionalizar e regionalizar os partidos; então as ideologias abandonarão as suas honras e coutadas de interesses ideológicos para descerem ao povoado e se democratizarem e assim se possibilizar uma verdadeira democratização do povo e consequentemente uma democratização dos partidos.
Exigências sem um Orçamento económico que as sustente correm grande risco de se tornarem em espectáculos de Fogo-preso para agradar à vista muito longe de uma orto-praxia.
*O dinheiro que o Estado ganha ou pede emprestado é canalizado para os vales da administração, aquela que oferece sustentabilidade para os adeptos do partido. O dinheiro já não chega para pagar tantos empregados do Estado com horário de 35 horas nem para o pagamento das aposentações porque os funcionários do estado aposentados passaram a ser um número maior que os funcionários no ativo e a política do Estado não investe na produção real! Quem pode vai vivendo de quem pode menos, à imagem das labaredas dos fogos.
Rouco, barbado e comunista, eis pelo que eu tinha José Milhazes. E ao ler a badana do seu livrinho1 editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em Janeiro de 2016, mais me convencia de que ele é um russófilo ferrenho.
Do livrinho nada se conclui sobre a rouquidão mas das barbas faz prova a foto que se apresenta na dita badana. Se é comunista, também não se pode concluir mas do que não restam dúvidas é que é certamente russófono porque cursou numa Universidade em Moscovo; quanto a ser russófilo, isso é que fica claramente demonstrado pela negativa. E esta negativa é que para mim foi total novidade.
Para além de português, José Milhazes é ucranófilo2. E como a maior parte de nós só o conhece das televisões, transcrevo a tal badana para a qual o próprio deve ter fornecido a informação para ser apresentado aos leitores:
José Manuel Milhazes Pinto nasceu na Póvoa de Varzim em 1958. Licenciado em História da Rússia pela Universidade Estatal de Moscovo (Lomonossov) em 1984 e doutorado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2008. Entre 1989 e 2015 trabalhou como correspondente de vários órgãos de informação nacionais e internacionais, na Rússia e na Comunidade dos Estados Independentes. Autor de numerosos artigos e livros sobre as relações entre Portugal e a Rússia, sobre a política da URSS nas ex-colónias portuguesas de África e sobre as relações entre o Partido Comunista Português e o Partido Comunista da União Soviética. Leccionou em várias Universidades russas e portuguesas. Actualmente é comentador de assuntos internacionais da SIC e RDP. Cavaleiro da Ordem de Santa Maria (Estónia) e Comendador da Ordem do Mérito (Portugal).
E já que estou numa de cópia à moda da instrução primária, eis o que se escreve na contra-capa:
A História mostrou que, não obstante todas as vicissitudes e dificuldades, a Rússia é um país com fortes raízes europeias. Os grandes momentos da sua existência estão ligados ao Velho Continente. Resta apenas continuar à procura do melhor modus vivendi entre todos os povos europeus, onde as suas tradições, costumes e direitos sejam respeitados.
Sim, pegando neste final, também creio que as «matrioscas» não se devem sobrepôr ao «galo de Barcelos» nem vice-versa.
Então, o livrinho pode dividir-se em algumas partes sendo que a primeira se refere à História. Necessariamente, muito resumida para caber nalgumas das 90 páginas de texto de toda a obra. Mas, sendo resumida, não enfada e fiquei convencido de que dela constam os episódios mais importantes da formação da Rússia como a conhecemos até ao início da URSS.
Curiosas as relações entre todos os Impérios, Reinos e Principados da Europa lestiana e do Próximo Oriente; muito importantes, as «danças e contra-danças» que levaram à autonomização da Igreja Ortodoxa de Moscovo relativamente a Constantinopla.
Um pequeno trecho (pág. 22) que chamou a minha atenção: “a mistura de eslavos, fino-úgricos, alanos e turcos fundiu-se na nacionalidade grã-russa” - os marotos alanos que, algo diluidos, também correm nas nossas veias.
Na mesma página refere o Autor que “sob a pressão do domínio mongol, esses principados e tribos fundiram-se num só, o Reino da Moscóvia e, depois, Império Russo”.
Respigando daqui e dali, eis algumas pinceladas do que por aquelas bandas se foi passando…
… Ivan IV, o Terrível, virou-se para o Oriente e anexou o Caganato de Kazan em 1552 (e eu esbocei um sorriso, claro!), obrigou o cã da Sibéria a prestar-lhe vassalagem em 1555 e obteve a rendição de Astracã no ano seguinte. (pág.26)
… perante a ameaça da Turquia, russos e polacos assinaram o armistício de Andrussovo de 1667 que previa a passagem para a Rússia de toda a parte oriental da Ucrânia e da cidade de Kiev. (pág. 28)
Assim ficou a Rússia com acesso ao Mar Negro et pour cause, ao Mediterrâneo, ao Atlântico médio e, na actualidade, depois da abertura do Canal de Suez, ao Mar Vermelho, Índico, etc.
Foi o czar Pedro I que entre 1700 e 1721, com a chamada «Guerra do Norte», conseguiu conquistar uma saída para o Báltico.
E aí estamos nós a reconhecer os contornos que a Rússia hoje tem, depois de ter tomado pela força a Península da Crimeia que Krushchev “dera” à Ucrânia.
Numa segunda parte, o Autor traz-nos até à actualidade onde nós, Ocidente, estamos muito zangados com a política de Putin e em que nos batemos pela integridade territorial da Ucrânia como a conhecemos aquando do desmoronamento da URSS. É neste particular que José Milhazes diz de Putin o que Maomé não sonhou dizer do chouriço de porco e assim se percebe como é ucranófilo: tudo a favor da Ucrânia; tudo contra Putin.
E se Ronald Reagan rebentou com a URSS ao ameaçar com a «Guerra das Estrelas», Barack Obama, não arriscando bluffs, provocou uma baixa mundial dos preços do crude e do gás que levou à falência da Rússia putinesca e à impossibilidade de continuação das demonstrações militares de força com arrogantes penetrações de aviões em espaços aéreos da NATO, etc.
Putin decidiu então voltar-se para a China e relançar pactos de amizade eterna… Mas o crescente PIB chinês é cinco vezes superior ao minguante PIB russo e a estrutura do comércio bilateral tem nas actuais cotações do crude e do gás o motivo da falência do modelo de desenvolvimento destas relações «de amizade».
Antevendo a falência das políticas de Putin, José Milhazes admite que venha a haver, não dentro de muito tempo, uma mudança na liderança russa não sem temer que o novo czar possa ser ainda mais radical do que o actual.
* * *
Uma nota final de cunho exclusivamente pessoal: se eu fosse Czar da Rússia, também não abria a mão para deixar fugir a Crimeia.
O Governo de Costa, com os seus cotas do parlamento a ele encostados, tem produzido sobretudo medidas de satisfação de clientela; entre elas: a oferta das 35 horas semanais para os empregados do Estado, o ataque aos contratos do Estado com as escolas privadas com o argumento de poupança, a hipoteca do Sol dos portugueses com o argumento de que brilha mais para ricos e agora segue-se a penhora de cultura social e religiosa para satisfazer a sua clientela anticatólica.
Depois da clientela satisfeitaabandonará a arena da governação, seguindo o mote, “atrás de mim que venha o dilúvio”! Segundo informa oJornal de Notícias “em Paço de Sousa, Penafiel, até as casas mandadas construir pelo padre Américo, fundador da Casa do Gaiato,” são solicitadas pelas Finanças a pagarem o imposto IMI.
Nas pegadas do movimento socialista radical aliado da maçonaria, que na instituição da república se apoderou de grande parte dos bens da Igreja e dos pontos nevrálgicos do Estado, os jacobinos camuflados pretendem desta vez o levantamento do IMI em prédios sem fins lucrativos (adros de Igrejas, casas e salas paroquiais, lares, creches e conventos), não respeitando acordos de direito internacional assumidos (Concordata) nem tendo em conta que as propriedades em mira são de utilidade pública.
Será que irão levantar IMI por instalações de partidos, museus, fundações, edifícios do estado e outras instituições de utilidade pública? Das ajudas custo, um subsídio para a segunda residência de políticos não falam!
A Igreja assume um papel subsidiário do Estado no serviço que presta à sociedade. Entidades que ajudam gratuitamente a população não devem ser taxadas.
Em inúmeras instituições e iniciativas, a Igreja, de maneira económica, presta serviços de qualidade que, de outro modo, teriam de ser mantidas pelos impostos que o Estado iria buscar ao povo contribuinte. Estudos da Universidade de Navarra provaram que se a igreja deixasse toda a ação social e educacional, o Estado ficava a perder imenso!
Parece cada vez tornar-se regra geral aceite de que quem serve directamente o povo e os pobres é desfavorecido. Uma ideologia que não reconhece o património nem o valor do trabalho cultural e social do Catolicismo e os considera como luxos e privilégios dispensáveis, sofre de pobreza de espírito.
A Elite política portuguesa aproveita-se do
descontentamento social
O polvo da ideologia jacobina republicana serve-se do Governo Geringonça para, pela porta traseira, institucionalizar, no Ministério das Finanças, práticas da ideologia marxista já conseguida em parte no Ministério da Educação. O Governo sente-se à vontade, consciente de que ninguém lhes vai pedir contas, nem argumentação! Sabe quem tem: um povo num Estado burilado à sua imagem e e semelhança e uma oposição conservadora demasiadamente comprometida no sistema para poder pensar em termos de filosofia conservadora e afirmar-se como alternativa (mitigada) para a construção de um Estado tolerante e dignificador de todos os seus cidadãos, independentemente de serem de esquerda ou de direita, religiosos ou ateus. A fraqueza conceptual da direita é a força da esquerda. Esta abusa de um Catolicismo, que, ao contrário do Islão, se limita à formação espiritual dos fiéis não os motivando a interferir na política.
A Esquerda nos países do Sul anda de braço dado com o radicalismo, pelo que se aproveitará sempre do Estado e do amealhado pelos cidadãos; é contra a inclusão das energias do país e considera o Estado como sua propriedade e o privado como rival. Tornou-se nos novos-ricos (nomenclatura) que vivem da inveja propagada contra os patrões e contra a propriedade privada já açamada por demasiados impostos que em vez de reverterem em investimentos produtivos para a população se destinam a manter um Estado pobre mas que brilha na gordura dos seus barões que se fazem passear por corredores de ministérios e parlamentos de Lisboa e da UE.
O capital da esquerda radical são os pobres, por isso fomenta a pobreza económica e de pensamento: uma maneira esperta de assegurar a sua sustentabilidade no sistema corporativista.Vive bem protegida e afirmada pelo ditado popular: “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”; como sabem que se vive bem da censura, cortar-se-iam na própria carne se implementassem soluções que impedissem as causas do ralhar. A má economia é o húmus das cigarras do sistema!
Na sociedade portuguesa parece ser suficiente preocupar-se com amplificadores da ralha. Por isso a nossa feira não se preocupa em elaborar programas e estratégias para transformar a realidade, chega-lhe o teatro de alguns fantoches, chega-lhe produzir altifalantes e fomentar alguns camaradas que peguem neles; o nosso parlamento é especialista na produção de espectáculos fantoche (para um povo também ele faz-de-conta) e dos tais altifalantes da ideologia gritada, que se alimenta da pobreza popular e se justifica com a crítica ao adversário.
O nosso republicanismo também ele azedo não produz pão com crusta.Está interessado na produção de povo-massa mal levedada (realizada na ralha) e num Estado que produza fungos egomânicos, bolores e cogumelos, uma massa informe por lhe faltarem fungos (levedura) sociais que a levedem bem*.
Temos assim uma sociedade a jogar aos clubes e aos partidos e um governo a agir de ânimo leve, sem contemplar a verdadeira razão de povo nem de Estado. Um Estado assim encontra-se em estado demissionário do seu povo e é ilibado de eleição em eleição pela massa que não é consciencializada acerca do princípio da entropia inerente à nossa república e ao jogo de ideologias e oportunismos das clientelas partidárias. Querem um povo nem morto nem vivo, uma sociedade morna que vá dando para alguns se aquecerem sem se escaldarem.
O Governo de Costa aposta, também desta vez, numa discussão pública para alimentar os beneficiados das bancadas e para entreter cidadãos distraídos; conta com a ignorância cega e os meios de comunicação para provocar e assim manipular e desviar a raiva popular, daquilo que está verdadeiramente em jogo; desvia a conversa para lugares de espectáculo secundário, onde o arrazoar é substituído pelo insulto ao adversário ou pela sua premissa equacionandora da sua realidade: o teu erro é a minha certeza e a minha mentira é a tua verdade numa sociedade concebida de trabalho para aquecer. Assim temos um Estado difícil de manter mas fácil de governar, um país com elite mas sem povo.
Neste caso agem como se a religião não fizesse parte da sociedade e esquecem que a democracia é como a árvore em que cada macaco se coloca no seu galho não sendo legítimo que um ou outro gorila se apodere da árvore toda.
Na Alemanha, uma sociedade menos rica em comunismo mas mais rica em cultura cívica e económica, a Igreja é o maior empregador de pessoas nos serviços sociais. Uma sociedade que pensa limpar-se à toalha de um socialismo de fazer vénias à Galp, de andar à caça do pobre vendedor das bolas de Berlim nas praias como se este fosse Pokémon, é cínica e não tem ética. Por isso se tornou tão fácil apoderar-se dela por todos aqueles esquerdos e direitos com assento no parlamento que no conluio da corrupção se unem para financiar o grande capital e manter os seus gordos privilégios à custa do parlamento financiado pelo magro povo.
Vamos todos construir um povo não só massa
mas também pão
Volto à imagem do povo que ralha sem pão, porque penso que o povo português poderia tornar-se pão para todos onde não se ralhasse mas se discutisse no sentido de se dar energia positiva aos fungos positivos da nação. As nossas elites têm amassado a massa popular de modo a tirar-lhe as proteínas, impedindo deste modo a transformação adequada da massa (ligações químicas) e assim impossibilitam a formação da rede do glúten, aquilo que permitiria maior elasticidade e coesão à massa povo. Porque não se tem uma elite “sal da massa” tem-se uma massa sem côdea.Temos um país com um povo cozido mas sem crosta que lhe dê sabor!
O leitor paciente e amigo terá razão para dizer que também eu sou a voz do povo ralhador. A causa do meu ralhar não é a fome da elite mas a fome do povo, aquela fome que ela não tem, a fome de justiça, de solidariedade e de humanidade, porque se consideram levedura que prescinde da massa e por isso temos um povo massa estragada pela sua elite levedura que vivendo demasiado em função dela estraga a massa não a deixando ganhar formato.
A esquerda radical não gosta das paróquias por estas estarem mais próximas das populações; até inveja tem de o padre reunir mais fiéis do que ela nos seus comícios.O republicanismo iluminista jacobino tornou-se no caruncho do Estado. Os revolucionários ideológicos arrebanham quase tudo para eles e mesmo assim vivem da inveja do que é nosso, numa intentona contra a Igreja e contra Deus, esquecendo que, no sentido cristão, Deus é povo (comunidade) e quem é contra Deus é contra o povo (independentemente da crença ou descrença nEle). Precisamos de construir uma sociedade com lugar para todos mas capaz de controlar os necessários vírus (fungos!) e que tenha lugar para todos. Não aos monopolistas latifundiários da economia e não aos monopolistas latifundiários da ideologia.
Ao observar em diferentes países a solidez do seu desenvolvimento, indaguei como era a qualidade e exigência do seu ensino. Não duvido haver uma correlação forte entre os dois parâmetros.
Porque o ensino em geral, e mais o ensino Superior, incutem hábitos de trabalho e de exigência intelectual que mais tarde têm reflexo no trabalho profissional, nas organizações em que aqueles se inserem e comandam, moldando as instituições e espalhando essa exigência e compromisso com a qualidade de tudo quanto se faz no país.
Nas sociedades acomodadas, onde têm voz os medíocres, que falam mais do que trabalham, a tendência é para um nivelamento por baixo. Tipicamente, quando se quer resolver problemas de insucesso baixando a fasquia da exigência, para fazer passar todos, é quando se criam frustrados e incapazes. Porque o estudante, com essa passagem, em particular nas matérias estruturantes do pensar, vai avançando, com dificuldade crescente, sem bases que nunca chegou a adquirir, acumulando incompetência e incapacidade, ao ver-se empurrado, sem domínio dos conhecimentos básicos necessários.
Ao contrário, um razoável teste para passar de ano ou entrar num determinado curso, acaba por ter mais vantagens do que inconvenientes. Veja-se o que se passa no acesso aos estudos de Medicina: com a seleção baseada nas médias dos estudos, ainda que falível e incompleta, é contudo muito melhor do que não existir nada. E os resultados notam-se: a selecção leva os candidatos a começarem a estudar, com intensidade, muito antes e ganham hábitos de trabalho que perduram pela vida fora. E, depois do curso, acabam sendo bons profissionais, pelo saber que adquiriram com a aplicação, mas também com a exigência no âmbito do seu trabalho, reflexo da que tinham antes de entrarem para a medicina.
Poderia pensar-se se não seria uma selecção demasiada, pois há falta de médicos e algum excesso deles não seria nada mau. Seja como for, hoje uma pessoa sente-se em boas mãos..., no que toca ao ‘saber’ dos médicos.
Por motivos diferentes, por não haver suficientes instituições de Ensino Superior, na admissão para os Indian Institute of Technology (IIT), na India, há uns anos atrás havia 425.000 candidatos para 9.500 vagas (1 vaga por 45 candidatos). Durante um longo tempo os candidatos preparavam-se intensamente, para conseguir entrar. A admissão no IIT é como um passaporte para uma carreira profissional óptima e bem remunerada na India e melhor nos EUA.
Para os que não entram, não é uma situação frustrante, depois de tanto esforço? É. E importa que da parte da familia, não se dê demasiada importância, nem se crie grande tensão, para o jovem não se sentir frustrado.
À par deste contra, os aspectos a favor são muito importantes: todos os que se prepararam ficam num nível de conhecimentos e de raciocínio muito superior ao do momento inicial da preparação. E mesmo não entrando nos IIT, ao entrar em qualquer instituição de 2ª escolha, eles chegam bem preparados.
Por falta de meios, veio a insuficiência de faculdades para os estudantes que queiram prosseguir os estudos. Mas a boa qualidade dos que se formam em matérias científicas, técnicas, médicas, informáticas, económicas, etc., quando inseridos num modelo económico que valoriza a iniciativa faz empurrar a Sociedade a grandes passos como a India está a dar a partir do ano 1991. Após graves sofrimentos da população com a destruição operada pela colonização britânica, veio o pós-independencia, com o modelo apelidado de socialismo indiano, que matou a iniciativa e responsabilidade pessoal. Contudo, houve formação de qualidade e muitos licenciados nas melhores Escolas da India foram produzir riqueza, saber e empregos nos EUA. Poderiam tê-lo feito na sua terra, enriquecendo-a, como agora já está a acontecer com intensidade ao criar-se um espaço de liberdade para as iniciativas dos cidadãos.
A Estoria é velha....mas dantes não havia camisinha... zemaximo
E na atualidade?
Do blog Super Interessante: Sexo, sangue, bebedeira e doping: a vida louca das Olimpíadas da Antiguidade – Conta Outra Conta Outra
Sexo, sangue, bebedeira e doping: a vida louca das Olimpíadas da Antiguidade
O esporte não era a única atracção das Olimpíadas da Antiguidade. Ele fazia parte de um festival religioso que, além de rituais, incluía muita arte, com exibições de pintores, escritores e escultores. Mas não só. Prostitutas, engolidores de fogo, videntes e outras atracções mantinham o público entretido.
A vida louca dos Jogos era uma mistura de sexo, violência, sacrifícios animais e zero higiene. Um “Woodstock da Antiguidade”, na definição de Tony Perrottet, autor de The Naked Olympics: The True Story of the Ancient Games.
As Olimpíadas da Antiguidade duraram de 776 a.C. a 394, uma impressionante longevidade para um evento realizado a cada quatro anos (os Jogos modernos têm só 120 anos e a humanidade já furou o calendário três vezes, durante as guerras mundiais). O que era um mega festival pagão acabou justamente por isso mesmo, proibido em um mundo que se cristianizava. Nesses mais de mil anos de história, Olímpia se revestia de tradição e santidade – mas de um jeito diferente do que imaginamos.
Para começar, a imagem de nobres esportistas, cavalheiros asseados e competidores honrados lutando para superar os próprios limites foi difundida só no século 19 e não é lá muito verdadeira. Até mesmo a trégua olímpica, a fim de repelir e evitar conflitos bélicos, é relativa. Os gregos não queriam a paz universal, apenas uma paz pontual e temporária, que não atrapalhasse a logística dos Jogos nem a migração de atletas e espectadores. Ou seja, quer pilhar uma vilazinha, saquear uma cidade ou massacrar uma tribo? Tudo bem, mas desde que seja longe de Olímpia – o que não era tão difícil, porque a cidade ficava no meio do nada para os padrões da época. E chegar lá era um perrengue só.
Pausa para uma suposição anacrónica. Se você tivesse garantido um ingresso para assistir à cerimónia de abertura e desembarcasse em Atenas, teria que ir andando os 340 km que separam as cidades. Ao chegar lá, teria que se virar e dormir em qualquer buraco. Claro, isso se você não fosse rico, caso contrário poderia armar uma tenda para os seus servos trabalharem razoavelmente protegidos do calor de rachar. No auge do verão, os dois rios de Olímpia secavam, ninguém conseguia tomar banho direito, quase não havia água potável e, por isso mesmo, muita gente acaba colapsando de calor (ainda mais porque no estádio não havia assentos).
Mesmo assim, um público de estimadas 40 mil pessoas comparecia ao evento e ficava em êxtase em um local sagrado, para ver de perto atletas que se tornariam famosos por gerações. Lá está Platão vendo uma luta! Olhe, Sófocles torcendo em um jogo de bola! Os grandes pensadores e autores eram celebridades garantidas nessas arquibancadas sem camarote. Tudo sem precisar pagar para entrar, já que os organizadores eram aristocratas que participavam pelo orgulho de fazer parte do maior acontecimento da Grécia antiga, e não, necessariamente, para fazer dinheiro. Não que eles precisassem lidar com uma organização monumental. Basicamente, bastava pastorear ovelhas e vacas e tirá-las das pistas e dos templos. A estrutura estava toda montada, não era preciso construir novas vilas olímpicas, estádios e outras espécies de elefantes brancos.
Um balde de água fria na corrupção? Nem tanto assim. No século 4 a.C., o lutador Eupolus foi flagrado subornando adversários. Episódios do tipo eram mais ou menos frequentes. Isso sem contar a incrível façanha de Nero. Quando Roma conquistou a Grécia, o imperador decidiu competir na corrida de bigas e venceu – mesmo caindo do veículo!
Olimpo - A primeira cidade olímpica da história
A cada cerimónia de abertura, os jogos ganhavam o banho de honra divina que servia de repelente à corrupção e revigorante de tradição, relegando os casos sujos a segundo plano. Tudo graças à imagem impactante dos atletas preenchendo o templo para, em frente à monumental estátua que Fídias concebeu em honra a Zeus (e que se tornaria uma das Sete Maravilhas da Antiguidade), fazer juras sobre pedaços sangrentos de carne de javali em prol do espírito esportivo e das regras do jogo. Isso era necessário. Os juízes se preocupavam com atletas que usavam substâncias que aprimoravam a performance, como cogumelos secos, misturas de ervas exóticas, testículos e coração de animais e coquetéis à base de ópio. Mais popular que o doping, só as pragas que se jogavam sobre oponentes. A magia negra tinha muito espaço no espírito olímpico.
Mais popular que ambos, só a insanidade do lado de fora dos estádios. Os gregos já tinham o conceito de bar de esportes e, apesar de não serem lá muito beberrões, eles tiravam o atraso nessa época. Além disso, tinha o sexo. Prostitutas de vários cantos do Mediterrâneo chegavam à cidade para levantar em cinco dias mais dinheiro do que no resto do ano. As Olimpíadas eram uma farra concentrada de bebedeira pesada, pouco sono e orgias alcoolizadas promovidas por estudantes. Sob esse ponto de vista, elas chegaram ao Brasil bem antes dos Jogos do Rio. Afinal, já estavam presentes nas competições universitárias nacionais, cuja tradição é muito mais forte em destruir neurónios do que em construir atletas de ponta.
Da mesma forma que em muitos momentos do século passado, as Olimpíadas daqueles tempos também viraram um caldeirão político – tão descontrolado quanto os torcedores bêbados caindo pelas tabelas. Em 364 a.C., o “COI” tradicional, de raiz, a turma que sempre realizava os Jogos, partiu para a agressividade com o novo “COI”, que organizara a edição de então. No meio de uma competição de luta, eles invadiram o santuário, com direito a arqueiros no alto dos templos. Para o público, foi espetáculo em dobro. Todo mundo parou de ver os lutadores para acompanhar a briga campal dos aristocratas, torcendo e vaiando como se fosse um esporte para valer. Em um tempo em que o pancrácio – luta em que ossos quebrados era comum e que só bania em caso de apertar os olhos – era um esporte olímpico, assistir a uma batalha na arquibancada podia ser bem interessante.
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Tem razão! não se pode quebrar a tradição. Camisinhas neles!